4 de fevereiro de 2021

Aula Bíblica Jovens e adultos – Central gospel: Lição 06: Pedro, o Pregador do Dia de Pentecostes

TEXTO BÍBLICO BÁSICO
  
Atos 2.14-21
14 Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.

15 Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia.

16 Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:

17 E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, Os vossos jovens terão visões, E os vossos velhos sonharão sonhos;

18 E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão;

19 E farei aparecer prodígios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo e vapor de fumo.

20 O sol se converterá em trevas, E a lua em sangue, Antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor;

21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.


  Atos 2. 38-40
38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;

39 Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.

40 E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.


TEXTO ÁUREO
 João 21.16
Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.


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OBJETIVOS
* Reconsiderar a descrição simplista e caricata, comumente divulgada, de Pedro;
* Reconhecer o valor do ministério do apóstolo para o Cristianismo;
* Compreender que mesmo um homem inconstante pode ser transformado pelo poder de Cristo e receber dele um chamado ministerial.


Dia de Pentecostes e a Pregação de Pedro (Atos 2:1-39)


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PEDRO
O apóstolo que falava demais
Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.


Lucas 22:31-32
Temos quatro listas dos doze apóstolos no Novo Testamento: Mateus 10:2-4, Marcos 3:16-19, Lucas 6:13-16 e Atos 1:13. 

No evangelho de Lucas, a lista aparece da seguinte forma: Escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: 
* Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro. 
* André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor”.

Nas quatro listas bíblicas, são apresentados os nomes dos mesmos doze homens, sendo impressionante a semelhança na ordem em que aparecem. 


Pedro é o primeiro nome nas quatro listas. 
Assim, ele se destaca como líder e porta-voz de todo grupo dos doze. Além disso, os doze são organizados em três subdivisões de quatro elementos cada. Na primeira, encontram-se sempre Pedro, como primeiro da lista, seguido de André, Tiago e João. O segundo grupo é sempre formado de Filipe, em primeiro lugar, e inclui Bartolomeu, Mateus e Tomé. Tiago, filho de Alfeu, sempre aparece no início do terceiro grupo, que também inclui Simão o Zelote; Judas filho de Tiago (chamado “Tadeu”, em Mateus e Marcos); e por fim, Judas Iscariotes. (Judas Iscariotes não aparece na lista em Atos, uma vez que, naquela época, já estava morto.

(Nas três listas em que o nome de Judas é incluído, sempre vem por último, juntamente com o comentário que o identifica como o traidor.)

Os três nomes no começo de cada conjunto parecem ter sido dos líderes do grupo. Os três conjuntos aparecem sempre na mesma ordem: primeiro o de Pedro, depois aquele liderado por Filipe e, em seguida, o que tem Tiago à frente.

· Mateus 10:2-4: Pedro, André, Tiago, João / Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus / Tiago (filho de Alfeu), Tadeu, Simão, Judas Iscariotes.

· Marcos 3:16-19: Pedro, Tiago, João, André / Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé / Tiago (filho de Alfeu), Tadeu, Simão, Judas Iscariotes.

· Lucas 6:14-16: Pedro, André, Tiago, João / Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé / Tiago (filho de Alfeu), Simão, Judas (filho de Tiago), Judas Iscariotes.

· Atos 1:13: Pedro, Tiago, João, André / Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus / Tiago (filho de Alfeu), Simão, Judas (filho de Tiago).

Ao que parece, os grupos são listados em ordem decrescente, tomando por base seu nível de intimidade com Cristo. É bem provável que os membros do primeiro grupo tivessem sido os primeiros a serem chamados por Jesus (João 1:35-42). Assim, estavam com ele a mais tempo e ocupavam a posição de maior confiança em seu círculo mais íntimo. Com frequência, são vistos juntos na presença de Cristo em momentos críticos. Dos quatro membros do primeiro grupo, três — Pedro, Tiago e João — formam um círculo ainda mais íntimo. Esses três veem-se com Jesus nos principais acontecimentos de seu ministério, quando os outros apóstolos não estão presentes ou não se encontram tão próximos. Os três membros desse círculo mais íntimo estavam, por exemplo, no monte da Transfiguração e no lugar mais interior do Getsêmani (veja Mateus 17:1; Marcos 5:37; 13:3; 14:33).

O segundo grupo não era assim tão chegado, mas ainda é composto de figuras importantes dos relatos dos Evangelhos. 
O terceiro grupo é mais distante, e seus membros raramente são mencionados nos relatos do ministério de Cristo. O único membro do terceiro grupo sobre o qual sabemos mais é Judas Iscariotes, sendo que o conhecemos apenas por causa de sua traição no final. Deste modo, apesar de haver doze apóstolos, apenas três deles parecem ter desfrutado um relacionamento mais íntimo com Cristo.

Aparentemente, os outros gozavam diferentes graus de familiaridade pessoal com ele.

Tal fato sugere que até mesmo um grupo relativamente pequeno de doze ainda é grande demais para uma pessoa manter a mais próxima intimidade com cada membro do grupo. Jesus manteve três homens perto de si: Pedro, Tiago e João. Em seguida, vinha André e depois os outros, numa ordem, obviamente, decrescente de amizade íntima. Se Cristo, em sua perfeita humanidade, não podia oferecer quantias iguais de tempo e energia a todos que chamou para seu redor, nenhum líder deve esperar fazê-lo.


Os doze são um grupo incrivelmente variado. 
A personalidade e os interesses de cada um incluíam todo o aspecto de diversidade. Os quatro membros do primeiro grupo parecem ser os únicos ligados entre si por denominadores em comum. Eram pescadores, dois pares de irmãos, vinham da mesma comunidade e, ao que parece, amigos há um bom tempo. Contrastando com eles, Mateus era um coletor de impostos e um solitário. Simão era um zelote — um ativista político — e outro tipo de solitário. Os outros vinham de ocupações desconhecidas.


Todos possuíam personalidades consideravelmente distintas. Pedro era afoito, agressivo, ousado e franco — tendo o hábito de pôr sua boca para funcionar quando o cérebro ainda estava em ponto morto. Com frequência, chamo-o de apóstolo que falava demais. João, por outro lado, era de poucas palavras. Nos doze primeiros capítulos de Atos, ele e Pedro são companheiros constantes, mas, em nenhum momento é registrada alguma palavra de João. Bartolomeu (também conhecido às vezes como Natanael) era um crente verdadeiro, confessando abertamente sua fé em Cristo e não tardando em crer (veja João 1:47-50). É significativo o fato de estar no mesmo grupo (e às vezes aparecer junto) de Tomé, que era abertamente cético e desconfiado e queria provas de tudo.


Suas origens políticas também eram diferentes. 
Mateus (às vezes chamado de Levi), o ex-coletor de impostos, era considerado uma das pessoas mais desprezíveis de Israel antes de Jesus chamá-lo. Ele trabalhava com o governo romano, extorquindo tributos de seu próprio povo, os quais serviam para pagar o exército romano que, na época, ocupava Israel. O menos conhecido dos dois Simões, por outro lado, é chamado de “Zelote” em Lucas 6:15 e Atos 1:13. Os zelotes eram um partido político ilegal que levavam ao extremo seu ódio contra Roma e conspiravam para depor o governo romano. Muitos deles eram violentos fora-da-lei. Uma vez que não possuíam um exército, os zelotes lançavam mão de sabotagem e assassinatos para alcançarem seus objetivos políticos. Na realidade, não passavam de terroristas. Uma facção dos zelotes era conhecida como sicarri (literalmente, “homens de adagas”), por causa das pequenas lâminas curvas que carregavam consigo. Escondiam essas armas sob seus mantos e usavam-nas para se livrarem de pessoas que consideravam inimigos políticos — pessoas como os coletores de impostos. 

Os soldados eram os alvos preferidos para tais assassinatos. Normalmente, os sicarri realizavam essas execuções em eventos públicos, a fim de gerar ainda mais medo. O fato de Mateus, um excoletor de impostos e Simão, um exzelote, serem capazes de fazer parte do mesmo grupo é prova do poder que a graça de Cristo tem de transformar vidas.

É interessante que os homens-chave do primeiro e segundo grupos de apóstolos foram chamados logo no início do ministério de Cristo. João 1:35- 42 descreve como Jesus chamou João e André. Eles, por sua vez, trouxeram Pedro, irmão de André, naquele mesmo dia. Tiago, o outro membro desse grupo, era irmão de João, de modo que, sem dúvida, André e João também o levaram a Cristo. Em outras palavras, a relação do primeiro grupo com Jesus vinha desde o começo de seu ministério público.

João 1:43-55 descreve ainda o chamado de Filipe e Natanael (também conhecido como Bartolomeu). Foram chamados “no dia imediato” (versículo 43). Assim, a história desse grupo teve sua origem igualmente no início do ministério de Jesus. Eram homens que conheciam bem a Jesus e que o seguiram de perto durante um longo tempo.

A primeira pessoa do primeiro grupo — o homem que se tornou porta voz e líder dos demais — era “Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro” (Lucas 6:14).


“SIMÃO, A QUEM ACRESCENTOU O NOME DE PEDRO” Simão era um nome bastante comum. 
Há pelo menos sete Simões só nos relatos dos Evangelhos. Dentre os doze, havia dois discípulos chamados Simão (Simão Pedro e Simão, o Zelote). Em Mateus 13:55, são mencionados os meios-irmãos de Jesus e um deles também se chamava Simão. O pai de Judas Iscariotes era, igualmente, chamado Simão (João 6:71). Mateus 26:6 menciona que, em Betânia, Jesus comeu na casa de um homem chamado Simão, o leproso. Outro Simão — um fariseu — também recebeu Jesus para uma refeição em sua casa (Lucas 7:36-40). Da mesma forma, o homem convocado para carregar a cruz de Cristo, em parte do caminho, chamava-se Simão, o cirineu (Mateus 27:32).

O nome completo do Simão que estamos estudando era Simão Barjonas (Mateus 16:17), que significa “Simão, filho de Jonas” (João 21:15-17). Assim, o pai de Simão Pedro era João (às vezes traduzido como Jonas). Não sabemos mais nada sobre seus pais. No entanto, observe que o Senhor lhe deu um outro nome. Lucas apresenta-o da seguinte forma: “Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro” (Lucas 6:14). As palavras escolhidas por Lucas são importantes. Jesus não lhe deu simplesmente um novo nome para ser usado no lugar do antigo. Ele “acrescentou” o nome de Pedro. Esse discípulo era conhecido ora como Simão, ora como Pedro, ora como Simão Pedro.


“Pedro” era uma espécie de apelido. 
Significa “rocha” (petros é a palavra grega para “um pedaço de rocha, uma pedra”). O termo equivalente no aramaico é cephas (veja 1Coríntios 1:12; 3:22; 9:5; 15:5; Gálatas 2:9). João 1:42 descreve o primeiro encontro pessoal de Jesus com Simão Pedro: “Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)”. Ao que parece, essas foram as primeiras palavras de Jesus a Pedro. Dali em diante, seu apelido tornou-se “Rocha”.

Em algumas ocasiões, porém, o Senhor continuou, ainda assim, a chama-lo de Simão. Quando vemos isso nas Escrituras, normalmente, trata-se de um sinal de que Pedro fez alguma coisa que precisa ser repreendida ou corrigida.

O apelido era significativo, e o Senhor teve uma razão específica para escolhê-lo. Simão era, por natureza, impetuoso, inconstante e inconfiável. Sua tendência era fazer grandes promessas que não poderia cumprir. Era uma daquelas pessoas que parecem atirar-se de cabeça em alguma coisa e, depois, abandoná-la antes de ter concluído. Com frequência, era o primeiro a aceitar um desafio, mas, muitas vezes, também era o primeiro a pular fora. Quando Jesus o encontrou, Simão encaixava-se na descrição feita por Tiago, de um homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos (Tiago 1:8). Ao que parece, Jesus mudou o nome de Pedro pois queria que o apelido servisse para lembrá-lo sempre daquilo que deveria ser. Dali em diante, a forma que Jesus o chamava transmitia uma mensagem sutil. Se o chamava de Simão, indicava que ele estava agindo de acordo com sua antiga natureza. Se o chamava de Rocha, era um elogio por agir da forma como deveria.


