14 de janeiro de 2014

Quem tem o direito de “queimar navios” somos nós


Muita gente sabe que Hernán Cortés – o mais famoso conquistador espanhol do século 16 – mandou queimar os navios que haviam trazido seus marinheiros e soldados da Europa até a América, com o objetivo de impedir que eles tivessem a tentação de voltar à Espanha. Os homens permaneceram no continente americano para conquistar o Império Inca não por decisão própria, mas por imposição. Porém, pouca gente sabe que um personagem bíblico queimou os próprios navios por decisão pessoal, para servir a Deus.

O convite a um jovem chamado Eliseu para ser auxiliar e, depois, substituto de Elias – um dos mais famosos profetas de Deus (aquele que aparece na cena da transfiguração) – foi muito interessante. Ele estava arando a terra com um par de bois, quando Elias, passando pelo local, jogou seu manto sobre ele. Ao entender que aquele grande gesto era a oportunidade de deixar sua profissão e sua família, Eliseu largou imediatamente seus bois e correu atrás de Elias para pedir-lhe uma única coisa: “Deixe que eu vá beijar o meu pai e a minha mãe e depois eu irei com você”.

A resposta do profeta idoso foi muito simpática: “Está bem, pode ir, eu não estou impedindo”. Antes ou depois dessa despedida dramática, Eliseu “queimou os seus navios”, isto é, matou os seus bois, “fez fogo com a madeira da canga e cozinhou a carne”. Em seguida, ofereceu aquela carne toda aos que estavam por ali. Foi um churrasco de despedida de sua profissão, de seus instrumentos e de seus companheiros de trabalho. Era o fim da linha. De livre e espontânea vontade.

Algo consciente e pra valer (1Rs 19.19-21). A experiência de Eliseu é semelhante à de outras pessoas mencionadas no Evangelho. A dupla de irmãos – André e Pedro, Tiago e João – eram pescadores no mar da Galileia, e Mateus (ou Levi) era coletor de impostos. Os cinco tinham empregos fixos. A todos os cinco Jesus convidou: “Venham comigo”. Os quatro primeiros largaram as redes, os barcos e os sócios para serem pescadores de almas (Mt 4.18-22). Mateus, por sua vez, estava sentado na coletoria quando Jesus o chamou e, então, “se levantou, deixou tudo e seguiu Jesus” (Lc 5.27-28). Os cinco tornaram-se apóstolos responsáveis pela igreja nos seus primeiros anos. Três deles vieram a escrever dois dos quatro Evangelhos (Mateus e João), cinco das 21 cartas (as três cartas de João e as duas cartas de Pedro) e o Apocalipse.

Quanto a Eliseu, seu ministério durou cinquenta anos e se realizou durante o reinado de quatro reis do reino do Norte, entre os anos 850 e 800 antes de Cristo. Todos eles fizeram coisas erradas que não agradavam a Deus e cometeram os mesmos pecados de Jeroboão (2Rs 13.2,11). Embora tenha trabalhado algum tempo com Elias, Eliseu era de índole bem diferente. O ministério dele foi mais aceito e mais tranquilo. Ele tornou–se uma figura conhecida também no exterior, como se pode ver no seu encontro com Naamã, comandante do exército sírio (2Rs 5.1-14). Eliseu fez mais milagres que Elias.

Qualquer serviço prestado a Deus e aos homens sem que os outros queimem os nossos navios por nós é muito mais tranquilo e bem-sucedido. Não precisamos da interferência dos muitos Hernán Corteses que existem por aí.

FONTE: Ultimato

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