"E ouvireis de guerras e de rumores de guerras;..." Mateus 24:6
Dez anos depois do conflito de 2006 entre Hezbollah e Israel, o grupo xiita libanês, que viu seu papel fortalecido na região, e Tel Aviv, mais estável do que nunca em sua fronteira norte, parecem ter decidido manter uma "guerra fria" ao invés de se lançarem em uma nova disputa armada.
Desde então, as acusações, os atritos e inclusive os confrontos de baixa intensidade se repetiram de maneira periódica, mas sem ir além, como ocorreu duas décadas atrás.
O Hezbollah acusou Tel Aviv de assassinar vários de seus líderes na Síria, como Imad Mugnie, em um ataque aéreo em Damasco na noite de 19 de dezembro de 2015, e Mustafa Badredin, no último dia 13 de maio em uma ação similar.
Em resposta ao assassinato de Mugnie, o Hezbollah matou, em 28 de janeiro de 2015, dois soldados israelenses no setor de fazendas de Chebaa com um míssil. Israel respondeu com um bombardeio sobre a região fronteiriça, mas ambas partes se abstiveram de efetuar mais ataques.
Além disso, são frequentes os sequestros de pastores na região fronteiriça, por parte de Israel, assim como as contínuas violações do espaço aéreo libanês.
Apesar disso, o analista militar e general reformado Charles Shihan descartou categoricamente que possa haver uma nova guerra entre Israel e o Hezbollah.
"O Hezbollah, que saiu fortalecido da guerra de 2006, presta na atualidade um grande serviço a Israel, aumentando o conflito entre sunitas e xiitas" no Oriente Médio, afirmou Shihan à Agência Efe.
Além disso, o general estimou que o conflito de dez anos atrás "permitiu ao Hezbollah tomar o controle político do país", como demonstrou forçando a queda do governo de Saad Hariri em janeiro de 2011, após a retirada de dez ministros xiitas.
"Israel, além disso, ganhou a guerra e tem interesse em que o Hezbollah controle o Líbano, já que sua fronteira norte, graças à presença do exército libanês e das Forças da ONU (Finul), é a mais tranquila, enquanto os combatentes do grupo xiita estão comprometidos nas guerras regionais", acrescentou.
Segundo ele, "Israel deseja uma guerra de cem anos entre sunitas e xiitas", e por isso acredita que o Líbano não voltará a sofrer um conflito bélico similar ao de 2006.
"Para dançar são necessários dois e Israel está interessado em que o Hezbollah continue combatendo nos países da região", concluiu.
Uma opinião parecida tem o ex-ministro, economista e intelectual libanês Georges Corm, que afirmou à Efe que o conflito de 2006 "permitiu ao Hezbollah consagrar sua importância estratégica em nível regional e local, especialmente na guerra síria, e na proteção das fronteiras libanesas".
O antigo membro do governo descartou também uma nova guerra entre Israel e o grupo xiita.
"Não penso que Israel se exponha a uma nova guerra. Além disso, as sanções americanas contra o Hezbollah não vão diminuir suas capacidades", completou Corm, em referências às punições econômicas previstas pela Ata para a Prevenção do Financiamento Internacional do grupo xiita.
Além disso, o economista destacou os desafios enfrentados pelo Líbano, "especialmente a presença de mais de um milhão e meio de refugiados sírios, as pressões que se exercem sobre ele por causa da guerra na Síria e dos takfiries (extremistas sunitas)".
Apesar disso, continuou Corm, "o país continua funcionando. Inclusive foi possível a reconciliação entre sunitas e alauitas (seita à qual pertence o presidente sírio, Bashar al Assad) em Trípoli (norte do Líbano)", acrescentou, em alusão às mais de 20 rodadas de enfrentamentos que ocorreram nessa cidade.
No entanto, para o analista e professor universitário Hyllat Mallat, "a história demonstrou que ninguém pode se envolver em muitas guerras ao mesmo tempo".
Por isso, segundo ele, é preciso ver como evoluem os eventos no Oriente Médio, cujos Estados estão em decomposição.
"É incontestável que há mais divisão no mundo árabe e Israel tenta torná-la ainda mais profunda, sobretudo adiando o processo de paz árabe-israelense", ressaltou.
Além disso, considerou que "o Líbano pagou um preço muito caro pela guerra e quer a paz", já que, além disso, "atravessa na atualidade um período de frágil estabilidade e ninguém tem interesse em que as coisas se degradem por enquanto".
Para Mallat, é importante que a comunidade internacional colabore na busca de uma solução para os conflitos regionais para assim encontrar um desenlace ao problema de armamento do grupo xiita.
O último grande conflito travado pelo Hezbollah e Israel começou em julho de 2006, após o sequestro de dois militares israelenses pelo grupo xiita.
Isto desencadeou uma guerra aberta que deixou 1.200 mortos do lado libanês, em sua maioria civis, e 162 israelenses, a maioria deles militares, além de consideráveis danos materiais.
Fonte: EFE.
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