4 de março de 2021

Aula Bíblica Jovens e adultos – Central gospel: Lição 10: Marcos, o Autor do Primeiro Evangelho

TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Atos 12.12,25
12 E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos estavam reunidos e oravam.

25 E Barnabé e Saulo, havendo terminado aquele serviço, voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, que tinha por sobrenome Marcos.

 Atos 15.37-39;
37 E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos.

38 Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra.

39 E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.


Colossenses 4.10;
10 Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o;

2 Timóteo 4.9-11;
9 Procura vir ter comigo depressa,

10 Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia.

11 Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.


1 Pedro 5.13.
13 A vossa co-eleita em babilônia vos saúda, e meu filho Marcos.

TEXTO ÁUREO
2 Timóteo 4.11b
....Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.

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OBJETIVOS
* Entender que Marcos, apesar de não ter convivido com o Mestre, tornou-se um dos maiores confessores da fé cristã;
* Conhecer os episódios que marcaram o ministério de João Marcos, os quais fazem dele um personagem único na história do Cristianismo;
* Compreender o esboço e a composição canônica do Evangelho de Marcos.



INTRODUÇÃO A MARCOS DECLARAÇÃO INICIAL
A. A antiga igreja geralmente priorizava copiar, estudar e ensinar Marcos em detrimento de Mateus e Lucas, porque via Marcos como um “texto para consumo” (ou seja, versão abreviada Evangelho), ponto de vista que é expressamente declarado mais tarde por Agostinho.

B. Marcos não é citado com frequência pelos pais da Igreja Grega ou pelos apologistas do segundo século (defensores da fé).

C. Desde o surgimento da moderna abordagem histórico-gramatical de interpretação bíblica, o Evangelho de Marcos tem recebido um novo significado por passar a ser visto como o primeiro Evangelho escrito. Tanto Mateus quanto Lucas usam seu esboço em suas apresentações da vida e significado de Jesus. Dessa forma, Marcos se torna num dos documentos fundamentais da igreja, o primeiro registro oficial da vida de Jesus.

GÊNERO
A. Os Evangelhos não são histórias ou biografias modernas. Eles escritos selecionados teologicamente usados para apresentar Jesus a diferentes audiências e trazê-los à fé Nele. Eles são relatos de “boas novas” da vida de Jesus com o propósito de evangelismo (cf. João 30:30-31).

B. Marcos aborda quatro cenários históricos distintos e quatro propósitos teológicos

1. A vida e os ensinos de Jesus

2. A vida e ministério de Pedro

3. As necessidades da Igreja primitiva

4. O propósito evangelístico de João Marcos

C. Os quatro Evangelhos são únicos na literatura Greco-Romana e do Oriente Próximo. Os autores inspirados tinham sido dirigidos pelo Espírito para a tarefa de selecionar os ensinos e ações de Jesus que claramente revelavam seu caráter e/ou seu propósito. Eles arrumaram essas palavras e ações de diferentes maneiras. Um exemplo poderia ser comparar o Sermão do Monte de Mateus (Mat. 5-7) com o Sermão da Planície de Lucas (Lc 6:20-49). Torna-se óbvio que Mateus tendia a colecionar todos os ensinos de Jesus em um longo sermão, enquanto Lucas distribui esses mesmos ensinos ao longo de seu Evangelho. A mesma coisa poderia ser dita de Mateus, que põe todos os milagres de Jesus juntos, enquanto Lucas também os distribui pelo seu Evangelho. Isso implica na habilidade dos escritores dos Evangelhos não somente para selecionar e arrumar os ensinos de Jesus, mas também para adaptá-los para seus próprios propósitos teológicos (leia o livro How os Evangelhos to Read the Bible For All Its Worth, pg. 113-134, de Fee e Stuart). Quando alguém lê, deve perguntar continuamente quais pontos teológicos esses escritores estão tentando estabelecer. Por que incluir esse evento, milagre ou lição nesse ponto de sua apresentação de Jesus?

D. O Evangelho de Marcos é um bom exemplo do Grego Koinê como uma segunda linguagem do povo do mundo Mediterrâneo. A língua nativa de Marcos era o Aramaico (como era a de Jesus e de todos os Judeus na Palestina do primeiro século). Esse tempero Semítico é frequentemente evidenciado no Evangelho de Marcos.

AUTORIA

A. João Marcos tem sido tradicionalmente identificado com o Apóstolo Pedro como escritor desse Evangelho. O trabalho de redigir propriamente dito (como de todos os evangelhos) é anônimo.

