4 de janeiro de 2016

Noticia: Tensão: Arábia Saudita executa clérigo xiita e irrita Irã

Outras 46 pessoas acusadas de terrorismo no país também sofreram a pena capital

A Arábia Saudita executou neste sábado (2) 47 pessoas condenadas por terrorismo, incluindo o proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr. Ele foi preso em julho de 2012 por apoiar os levantes contra o governo saudita que eclodiram em 2011. Os protestos aconteceram em uma região xiita do país, que tem maioria sunita.


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Nimr foi condenado por desobedecer o governo, incitar a luta sectária e de porte de armas contra as forças de segurança, entre outros crimes.

A execução do clérigo irritou o Irã, rival regional da Arábia Saudita que é governado por xiitas. Segundo a rede britânica ‘BBC’, o governo iraniano afirmou que o regime saudita vai “pagar caro” pela execução de Nimr. Um porta-voz do ministro das Relações Exteriores do Irã disse ainda que Riad “apoia terroristas, enquanto executa e reprime os críticos dentro do país”.

A maioria das outras 46 execuções está relacionada com ataques terroristas na Arábia Saudita entre 2003 e 2006, quando a Al Qaeda realizou uma violenta campanha para desestabilizar o governo. As execuções foram realizadas em 12 regiões diferentes ao redor do reino, segundo o Ministério do Interior.

A Arábia Saudita realizou mais de 150 execuções em 2015, o número mais alto no reino em duas décadas, de acordo com grupos de vigilância que monitoram a pena de morte. Em 2014, foram 88 execuções.

Quem era Nimr al-Nimr?

Al-Nimr era conhecido por verbalizar o sentimento da minoria xiita na Arábia Saudita, que se sente marginalizada e discriminalizada, e foi crítico persistente da família real saudita. Acredita-se que tivesse um grande número de seguidores entre jovens xiitas sauditas.

Em represália à execução, manifestantes atacaram a embaixada saudita em Teerã na noite de sábado. Queimaram imagens do rei saudita, Salman, e chegaram a incendiar parte do edifício. A polícia dispersou o protesto e cerca de 40 pessoas foram detidas.

A família do clérigo disse que entre as condenações incluía a acusação de “interferência estrangeira” no reino, mas seus apoiadores dizem que ele apenas defendia demonstrações pacíficas e era contrário à oposição violenta ao governo.

Ele foi, inclusive, um grande apoiador dos protestos na região leste saudita, de maioria xiita, em 2011. No ano seguinte, sua prisão – na qual ele foi baleado – gerou dias de manifestações nesta área, que resultaram na morte de três pessoas.

O clérigo havia sido detido várias vezes nos últimos 10 anos e, em uma das ocasiões, disse ter apanhado de agentes da polícia secreta saudita.

Em 2008, se reuniu com autoridades dos Estados Unidos, segundo o site Wikileaks, numa tentativa de se afastar de posições antiamericanas e pró-Irã.

O grupo de direitos humanos Reprieve considerou as execuções “espantosas”, e disse que ao menos quatro dos mortos, incluindo Al-Nimr, foram condenados à morte por crimes relacionados a protestos políticos.

Alto preço

O xiita Irã, principal rival regional da sunita Arábia Saudita, liderou a condenação oficial à execução. Sendo o poder xiita na região, o governo iraniano observa com grande interesse a questão de minorias xiitas no Oriente Médio.

A chancelaria iraniana disse que o reino saudita pagará um alto preço pela ação, e convocou o encarregado de negócios saudita em Teerã como protesto.

O site do líder supremo iraniano, aiatolá Khamenei, divulgou uma foto sugerindo que a execução era comparável às ações do grupo autodenominado Estado Islâmico.

Em mensagem no Twitter, Khamenei disse que políticos da Arábia Saudita enfrentarão “vingança divina” pela morte de El-Nimr, que descreveu como um “mártir” que agia pacificamente.

O líder supremo do Irã disse ainda que o clérigo foi morto apenas por sua oposição aos líderes sunitas da Arábia Saudita.

Autoridades sauditas negaram discriminar xiitas e acusam o Irã de alimentar o descontentamento.

O conselho xiita libanês chamou a execução de “grave erro” e o grupo militante xiita Hezbollah descreveu o ato como “assassinato”.

Protestos contra a execução foram realizados na Província Leste saudita, no Barein e em outros países.

As execuções de sábado foram realizadas simultaneamente em 12 locais na Arábia Saudita. Entre os mortos está um cidadão do Chade e outro do Egito. Os demais eram sauditas.

A Arábia Saudita realizou mais de 150 execuções no ano passado, o maior número registrado por grupos de direitos humanos em 20 anos.
Fonte: Veja e BBC

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