Esse jovem chamado Simão, que viria a ser Pedro, era impetuoso, impulsivo e precipitado. 
Precisava tornar-se como uma rocha, e foi esse o apelido que Jesus lhe deu. Dali em diante, o Senhor podia gentilmente repreendê-lo ou elogiá-lo só pelo uso de um nome ou de outro.

Depois do primeiro encontro de Cristo com Simão Pedro, vemos dois contextos distintos em que o nome Simão é empregado com regularidade. Um deles é o contexto secular. Quando as Escrituras se referem à sua casa, por exemplo, normalmente, fala-se da “casa de Simão”. Semelhantemente, ao referir-se à mãe de sua esposa: “a sogra de Simão” (Marcos 1:30; Lucas 4:38). Ao descrever sua atividade de pesca, a passagem de Lucas 5 refere-se a “um dos barcos, que era o de Simão” (versículo 3); e Lucas diz que Tiago e João eram “seus sócios [de Simão Pedro]” (versículo 10; veja o versículo 8). Todas essas expressões referem-se a Simão usando seu primeiro nome em contextos exclusivamente seculares. Quando é chamado de Simão em tais ocasiões, geralmente o uso de seu antigo nome não tem relação nenhuma com sua espiritualidade ou seu caráter. Trata-se apenas da maneira normal de referir-se ao que era dele como ser humano: seu trabalho, sua casa e sua vida familiar. Diz-se dessas coisas que pertenciam a “Simão”.

A segunda categoria de referências nas quais ele é chamado de Simão é encontrada sempre que Pedro estava demonstrando características de sua natureza não regenerada, ao pecar em palavras, atitudes ou ações. Sempre que ele começa a agir de acordo com seu velho homem, Jesus e os Evangelhos voltam a chamá-lo de Simão. Em Lucas 5:5, por exemplo, Lucas escreve: “Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes”. Esse era o jovem pescador Simão falando, mostrando sua incredulidade e relutância. No entanto, ao obedecer, seus olhos se abrem e ele vê quem Jesus é de fato, e Lucas passa a chamá-lo pelo seu novo nome. O versículo 8 diz: “Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador”.

Vemos Jesus chamando-o de Simão nos momentos mais cruciais de fracasso ao longo da carreira do apóstolo. Em Lucas 22:31, predizendo a negação de Pedro, Jesus diz: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” 

Mais tarde, no jardim do Getsêmani, Pedro adormeceu quando deveria estar vigiando e orando com Cristo. 

Marcos escreve: “Voltando [Jesus], achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Marcos 14:37-38). Assim, normalmente, quando Pedro necessitava de repreensão ou admoestação, Jesus referia-se a ele como Simão. Deve ter chegado a um ponto em que, quando o Senhor dizia “Simão”, Pedro já encolhia-se todo. Talvez pensasse: “Por favor, me chame de Rocha!”, e o Senhor talvez replicasse: “Eu o chamarei de Rocha quando você agir como uma rocha”.

De acordo com as narrações dos Evangelhos, fica evidente que o apóstolo João conhecia Pedro muito, muito bem. Eram amigos desde a infância, sócios no trabalho e vizinhos. É interessante que no evangelho que escreveu, João refere-se ao seu amigo quinze vezes como “Simão Pedro”. Ao que parece, João não conseguia decidir qual nome usar, pois a todo tempo, via os dois lados de Pedro. Assim, simplesmente juntou os dois nomes. Na verdade, o próprio Pedro chama-se de “Simão Pedro”, em sua segunda epístola: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo” (2Pedro 1:1). Com efeito, ele tomou para si o apelido que Jesus lhe deu e fez dele o seu sobrenome (veja Atos 10:32).

Depois da ressurreição, Jesus instruiu seus discípulos a voltarem para a Galileia, onde ele planejava aparecer a eles (Mateus 28:7). Em sua impaciência, ao que parece, Simão cansou-se de esperar e, assim, anunciou que voltaria a pescar (João 21:3). 

Como sempre, os outros discípulos obedientemente seguiram seu líder. Entraram no barco, pescaram a noite toda e não pegaram nada. Jesus, porém, encontrou-se com eles na praia, onde havia lhes preparado um café da manhã. Aparentemente, o propósito maior dessa reunião matinal era a restauração de Pedro (que, sem dúvida alguma, havia pecado flagrantemente ao negar Cristo com maldições na noite em que o Senhor fora traído). Jesus dirigiu-se a ele três vezes chamando-o de Simão e perguntou, “Simão, filho de João, tu me amas?” (João 21:15-17). E três vezes Pedro afirmou seu amor.

Essa foi a última ocasião em que Jesus o chamou de Simão. Algumas semanas depois, em Pentecostes, Pedro e os outros apóstolos foram enchidos do Espírito Santo. Naquele dia, foi Pedro, a Rocha, quem pregou.

Pedro era exatamente como a maioria dos cristãos: Tanto carnal como espiritual. Por vezes, sucumbia aos hábitos da carne; em outras ocasiões, agia de acordo com o Espírito. Por vezes, era pecador e, em outras ocasiões, agia como deve fazer um homem justo. Esse homem inconstante — às vezes Simão, às vezes Pedro — era o líder dos doze.


“VINDE APÓS MIM E EU VOS FAREI PESCADORES DE HOMENS”
Simão Pedro era pescador profissional. Ele e seu irmão André eram herdeiros de um comércio de pesca em Cafarnaum. Apanhavam peixes no mar da Galileia. Na época de Jesus, os pescadores comerciais daquele lago pescavam três tipos de peixe. Os “peixinhos” — mencionados em João 6:9, na ocasião em que cinco mil pessoas foram alimentadas — eram sardinhas. As sardinhas, juntamente com uma espécie de pão semelhante a uma panqueca, eram a alimentação básica da região. Outro tipo de peixe, conhecido como barbilhão (por causa dos filamentos carnosos no canto de sua boca), é uma espécie de carpa e, portanto, um tanto cheio de ossos, mas pode crescer até um bom tamanho, chegando a pesar quase oito quilos. (Provavelmente, em Mateus 17:27, o peixe que Pedro pescou, e que tinha na boca uma moeda, era um barbilhão. Isso porque era o único peixe no mar da Galileia grande o suficiente para engolir uma moeda e ser pego com um anzol.) O terceiro tipo de peixe comercial, e também o mais comum, era a carapeba — um peixe que se alimenta em cardumes e tem uma barbatana dorsal em forma de pente.

As carapebas comestíveis têm de treze a sessenta centímetros. Carapebas fritas ainda são servidas à beira do mar da Galileia e são conhecidos popularmente como “peixe de São Pedro”. Simão e André passavam as noites apanhando esses peixes. Os dois irmãos eram originalmente de um vilarejo chamado Betsaida, à margem norte do lago (João 1:44), mas haviam se mudado para Cafarnaum, uma cidade maior não muito longe de lá (Marcos 1:21,29). Nos tempos de Jesus, Cafarnaum era a principal cidade da extremidade norte do mar da Galileia. Jesus usou Cafarnaum como base operacional de seu ministério durante vários meses. No entanto, proferiu um “ai”, tanto sobre Cafarnaum como sobre Betsaida, em Mateus 11:21-24. 


Nos dias de hoje, essas cidades não passam de ruínas. 
Ainda pode-se ver o pouco que restou da sinagoga de Cafarnaum. Perto delas (apenas uma quadra para o sul), arqueólogos encontraram as ruínas de uma igreja da antiguidade. Tradições remotas, desde o século 3 ou até mesmo antes, afirmam que essa igreja foi construída sobre a casa de Pedro. De fato, os arqueólogos encontraram diversos sinais de que cristãos do século 2 veneravam esse local. É bem possível que fosse a casa em que Pedro morava. Uma caminhada curta leva da casa até a beira do lago.


Simão Pedro tinha uma esposa. 
Sabemos disso, pois em Lucas 4:38, Jesus curou a sogra dele. Em 1Coríntios 9:5, o apóstolo Paulo diz que Pedro levou a esposa em sua missão apostólica. Tal fato pode indicar tanto que não tinham filhos como que seus filhos já estavam crescidos quando Pedro levou a esposa consigo. No entanto, as Escrituras não dizem explicitamente que tinham filhos. Pedro era casado. Isso é tudo o que sabemos com certeza sobre sua vida doméstica.

Sabemos que Simão Pedro era o líder dos apóstolos, e isso não apenas porque seu nome aparece no começo de todas as listas dos doze. Também temos a seguinte declaração expressa em Mateus 10:2: “Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro Simão, por sobrenome Pedro”. A palavra traduzida como “primeiro”, nesse versículo, é o termo grego protos. 

Não se refere ao primeiro de uma lista; significa o chefe, o líder de um grupo. A liderança de Pedro fica ainda mais evidente pela maneira com que, normalmente, age, falando em nome do grupo. Ele encontra-se sempre no primeiro plano, tomando a frente. Ao que parece, sua personalidade era naturalmente dominante, e o Senhor fez bom uso da mesma em meio aos discípulos.

Afinal, foi o Senhor que o escolheu para ser o líder. Pela vontade soberana de Deus, Pedro foi formado e capacitado para ser o líder. Além disso, o próprio Cristo instruiu e treinou Pedro para liderar. Deste modo, quando olhamos para Pedro, vemos como Deus constrói um líder.

O nome de Pedro é mencionado mais do que qualquer outro nome nos evangelhos, exceto o de Jesus. Ninguém fala com tanta frequência quanto ele e nem o Senhor dirige-se tantas vezes a outro como a Pedro. Nenhum discípulo é repreendido com tanta frequência quanto Pedro e nenhum discípulo censura o Senhor, exceto Pedro (Mateus 16:22). Ninguém confessou a Cristo com mais ousadia ou reconheceu seu senhorio mais explicitamente. 

No entanto, nenhum discípulo negou verbalmente a Cristo de modo tão veemente ou público quanto Pedro. Ninguém é louvado e abençoado por Cristo como Pedro foi; contudo, Pedro foi o único a quem Cristo alguma vez chamou de Satanás. O Senhor tinha coisas mais duras a dizer para Pedro do que para qualquer outro discípulo.

Tudo isso contribuiu para fazer dele o líder que Cristo desejava que ele fosse. Deus tomou um homem comum, com uma personalidade ambivalente, inconstante, impulsiva e insubmissa, e transformou-o num líder firme como rocha — o maior pregador dentre os apóstolos e, em todos os sentidos, a figura dominante nos doze primeiros capítulos de Atos, que falam de como nasceu a igreja.

Vemos na vida de Pedro três elementos-chave que fazem parte da constituição de um verdadeiro líder: a matéria-prima certa, as experiências de vida certas e as qualidades de caráter certas. Deixe-me mostrar exatamente o que quero dizer.


A MATÉRIA-PRIMA DO VERDADEIRO LÍDER

Há uma eterna controvérsia quanto à liderança ser inata ou adquirida. Pedro é um forte argumento em favor da crença de que os líderes nascem com certos dons, mas que devem ser moldados e transformados em verdadeiros líderes.

Pedro possuía a liderança dada por Deus entretecida na trama de sua personalidade desde o princípio. Ele era constituído da matéria-prima certa. É claro que foi o Senhor quem o criou desse modo no ventre de sua mãe (veja Salmos 139:13-16).

Existem certas características óbvias na disposição natural de Pedro que foram críticas para sua capacidade de liderança. De modo geral, não se trata de características que podem ser desenvolvidas simplesmente através de treinamento; são particularidades inatas do temperamento de Pedro.