B. Outra evidência do testemunho ocular de Pedro é o fato de que Marcos não registra três eventos especiais nos quais Pedro esteve pessoalmente envolvido.

1. Sua caminhada sobre as águas (cf. Mat. 14:28-33).


2. Ele sendo o porta voz em Cesárea de Felipe pela fé dos Doze (cf. Mat. 16:13-20), em Marcos somente 8:27-30 as passagens “sobre esta rocha” e “chave dos céus” são omitidas. 

3. Seu pagamento de impostos do Templo para Jesus e para si mesmo (cf. Mat. 17:24-27). Talvez a modéstia de Pedro o tenha motivado a não enfatizar esses eventos em seus sermões em Roma.

C. Tradição da Igreja primitiva

1. I Clemente, escrito de Roma por volta do ano 95d.C., refere-se a Marcos (assim como faz o Pastor de Hermes).

2. Papias, o bispo de Hierápolis (por volta de 130d.C.), escreveu Interpretação dos Discursos de Jesus, que é citado por Eusébio (275-339d.C.) em sua História Eclesiástica 3:39:15. Ele afirma que Marcos foi o intérprete de Pedro que registrou precisamente, mas não cronologicamente, as memórias de Pedro sobre Jesus. Aparentemente Marcos usou e adaptou os sermões de Pedro e os organizou em uma apresentação do Evangelho. Papias afirma ter recebido essa informação do “ancião”, no que poderia estar se referindo ao Apóstolo João.

3. Justino o Mártir (150d.C.), ao citar Marcos 3:17, adiciona que isto da memória de Pedro.

4. O Prólogo Anti Marcionita a Marcos, escrito por volta de 180d.C., identifica Pedro como a testemunha ocular do evangelho de Marcos. Ai também esta estabelecido que Marcos escreveu o Evangelho da Itália, depois da morte de Pedro (aceito pela tradição como tendo sido em 65d.C.).

5. Irineu, escrevendo por volta de 180d.C., menciona João Marcos como sendo o intérprete de Pedro e o compilador de suas memórias após a sua morte (cf. Contra as Heresias 3:1:2).

6. Clemente de Alexandria (195d.C.) afirma que aqueles que ouviram Pedro pregar em Roma pediram a Marcos que registrasse esses sermões.

7. O Fragmento Muratoriano (isto é, a listra dos livros aceitos), escrito por volta do ano 200d.C. de Roma, ainda que o texto seja incompleto, parece afirmar que João Marcos registrara os sermões de Pedro.

8. Tertuliano, (200d.C.) em Contra Marcião (4:5) diz que Marcos publicou as memórias de Pedro.

9. No livro The Expositor’s Bible Commentary Vol.8, pg. 606, Walter Wesswl faz um interessante comentário de que as tradições da Igreja Primitiva acima citadas são centralizadas em diferentes regiões geográficas: i.Papias é da Ásia Menor. ii.O Prólogo Anti Marcionita e o Fragmento Muratoriano são ambos de Roma. iii.Irineu (cf. Adv. Haer. 3:1:1) é de Lion na França. A tradição de Irineu também é encontrada em Tertuliano (cf. Contra Marcião 4:5) que é do Norte da África e Clemente de Alexandria, Egito (cf. Hypotyposeis 6, citado por Eusébio, na História Eclesiástica 2:15:1-2; 3:24:5-8; 6:14:6-7). Essa diversidade geográfica dá respaldo a essa credibilidade por causa da ampla aceitação pelo Cristianismo primitivo.


10. De acordo com a História Eclesiástica 4:25 de Eusébio, o Comentário sobre Mateus de Orígenes (230d.C.) (não há nenhum comentário sobre Marcos até o quinto século) afirma que Marcos escreveu o Evangelho da maneira que Pedro explicou para ele.


11. O próprio Eusébio discute o Evangelho de Marcos em História Eclesiástica 2:15 e diz que Marcos registrou os sermões de Pedro seguindo orientações daqueles que o ouviram para que pudesse lido em todas as igrejas. Eusébio baseia essa tradição nos escritos de Clemente de Alexandria.

D. O que sabemos sobre João Marcos

1. Sua mãe era uma crente bastante conhecida em Jerusalém, em cuja casa a igreja se reunia (possivelmente à noite para a Ceia do Senhor cf. Marcos 14:14-15; Atos 1:13-14; Atos 12:12). Ele era possivelmente o homem não identificado que fugiu “nu” do Getsêmane (cf. Marcos 14:51-52).

