Na ocasião citou o imperador bizantino Manuel 2º Paleologus: “Mostre-me o que Maomé trouxe que era novo, e lá você encontrará apenas coisas más e desumanas, como o seu comando de espalhar pela espada a fé que ele pregava”.
A reação dos muçulmanos foi imediata. Houve protestos em todo o mundo muçulmano. Em Nablus, na Cisjordânia, duas igrejas sofreram atentados com bombas. No Paquistão, o governo chamou o embaixador do Vaticano no país para pedir explicações e o parlamento aprovou uma resolução recriminando o papa.
No Catar e no Egito, importantes líderes religiosos condenaram as declarações. No Irã, o influente clérigo Ahmad Khatami disse: “É lamentável que o líder religioso dos cristãos tenha tão pouco conhecimento do Islã, e que fale sem vergonha disso”.
Passaram-se 10 anos e o papa Francisco tomou uma postura completamente diferente. Recebeu nesta terça (26), o presidente do Irã, Hasan Rowhani, que saiu dizendo “Peço que [o papa] reze por mim”. Um dos principais líderes islâmicos do mundo também afirmou que o encontro “foi um prazer”.
Por sua vez, Francisco agradeceu a visita e disse que “espera o alcance da paz”. Surpreendentemente, após a reunião, o Vaticano afirmou que Teerã deve ser um importante parceiro no combate ao terrorismo. Essa visita marca a primeira ida de um presidente iraniano à Europa em quase duas décadas. Oficialmente, o objetivo é que Teerã possa “conquistar espaço nas negociações de paz para conflitos no Oriente Médio”.
O esforço do Vaticano para não ferir as crenças muçulmanas foi tão grande que tapumes brancos foram colocados para tapar a nudez das estátuas dos Museus Capitolinos. No jornal Il Messaggero, a medida foi criticada.
“Cobrir as estátuas é uma prova de muita atenção que não pode ser compartilhada. O respeito a outras culturas não pode e não deve representar a negação da nossa”, disparou Luca Squeri, deputado do Forza Itália.
Outro aspecto que chama atenção é o fato de que no dia anterior (25), o papa Francisco ter pedido perdão aos protestantes e membros de outras igrejas cristãs pela perseguição de católicos no passado. Anunciou ainda que irá participar do lançamento das comemorações do 500º aniversário da Reforma.
Dia 31 de outubro, o pontífice estará na cidade sueca de Lund, na sede da Federação Luterana Mundial. Já foi anunciado que será usada uma “oração comum” que ambas as denominações cristãs irão usar durante as comemorações de 2017.
Etapas do ecumenismo mundial
Francisco volta a buscar aproximação com grupos religiosos que no passado eram inimigos mortais do catolicismo. Isso mostra que sua agenda ecumênica avança. Se uma união total ainda não é possível, essa situação seria impensável séculos atrás, quando os cruzados católicos travavam guerras contra os muçulmanos. Ou ainda quando protestantes e católicos derramavam mutuamente sangue nas guerras religiosas na Europa entre 1525 e 1648.
Em visita a Turquia no ano passado, o papa disse que cristãos e muçulmanos são “irmãos e irmãs viajando pelo mesmo caminho”.
Em reunião com Bartolomeu I, um dos mais importantes líderes da igreja ortodoxa falou sobre a tentativa de reunificação das duas vertentes do cristianismo, separadas há quase mil anos.
No último outubro, uma cerimônia no Vaticano reuniu líderes, de mais de uma dezena de tradições religiosas, incluindo sikhs e hindus. Francisco pediu na ocasião que “Todos os crentes, de todas as religiões, juntos, podemos adorar ao criador por ter nos dado o jardim que é esse mundo”.
No final, pediu que cada um fizesse orações, “conforme sua própria tradição religiosa” e conclamou aos representantes das diferentes fés presentes que pedissem ao “seu deus” que os fizesse “mais irmãos”.Perto da virada do ano, incluiu os ateus nesse grupo.
No início de 2016, o Vaticano publicou um vídeo com o papa afirmando “só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus”.
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