A primeira delas é sua curiosidade. 
Quando você está à procura de um líder, deseja encontrar alguém que faça muitas perguntas. Pessoas que não são curiosas simplesmente não servem para ser bons líderes. A curiosidade é crítica para a liderança. Pessoas que se contentam com aquilo que não sabem, que se satisfazem em continuar ignorantes a respeito daquilo que não compreendem, que são complacentes com o que não analisaram e sentem-se à vontade vivendo com problemas que não resolveram — estas não podem ocupar posições de liderança. 


Os líderes precisam ter uma curiosidade insaciável. 
Precisam ser pessoas famintas por respostas. Se você deseja encontrar um líder, procure alguém que esteja fazendo as perguntas certas e verdadeiramente buscando respostas.

Esse tipo de curiosidade, normalmente, manifesta-se na mais tenra infância. A maioria de nós já encontrou crianças que fazem uma pergunta depois da outra, cansando os pais e outros adultos com uma enxurrada incessante de pequenas indagações. (Alguns de nós podem até mesmo se lembrar de serem assim quando crianças!) Isso faz parte da matéria-prima do líder. As melhores pessoas para resolver problemas são sempre motivadas por um entusiasmo insaciável de conhecer e compreender as coisas.

Nos relatos dos Evangelhos, Pedro faz mais perguntas do que todos os outros apóstolos juntos. Normalmente, era Pedro quem pedia para o Senhor explicar suas palavras mais difíceis (Mateus 15:15; Lucas 12:41). Foi Pedro quem perguntou quantas vezes deveria perdoar (Mateus 18:21). Foi Pedro quem perguntou qual seria a recompensa dos discípulos por terem deixado tudo para seguir a Jesus (Mateus 19:27). Foi Pedro quem perguntou sobre a figueira que secou (Marcos 11:21). Foi Pedro quem fez perguntas sobre o Cristo ressuscitado (João 21:20-22). Ele sempre queria saber mais, entender melhor. Esse tipo de curiosidade é um elemento fundamental do verdadeiro líder.


Outro ingrediente necessário é a iniciativa. 
Se uma pessoa é apta para liderar, ela terá motivação, ambição e energia. Um verdadeiro líder deve ser o tipo de pessoa que faz as coisas acontecerem. É um iniciador. Observe que Pedro não apenas fazia perguntas; normalmente, ele também era o primeiro a responder as questões apresentadas por Cristo. Com frequência, ele avançava com ousadia até onde os anjos temiam pisar.

Numa ocasião bastante conhecida, Jesus perguntou: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mateus 16:13). Havia várias opiniões sobre isso circulando no meio do povo. Assim, responderam: “Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas” (versículo 14). Então, Jesus fez uma pergunta específica para os discípulos: “Mas vós [...] quem dizeis que eu sou?” (versículo 15, ênfase minha). Foi nesse momento que Pedro falou, mais alto que o resto: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (versículo 16). Os outros discípulos ainda estavam pensando na pergunta, como alunos com medo de dar a resposta errada. Pedro foi ousado e categórico. Essa é uma característica essencial dos grandes líderes. Às vezes, ele teve de voltar atrás, retirar o que havia dito, retratar-se ou ser repreendido. 
Mas o fato de estar sempre disposto a agarrar as oportunidades com unhas e dentes marcava-o como um verdadeiro líder.

No jardim do Getsêmani, quando os soldados romanos do forte de Antônia foram prender Jesus, os três escritores dos Evangelhos sinópticos dizem que havia “uma grande turba com espadas e porretes” (Mateus 26:47; veja Marcos 14:43; Lucas 22:47). Uma típica corte romana era formada de seiscentos soldados, de modo que é bem possível que, naquela noite, houvesse centenas de soldados romanos prontos para lutar dentro e ao redor do jardim. Sem hesitar, Pedro puxou sua espada e brandiu-a contra a cabeça de Malco, o servo do sumo sacerdote. (O sumo sacerdote e seus empregados, provavelmente, encontravam-se à frente da turba, uma vez que ele era o dignitário que estava dando a voz de prisão.) Sem dúvida, Pedro estava tentando cortar fora a cabeça do servo. Malco desviou-se e teve sua orelha decepada. Então, Jesus “tocando-lhe a orelha, o curou” (Lucas 22:51). Em seguida, disse a Pedro: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mateus 26:52). (Assim, ele afirmou a equidade da pena capital como uma lei divina.)


Pense nesse episódio. 
Havia ali todo um destacamento de soldados romanos, talvez centenas de homens. 
O que Pedro pensou que iria fazer? Cortar a cabeça de todos eles, um a um? Às vezes, em seu arrebatamento de tomar a iniciativa, Pedro não enxergava a realidade mais óbvia.

No entanto, com toda a sua temeridade, Pedro possuía a matéria-prima da qual seria possível fazer um líder. É melhor trabalhar com um homem como esse do que com alguém passivo e hesitante. Como diz o ditado, é mais fácil acalmar um fanático do que ressuscitar um morto. Algumas pessoas precisam ser fastidiosamente arrastadas para frente. Não era o caso de Pedro. Ele queria sempre avançar. Queria saber o que não sabia. Queria compreender o que não compreendia. Era o primeiro a fazer perguntas e tentar responder questões. Era um homem que sempre tomava a iniciativa, aproveitava o momento e avançava. É disso que é feita a liderança. Lembre-se que essas características são apenas a matéria-prima a partir da qual é constituído um líder. Pedro precisava ser treinado, moldado e amadurecido.

No entanto, a fim de realizar a incumbência que Cristo havia reservado para ele, Pedro precisava de pique, de garra, de coragem para colocar-se de pé, em Jerusalém, no dia de Pentecostes, e pregar o evangelho diante do mesmo povo que, pouco antes, havia executado seu próprio Messias. Contudo, Pedro era exatamente o tipo de sujeito que podia ser treinado para tomar tal iniciativa corajosa.


Há um terceiro elemento da matéria-prima que constitui o verdadeiro líder: 
Envolvimento. 
Os verdadeiros líderes estão sempre no meio da ação. Não ficam sentados nos bastidores dizendo a todos o que fazer enquanto vivem de modo confortável e distante da luta. Um verdadeiro líder passa pela vida cercado por uma nuvem de poeira. É justamente por isso que as pessoas o seguem. Não se pode seguir alguém que permanece distante. O verdadeiro líder indica o caminho. Ele entra na batalha antes de seus seguidores.


Certa noite, Jesus chegou até os discípulos, no meio do mar da Galileia, andando sobre as águas durante uma tormenta. 
Qual dos discípulos pulou do barco? 
Pedro. 
Deve ter pensado: “Lá está o Senhor. Eu estou aqui. Preciso ir para onde a coisa está acontecendo”. Os outros discípulos ficaram imaginando se estavam vendo um fantasma (Mateus 14:26). Pedro, porém, disse: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele [Jesus] disse: Vem!” (versículos 27-28) — e antes que os outros se dessem conta, Pedro havia descido do barco e estava andando sobre as águas. O resto dos discípulos ainda estava agarrado aos seus assentos, tentando garantir que não seriam atirados para fora pela tempestade. Mas, sem pensar duas vezes, Pedro saiu do barco. Isso é envolvimento para valer. Só depois que havia descido do barco, e caminhado uma certa distância, é que Pedro pensou sobre o perigo e começou a afundar.


Com frequência, as pessoas olham para esse episódio e criticam Pedro por sua falta de fé. 
Vamos, porém, dar crédito pela fé que ele teve a ponto de deixar o barco. Antes de desprezarmos Pedro pela fraqueza que quase foi o seu fim, devemos nos lembrar de onde ele estava quando começou a afundar.

Semelhantemente, apesar de Pedro haver negado Cristo, é preciso ter em mente um fato expressivo: ele e um outro discípulo (provavelmente, João, seu amigo inseparável) foram os únicos que seguiram Jesus até a casa do sumo sacerdote para ver o que seria feito do Senhor (João 18:15). E, no pátio da casa do sacerdote, Pedro era o único que estava próximo o suficiente para que Jesus fitasse-o nos olhos quando o galo cantou (Lucas 22:61). Muito depois que os discípulos haviam abandonado Cristo e fugido, cada um temendo por sua própria vida, Pedro estava praticamente sozinho, numa posição em que podia cair no laço de tal tentação, pois, apesar de seu medo e fraqueza, ele não havia conseguido abandonar a Cristo completamente. Esse é o sinal de um verdadeiro líder. Quando quase todos haviam debandado, ele tentou ficar o mais próximo possível de seu Senhor. Pedro não era o tipo de líder que se contentava em ficar à distância e mandar uma mensagem para as tropas. Tinha paixão pelo envolvimento pessoal, de modo que podia sempre ser encontrado próximo ao epicentro da ação.

Pedro era feito dessa matéria-prima: curiosidade insaciável, disposição de tomar a iniciativa e paixão pelo envolvimento pessoal. Estava a encargo do Senhor treiná-lo e moldá-lo, pois, francamente, se esse tipo de matéria-prima não for submetido ao controle do Senhor, pode tornar-se absolutamente perigosa.


AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA QUE FORMAM O VERDADEIRO LÍDER
De que modo o Senhor tomou um homem feito de um material tão rudimentar e refinou-o, a ponto de transformá-lo num líder? Em primeiro lugar, certificou-se de que Pedro passasse pelas experiências de vida que fariam dele o tipo de líder que Cristo desejava que fosse. Nesse sentido, os verdadeiros líderes são formados, e não apenas inatos.


A experiência pode ser uma forma dura de educar. 
No caso de Pedro, os altos e baixos de suas experiências foram dramáticos e, com frequência dolorosos. Sua vida foi cheia de ziguezagues tortuosos. O Senhor o fez passar por três anos de provações e dificuldades para dar-lhe toda uma vida de experiências, do tipo que o verdadeiro líder deve suportar.

Por que Jesus fez isso? 
Sentia algum prazer em atormentar Pedro? 
De forma alguma; as experiências — até mesmo aquelas difíceis — foram todas necessárias para transformar Pedro no homem que precisava tornar-se.

O apóstolo Pedro aprendeu muita coisa através de experiências difíceis. Aprendeu, por exemplo, que a derrota arrasadora e a humilhação profunda, muitas vezes, vêm pouco depois das maiores vitórias. Logo depois que Cristo o elogiou por sua magnífica confissão em Mateus 16:16 (“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”), Pedro sofreu a mais dura repreensão dada a um discípulo da qual se tem registro no Novo Testamento. Num momento, Cristo chamou Pedro de bem-aventurado e prometeu-lhe as chaves do reino dos céus (versículos 17-19). No parágrafo seguinte, Cristo dirigiu-se a Pedro chamando-o de Satanás e dizendo “Arreda!” (versículo 23), o que significa “Não fique no meu caminho!” Esse episódio ocorreu logo depois da esplêndida confissão de Pedro. Jesus anunciou aos discípulos que estava indo para Jerusalém, onde seria entregue ao sumo sacerdote e aos escribas e seria morto. Ao ouvir isso, “Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mateus 16:22).


Essa ideia de Pedro é perfeitamente compreensível. 
No entanto, ele estava pensando apenas do ponto de vista humano. Não tinha conhecimento do plano de Deus. Sem perceber, estava procurando dissuadir Cristo justamente daquilo que era seu propósito aqui na terra. Como sempre, estava falando quando deveria estar ouvindo. As palavras de Jesus a Pedro estão entre as mais severas ditas por ele a um indivíduo: “Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (versículo 23).

Pedro havia acabado de saber que Deus revelaria a verdade a ele e que orientaria suas palavras à medida em que submetesse sua mente à verdade. Ele não dependia de uma mensagem humana. A mensagem que deveria proclamar lhe seria dada por Deus (versículo 17). Ele também receberia as chaves do reino dos céus — o que significa que sua mensagem abriria o reino de Deus para a salvação de muitos (versículo 19).

Mas agora, através da experiência dolorosa de ser repreendido pelo Senhor, Pedro também soube que era vulnerável a Satanás. O diabo podia encher sua boca de palavras, tanto quanto o Senhor. Se Pedro cogitasse das coisas dos homens, ao invés das coisas de Deus, ou se não fizesse a vontade de Deus, poderia ser um instrumento do inimigo.