2. Ele acompanhou seu tio Barnabé (cf. Col. 4:10) e Paulo na volta de Antioquia para Jerusalém (Atos 12:25).

3. Ele foi o companheiro de Barnabé e Paulo na sua primeira jornada missionária (Atos 13:5), mas regressou para casa repentinamente (Atos 13:13).

4. Posteriormente Barnabé que levar Marcos em uma segunda viagem missionária, mas isso causou um tremendo desentendimento entre Barnabé e Paulo (Atos15:37-40).

5. Mais tarde ele se reaproximou de Paulo tornando-se amigo e companheiro de trabalho (Col. 4:10; II Tim. 4:11; Filemon 24). 6. Ele acompanhou e trabalhou com Pedro (I Pedro 5:13), possivelmente em Roma.

E. O conhecimento pessoal de Marcos sobre a vida de Jesus parece ser confirmado em 14:51-52, quando um homem foge nu do Jardim do Getsêmane logo depois da prisão de Jesus. Esse detalhe totalmente inesperado e incomum parece refletir a experiência pessoal de Marcos.


DATA

A. O Evangelho é um testemunho ocular e uma interpretação da vida, ações e ensinos de Jesus aparentemente tomados dos sermões de Pedro. Eles foram compilados e distribuídos depois de sua morte, como diz o Prólogo Anti Marcionita e Irineu (ambos acrescentam que foi depois da morte de Paulo). Tanto Pedro quanto Paulo foram martirizados sob Nero (54-68d.C.) em Roma (tradição da igreja). As datas exatas não são conhecidas, mas se verdadeiro, então a data de Marcos pode ser estabelecida pela metade da sexta década.

B. É possível que o Prólogo Anti Marcionita e Irineu não se refiram à morte de Pedro, mas a sua partida (isto é, exílio) de Roma. Existem algumas evidências na tradição (como Justino e Hipólito) de que Pedro visitou Roma durante o terceiro reinado de Claudio (41 a 54d.C.), (cf. História Eclesiástica de Eusébio 2:14:6).

C. Parece que Lucas concluiu Atos com Paulo ainda na prisão durante no princípio dos anos sessenta. Se for verdade que Lucas usou Marcos em seu Evangelho, então ele deve ter sido escrito antes de Atos e, portanto, antes do início dos anos sessenta.

D. A autoria e data de Marcos não afeta de forma alguma as verdades históricas, teológicas ou evangelísticas desse (ou de qualquer) Evangelho. Jesus, não o escritor humano, é a figura central. E. É surpreendente que nenhum dos Evangelhos (mesmo João, escrito entre 95-96d.C.) se refira ou faça qualquer alusão à destruição de Roma (cf. Mat. 24; Marcos 13; Lucas 21) no ano 70d.C. pelo general Romano, e depois imperador, Tito. Marcos provavelmente foi escrito antes desse evento. É ainda possível que Mateus e Lucas tenham sido escritos antes desse julgamento maior sobre o Judaísmo. Precisa ser estabelecido simplesmente que as datas exatas para a composição dos Evangelhos Sinóticos aconteceram em algum momento desse período (assim como é a relação de um com o outro).

DESTINATÁRIOS
A. Marcos é ligado a Roma por diversos dos escritores da igreja primitiva

1. I Pedro 5:13 2. Prólogo Anti Marcionita (Itália)

3. Irineu (Roma, cf. Contra as Heresias 3:1:2)

4. Clemente de Alexandria (Roma, cf. História Eclesiástica de Eusébio 4:14:6-7; 6:14:5-7)

B. Marcos não estabelece claramente seu propósito em escrever o Evangelho. Tem havido diversas teorias.

1. Um tratado evangelístico (cf. 1:1) escrito especificamente aos Romanos (cf. 1:15, 10:45)

a) Elementos Judaicos interpretados (cf. 7:3-4; 14:12; 15:42)

b) Palavras Aramaicas traduzidas (cf. 3:17; 5:41; 7:1,34; 10:46; 14:36; 15:22,34)

c) Uso de muitas palavras Latinas (cf. executioner, 6:27; sextanus, 7:4; census, 12:14; quadrans, 12:42; praetorium, 15:16; centurio, 15:39; flagellare, 15:42) d) Linguagem inclusiva em relação a Jesus 1. Referindo-se aos da Palestina (cf. 1:5,28,33,39; 2:13; 4:1; 6:33,39,41,55) 2. Referindo-se a todas as pessoas (cf. 13:10)

2. Perseguição depois do incêndio em Roma em 64d.C., quando Nero culpou os Cristãos, iniciando uma terrível perseguição sobre os crentes. Marcos menciona a perseguição com frequencia (cf. os sofrimentos de Jesus 8:31; 9:39; 10:33-34,45 e de seus seguidores 8:34-38; 10:21,30,35-44).

