20 de maio de 2015

Pregação - A Síndrome de Marta

Indo eles de caminho, entrou numa aldeia. E certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.

Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.

Respondeu-lhe Jesus: Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. 

- Lucas 10:38 a 42

Nesta história nós temos duas irmãs - Marta e Maria - que naquele dia receberam uma visita do Senhor Jesus na sua casa. É obvio que as duas O amaram, e estavam muito felizes com a Sua presença, porém nas reações das duas nós vemos duas respostas diferentes à Sua visitação.

Quando Jesus chegou na sua casa, Maria abandonou tudo para sentar aos pés do Mestre "ouvindo a Sua palavra". Certamente ela enfrentou os costumes e regras sociais da época, que diriam que a mulher não pode participar na "conversa dos homens", que ela não seria capaz de estudar e aprender do Rabi, e que seu lugar era com sua irmã na cozinha. Porém, o Senhor Jesus permitiu que ela aprendesse com Ele, sentado "aos seu pés", na postura de estudante (como nós vemos com o jovem Paulo e o professor Gamaliel, em Atos 21:3).

Marta, porém, estava querendo fazer o seu melhor para Jesus. Foi ela que recebeu-lo na casa, talvez sendo a mais velha das duas irmãs, e agora ela estava preparando uma refeição verdadeiramente digna do Messias. A sua preocupação com as panelas não foi um sinal de desrespeito ao Senhor Jesus, ao contrário, ela estava querendo mostrar, através da sua hospitalidade, o quanto que ela O amou e respeitou.

Mas o serviço foi difícil, e sem a ajuda da sua irmã, Marta acabou se atrasando mais e mais. Que vergonha, será que a refeição nunca ficará pronta? A sua preocupação aumentava, e acabou se transformando numa raiva contra sua irmã relaxada, metida, que estava sentada lá no meio dos homens. Finalmente, a explosão aconteceu e Marta interrompeu a aula do Mestre, pedindo que Ele mandasse Maria para voltar ao seu lugar, ajudando a irmã na cozinha.

A resposta do Senhor Jesus, dada com o maior carinho e gentileza, deve ter caído como uma bomba nos ouvidos de Marta: "Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas, mas uma só é necessária; Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada."

Qual foi o problema de Marta? Ela não estava fazendo o seu melhor para Jesus, querendo recebê-lo e servi-lo na melhor maneira possível? Por que, então, foi a Maria que tinha escolhida "a boa parte", a única coisa "necessária", sentando-se aos pés de Jesus, ouvindo a Sua palavra?

Eu creio que a raiz do problema de Marta foi que ela não discerniu o tempo em que ela estava. Quando o Senhor Jesus entrou na sua casa um novo tempo começou, um tempo de visitação. E todas as atividades do passado, mesmo que elas tinham sido importantes e até necessárias, agora foram ultrapassadas pela única necessidade daquela hora, de desfrutar da Sua presença.

Na Igreja, bem como na casa de Maria e Marta, nós vivemos momentos de preparo e momentos de visitação. Temos muito serviço para fazer: cultos, campanhas e projetos (e, em alguns casos, até chamamos nossos cultos de "serviços"). Participamos em atividades de evangelismo, de discipulado, congressos e conferências. Não podemos ignorar a necessidade do preparo teológico, da administração, da construção e manutenção de templos e prédios, e de prestar assistência pastoral e social. Precisamos oferecer a escola dominical, os cultos noturnos, vigílias de oração e reuniões para a juventude. Não é de estranhar que muitas vezes, nós que participamos no ministério em alguma capacidade, "andamos distraídos em muitos serviços", chegando até de estar "ansiosos e preocupados com muitas coisas."

Mas nunca, nunca, podemos perder "o tempo de nossa visitação" (Lucas 19:44). Naquele momento quando o Senhor Jesus se faz presente em nossa "casa", naquele momento em qual Ele responde às nossas orações para um verdadeiro avivamento, precisamos ser como Maria, dispostos a abandonar tudo - até mesmo aqueles serviços que outrora foram tão necessários e até "espirituais" - para ficar aos pés do Mestre.

Tempos de avivamento histórico sempre têm sido marcados pelo abandono das formas rígidas e programadas de adoração a Deus. Falando sobre o avivamento em Gales, o Dr Campbell Morgan, pastor da Capela de Westminster em Londres declarou:

"Isso é avivamento que vem dos céus; não há nenhuma pregação, nenhuma ordem, nenhum hinário, nenhum coro, nenhum órgão, nenhuma oferta e finalmente nenhuma propaganda... Havia órgãos - mas eles estavam calados. Haviam ministros - mas não havia nenhuma pregação - elas estavam entre as pessoas que louvaram a Deus! Ainda o avivamento galês é um avivamento de pregação, pois todo mundo está pregando. Nenhuma ordem e ainda se move a cada dia, município para município com uma precisão sem igual, com a ordem de uma força atacante. Nenhum hinário, mas eu quase chorei por causa das canções! Quando os galês cantam eles se abandonam à canção. Nenhum coro eu disse? Era tudo coro.



"1- Semelhantemente, no avivamento da Rua Azusa, aquele humilde galpão ficou aberto de manhã a noite, como relatado no Jornal do avivamento: "As reuniões começam por volta das 10 horas da manhã, e mal conseguem terminar antes das 20 ou 22 horas, e às vezes vão até às 2 ou 3 horas da madrugada, porque muitos estão buscando e outros estão caídos no poder de Deus.

"2- Um dos primeiros ídolos a ser derrubado no meio do povo de Deus em tempo de avivamento é o relógio, quando nós voltamos a buscá-lo "com todo o nosso coração" (Jeremias 29:13). Há mais que uma parcela de verdade naquele velho ditado que diz que "o avivamento começa depois da meia-noite" - quando somente os desesperados permanecem para buscar a Sua face.

Quando o Senhor Jesus visita a Sua Igreja, precisamos abandonar tudo e dedicar todo nosso tempo, toda a nossa atenção, a Ele. Somente assim nós escaparemos de ser vítimas daquela doença que já matou tantos avivamentos do passado - a "síndrome de Marta".
Pr Paul David Cull
1 Rev. Owen Murphy, citado no livro "Bright and Shining Revival" por Kathy Waters
2 "The Apostolic Faith", Setembro de 1906
Citações da Bíblia da Edição Contemporânea de Almeida da Editora Vida.

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