Posteriormente, Pedro foi mais uma vez vitimado por Satanás na noite em que Jesus foi preso. Dessa vez, aprendeu da forma difícil que era humanamente fraco e não podia confiar em sua própria força de vontade. Todas as suas grandes promessas e propósitos sinceros não o impediram de cair. Depois de declarar diante de todos que jamais negaria a Cristo, ainda assim negou-o e ressaltou suas negações com fervorosas maldições. Satanás o estava peneirando como trigo. Assim, Pedro aprendeu quanto restolho e quão pouca substância havia nele, e como deveria ser vigilante e cauteloso, confiando somente na força do Senhor.

Ao mesmo tempo, aprendeu que apesar de suas próprias inclinações pecaminosas e de sua fraqueza espiritual, o Senhor desejava usá-lo, e o sustentaria e preservaria em qualquer circunstância.

Pedro aprendeu todas essas coisas por experiência. Por vezes, as experiências foram amargas, angustiantes, humilhantes e dolorosas. Em outras ocasiões foram animadoras, sublimes e absolutamente gloriosas — como quando Pedro viu o esplendor divino de Cristo no monte da transfiguração. De qualquer modo, Pedro aproveitou ao máximo suas experiências, colhendo delas lições que o ajudaram a transformar-se num grande líder.


AS QUALIDADES DE CARÁTER QUE DEFINEM UM VERDADEIRO LÍDER
O terceiro elemento da constituição de um líder 
Além da matéria-prima certa e das experiências de vida certas é o caráter certo. 
O caráter, obviamente, é de importância fundamental para a liderança. 


Na verdade, é o caráter que possibilita a liderança. 
É simplesmente impossível as pessoas respeitarem ou confiarem em alguém que não tem caráter. Se não respeitam um líder, não irão segui-lo. O tempo e a verdade andam de mãos dadas. Líderes sem caráter acabam decepcionando seus seguidores e perdem a confiança deles. O único motivo pelo qual tais pessoas, muitas vezes, têm aceitação popular é o fato de que fazem outras pessoas sem caráter sentirem-se melhor a respeito de si mesmas. No entanto, não são verdadeiros líderes.

A liderança duradoura é fundamentada no caráter. 
O caráter gera respeito.

O respeito gera confiança. E a confiança é o que motiva os seguidores.

Mesmo na esfera puramente humana, a maioria das pessoas reconhece que a verdadeira liderança está devidamente associada a qualidades de caráter como integridade, confiabilidade, respeitabilidade, altruísmo, humildade, autodisciplina, autocontrole e coragem. Tais virtudes refletem a imagem de um homem de Deus. Apesar de a imagem divina encontrar-se gravemente corrompida na humanidade, ela não foi inteiramente apagada. Por esse motivo, até os incrédulos reconhecem tais qualidades como virtudes desejáveis, requisitos importantes para a verdadeira liderança.

O próprio Cristo é a epítome do que um verdadeiro líder deve ser. Ele é perfeito em todos os atributos que compõem o caráter de um líder. Ele é a personificação de todas as qualidades mais verdadeiras, puras, elevadas e nobres de liderança.

É evidente que, em termos de liderança espiritual, o grande alvo e objetivo é levar as pessoas a tornarem-se mais semelhantes a Cristo. Por isso, o próprio líder deve manifestar características semelhantes às de Cristo. Esse é o motivo dos padrões de liderança na igreja serem tão elevados. O apóstolo Paulo resumiu o espírito do verdadeiro líder quando escreveu: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Coríntios 11:1).

Pedro poderia muito bem ter escrito a mesma coisa. Seu caráter foi moldado e formado através dos exemplos que observou em Cristo. Ele possuía a matéria-prima necessária para tornar-se um líder e isso foi importante. Suas experiências de vida ajudaram-no a aprimorar e aperfeiçoar suas aptidões naturais para a liderança, e isso também foi de importância crítica. No entanto, a verdadeira chave de tudo — a fundação essencial que faz com que a liderança autêntica sempre seja exaltada ou venha a cair — é o caráter. Foram as qualidades do caráter de Pedro, desenvolvidas através de um relacionamento íntimo com Cristo, que, em última análise, fizeram dele um grande líder.

Nas palavras de J. R. Miller, “A única coisa que os pranteadores levam do túmulo consigo e aquilo que se recusa a ser sepultado é o caráter de um homem. Aquilo que um homem é vive muito além dele. Jamais pode ser sepultado”. [2] Essa é uma opinião válida, mas há algo mais relevante do que aquilo que as pessoas pensam de nós depois que morremos. Muito mais importante do que isso é o impacto que causamos enquanto estamos aqui.


Quais foram algumas qualidades de um líder espiritual desenvolvidas na vida de Pedro? 
Uma delas foi a submissão. 
À primeira vista, pode parecer uma qualidade estranha para ser cultivada por um líder. 
Afinal, o líder é a pessoa que está no comando e espera que outros submetam-se a ele, certo? 
Contudo, um verdadeiro líder não apenas exige submissão; ele é um exemplo de submissão através da forma que se submete ao Senhor e àqueles que têm autoridade sobre ele. Tudo o que o verdadeiro líder espiritual faz deve ser marcado pela submissão a todas as autoridades legítimas, especialmente submissão a Deus e à sua Palavra.


A tendência dos líderes é de serem seguros e agressivos
São naturalmente dominantes. Pedro possuía tal inclinação dentro si. Falava sem hesitar e agia sem hesitar. Como vimos, era um homem de iniciativa. Isso significa que estava propenso a assumir o controle de todas as situações. A fim de equilibrar esse lado dele, o Senhor ensinou-lhe a submissão.

Ele o fez de maneiras um tanto admiráveis. Um exemplo clássico pode ser encontrado em Mateus 17. Esse relato refere-se a uma ocasião em que Jesus estava voltando com os doze para Cafarnaum, sua base de operações, depois de um período de ministério itinerante. Encontrava-se na cidade um publicano, realizando a coleta costumeira do imposto de duas dracmas (meio estáter) de cada pessoa com 20 anos ou mais. Não se tratava de um imposto pago a Roma, mas sim de um imposto para a manutenção do templo. Havia sido determinado em Êxodo 30:11-16 (veja 2Cr 24:9). O imposto equivalia ao pagamento por dois dias de trabalho, de modo que não era uma quantia pequena.

De acordo com Mateus, “Dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas, e perguntaram: Não paga o vosso mestre as duas dracmas?” (Mateus 17.24). Pedro garantiu-lhes que Jesus pagava seus impostos.

No entanto, ao que parece, esse determinado imposto gerou um certo problema na mente de Pedro. 
Como Filho de Deus encarnado, Jesus tinha a obrigação moral de pagar pela manutenção do templo como um simples ser humano? Os filhos dos reis aqui na terra não pagavam impostos nos reinos de seus pais; por que Jesus deveria? Jesus sabia o que Pedro estava pensando, de modo que “Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?” (versículo 25).

Pedro respondeu: “Dos estranhos”. Os reis não cobram impostos de seus próprios filhos.

Jesus tirou a conclusão lógica para Pedro: “Logo, estão isentos os filhos” (versículo 26). Em outras palavras, se assim o desejasse, Jesus possuía autoridade celestial absoluta para não pagar o imposto do templo.

No entanto, se ele assim o fizesse, estaria transmitindo a mensagem errada no que se referia à sua autoridade terrena. Seria melhor submeter-se, pagar o imposto e evitar uma situação que a maioria das pessoas não iria compreender. Assim, apesar de não ser tecnicamente obrigado a pagar, Jesus disse: “Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti” (versículo 27).

A moeda na boca do peixe era um estáter, uma única moeda equivalente a quatro dracmas. Era a quantia exata para pagar o imposto de duas pessoas. Em outras palavras, Jesus também providenciou para que o imposto de Pedro fosse pago em sua totalidade. 

É curioso como o milagre realizado por Jesus demonstrou sua absoluta soberania, ao mesmo tempo em que ele estava sendo um exemplo de submissão humana. De modo sobrenatural, Cristo dirigiu um peixe que havia engolido uma moeda até ao anzol de Pedro. Se Jesus era Senhor da natureza a esse ponto, certamente, possuía autoridade para não pagar o imposto do templo. No entanto, ao dar o exemplo, ele ensinou Pedro a submeter-se de boa vontade.


A submissão é uma qualidade de caráter indispensável a ser cultivada pelos líderes. 
Se desejam ensinar as pessoas a se submeterem, eles próprios devem ser exemplos de submissão. Às vezes, um líder deve submeter-se mesmo quando há excelentes argumentos contrários a essa submissão.

Pedro aprendeu bem essa lição. Anos depois, em 1Pedro 2:13-18, ele escreveu:

Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livre que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.

Tratai a todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai ao rei. Servos, sede submissos, com todo temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso.

Essa foi a mesma lição que Pedro aprendeu de Cristo: num certo sentido, vocês têm liberdade, mas não usem da mesma como pretexto para fazerem o mal. Antes, considerem-se servos do Senhor. Vocês são cidadãos do céu e meros peregrinos aqui na terra, mas submetam-se a todas as prescrições por amor ao Senhor. Antes de tudo, vocês são súditos do reino de Cristo e simples forasteiros ou peregrinos na terra. Ainda assim, para evitar escândalo, honrem o rei terreno. Honrem a todas as pessoas. Essa é a vontade de Deus e, ao submeterem-se, vocês calarão a ignorância dos homens iníquos.

Lembre-se de que o homem que escreveu essa epístola é o mesmo homem que, quando jovem e afoito, cortou a orelha de um servo do sumo sacerdote. É o mesmo homem que se debateu com a ideia de Jesus pagar impostos. No entanto, ele aprendeu a submeter-se — o que não é uma lição fácil para um líder nato. Especialmente para Pedro, que tendia a ser dominante, impetuoso, agressivo e a resistir à ideia de submissão. Contudo, Jesus o ensinou a submeter-se de bom grado, mesmo quando Pedro acreditava ter um bom argumento para recusar-se a fazê-lo.


A segunda qualidade de caráter que Pedro aprendeu foi o domínio próprio. 
Não é natural à maioria das pessoas com aptidões para a liderança ter como ponto forte o exercício do domínio próprio. O autocontrole, a disciplina, a moderação e a reserva não são necessariamente características naturais daquele que se encontra à frente do grupo. É por isso que tantos líderes têm problemas com a raiva e com as paixões incontidas. Talvez você tenha observado como as palestras sobre gerenciamento da raiva tornaram-se a última moda entre presidentes de companhias e pessoas em cargos elevados de administração no mundo dos negócios em nosso país. Fica claro que a raiva é um problema comum e grave entre pessoas que chegaram a um nível tão alto de liderança.

Pedro possuía tendências semelhantes. Uma cabeça quente faz parte do tipo de personalidade voltada para a ação, decisão e iniciativa que fez dele um líder. Uma pessoa como Pedro impacienta-se facilmente com outros cuja visão ou desempenho ficam aquém do desejado. Pode, ainda, irritar-se rapidamente com aqueles que colocam obstáculos para o seu sucesso. Desse modo, a fim de ser um bom líder, deve aprender a ter domínio próprio.

De certa forma, o Senhor colocou um freio na boca de Pedro e o ensinou sobre o domínio próprio. Esse é um dos principais motivos pelos quais Pedro sofreu tantas repreensões quando falou antes da hora ou agiu precipitadamente. O Senhor estava ensinando-o constantemente a ter domínio próprio.

O episódio no jardim em que Pedro decepou a orelha de Malco é um exemplo clássico de sua falta natural de domínio próprio. Mesmo cercado de centenas de soldados romanos, todos armados até os dentes, Pedro impensadamente puxou sua espada e estava pronto para pôr-se a brandi-la no meio da multidão. Felizmente para ele, Malco perdeu apenas uma orelha e Jesus imediatamente reparou o estrago. Como vimos anteriormente, Pedro foi repreendido com severidade.