3. O atraso da Segunda Vinda

4. A morte das testemunhas oculares de Jesus, especialmente os Apóstolos

5. O surgimento de heresias que se espalhavam pelas igrejas Cristãs

a) Judaizantes (Gálatas)

b) Gnósticos (I João)

c) A combinação de a e b (isto é, Colossenses, Efésios e II Pedro) 


ESBOÇO ESTRUTURAL
A. Marcos é estruturado de uma maneira que a última semana da vida de Jesus ocupa o foco de um terço do livro. O significado teológico da Semana da Paixão é óbvio.

B. Desde que Marcos é, conforme a tradição da igreja primitiva, feito a partir dos Sermões de Pedro, (provavelmente em Roma) se torna evidente que nenhuma narrativa sobre o nascimento é incluído. Marcos começa onde a experiência de Pedro começa, com Jesus já adulto, e isso é teologicamente relacionado à mensagem de arrependimento e fé de João Batista como preparação para a obra do Messias. Os sermões de Pedro devem ter usado os conceitos de “Filho do Homem” e “Filho de Deus”. O Evangelho reflete a própria teologia de Pedro sobre a pessoa de Jesus. A princípio Ele era o grande mestre e curador, mas se tornou óbvio que Ele era o Messias!

C. A geografia básica do esboço estrutural de Marcos é compartilhada pelos outros Evangelhos Sinóticos (isto é, Mateus e Lucas)

1. Um Ministério Galileu (1:14-6:13)

2. Ministério fora da Galiléia (6:14-8:30

3. A viagem para Jerusalém (8:31-10:52) 4. A última semana na área de Jerusalém (11:1-16-8)

D. É ainda possível que a estrutura de Marcos tenha servido de padrão básico para as primeiras pregações Apostólicas (isto é, Atos 10:37-43 cf. C.H. Dodd em seu livro Estudos do Novo Testamento, pg. 1-11). Se isto é verdade, então os Evangelhos escritos são o ponto culminante de um período de tradições orais (isto é, o kerygma). O Judaísmo considerava o ensino oral superior aos textos escritos.

E. Marcos é caracterizado como um relato de movimento rápido (isto é, imediatamente, cf. 1:10) da vida de Jesus. Marcos as longas sessões de ensino, mas move-se rapidamente de evento a evento (isto é, seu uso repetido de “imediatamente”). O Evangelho de Marcos revela Jesus por suas ações. Contudo, este relato acelerado é fortalecido com um vívido relato de uma testemunha ocular (Pedro).

Marcos, I e II Pedro Comentários por Bob Utley


INTRODUÇÃO A MARCOS
(William Barclay)
Os evangelhos sinóticos

Os primeiros três evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas, são conhecidos geralmente como os evangelhos sinóticos. A palavra sinótico provém de duas palavras gregas que significam ver conjuntamente; e estes três Evangelhos se chamam sinóticos porque se podem colocar em colunas paralelas e ver desse modo "conjuntamente" seus materiais comuns. Poderia afirmar-se que entre os três, Marcos é o mais importante. Poderia continuar a argumentação, e afirmar que o Evangelho de São Marcos é o Livro mais importante do mundo, porque quase todos estão de acordo em que Marcos é o mais antigo dos Evangelhos, e portanto é a primeira vida de Jesus que chega até nós. Marcos pode não ter sido o primeiro homem que escreveu uma vida de Jesus. Sem lugar a dúvida, houve intentos mais singelos de pôr por escrito a história da vida de Jesus; mas seu Evangelho é certamente a "biografia" de Jesus mais antiga que chegou até nós.

