"Respeito as opiniões de todos, mas esconder o quipá é uma capitulação", acredita o rabino da sinagoga Kiryat-el, Alain Shlomo Senior. O religioso lembra que "o quipá não é nem ostentatório, nem uma provocação. É uma maneira de afirmar sua fé como a tradição pede."
O presidente da comunidade israelita, Albert Elharrar, concorda: "Está fora de questão não usar o quipá. Isso nunca foi considerado. Não vamos ceder ao medo". Ele se mostra tranquilo: "Em Créteil, há cerca de vinte sinagogas e aos sábados parece uma cidade israelita. Também temos um grupo escolar de 1.500 alunos onde os meninos usam o quipá e a pasta da escola. Nunca houve agressões."
Boné por cima do quipá
Mas o rabino Senior reconhece, "a sucessão de acontecimentos tem criado um clima de insegurança. Desde (o episódio de) Ilan Halimi, mataram em Toulouse, no HyperCacher... Estão matando judeus na França, não é um sentimento subjetivo."
A preocupação ficou ainda mais palpável depois de terça-feira (12), quando um membro da comunidade judaica e vereador pelo partido Les Républicains, Alain Ghozland, foi assassinado em sua casa. Embora a investigação até agora não tenha dado a esse crime um caráter antissemita, alguns moradores têm essa dúvida, assim como Jérémy, 25, que trabalha em um mercado kosher do bairro do lago de Créteil. "Há antissemitismo por toda parte. Ao mesmo tempo, é preciso continuar vivendo."
Ele usa o quipá "no trabalho, em casa e no bairro", mas explica que "não gosto de usá-lo no transporte público. Nunca se sabe o que pode acontecer." Então, para não "provocar", Jérémy usa um boné por cima de seu quipá.
Jacques, um cliente da mercearia, usa uma boina "para ser discreto entre pessoas que não são inteligentes". "Há anos a mídia vem fazendo associações entre a comunidade judaica e o que acontece em Israel", critica esse homem de 66 anos. "Isso atiça os jovens da periferia."
Contudo, esse homem que mora em Créteil há 30 anos não se sente à vontade com as declarações dadas pelo presidente do consistório israelita de Marselha: "É completamente idiota", ele diz. "Por acaso vão pedir a um negro que não saia negro na rua? Não podemos impedir os olhares."
"É preciso dar nome aos bois"
Moshe (o nome foi alterado), 27, concorda: "O presidente do consistório não é rabino. Ele não está lá para dar conselhos e não entendo por que falam tanto disso." Moshe usa o quipá, mas ele acredita que "a maior parte dos judeus não usa".
Em uma padaria kosher, dois clientes se conhecem na fila e falam justamente sobre a agressão de Marselha. "Não concordo quando dizem que o agressor é um desequilibrado", afirma Stéphanie, 25. "Foi um ato antissemita e pronto". David diz que não se sente em segurança, e Stéphanie é categórica: "É preciso dar nome aos bois. A França não é um país bom para os judeus viverem". Stéphanie está morando em Israel há vários anos, enquanto David, que vive em Massy (Essonne), pensa na possibilidade "para seus filhos". Ele tem cinco deles, com idades entre 2 e 17 anos.
Leia também: AH.Com Notícias
David usa o quipá, mas quando seu filho pega o ônibus para ir a Paris, "eu digo para que ele tire ou use seu boné, ao passo que quando eu era jovem usava o tempo todo". "Mas nem por isso concordo com o que disse o presidente do consistório em Marselha", faz questão de explicar o pai de família. "Não vejo por que a gente se esconderia", diz ofendida Stéphanie. "É uma pena que tenhamos chegado a esse ponto."
David, um judeu de 62 anos, prefere remeter a questão a um caso de consciência pessoal: "Suponho que muita gente se pergunte se a expressão de sua religiosidade os coloca em risco. Cada um deve decidir como vai continuar manifestando sua identidade. Para mim isso nunca me causou problemas, e espero que continue assim."
Fonte: Le Monde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário