Requerente de asilo iraniano reza na Igreja Trinity, em Berlim
O “táxi” trafegava pela Avenida Darul Aman em direção ao palácio construído pelo último rei do Afeganistão e então em ruínas. Sentada no banco de trás, eu observava pela janela o caos provocado pela guerra. O motorista era um jovem afegão de 24 anos desempregado que fazia bicos usando o carro enferrujado, que chacoalhava pelas ruas esburacadas de Cabul. Virando-se para mim, soltou: “Know Jesus?” (Conhece Jesus?)
Jesus? “Nice man!” (Homem bom), continuou, com o inglês entrecortado. Havia sido apresentado à Bíblia por estrangeiros, mas a conversão era ilegal no Afeganistão, como na maioria dos países muçulmanos, sob risco de prisão e até pena de morte. Lembrei-me dele dias atrás, quando um voluntário que trabalha com a adaptação de sírios na Alemanha me falava sobre a conversão em massa de refugiados muçulmanos para o cristianismo. Segundo ele, os batismos de sírios, afegãos, eritreus têm revigorado as igrejas católicas e protestantes do país.
Um pastor da Igreja Trinity, de Berlim, disse à Deustch Welle que batizou mais de 1.200 muçulmanos convertidos, a maioria no rastro da chamada crise dos refugiados que bateu à porta da Europa. Segundo a congregação cristã da Alemanha, os batismos protestantes saltaram de 17 mil em 2014 para 178,4 mil em 2015 (não estão computados os realizados em igrejas independentes e grupos caseiros). A organização não discrimina a origem dos fiéis, mas segundo Carsten Split, da Igreja Protestante da Alemanha, disse à DW “nos últimos anos, houve um aumento notável de batismos de refugiados”.
Não há pesquisas que atestem os fatores mais determinantes do fenômeno. É possível que muitos tenham se convertido simplesmente porque, no refúgio, passaram a usufruir o direito à liberdade de escolher uma religião, o que antes lhes era imposto, ou porque os horrores do Estado Islâmico contra os próprios muçulmanos tenham afastado-os do Islã. Evidências empíricas sugerem que outros tomaram essa decisão mais por necessidade do que por fé.
Nas orlas de Grécia e Itália, onde desembarcam os refugiados resgatados do Mar Egeu e do Mediterrâneo, proliferaram organizações cristãs de ajuda humanitária. Além da assistência, muitos acreditam ter mais chances de conseguir refúgio e evitar a deportação em países ocidentais sendo cristãos. O programa de assentamento da ONU segue critérios de vulnerabilidade. Nos países de maioria muçulmana do Oriente Médio e Ásia, cristãos são mais vulneráveis à perseguição.
Igrejas na Europa têm patrocinado a recepção desses refugiados, enquanto países como Eslováquia recusaram-se a receber muçulmanos. Pelo menos 78% dos refugiados que chegaram à Austrália, entre junho de 2015 e janeiro, são cristãos. Isso, embora os três países de origem da maioria dos refugiados — Síria, Afeganistão e Somália — sejam muçulmanos.
Não é uma política nova. Entre os que chegaram aos EUA a partir de 2002, quando o dado sobre afiliação religiosa da população passou a ser público, 46% são cristãos e 32% muçulmanos, segundo o Pew Research Center. A diferença seria maior, não fossem as chegadas de um grupo grande de somalis em 2006 e sírios, em 2016, o primeiro ano em uma década em que mais muçulmanos do que cristãos chegaram ao país em busca de refúgio. Muçulmanos eram 90% da população da Síria antes da guerra, é natural que a mesma demografia se reflita nos deslocados e refugiados. Em janeiro, porém, o presidente Donald Trump declarou que priorizaria cristãos nos pedidos de refúgio, depois de prometer banir muçulmanos de entrar nos EUA.
No Líbano, que tem uma diversa comunidade cristã — maronitas e melquitas católicos, gregos e armênios ortodoxos, protestantes e outros — as igrejas se organizaram para receber os que cruzaram a fronteira fugindo da Síria e se viram encurralados no país. E batizaram centenas deles no ano passado, segundo o “Telegraph”. Ibrahim Ali, de Aleppo, vendia flores nas ruas de Beirute quando um cristão iraquiano se aproximou. Ibrahim contou-lhe que precisava de dinheiro para tirar da Síria a mulher e os sete filhos, e os dois combinaram um encontro na igreja anglicana, que lhe deu abrigo, duas refeições por dia e ajuda mensal, sob a condição de que frequentasse o curso de estudos bíblicos. Na classe, encontrou outros refugiados muçulmanos como ele. Meses depois, foi batizado e mudou o nome para Abed al-Massih — Escravo de Cristo, em árabe.
Fonte:O Globo/Adriana Carranca
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