A árvore genealógica dos Evangelhos
Quando pensamos na forma como chegaram a ser escritos os Evangelhos, devemos retornar imaginariamente para uma época em que no mundo não havia livros impressos. Os Evangelhos foram escritos muito tempo antes que se inventasse a imprensa; quando cada livro devia ser escrito à mão cuidadosamente e com grande trabalho. É evidente que nessa época só existiam umas poucas cópias de cada livro. Como sabemos, ou como deduzimos que Marcos foi o primeiro de todos os Evangelhos? Quando lemos os Evangelhos, embora o façamos em uma tradução moderna, damo-nos conta de que há entre eles extraordinárias similitudes. Contêm os mesmos feitos, muito freqüentemente contados com as mesmas palavras; e transmitem os ensinos de Jesus em versões quase idênticas. Se compararmos a história da alimentação dos cinco mil nos três Evangelhos (Marcos 6:30-44; Mateus 14:12-21; Lucas 9:10-17), vemos que é narrada quase exatamente com as mesmas palavras e do mesmo modo. Um exemplo muito claro desta característica é a história do paralítico (Marcos 2:1-12; Mateus 9:1-8; Lucas 5:17-26). Estes claros relatos são tão similares que até um pequeno parêntese – "diz então ao paralítico" – aparece nos três Evangelhos exatamente no mesmo lugar. As correspondências entre os três Evangelhos são tantas e tão próximas que nos vemos obrigados ou informar uma das duas conclusões seguintes. Ou os três extraem seus materiais de uma fonte comum, ou dois dos três se apóiam no terceiro.

Quando examinamos o assunto mais de perto, vemos que Marcos pode dividir-se em 105 passagens. Destas 105 passagens, 93 aparecem em Mateus e 81 em Lucas. Somente quatro não estão incluídos em Mateus ou em Lucas. Mais convincente ainda é o seguinte. Marcos tem 661 versículos; Mateus 1.068 versículos; Lucas 1.149 versículos. Dos 661 versículos de Marcos, Mateus reproduz não menos de 606. Às vezes modifica ligeiramente as palavras, mas chega a copiar 51 por cento das palavras que usa Marcos. Lucas reproduz 320 versículos dos 661 de Marcos, e usa 53 por cento do texto literal deste Evangelho. Há 55 versículos do Marcos que não se encontram em Mateus, mas Lucas utiliza 31 destes. O resultado é que há somente 24 versículos de Marcos que não se encontram, também, em Mateus ou Lucas. Isto faz muito verossímil que Mateus e Lucas tenham usado a Marcos como base de seus respectivos Evangelhos. Porém há outra maneira que confirma a hipótese.

Tanto Mateus como Lucas seguem, em geral, a ordem dos acontecimentos que encontramos em Marcos. Às vezes Mateus altera a ordem, e às vezes Lucas o faz. Mas quando se produzem estas mudanças, Mateus e Lucas nunca fazem a mesma modificação; um ou outro sempre concordam com Marcos. Um exame detalhado dos três Evangelhos torna evidente que Mateus e Lucas tinham diante seu a Marcos enquanto escreviam seus respectivos livros; e usaram este Evangelho como a base no qual adicionaram os materiais novos que lhes pareceu conveniente incluir.

É emocionante recordar que quando lemos o Evangelho de Marcos estamos lendo a primeira vida de Jesus, a vida de Jesus sobre a que necessariamente devem haver-se baseado todas as outras vistas de Jesus que se escreveram com posterioridade.

Marcos, o autor do Evangelho
Quem era, pois, este Marcos que escreveu o Evangelho? O Novo Testamento nos diz várias coisas sobre ele. Era filho de uma dama de Jerusalém, de nome Maria, cujos recursos econômicos eram folgados e cuja casa era o lugar de reunião e encontro da igreja primitiva (Atos 12:12). Desde o começo, Marcos foi criado no próprio centro da comunidade cristã. Era, por outro lado, sobrinho de Barnabé, e quando Paulo e Barnabé saíram em sua primeira viagem missionária, levaram a Marcos consigo para que lhes servisse de ajudante e secretário (Atos 12:25). Esta viagem foi muito desafortunado para Marcos. Quando chegaram a Perge, Paulo propôs abandonar a costa e dirigir-se para o interior, até chegar à meseta central da Ásia Menor; mas, por alguma razão, Marcos abandonou a expedição neste ponto e voltou para sua casa (Atos 13:13).

