O lobista Milton Pascowitch falou pela primeira vez em uma audiência da Operação Lava Jato, nesta quarta-feira (20), desde que firmou o acordo de delação premiada com a Justiça. Apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador de propina da construtora Engevix, ele é réu no processo que também envolve o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Segundo o delator, o contrato de consultoria entre a empresa dele, a Jamp Engenheiros Associados e a JD Consultoria, de propriedade de Dirceu, serviu ao pagamento de propina por contratos entre a Engevix e a Petrobras. Pascowitch disse que o ex-ministro exercia forte pressão para receber propina desses contratos.
O lobista também afirmou que usou a Jamp para pagar parte da compra da sede da empresa de Dirceu, a reforma de um apartamento em nome do irmão do ex-ministro, a reforma de outro imóvel cujo verdadeiro dono seria José Dirceu e a compra de uma casa para a filha dele. Ao todo, esses negócios teriam rendido ao ex-ministro, segundo Pascowitch, mais de R$ 2,7 milhões.
O MPF afirma que essa quantia foi paga para Dirceu porque ele foi o responsável por indicar Renato Duque ao cargo de diretor de Serviços da Petrobras. Ambos estão presos no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Duque também é réu neste mesmo processo.
Para o MPF, Pascowitch foi quem intermediou os pagamentos de propina para Dirceu e para o Partido dos Trabalhadores (PT), durante os anos em que trabalhou junto com a Engevix. Apenas o ex-ministro teria recebido R$ 11 milhões, segundo os investigadores.
Sobre as relações com o PT, Pascowitch afirmou que o ex-tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto, era quem recebia as quantias devidas pela Engevix. A atuação dele teria começado em 2009. Segundo o lobista, em um contrato para a construção de cascos para a exploração do pré-sal, o partido ficou com R$ 14 milhões.
Pascowitch disse que desse montante R$ 4 milhões foram repassados como doações oficiais ao PT. O restante, conforme o lobista, foi pago em dinheiro vivo, para o próprio Vaccari, entre os anos de 2010 e 2011. Perguntado sobre como transportava tanto dinheiro, ele deu detalhes. “Eu fazia através de uma malinha que eu tenho, com rodinha. Cabia R$ 500 mil”.
Mais réus ouvidos
A audiência desta quarta-feira também serviu para que outros dois delatores e réus neste processo fossem ouvidos. O irmão e sócio de Milton Pascowitch, José Adolfo Pascowitch e o ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco.
Barusco voltou a dizer no depoimento que recebia propina na Petrobras desde 1997, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, a partir de 2010, passou a tratar do pagamento de propina para o PT com João Vaccari Neto.
Outro lado
A defesa de José Dirceu afirmou que o depoimento de Pascowitch foi confuso e que as declarações precisam ser provadas, para que se faça qualquer acusação.
A defesa do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse que ele reafirmou o conteúdo da delação premiada.
O advogado de vaccari neto, Luiz Flávio D’Urso, disse que a acusação de que Vaccari recebeu dinheiro de propina não procede. Ele afirma ainda que Vaccari nunca assumiu o lugar de José Dirceu na função de receber a propina a qual se refere Pascowitch e que quando Vaccari Neto era o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, a função dele era orientar para que as doações legais fossem depositadas na conta do partido.
Em nota, o PT afirmou que todas as doações que recebeu foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral.
Fase final
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Esta fase de depoimentos dos réus é a penúltima antes da sentença do juiz Sérgio Moro. Até o fim deste mês, todos serão chamados para prestar esclarecimentos, podendo falar ou mesmo ficar em silêncio diante do magistrado. Após essa etapa, a Justiça determina um prazo para que o MPF e as defesas apresentem os argumentos finais. Em seguida, o processo segue para a análise e sentença do juiz, que pode condenar ou absolver os réus.
Fonte: G1
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