Aquela repreensão deve ter sido especialmente difícil para Pedro, uma vez que aconteceu na frente de uma multidão de inimigos. No entanto, ele aprendeu muita coisa com o que testemunhou naquela noite. Mais tarde ele escreveria: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (2Pedro 2:21-23).

Que diferença daquele rapaz que tentou tomar a espada e abrir caminho no meio de seus adversários. Pedro havia aprendido a lição do domínio próprio.


Ele também teve de aprender humildade. 
Com frequência, os líderes são tentados a cair no pecado do orgulho. Na verdade, o pecado mais comum da liderança é considerar-se maior do que se deve. Quando as pessoas estão seguindo sua liderança, constantemente elogiando-o, tomando-o como exemplo e admirando-o, é muito fácil ser tomado de orgulho.

Podemos observar em Pedro uma tremenda segurança. Ela fica evidente pelo modo que ele responde imediatamente a todas as perguntas. Fica evidente também em grande parte de suas ações, como no caso em que ele saiu do barco e começou a andar sobre as águas. Ficou evidente da pior e mais trágica maneira naquela fatídica ocasião em que Jesus predisse que seus discípulos iriam negá-lo.

Jesus disse: “Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mateus 26:31).

No entanto, Pedro estava absolutamente seguro: “Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim” (versículo 33, ênfase minha). Então, acrescentou: “Senhor, estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como para a morte” (Lucas 22:33).

É claro que, como sempre, Pedro estava errado e Jesus estava certo. Pedro de fato negou a Cristo não apenas uma vez, mas várias, exatamente como Jesus o havia advertido. A vergonha e desgraça de Pedro por ter desonrado a Cristo de modo tão flagrante só foram aumentadas pelo fato de que ele havia se orgulhado com tanta obstinação sobre sua imunidade a tais pecados! Porém, o Senhor usou tudo isso para tornar Pedro um homem humilde. E quando Pedro escreveu sua primeira epístola, disse: “cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pedro 5:5-6). Aos líderes da igreja, disse especificamente: “[Não ajam] como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (versículo 3). A humildade tornou-se uma das virtudes que caracterizaram a vida de Pedro, sua mensagem e seu estilo de liderança.


Pedro também aprendeu sobre o amor. 
Todos os discípulos tiveram dificuldade de aprender que a verdadeira liderança espiritual significa servir uns aos outros em amor. O verdadeiro líder é alguém que serve, não alguém que exige ser servido.

Essa é uma lição muito difícil para muitos líderes natos. Sua tendência é ver as pessoas como meios de alcançar um fim. Normalmente, os líderes voltam-se para os objetivos e não para as pessoas. Desse modo, com frequência usam as pessoas ou passam por cima delas, a fim de alcançarem seus objetivos. Pedro e os outros discípulos precisavam aprender que a liderança encontra-se arraigada e fundamentada no serviço de amor aos outros. O verdadeiro líder ama e serve aqueles a quem ele lidera.

Jesus disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos” (Marcos 9:35). O próprio Senhor serviu constantemente de modelo aos seus discípulos desse tipo de liderança de serviço. No entanto, em momento algum isso foi demonstrado mais claramente do que no cenáculo, na noite em que ele foi traído.

Jesus e seus discípulos tinham ido a Jerusalém para celebrar a Páscoa em um cômodo alugado na cidade. A ceia de Páscoa era uma refeição longa e cerimoniosa, chegando a durar quatro ou cinco horas. Naquela cultura, em vez de sentarem-se em cadeiras, os participantes, normalmente, se reclinavam ao redor de uma mesa baixa. Isso significava que a cabeça de uma pessoa ficava perto dos pés da outra. É claro que todas as ruas eram lamacentas ou empoeiradas e os pés estavam sempre sujos. Assim, o costume da época era que, quando os convidados entrassem numa casa para fazer uma refeição, normalmente, havia um servo cujo trabalho era lavar os pés deles. Esse era, praticamente, o trabalho mais humilde de todos. No entanto, qualquer anfitrião que deixasse de providenciar para que os pés de seus convidados fossem lavados cometia uma grave afronta (veja Lucas 7:44).

Ao que parece, nessa noite agitada de Páscoa, no cômodo alugado, não haviam providenciado para que um servo lavasse os pés dos hóspedes. Fica evidente que os discípulos estavam preparados para deixar passar essa falha de etiqueta em vez de oferecerem-se para uma tarefa tão servil. Reuniram-se, portanto, ao redor da mesa como se estivessem prontos para começar a refeição sem lavar os pés. Assim, de acordo com as Escrituras, o próprio Jesus “levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido” (João 13:4- 5). [3]

O próprio Jesus — aquele que, por direito, era chamado de Senhor — tomou sobre si o papel do mais humilde dos escravos e lavou os pés sujos de seus discípulos.
 De acordo com Lucas, aproximadamente no mesmo momento em que isso aconteceu, os discípulos estavam no meio de uma discussão sobre qual deles era o maior (Lucas 22:24). Estavam interessados em serem exaltados, não humilhados. Assim, Jesus fez o que nenhum deles quis fazer. Deu-lhes uma lição sobre a humildade do verdadeiro amor.


A maioria, provavelmente, ficou lá sentada, num silêncio aturdido. 
Mas quando o Senhor aproximou-se de Simão Pedro, “este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim?” (João 13:6). O sentido dessa pergunta é: O que você pensa que está fazendo? Eis o impetuoso e ousado Simão, falando sem pensar. Chegou até mesmo a dizer, “Nunca me lavarás os pés” (versículo 8).

Pedro era especialista em declarações absolutas: “Nunca o serás [tropeço] para mim” (veja Mateus 26:33). “Nunca me lavarás os pés”. Não havia meio termo na vida de Pedro; tudo é absolutamente preto ou branco. Jesus lhe respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (João 13:8). É claro que Jesus estava falando da necessidade de purificação espiritual. Obviamente, não era a limpeza física que tornava os discípulos dignos de terem comunhão com Cristo.

Jesus estava se referindo à purificação dos pecados. Era essa a realidade espiritual que o ato humilde de lavar os pés tinha a intenção de simbolizar. (A prova de que ele estava falando de purificação espiritual encontra-se no versículo 10, quando Jesus diz: “Ora, vós estais limpos, mas não todos”. Ele havia acabado de lhes lavar os pés, de modo que estavam limpos num sentido exterior e físico. No entanto, o apóstolo João diz no versículo 11: “Ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos” — significando que Judas não estava limpo no sentido espiritual em que Jesus estava falando).

A resposta de Pedro é típica de sua costumeira franqueza incontida: “Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (versículo 9). Mais uma vez, não havia meio-termo para Pedro. Era sempre tudo ou nada. Assim, Jesus assegurou-o de que ele já estava “todo limpo”. (O Senhor continua falando em termos espirituais, referindo-se ao perdão dos pecados.) Naquele momento, Pedro não precisava que mais nada além de seus pés fosse purificado.

Em outras palavras, como crente, Pedro já estava plenamente justificado. O perdão e a purificação de que ele precisava não era o tipo de perdão sumário que se pede ao Juiz do universo — como se Pedro estivesse procurando acertar seu destino eterno. Ele já havia recebido esse tipo de perdão e purificação. Naquele momento, Pedro dirigia-se a Deus como uma criança aproxima-se do pai ou da mãe, buscando graça e perdão paternos das suas transgressões. Era desse tipo de perdão que Pedro necessitava. O mesmo tipo de perdão que Jesus ensinou todos os crentes a buscarem diariamente em oração (Lucas 11:4). Aqui, Jesus compara tal perdão diário ao ato de lavar os pés.

Essas verdades encontravam-se todas envoltas no simbolismo quando Jesus lavou os pés dos discípulos. No entanto, a lição central consistia da forma como deve-se demonstrar amor. O exemplo de Jesus é um ato consumado de serviço humilde e amoroso.

Mais tarde naquela noite, depois que Judas havia partido, Jesus disse as outros onze: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:34-35). De que modo ele os amou? Ele lavou seus pés. Enquanto estavam discutindo sobre quem era o maior, ele mostrou-lhes o que é servir de maneira humilde, amorosa e mútua.

Para a maior parte dos líderes, é difícil abaixar-se e lavar os pés daqueles que consideram seus subordinados. No entanto, esse foi o exemplo de liderança que Jesus deu e que instou seus discípulos a seguirem. Na verdade, ele disse-lhes que mostrar amor uns pelos outros dessa maneira era a marca do verdadeiro discípulo.

Pedro aprendeu a amar? 
Certamente, que sim. O amor tornou-se uma das marcas registradas de seus ensinamentos. Em 1Pedro 4:8, escreveu: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”. A palavra grega traduzida como “intenso”, nesse versículo, é ektenes, que significa “esticado até o limite”. Pedro estava nos chamando a amar até o máximo de nossa capacidade. O amor do qual ele falou não é um sentimento. Não consiste em corresponder à pessoas que são naturalmente amáveis. Trata-se de um amor que cobre e compensa pelas falhas e fraquezas dos outros: “O amor cobre uma multidão de pecados”. Esse é o tipo de amor que lava os pés sujos de um irmão. O próprio Pedro aprendeu essa lição através do exemplo de Cristo.


Outra qualidade de caráter importante que Pedro precisou aprender foi a compaixão. 
Quando o Senhor advertiu Pedro de que ele iria negá-lo, disse: “Eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo” (Lucas 22:31). Normalmente, o trigo era separado do restolho ao ser sacudido e jogado para o alto no vento forte. O restolho ia embora com o vento e o trigo caía num monte, sem as impurezas.

Seria de se esperar que Jesus assegurasse a Pedro: “Não vou permitir que Satanás te peneire”. Mas não foi o que ele fez. Em outras palavras, informou Pedro de que havia dado a Satanás a permissão que este havia pedido. Permitiria que Satanás provasse Pedro (como Deus fez no caso de Jó). Na verdade, disse: “Permitirei que Satanás o faça, permitirei que sacuda as próprias fundações de tua vida. Então, deixarei que ele te lance ao vento — até que não reste nada além da realidade da tua fé”. No entanto, Jesus garantiu a Pedro que a fé do apóstolo sobreviveria à provação. Disse-lhe: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (versículo 32).

Foi então que, em sua arrogância, Pedro insistiu que jamais tropeçaria. No entanto, apesar de seus protestos, antes de aquela noite terminar, ele de fato negou a Jesus e seu mundo todo foi vigorosamente sacudido. Seu ego foi esvaziado. Sua segurança foi aniquilada. Seu orgulho sofreu profundamente. Sua fé, porém, jamais desfaleceu.

Do que se tratava tudo isso? Jesus estava capacitando Pedro para que este pudesse fortalecer seus irmãos. Pessoas com aptidão nata de liderança, com frequência, tendem a ter pouca compaixão, a ser péssimos consoladores e impacientes com os outros. Enquanto procuram alcançar seus objetivos, não param muito tempo para cuidar dos feridos. Pedro precisava aprender a ter compaixão através de seu próprio sofrimento, de modo que quando este tivesse acabado, ele pudesse fortalecer outros em meio à sua dor.

Ao longo da vida, depois disso, Pedro precisaria mostrar compaixão pelas pessoas que estavam se debatendo. Depois de ser peneirado por Satanás, Pedro estava devidamente preparado para ter empatia com as fraquezas dos outros. Não era difícil para ele ter compaixão daqueles que sucumbiam à tentação ou caíam em pecado. Ele havia passado por isso. Através daquela experiência, havia aprendido a ser compassivo, brando, bondoso, gentil e consolador a outros que estavam feridos pelo pecado e pelo fracasso pessoal.

Em 1Pedro 5.8-10, escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.


Pedro entendia a fraqueza humana e entendia bem. 
Ele havia chegado ao fundo do poço. Ele havia sido confrontado com sua própria fraqueza. No entanto, havia sido aperfeiçoado, fortificado e fundamentado pelo Senhor. Como de costume, estava escrevendo a partir de sua própria experiência, e não ensinando preceitos teóricos.