É possível que tenha retornado porque tinha medo de enfrentar o que todo mundo sabia era um dos caminhos mais perigosos que havia naquela época, um caminho muito difícil e infectado de bandoleiros e assaltantes. Ou possivelmente tenha retornado porque cada vez se fazia mais evidente que o chefe da expedição era Paulo, e Marcos pôde haver se sentido incômodo ao ver que seu tio passava a segundo plano. Ou talvez, porque não estava de acordo com o tipo de trabalho missionário que Paulo fazia. Crisóstomo – possivelmente em um relâmpago de visão imaginativa – disse que Marcos tinha retornado porque sentia saudades de sua mãe. Paulo e Barnabé concluíram sua primeira viagem missionária e começaram a fazer planos para uma segunda viagem. Barnabé desejava levar a Marcos nesta segunda expedição. Mas Paulo se negou a contar com um homem "que os tinha abandonado na Panfília" (Atos 15:37-40). Tão séria foi a diferença entre eles que Paulo e Barnabé se separaram e, pelo que sabemos, nunca voltaram a trabalhar juntos. Durante alguns anos, Marcos desaparece da história. A tradição nos diz que teria viajado ao Egito fundando ali a Igreja de Alexandria.

Não sabemos se esta informação corresponde ou não à realidade, mas sabemos que quando volta a aparecer, o faz da maneira mais surpreendente. Quando Paulo escreveu a Carta aos Colossenses da prisão de Roma, Marcos estava no cárcere com ele (Colossenses 4:10). Em outra nas Cartas da prisão, Filemom, Paulo menciona a Marcos na lista de seus colaboradores (versículo 24). E quando Paulo estava esperando a morte, já muito perto do fim, escreveu a Timóteo, seu homem de maior confiança, dizendo: "Toma ao Marcos e traga-o contigo, porque me é útil para o ministério" (2 Timóteo 4:11). Estas palavras são muito diferentes das que Paulo pronunciou com respeito ao Marcos quando o acusou de tê-los defraudado. Não sabemos o que pode ter acontecido nesse ínterim, mas evidentemente Marcos conseguiu conquistar o título de "o homem que soube redimir-se". O único colaborador que Paulo quis, quando se aproximava o fim de seu ministério, foi Marcos.

As fontes de Informação de Marcos
O valor da história que nos relata um escritor depende de suas fontes de informação. Perguntamo-nos, portanto, de onde tirou Marcos a informação que tinha com respeito à vida e a obra de Jesus? Vimos que a casa de Marcos foi desde o começo um dos centros da comunidade cristã em Jerusalém. Muitas vezes deve ter escutado os irmãos contarem suas lembranças pessoais de Jesus. Mas é muito provável que Marcos tenha tido a melhor fonte de informação possível.

Para fins do século II viveu um homem chamado Papias, que se interessou em recolher e transmitir toda a informação que pudesse sobre os primeiros dias da Igreja. Papias nos diz que o Evangelho de Marcos não é outra coisa senão uma recopilação dos materiais biográficos de Jesus que Pedro utilizava em sua pregação. E Pedro foi o maior dos apóstolos.

Marcos esteve tão perto de Pedro, e foi tão querido por ele, que Pedro pôde escrever, referindo-se a ele, "Marcos, meu filho..." (l Pedro 5:13). Eis aqui o que lemos em Papias: "Marcos, que era o intérprete de Pedro, pôs por escrito, embora não ordenadamente, tudo o que recordava daquilo que em sua vida Cristo havia dito ou feito. Porque ele mesmo não era um dos que tinham escutado ou seguido ao Senhor. Tinha seguido a Pedro, como eu disse, posteriormente, e Pedro adaptava sua instrução às necessidades práticas, sem procurar de maneira alguma ordenar sistematicamente as palavras do Senhor. De modo que Marcos não se equivocou ao pôr por escrito algumas das coisas que recordava com respeito a Jesus, porque seu próprio objetivo era não omitir nem falsear nada do que tinha ouvido."

Podemos supor, então, que no Evangelho de Marcos temos tudo o que ele recordava ter ouvido Pedro pregar. Portanto, há duas razões pelas quais o Evangelho de Marcos é um Livro de suprema importância. Em primeiro lugar, é o mais antigo de todos os Evangelhos. Se foi escrito pouco tempo depois da morte de Pedro, sua data tem que ser, aproximadamente, o ano 65 de nossa era. Em segundo lugar, incorpora nada menos que o que Pedro pregou e ensinou sobre Jesus. Podemos dizer que Marcos é a maior aproximação que jamais possuiremos do relato de uma testemunha presencial da vida de Jesus.

O final perdido
Há um detalhe muito interessante a respeito do Evangelho de Marcos. Em sua versão original, o Evangelho conclui em Marcos 16:8. Sabemos por duas razões. Em primeiro lugar, os versículos que seguem (Marcos 16:9-20) não aparecem em nenhum dos manuscritos importantes dos primeiros séculos. Só os encontramos em manuscritos posteriores e de qualidade inferior. Em segundo lugar, o estilo grego é muito diferente, tanto que não pode ter sido escrito pela mesma pessoa que escreveu o Evangelho. Mas é quase impossível que o Evangelho original tenha terminado em Marcos 16:8.

