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No século III d.C., um jovem teólogo, atormentado pelas tentações que lhe angustiavam o coração, decidiu se castrar. Ele acreditava que aquelas suas tentações cessariam se ele se mutilasse. Ele não somente não se livrou das tentações como também não pôde ser ordenado sacerdote por causa daquela mutilação.Orígenes, esse jovem teólogo, decidiu se castrar depois de ter lido alguns textos da Bíblia. Ao que tudo indica, ele foi inspirado por essas seguintes palavras de Jesus antes de tomar essa drástica decisão: “E se o teu olho o fizer tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. É melhor entrar na vida com um só dos olhos do que tendo os dois olhos ser lançado no fogo do inferno” (Mt 18.9) e “outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus” (Mt 19.12).
Eu não sei se Orígenes se arrependeu da sua decisão e nem se outras pessoas decidiram se castrar por causa do exemplo dele. Mas eu sei que textos que são lidos fora do contexto são perigosos! Muita gente se fere e fere outras pessoas porque leem e ouvem textos fora dos contextos. Além disso, muitas pessoas, que são más, publicam textos fora dos contextos com o único pretexto de provocar polêmicas e divisões. Precisamos rejeitar as ações dessas pessoas “mãos de tesouras”, indivíduos que mutilam os textos e que, cortando-os, tentam mutilar os escritores e os leitores. Muita gente se mutila e se perde porque aceita como verdade um texto fora do contexto. Tais pessoas, tendo sido enganadas, promovem o engano sob o pretexto de estarem fazendo um bem maior!
Mas e Orígenes? Orígenes se dedicou a estudar a Bíblia e a escrever as suas interpretações das Escrituras. Segundo Eusébio, um historiador dos primeiros séculos da era cristã, Orígenes escreveu mais de 2000 obras. Epifânio, um outro estudioso da época, disse que Orígenes escreveu mais de 6000 obras! Contudo, na maioria de suas obras, Orígenes pareceu também mutilar o texto sagrado. Em vez de considerar o contexto dos textos, ele inventava interpretações alegóricas e fantasiosas para cada texto que lia. Dessa maneira, onde se lia “cavalo” dever-se-ia entender “voz”; onde se lia “fermento” dever-se-ia entender “ensino”; e onde se lia “nuvens” dever-se-ia entender “santos”. Nas complicadas interpretações mutilantes de Orígenes, quase tudo valia como pretexto, menos o contexto do texto.
No fim, a maior parte dos escritos de Orígenes foi considerada herética pela igreja. Mesmo sendo poéticos, belos, chamativos e polêmicos, eles foram rejeitados. Em vez de trazerem o texto dentro do contexto, eles se tornaram pretexto para que as pessoas provocassem divisões.
Gustavo Bessa
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