Por fim, era preciso que ele aprendesse a ter coragem. 
Não o tipo falso de “coragem” impetuosa e atirada que o levara a brandir sua espada de modo tão selvagem contra Malco, mas uma disposição madura, determinada e intrépida de sofrer por amor a Cristo.


O reino das trevas opõe-se ao reino da luz. 
As mentiras opõem-se à verdade. Satanás opõe-se a Deus. Assim, aonde quer fosse, Pedro enfrentaria dificuldades. Cristo lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres” (João 21:18).

O que ele queria dizer? 
A resposta do apóstolo João é clara: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (versículo 19).


Para Pedro, o preço de pregar seria a morte. 
Perseguição. 
Opressão. 
Dificuldades. 
Tortura. 
Por fim, o martírio. Pedro precisaria de coragem tão sólida quanto uma rocha para perseverar.

Pode-se praticamente ver a coragem nascendo no coração de Pedro em Pentecostes, quando ele foi enchido pelo Espírito Santo e dele recebeu poder. Antes disso, o apóstolo havia mostrado lampejos de um tipo inconstante de coragem. Foi por isso que, num instante, impetuosamente brandiu sua espada na frente de uma multidão de soldados armados, mas, algumas horas depois, negou a Jesus quando foi questionado por uma jovem serva. Sua coragem, como tudo em sua vida, era marcada pela instabilidade.

Depois de Pentecostes, porém, vemos um Pedro diferente. Atos 4 descreve como Pedro e João foram levados perante o sinédrio, o conselho governante dos judeus. Foram enfaticamente instruídos para que “não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus” (versículo 18).

Pedro e João responderam com ousadia. “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (versículos 19-20). Não tardou para que fossem levados perante o sinédrio novamente por continuarem a pregar. Mais uma vez, disseram a mesma coisa: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). Cheio do Espírito Santo e impelido pelo conhecimento de que Cristo havia ressuscitado dos mortos, Pedro havia adquirido uma coragem inabalável, firme como uma rocha.

Na primeira epístola de Pedro, vemos de relance o motivo pelo qual havia nele tanta coragem. Ao escrever para os cristãos dispersados por todo o império romano por causa da perseguição, ele diz:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. (1Pedro 1:3-7)

Pedro sabia que, em Cristo, estava seguro. Ele havia visto o Cristo ressurreto, de modo que sabia que Cristo havia conquistado a morte. Sabia que, quaisquer que fossem as provações sofridas aqui na terra, eram simplesmente temporárias. Apesar de serem muitas vezes dolorosas e amargas, as provações não eram nada se comparadas à esperança da glória eterna (veja Romanos 8:18). Ele sabia que a autenticidade da verdadeira fé era infinitamente mais preciosa do que quaisquer riquezas perecíveis da terra, pois sua fé redundaria no louvor e glória a Cristo quando ele voltasse. Era essa esperança que dava coragem a Pedro.

À medida que Pedro aprendeu todas essas lições e seu caráter foi transformado — à medida que se tornou o homem que Cristo desejava que ele fosse — pouco a pouco deixou de ser Simão e passou a ser a Rocha. Aprendeu submissão, domínio próprio, humildade, amor, compaixão e coragem através do exemplo do Senhor. E por causa do Espírito Santo trabalhando em seu coração, tornou-se, de fato, um grande líder. Ele pregou em Pentecostes e três mil pessoas foram salvas (Atos 2:14- 41).


Ele e João curaram um homem coxo (Atos 3:1-10). 
Era tão poderoso que pessoas foram curadas em sua sombra (Atos 5:15-16). Ressuscitou a Dorcas dentre os mortos (Atos 9:36-42). Apresentou o evangelho aos gentios (Atos 10). E escreveu duas epístolas, 1 e 2Pedro, nas quais colocou algumas das mesmas lições que havia aprendido do Senhor sobre um caráter verdadeiro. Pedro foi um homem e tanto! Era perfeito? Não. Em Gálatas 2, o apóstolo Paulo relata um episódio no qual Pedro cedeu. Agiu como um hipócrita. Vemos um lampejo do antigo Simão.

Pedro estava comendo com gentios, tendo comunhão com eles como verdadeiros irmãos em Cristo — até que surgiram alguns falsos mestres. Esses hereges insistiram que, a menos que os gentios fossem circuncidados de acordo com as leis cerimoniais do Antigo Testamento, não poderiam ser salvos e não deveriam ser tratados como irmãos. Ao que parece, intimidado pelos falsos mestres, Pedro parou de comer com os irmãos gentios (Gálatas 2:12). O versículo 13 diz que quando Pedro fez isso, todos o imitaram, pois ele era seu líder. Assim, o apóstolo Paulo escreve: “Resisti-lhe face a face, porque tornara-se repreensível” (versículo 11). Paulo repreendeu a Pedro na presença de todos. Em favor de Pedro, deve-se dizer, porém, que ele respondeu à correção de Paulo. Quando a heresia dos judaizantes finalmente foi confrontada num concílio de todos os líderes da igreja e apóstolos, em Jerusalém, Pedro foi o primeiro falar em defesa do evangelho da graça divina. Foi ele quem apresentou o argumento definitivo (Atos 15:7-14). Com efeito, defendeu o ministério do apóstolo Paulo. Esse episódio todo mostra como Simão Pedro continuou pronto a aprender, humilde e sensível à convicção e correção do Espírito Santo. Que fim teve a vida de Pedro? Sabemos que Jesus disse a Pedro que ele morreria como mártir (João 21:18-19). No entanto, as Escrituras não relatam a morte de Pedro. Todos os registros da história da igreja primitiva indicam que Pedro foi crucificado. Eusébio cita o testemunho de Clemente, o qual diz que, antes de Pedro ser crucificado, foi forçado a assistir à crucificação de sua própria esposa. De acordo com Clemente, ao vê-la sendo levada para a morte, Pedro chamou-a pelo nome e disse: “Lembre-se do Senhor”. Quando chegou a vez de Pedro morrer, ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo pois não era digno de morrer como seu Senhor havia morrido. E assim, ele foi pregado a uma cruz invertida. [4]

A vida de Pedro pode ser resumida nas palavras finais de sua segunda epístola: “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pedro 3:18). Foi exatamente isso que Pedro fez e por isso tornou-se Rocha — o grande líder da igreja primitiva.


AS QUALIDADES DE CARÁTER QUE DEFINEM UM VERDADEIRO LÍDER
O terceiro elemento da constituição de um líder 
Além da matéria-prima certa e das experiências de vida certas — é o caráter certo. 
O caráter, obviamente, é de importância fundamental para a liderança. O atual declínio dos Estados Unidos está diretamente relacionado ao fato de que elegemos, nomeamos e contratamos muitos líderes sem nenhum caráter. Nos últimos anos, procuramos argumentar que o caráter na realidade não é importante para a liderança; aquilo que uma pessoa faz em sua vida particular supostamente não deve ser levado em consideração quando essa pessoa é candidata a um cargo público de liderança. Essa perspectiva encontra-se em total oposição àquilo que a Bíblia ensina. Na liderança, o caráter importa sim. E muito. Na verdade, é o caráter que possibilita a liderança. É simplesmente impossível as pessoas respeitarem ou confiarem em alguém que não tem caráter. Se não respeitam um líder, não irão segui-lo.

O tempo e a verdade andam de mãos dadas. 
Líderes sem caráter acabam decepcionando seus seguidores e perdem a confiança deles. O único motivo pelo qual tais pessoas, muitas vezes, têm aceitação popular é o fato de que fazem outras pessoas sem caráter sentirem-se melhor a respeito de si mesmas. No entanto, não são verdadeiros líderes. A liderança duradoura é fundamentada no caráter.

O caráter gera respeito. 
O respeito gera confiança. E a confiança é o que motiva os seguidores. Mesmo na esfera puramente humana, a maioria das pessoas reconhece que a verdadeira liderança está devidamente associada a qualidades de caráter como integridade, confiabilidade, respeitabilidade, altruísmo, humildade, autodisciplina, autocontrole e coragem. Tais virtudes refletem a imagem de um homem de Deus.

Apesar de a imagem divina encontrar-se gravemente corrompida na humanidade, ela não foi inteiramente apagada. Por esse motivo, até os incrédulos reconhecem tais qualidades como virtudes desejáveis, requisitos importantes para a verdadeira liderança.

O próprio Cristo é a epítome do que um verdadeiro líder deve ser. Ele é perfeito em todos os atributos que compõem o caráter de um líder. Ele é a personificação de todas as qualidades mais verdadeiras, puras, elevadas e nobres de liderança. É evidente que, em termos de liderança espiritual, o grande alvo e objetivo é levar as pessoas a tornarem-se mais semelhantes a Cristo. Por isso, o próprio líder deve manifestar características semelhantes às de Cristo. Esse é o motivo dos padrões de liderança na igreja serem tão elevados.

O apóstolo Paulo resumiu o espírito do verdadeiro líder quando escreveu: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Coríntios 11:1). Pedro poderia muito bem ter escrito a mesma coisa. Seu caráter foi moldado e formado através dos exemplos que observou em Cristo.

Ele possuía a matéria-prima necessária para tornar-se um líder e isso foi importante. Suas experiências de vida ajudaram-no a aprimorar e aperfeiçoar suas aptidões naturais para a liderança, e isso também foi de importância crítica. No entanto, a verdadeira chave de tudo — a fundação essencial que faz com que a liderança autêntica sempre seja exaltada ou venha a cair — é o caráter. Foram as qualidades do caráter de Pedro, desenvolvidas através de um relacionamento íntimo com Cristo, que, em última análise, fizeram dele um grande líder.

Nas palavras de J. R. Miller, “A única coisa que os pranteadores levam do túmulo consigo e aquilo que se recusa a ser sepultado é o caráter de um homem. Aquilo que um homem é vive muito além dele. Jamais pode ser sepultado”. [2] Essa é uma opinião válida, mas há algo mais relevante do que aquilo que as pessoas pensam de nós depois que morremos.

Muito mais importante do que isso é o impacto que causamos enquanto estamos aqui. 
Quais foram algumas qualidades de um líder espiritual desenvolvidas na vida de Pedro? 
Uma delas foi a submissão. 
À primeira vista, pode parecer uma qualidade estranha para ser cultivada por um líder. Afinal, o líder é a pessoa que está no comando e espera que outros submetam-se a ele, certo?

Contudo, um verdadeiro líder não apenas exige submissão; ele é um exemplo de submissão através da forma que se submete ao Senhor e àqueles que têm autoridade sobre ele. Tudo o que o verdadeiro líder espiritual faz deve ser marcado pela submissão a todas as autoridades legítimas, especialmente submissão a Deus e à sua Palavra.

A tendência dos líderes é de serem seguros e agressivos. São naturalmente dominantes. Pedro possuía tal inclinação dentro si. Falava sem hesitar e agia sem hesitar. Como vimos, era um homem de iniciativa. Isso significa que estava propenso a assumir o controle de todas as situações. A fim de equilibrar esse lado dele, o Senhor ensinou-lhe a submissão. Ele o fez de maneiras um tanto admiráveis. Um exemplo clássico pode ser encontrado em Mateus 17.

Esse relato refere-se a uma ocasião em que Jesus estava voltando com os doze para Cafarnaum, sua base de operações, depois de um período de ministério itinerante. Encontrava-se na cidade um publicano, realizando a coleta costumeira do imposto de duas dracmas (meio estáter) de cada pessoa com 20 anos ou mais. Não se tratava de um imposto pago a Roma, mas sim de um imposto para a manutenção do templo. Havia sido determinado em Êxodo 30:11-16 (veja 2Cr 24:9). O imposto equivalia ao pagamento por dois dias de trabalho, de modo que não era uma quantia pequena. De acordo com Mateus, “Dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas, e perguntaram: Não paga o vosso mestre as duas dracmas?” (Mateus 17.24).