O que ocorreu, então? É possível que Marcos tenha morrido, talvez sido martirizado, antes de terminar seu Evangelho. Também é possível, e mais provável, que em algum momento tenha ficado uma só cópia deste Evangelho, da qual tivesse sido arrancado o final do texto. Houve uma época em que a Igreja abandonou por um pouco o uso do Evangelho de Marcos. Preferiam Mateus ou Lucas. É possível que este abandono chegasse até tal ponto que chegou a ficar somente uma cópia do Evangelho, e esta estivesse mutilada. Se ocorreu deste modo estivemos a ponto de perder o Evangelho que em mais de um sentido é o mais importante de todos.

As características do Evangelho de Marcos
Vejamos agora quais são as características do Evangelho de Marcos, de tal maneira que possamos ir descobrindo à medida que leiamos e estudemos o texto.

(1) O Evangelho de Marcos é o mais próximo que jamais conseguiremos chegar de um relato original da vida de Jesus. Seu propósito foi dar uma imagem de Jesus tal qual Ele era. Westcott o qualificou que "uma transcrição tirada da vida real". A. B. Bruce disse que foi escrito "do ponto de vista da lembrança vívida e carinhosa", e que sua grande característica é o "realismo". Se alguma vez chegarmos a algo que se pareça com uma "biografia de Jesus", terá que basear-se em Marcos, pois Marcos sente prazer em contar os acontecimentos da vida de Jesus da maneira mais singela e dramática possível.

(2) Marcos nunca esqueceu o aspecto divino de Jesus. Começa seu Evangelho com a declaração de fé: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Não deixa lugar a dúvidas com respeito ao que acreditava que era Jesus. E em repetidas oportunidades fala do impacto que Jesus produzia nas mentes e os corações de quem o escutava. Marcos tem sempre presente como os homens ficavam atônitos e maravilhados diante do Senhor. “Maravilhavam-se da sua doutrina” (1:22), “Todos se admiraram” (1:27). Frases como estas aparecem uma e outra vez. E este assombro não somente era o das multidões que rodeavam ao Mestre, e sim, também e mais ainda o do círculo íntimo dos discípulos. “E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este...” (4:41), “e, entre si, ficaram muito assombrados e maravilhados” (6:51, RC), "os discípulos se assombraram de suas palavras" (10:24, 26). Para Marcos, Jesus não era simplesmente um homem entre os homens: era Deus entre os homens, atraindo os homens a maravilhar-se e sentir saudades ao ouvir suas palavras e presenciar suas ações.

(3) Ao mesmo tempo, não há Evangelho que nos apresente uma imagem tão humana de Jesus. De fato, a imagem deste em Marcos é tão humana que às vezes os outros evangelistas a modificam como se temessem dizer o que Marcos havia dito. Para Marcos Jesus é simplesmente "o carpinteiro" (6:3). Mateus, posteriormente, dirá "o filho do carpinteiro" (Mateus 13:55), como se a identificação de Jesus com um ofício artesanal fosse um atrevimento. Quando Marcos conta a história das tentações de Jesus, diz que o Espírito “o impeliu” ao deserto (1:12). Mateus e Lucas não gostam de dizer que o Espírito "impulsionou" Jesus, e em seus Evangelhos lemos que Jesus "foi levado" pelo Espírito ao deserto" (Mateus 4:1; Lucas 4:1). Nenhum nos fala tanto sobre as emoções de Jesus como Marcos. Jesus suspirou profundamente em seu espírito (7:34; 8:12), foi comovido pela compaixão (6:34), maravilhou-se da incredulidade (6:6), foi comovido até a cólera justiceira (3:5; 8:33; 10:14). Somente Marcos nos diz que quando Jesus olhou ao jovem rico “o amou” (10:21). Jesus podia sentir fome (11:12). Podia estar cansado e querer repousar (6:31). No Evangelho de Marcos é onde obtemos a imagem de um Jesus que vivia as mesmas paixões humanas que nós vivemos. A humanidade da imagem de Jesus que Marcos nos oferece, aproxima-o muito a nós.

(4) Uma das características de Marcos é que em repetidas oportunidades inserida em sua narração pequenos detalhes vívidos que são o sinal da testemunha ocular. Tanto Mateus como Marcos contam como Jesus tomou a um menino e o pôs no meio do círculo dos apóstolos. Mateus (18:2) diz: "E chamando Jesus a um menino, o pôs em meio deles". Marcos adiciona algo que ilumina a imagem (9:36): “Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes:..." No formoso relato de Jesus e os meninos, quando Jesus repreende a seus discípulos por impedir que os meninos venham a Ele, somente Marcos conclui dizendo: “Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava” (Marcos 10:13-16; cf. Mateus 19:13-15; Lucas 18:15-17). Toda a ternura de Jesus fica manifesta nestes pequenos detalhes vívidos que Marcos adiciona. Quando Marcos relata a alimentação dos cinco mil, só ele diz que se sentaram em grupos de cem em cem e de cinquenta em cinquenta e como pareciam canteiro de flores sobre a erva verde (6:40). Imediatamente, aparece a cena ante nossos olhos. Quando Jesus e seus discípulos viajaram pela última vez juntos a Jerusalém, só Marcos nos diz que “Jesus ia adiante dos seus discípulos” (10:32; cf. Mateus 20;17, Lucas 18:31); nessa frase se destaca com cores muito humanas toda a solidão de Jesus. Quando Marcos narra a história da tempestade, encontramos em seu testemunho um detalhe que não aparece em nenhum dos outros Evangelhos. “E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro” (4:38); é este toque o que outorga toda sua vida à cena. É indubitável que todos estes detalhes se devem ao fato de que Pedro foi uma testemunha presencial, e que voltava a lembrar todos esses detalhes na visão fiel de sua memória.

(5) A simplicidade e o realismo de Marcos influem também em seu estilo.

(a) Não é um estilo cuidadoso e gentil. Conta a história como poderia havê-lo feito um menino. Acrescenta orações, relacionando-as entre si com uma simples conjunção "e". No capítulo 3, no original em idioma grego, encontramos 34 orações ou frases uma depois de outra com o único elo de uma "e", depois do verbo principal. É o modo como nos contaria algum episódio um menino ansioso para dizer o que lhe aconteceu.

(b) Marcos gosta das palavras "imediatamente" ou "em seguida depois" que aparecem quase 30 vezes, de diversas maneiras, no Evangelho. Às vezes se diz que uma narração "parte". Mas a história que nos conta Marcos não parte, mas sim corre em uma sorte de ofegante intento de fazer que a história fora tão vívida para seus leitores como o era para ele.

(c) Marcos recorre frequentemente ao presente histórico. Quer dizer, fala de fatos que transcorreram no tempo presente e não no passado. "E ouvindo Jesus isto, lhes diz..." (2:17); "E quando chegam perto de Jerusalém... envia a dois dos discípulos e lhes diz..." (11:1-2); "E logo, enquanto Ele ainda estava falando, vem Judas, que era um dos doce..." (14:43).* Sabemos que assim é como narram os fatos as pessoas mais singelas. Demonstra-nos até que ponto a história de Jesus era para Marcos uma história viva, que acontecia sob seus olhos enquanto nos ia contando. (d) Marcos mais de uma vez nos dá as palavras aramaicas que Jesus usou ao falar. À filha de Jairo, Jesus lhe diz: "Talita cumi" (5:41). Ao homem surdo-mudo Jesus lhe diz: "Efrata" (7:34). A oferta dedicada é "Corbã" .(7:11). No jardim Jesus diz "Aba, Pai" (14:36). Sobre a cruz grita: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?” (15:34). Às vezes era como se Pedro voltasse a escutar a voz de Jesus que falava, e não podia menos que repetir as mesmas palavras que Ele tinha utilizado, em um idioma estranho para seus ouvintes.

O Evangelho essencial

Não seria injusto falar de Marcos como "o Evangelho essencial". Devemos estudar com tenro cuidado o Evangelho mais antigo que possuímos, o Evangelho onde voltamos a ouvir a pregação do próprio apóstolo Pedro em pessoa.
Marcos (William Barclay)


CONCLUSÃO
A opinião de Paulo e dos demais discípulos não impediu a continuidade do trabalho evangelístico. Uma conduta reta possibilita que seja lançado sobre nós um olhar perdoador. A cooperação no trabalho evangelístico deve estar acima das discordâncias pessoais.
https://www.ebah.com.br/Autoria e Temas
Comentário expositivo Marcos - R. C. Sproul
crescendoparaedificar.blogspot.com
Fonte/crédito-Pr. Geziel Gomes:
(Revista: Central Gospel)


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