O Estado Islâmico (EI) é notório pelas atrocidades que comete ao invadir territórios na Síria e no Iraque. Mas, para seus apoiadores, o grupo estabeleceu um sistema generoso de bem-estar que ajuda a vida dos milhares de jihadistas, homens e mulheres que combatem no “califado” – região que abriga os territórios que o grupo ocupou nos dois países. Além de uma contribuição mensal, os militantes recebem dinheiro ao se casar, para ajudá-los a começar uma família.
Para o combatente sírio Abu Bilal al-Homsi, de 28 anos, a lua de mel foi um breve momento de amor longe das linhas de front da guerra da Síria. Em Raqqa, capital do “califado” autoproclamado pelo EI, ele se encontrou pela primeira vez com sua noiva tunisiana – cujo irmão também é combatente do EI na Síria –, depois de meses de conversas online.
Eles se casaram e, então, passaram os dias seguintes jantando em restaurantes da cidade, passeando à beira do rio Eufrates e tomando sorvetes. Foi um casamento raro entre um homem sírio e uma imigrante. Normalmente, mulheres estrangeiras se casam com combatentes estrangeiros do EI.
Mas tudo isso foi possível pelo bônus de casamento que ele recebeu do grupo. No total, ganhou US$1.500 para ele e sua mulher passarem a lua de mel e montarem uma nova casa.
Os jihadistas sunitas do EI se apresentam como herdeiros de um regime que existiu da época do profeta Maomé até um século atrás. Eles aplicam a “sharia”, ou lei islâmica, no território do califado.
Prioridade
Ajudar os combatentes a se casar é uma prioridade chave do Estado Islâmico. Combatentes estrangeiros recebem US$ 500 quando se casam. Al-Homsi recebeu um bônus mais alto porque sua nova esposa é médica e fala quatro línguas.
Depois da lua de mel, o casal viajou para a área de Homs, onde al-Homsi usou o dinheiro que ganhou para preparar uma casa para sua mulher e quatro gatos. O casal agora espera um bebê e, por isso, espera ganhar uma nova contribuição de dinheiro, já que o grupo pode pagar até US$ 400 para cada filho de combatente que nasce.
Al-Homsi recebe contribuição de US$ 50 por mês, e sua mulher ganha uma quantidade semelhante. Ele também ganha dinheiro para comprar seus uniformes e roupas, alguns itens de limpeza da casa e uma cesta de comida mensal com produtos que somam US$ 65.
“Não é apenas luta”, diz al-Homsi, que usa um nome de guerra. “Há instituições. Há civis pelos quais o EI é responsável e amplos territórios. Ele precisa ajudar os imigrantes a se casarem. Esses são componentes de um Estado, e ele deve cuidar de seus assuntos”. Al-Homsi falou à agência Associated Press em uma série de entrevistas por Skype, dando um olhar raro sobre a vida pessoal de um jihadista do EI.
Raqqa, ‘a Nova York do califado’
“Tem tudo o que uma pessoa desejaria para um casamento”, diz al-Homsi sobre Raqqa, cidade à beira do rio que, nos 18 meses desde que foi tomada pelo EI, tem visto militantes decapitando oponentes e apedrejando adúlteros em público.
A nova elite do EI é visível em Raqqa, a maior cidade da Síria sob controle dos extremistas.
Casas e apartamentos de luxo, que antes pertenciam a funcionários do governo do presidente Bashar Assad, foram tomados pela nova classe dominante do EI, de acordo com Abu Ibrahim al-Raqqawi, um membro do coletivo de mídia anti-EI na cidade.
Raqqua é amortecida pelo combate travado nos seus arredores. Seus supermercados estão bem abastecidos, e a cidade tem vários cafés com internet.
“A cidade está estável, tem todos os serviços e tudo que é preciso. Não é como as áreas rurais que o grupo controla”, diz al-Raqqawi. “Raqqa é agora a Nova York” do califado. Como outros do seu coletivo de mídia, ele usa um apelido por segurança e não especifica sua localização.
Fonte: G1
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