Pedro garantiu-lhes que Jesus pagava seus impostos. No entanto, ao que parece, esse determinado imposto gerou um certo problema na mente de Pedro. Como Filho de Deus encarnado, Jesus tinha a obrigação moral de pagar pela manutenção do templo como um simples ser humano? Os filhos dos reis aqui na terra não pagavam impostos nos reinos de seus pais; por que Jesus deveria?

Jesus sabia o que Pedro estava pensando, de modo que “Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?” (versículo 25). Pedro respondeu: “Dos estranhos”. Os reis não cobram impostos de seus próprios filhos. Jesus tirou a conclusão lógica para Pedro: “Logo, estão isentos os filhos” (versículo 26).

Em outras palavras, se assim o desejasse, Jesus possuía autoridade celestial absoluta para não pagar o imposto do templo. No entanto, se ele assim o fizesse, estaria transmitindo a mensagem errada no que se referia à sua autoridade terrena. Seria melhor submeter-se, pagar o imposto e evitar uma situação que a maioria das pessoas não iria compreender. Assim, apesar de não ser tecnicamente obrigado a pagar, Jesus disse:

“Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti” (versículo 27).

A moeda na boca do peixe era um estáter, uma única moeda equivalente a quatro dracmas. Era a quantia exata para pagar o imposto de duas pessoas. Em outras palavras, Jesus também providenciou para que o imposto de Pedro fosse pago em sua totalidade.

É curioso como o milagre realizado por Jesus demonstrou sua absoluta soberania, ao mesmo tempo em que ele estava sendo um exemplo de submissão humana. De modo sobrenatural, Cristo dirigiu um peixe que havia engolido uma moeda até ao anzol de Pedro. Se Jesus era Senhor da natureza a esse ponto, certamente, possuía autoridade para não pagar o imposto do templo. No entanto, ao dar o exemplo, ele ensinou Pedro a submeter-se de boa vontade.


A submissão é uma qualidade de caráter indispensável a ser cultivada pelos líderes. 
Se desejam ensinar as pessoas a se submeterem, eles próprios devem ser exemplos de submissão. Às vezes, um líder deve submeter-se mesmo quando há excelentes argumentos contrários a essa submissão. Pedro aprendeu bem essa lição. Anos depois, em 1Pedro 2:13-18, ele escreveu:

Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livre que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.

Tratai a todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai ao rei. Servos, sede submissos, com todo temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso.

Essa foi a mesma lição que Pedro aprendeu de Cristo: num certo sentido, vocês têm liberdade, mas não usem da mesma como pretexto para fazerem o mal. Antes, considerem-se servos do Senhor. Vocês são cidadãos do céu e meros peregrinos aqui na terra, mas submetam-se a todas as prescrições por amor ao Senhor. Antes de tudo, vocês são súditos do reino de Cristo e simples forasteiros ou peregrinos na terra. Ainda assim, para evitar escândalo, honrem o rei terreno. Honrem a todas as pessoas. Essa é a vontade de Deus e, ao submeterem-se, vocês calarão a ignorância dos homens iníquos.

Lembre-se de que o homem que escreveu essa epístola é o mesmo homem que, quando jovem e afoito, cortou a orelha de um servo do sumo sacerdote. É o mesmo homem que se debateu com a ideia de Jesus pagar impostos. No entanto, ele aprendeu a submeter-se — o que não é uma lição fácil para um líder nato. Especialmente para Pedro, que tendia a ser dominante, impetuoso, agressivo e a resistir à ideia de submissão. Contudo, Jesus o ensinou a submeter-se de bom grado, mesmo quando Pedro acreditava ter um bom argumento para recusar-se a fazê-lo.


A segunda qualidade de caráter que Pedro aprendeu foi o domínio próprio. 
Não é natural à maioria das pessoas com aptidões para a liderança ter como ponto forte o exercício do domínio próprio. O autocontrole, a disciplina, a moderação e a reserva não são necessariamente características naturais daquele que se encontra à frente do grupo. É por isso que tantos líderes têm problemas com a raiva e com as paixões incontidas. Talvez você tenha observado como as palestras sobre gerenciamento da raiva tornaram-se a última moda entre presidentes de companhias e pessoas em cargos elevados de administração no mundo dos negócios em nosso país. Fica claro que a raiva é um problema comum e grave entre pessoas que chegaram a um nível tão alto de liderança.


Pedro possuía tendências semelhantes. 
Uma cabeça quente faz parte do tipo de personalidade voltada para a ação, decisão e iniciativa que fez dele um líder. Uma pessoa como Pedro impacienta-se facilmente com outros cuja visão ou desempenho ficam aquém do desejado. Pode, ainda, irritar-se rapidamente com aqueles que colocam obstáculos para o seu sucesso. Desse modo, a fim de ser um bom líder, deve aprender a ter domínio próprio.


De certa forma, o Senhor colocou um freio na boca de Pedro e o ensinou sobre o domínio próprio. 
Esse é um dos principais motivos pelos quais Pedro sofreu tantas repreensões quando falou antes da hora ou agiu precipitadamente. O Senhor estava ensinando-o constantemente a ter domínio próprio.

O episódio no jardim em que Pedro decepou a orelha de Malco é um exemplo clássico de sua falta natural de domínio próprio. Mesmo cercado de centenas de soldados romanos, todos armados até os dentes, Pedro impensadamente puxou sua espada e estava pronto para pôr-se a brandi-la no meio da multidão. Felizmente para ele, Malco perdeu apenas uma orelha e Jesus imediatamente reparou o estrago. Como vimos anteriormente, Pedro foi repreendido com severidade.

Aquela repreensão deve ter sido especialmente difícil para Pedro, uma vez que aconteceu na frente de uma multidão de inimigos. No entanto, ele aprendeu muita coisa com o que testemunhou naquela noite. Mais tarde ele escreveria: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (2Pedro 2:21-23).

Que diferença daquele rapaz que tentou tomar a espada e abrir caminho no meio de seus adversários. Pedro havia aprendido a lição do domínio próprio.

Ele também teve de aprender humildade. Com frequência, os líderes são tentados a cair no pecado do orgulho. Na verdade, o pecado mais comum da liderança é considerar-se maior do que se deve. Quando as pessoas estão seguindo sua liderança, constantemente elogiando-o, tomando-o como exemplo e admirando-o, é muito fácil ser tomado de orgulho.

Podemos observar em Pedro uma tremenda segurança. Ela fica evidente pelo modo que ele responde imediatamente a todas as perguntas. Fica evidente também em grande parte de suas ações, como no caso em que ele saiu do barco e começou a andar sobre as águas. Ficou evidente da pior e mais trágica maneira naquela fatídica ocasião em que Jesus predisse que seus discípulos iriam negá-lo. Jesus disse: “Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mateus 26:31).

No entanto, Pedro estava absolutamente seguro: “Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim” (versículo 33, ênfase minha). Então, acrescentou: “Senhor, estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como para a morte” (Lucas 22:33). É claro que, como sempre, Pedro estava errado e Jesus estava certo. Pedro de fato negou a Cristo não apenas uma vez, mas várias, exatamente como Jesus o havia advertido. A vergonha e desgraça de Pedro por ter desonrado a Cristo de modo tão flagrante só foram aumentadas pelo fato de que ele havia se orgulhado com tanta obstinação sobre sua imunidade a tais pecados!

Porém, o Senhor usou tudo isso para tornar Pedro um homem humilde. E quando Pedro escreveu sua primeira epístola, disse: “cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pedro 5:5-6). Aos líderes da igreja, disse especificamente: “[Não ajam] como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (versículo 3). A humildade tornou-se uma das virtudes que caracterizaram a vida de Pedro, sua mensagem e seu estilo de liderança. Pedro também aprendeu sobre o amor. Todos os discípulos tiveram dificuldade de aprender que a verdadeira liderança espiritual significa servir uns aos outros em amor. O verdadeiro líder é alguém que serve, não alguém que exige ser servido. Essa é uma lição muito difícil para muitos líderes natos. Sua tendência é ver as pessoas como meios de alcançar um fim. Normalmente, os líderes voltam-se para os objetivos e não para as pessoas. Desse modo, com frequência usam as pessoas ou passam por cima delas, a fim de alcançarem seus objetivos.

Pedro e os outros discípulos precisavam aprender que a liderança encontra-se arraigada e fundamentada no serviço de amor aos outros. 


O verdadeiro líder ama e serve aqueles a quem ele lidera. 
Jesus disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos” (Marcos 9:35). O próprio Senhor serviu constantemente de modelo aos seus discípulos desse tipo de liderança de serviço. No entanto, em momento algum isso foi demonstrado mais claramente do que no cenáculo, na noite em que ele foi traído.

Jesus e seus discípulos tinham ido a Jerusalém para celebrar a Páscoa em um cômodo alugado na cidade. A ceia de Páscoa era uma refeição longa e cerimoniosa, chegando a durar quatro ou cinco horas. Naquela cultura, em vez de sentarem-se em cadeiras, os participantes, normalmente, se reclinavam ao redor de uma mesa baixa. Isso significava que a cabeça de uma pessoa ficava perto dos pés da outra. É claro que todas as ruas eram lamacentas ou empoeiradas e os pés estavam sempre sujos. Assim, o costume da época era que, quando os convidados entrassem numa casa para fazer uma refeição, normalmente, havia um servo cujo trabalho era lavar os pés deles. Esse era, praticamente, o trabalho mais humilde de todos. No entanto, qualquer anfitrião que deixasse de providenciar para que os pés de seus convidados fossem lavados cometia uma grave afronta (veja Lucas 7:44).

Ao que parece, nessa noite agitada de Páscoa, no cômodo alugado, não haviam providenciado para que um servo lavasse os pés dos hóspedes. Fica evidente que os discípulos estavam preparados para deixar passar essa falha de etiqueta em vez de oferecerem-se para uma tarefa tão servil. Reuniram-se, portanto, ao redor da mesa como se estivessem prontos para começar a refeição sem lavar os pés. Assim, de acordo com as Escrituras, o próprio Jesus “levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido” (João 13:4- 5). [3]

O próprio Jesus — aquele que, por direito, era chamado de Senhor — tomou sobre si o papel do mais humilde dos escravos e lavou os pés sujos de seus discípulos. De acordo com Lucas, aproximadamente no mesmo momento em que isso aconteceu, os discípulos estavam no meio de uma discussão sobre qual deles era o maior (Lucas 22:24). Estavam interessados em serem exaltados, não humilhados. Assim, Jesus fez o que nenhum deles quis fazer. Deu-lhes uma lição sobre a humildade do verdadeiro amor.

A maioria, provavelmente, ficou lá sentada, num silêncio aturdido. Mas quando o Senhor aproximou-se de Simão Pedro, “este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim?” (João 13:6). O sentido dessa pergunta é: O que você pensa que está fazendo? Eis o impetuoso e ousado Simão, falando sem pensar. Chegou até mesmo a dizer, “Nunca me lavarás os pés” (versículo 8). Pedro era especialista em declarações absolutas: “Nunca o serás [tropeço] para mim” (veja Mateus 26:33). “Nunca me lavarás os pés”. Não havia meio termo na vida de Pedro; tudo é absolutamente preto ou branco.

Jesus lhe respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (João 13:8). É claro que Jesus estava falando da necessidade de purificação espiritual. Obviamente, não era a limpeza física que tornava os discípulos dignos de terem comunhão com Cristo. Jesus estava se referindo à purificação dos pecados. Era essa a realidade espiritual que o ato humilde de lavar os pés tinha a intenção de simbolizar. (A prova de que ele estava falando de purificação espiritual encontra-se no versículo 10, quando Jesus diz: “Ora, vós estais limpos, mas não todos”. Ele havia acabado de lhes lavar os pés, de modo que estavam limpos num sentido exterior e físico. No entanto, o apóstolo João diz no versículo 11: “Ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos” — significando que Judas não estava limpo no sentido espiritual em que Jesus estava falando).

A resposta de Pedro é típica de sua costumeira franqueza incontida: “Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (versículo 9). Mais uma vez, não havia meio-termo para Pedro. Era sempre tudo ou nada. Assim, Jesus assegurou-o de que ele já estava “todo limpo”. (O Senhor continua falando em termos espirituais, referindo-se ao perdão dos pecados.) Naquele momento, Pedro não precisava que mais nada além de seus pés fosse purificado.

Em outras palavras, como crente, Pedro já estava plenamente justificado. O perdão e a purificação de que ele precisava não era o tipo de perdão sumário que se pede ao Juiz do universo — como se Pedro estivesse procurando acertar seu destino eterno. Ele já havia recebido esse tipo de perdão e purificação. Naquele momento, Pedro dirigia-se a Deus como uma criança aproxima-se do pai ou da mãe, buscando graça e perdão paternos das suas transgressões. Era desse tipo de perdão que Pedro necessitava. O mesmo tipo de perdão que Jesus ensinou todos os crentes a buscarem diariamente em oração (Lucas 11:4). Aqui, Jesus compara tal perdão diário ao ato de lavar os pés.

Essas verdades encontravam-se todas envoltas no simbolismo quando Jesus lavou os pés dos discípulos. No entanto, a lição central consistia da forma como deve-se demonstrar amor. O exemplo de Jesus é um ato consumado de serviço humilde e amoroso.

Mais tarde naquela noite, depois que Judas havia partido, Jesus disse as outros onze: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:34-35). De que modo ele os amou? Ele lavou seus pés. Enquanto estavam discutindo sobre quem era o maior, ele mostrou-lhes o que é servir de maneira humilde, amorosa e mútua.


Para a maior parte dos líderes, é difícil abaixar-se e lavar os pés daqueles que consideram seus subordinados. 
No entanto, esse foi o exemplo de liderança que Jesus deu e que instou seus discípulos a seguirem. Na verdade, ele disse-lhes que mostrar amor uns pelos outros dessa maneira era a marca do verdadeiro discípulo. Pedro aprendeu a amar? Certamente, que sim. O amor tornou-se uma das marcas registradas de seus ensinamentos. Em 1Pedro 4:8, escreveu: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”. A palavra grega traduzida como “intenso”, nesse versículo, é ektenes, que significa “esticado até o limite”.

Pedro estava nos chamando a amar até o máximo de nossa capacidade. O amor do qual ele falou não é um sentimento. Não consiste em corresponder à pessoas que são naturalmente amáveis. Trata-se de um amor que cobre e compensa pelas falhas e fraquezas dos outros: “O amor cobre uma multidão de pecados”. Esse é o tipo de amor que lava os pés sujos de um irmão. O próprio Pedro aprendeu essa lição através do exemplo de Cristo.


Outra qualidade de caráter importante que Pedro precisou aprender foi a compaixão. 
Quando o Senhor advertiu Pedro de que ele iria negá-lo, disse: “Eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo” (Lucas 22:31). Normalmente, o trigo era separado do restolho ao ser sacudido e jogado para o alto no vento forte. O restolho ia embora com o vento e o trigo caía num monte, sem as impurezas.

Seria de se esperar que Jesus assegurasse a Pedro: “Não vou permitir que Satanás te peneire”. Mas não foi o que ele fez. Em outras palavras, informou Pedro de que havia dado a Satanás a permissão que este havia pedido. Permitiria que Satanás provasse Pedro (como Deus fez no caso de Jó). Na verdade, disse: “Permitirei que Satanás o faça, permitirei que sacuda as próprias fundações de tua vida. Então, deixarei que ele te lance ao vento — até que não reste nada além da realidade da tua fé”. No entanto, Jesus garantiu a Pedro que a fé do apóstolo sobreviveria à provação. Disse-lhe: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (versículo 32).

Foi então que, em sua arrogância, Pedro insistiu que jamais tropeçaria. No entanto, apesar de seus protestos, antes de aquela noite terminar, ele de fato negou a Jesus e seu mundo todo foi vigorosamente sacudido. Seu ego foi esvaziado. Sua segurança foi aniquilada. Seu orgulho sofreu profundamente. Sua fé, porém, jamais desfaleceu.


Do que se tratava tudo isso? 
Jesus estava capacitando Pedro para que este pudesse fortalecer seus irmãos. Pessoas com aptidão nata de liderança, com frequência, tendem a ter pouca compaixão, a ser péssimos consoladores e impacientes com os outros. Enquanto procuram alcançar seus objetivos, não param muito tempo para cuidar dos feridos. Pedro precisava aprender a ter compaixão através de seu próprio sofrimento, de modo que quando este tivesse acabado, ele pudesse fortalecer outros em meio à sua dor.

Ao longo da vida, depois disso, Pedro precisaria mostrar compaixão pelas pessoas que estavam se debatendo. Depois de ser peneirado por Satanás, Pedro estava devidamente preparado para ter empatia com as fraquezas dos outros. Não era difícil para ele ter compaixão daqueles que sucumbiam à tentação ou caíam em pecado. Ele havia passado por isso. Através daquela experiência, havia aprendido a ser compassivo, brando, bondoso, gentil e consolador a outros que estavam feridos pelo pecado e pelo fracasso pessoal.

Em 1Pedro 5.8-10, escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.

Pedro entendia a fraqueza humana e entendia bem. Ele havia chegado ao fundo do poço. Ele havia sido confrontado com sua própria fraqueza. No entanto, havia sido aperfeiçoado, fortificado e fundamentado pelo Senhor. Como de costume, estava escrevendo a partir de sua própria experiência, e não ensinando preceitos teóricos.

Por fim, era preciso que ele aprendesse a ter coragem. Não o tipo falso de “coragem” impetuosa e atirada que o levara a brandir sua espada de modo tão selvagem contra Malco, mas uma disposição madura, determinada e intrépida de sofrer por amor a Cristo.

O reino das trevas opõe-se ao reino da luz. As mentiras opõem-se à verdade. Satanás opõe-se a Deus. Assim, aonde quer fosse, Pedro enfrentaria dificuldades. Cristo lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres” (João 21:18).

O que ele queria dizer? 
A resposta do apóstolo João é clara: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (versículo 19). Para Pedro, o preço de pregar seria a morte. Perseguição. Opressão. Dificuldades. Tortura. Por fim, o martírio. Pedro precisaria de coragem tão sólida quanto uma rocha para perseverar.

Pode-se praticamente ver a coragem nascendo no coração de Pedro em Pentecostes, quando ele foi enchido pelo Espírito Santo e dele recebeu poder. Antes disso, o apóstolo havia mostrado lampejos de um tipo inconstante de coragem. Foi por isso que, num instante, impetuosamente brandiu sua espada na frente de uma multidão de soldados armados, mas, algumas horas depois, negou a Jesus quando foi questionado por uma jovem serva. Sua coragem, como tudo em sua vida, era marcada pela instabilidade.


Depois de Pentecostes, porém, vemos um Pedro diferente. 
Atos 4 descreve como Pedro e João foram levados perante o sinédrio, o conselho governante dos judeus. Foram enfaticamente instruídos para que “não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus” (versículo 18).

Pedro e João responderam com ousadia. 
“Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (versículos 19-20). Não tardou para que fossem levados perante o sinédrio novamente por continuarem a pregar. Mais uma vez, disseram a mesma coisa: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). Cheio do Espírito Santo e impelido pelo conhecimento de que Cristo havia ressuscitado dos mortos, Pedro havia adquirido uma coragem inabalável, firme como uma rocha.

Na primeira epístola de Pedro, vemos de relance o motivo pelo qual havia nele tanta coragem. Ao escrever para os cristãos dispersados por todo o império romano por causa da perseguição, ele diz:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. (1Pedro 1:3-7)


Pedro sabia que, em Cristo, estava seguro. 
Ele havia visto o Cristo ressurreto, de modo que sabia que Cristo havia conquistado a morte. Sabia que, quaisquer que fossem as provações sofridas aqui na terra, eram simplesmente temporárias. Apesar de serem muitas vezes dolorosas e amargas, as provações não eram nada se comparadas à esperança da glória eterna (veja Romanos 8:18). Ele sabia que a autenticidade da verdadeira fé era infinitamente mais preciosa do que quaisquer riquezas perecíveis da terra, pois sua fé redundaria no louvor e glória a Cristo quando ele voltasse. Era essa esperança que dava coragem a Pedro.

À medida que Pedro aprendeu todas essas lições e seu caráter foi transformado — à medida que se tornou o homem que Cristo desejava que ele fosse — pouco a pouco deixou de ser Simão e passou a ser a Rocha. Aprendeu submissão, domínio próprio, humildade, amor, compaixão e coragem através do exemplo do Senhor. E por causa do Espírito Santo trabalhando em seu coração, tornou-se, de fato, um grande líder.


Ele pregou em Pentecostes e três mil pessoas foram salvas (Atos 2:14- 41). 
Ele e João curaram um homem coxo (Atos 3:1-10). Era tão poderoso que pessoas foram curadas em sua sombra (Atos 5:15-16). Ressuscitou a Dorcas dentre os mortos (Atos 9:36-42). Apresentou o evangelho aos gentios (Atos 10). E escreveu duas epístolas, 1 e 2Pedro, nas quais colocou algumas das mesmas lições que havia aprendido do Senhor sobre um caráter verdadeiro. Pedro foi um homem e tanto! Era perfeito? Não. Em Gálatas 2, o apóstolo Paulo relata um episódio no qual Pedro cedeu. Agiu como um hipócrita. Vemos um lampejo do antigo Simão.

Pedro estava comendo com gentios, tendo comunhão com eles como verdadeiros irmãos em Cristo — até que surgiram alguns falsos mestres. Esses hereges insistiram que, a menos que os gentios fossem circuncidados de acordo com as leis cerimoniais do Antigo Testamento, não poderiam ser salvos e não deveriam ser tratados como irmãos. Ao que parece, intimidado pelos falsos mestres, Pedro parou de comer com os irmãos gentios (Gálatas 2:12). O versículo 13 diz que quando Pedro fez isso, todos o imitaram, pois ele era seu líder. Assim, o apóstolo Paulo escreve: “Resisti-lhe face a face, porque tornara-se repreensível” (versículo 11). Paulo repreendeu a Pedro na presença de todos.

Em favor de Pedro, deve-se dizer, porém, que ele respondeu à correção de Paulo. Quando a heresia dos judaizantes finalmente foi confrontada num concílio de todos os líderes da igreja e apóstolos, em Jerusalém, Pedro foi o primeiro falar em defesa do evangelho da graça divina. Foi ele quem apresentou o argumento definitivo (Atos 15:7-14). Com efeito, defendeu o ministério do apóstolo Paulo. Esse episódio todo mostra como Simão Pedro continuou pronto a aprender, humilde e sensível à convicção e correção do Espírito Santo.


Que fim teve a vida de Pedro? 
Sabemos que Jesus disse a Pedro que ele morreria como mártir (João 21:18-19). No entanto, as Escrituras não relatam a morte de Pedro. Todos os registros da história da igreja primitiva indicam que Pedro foi crucificado. 
Eusébio cita o testemunho de Clemente, o qual diz que, antes de Pedro ser crucificado, foi forçado a assistir à crucificação de sua própria esposa. De acordo com Clemente, ao vê-la sendo levada para a morte, Pedro chamou-a pelo nome e disse: “Lembre-se do Senhor”. Quando chegou a vez de Pedro morrer, ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo pois não era digno de morrer como seu Senhor havia morrido. E assim, ele foi pregado a uma cruz invertida. [4]

A vida de Pedro pode ser resumida nas palavras finais de sua segunda epístola: 
“Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pedro 3:18). Foi exatamente isso que Pedro fez e por isso tornou-se Rocha — o grande líder da igreja primitiva.
12 homens extraordinariamente comuns.
-JOHN MacARTHUR
Comentário-Bíblico-Vida-Nova-D-A-Carson
Fonte: crescendoparaedificar.blogspot.com
Fonte/crédito
- Pr. Geziel Gomes:
(Revista: Central Gospel)

 
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