O procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirmou que a corrupção compensa no país. Em entrevista à Rádio Guaíba na manhã desta quarta-feira (23), ele explicou que 97 a cada 100 casos comprovados do crime acabam impunes, por isso uma nova proposta de reforma política é necessária.
“O crime de corrupção, infelizmente, compensa no Brasil. Por isso, precisamos de uma reforma política, mas não dessa que está aí”, disse o procurador, ao se referir à proposta que altera o modelo de eleição. “A Lava Jato nos mostrou um sistema político corrompido, apodrecido. Pessoas que estavam em funções chave de órgãos públicos arrecadavam propinas para enriquecimento próprio e para financiamento de campanhas caríssimas”, completou.
Não realizar uma outra reforma política depois da operação, segundo Dallagnol, é como ir ao médico e não aceitar o tratamento. “A Lava Jato identificou essa doença, que é a corrupção, mas ela precisa ser tratada. E uma nova reforma é o tratamento para essa doença”, explicou. “As 10 medidas contra a corrupção foram trituradas pelo Parlamento. Estudos internacionais mostram que, em países com muita corrupção, parlamentares não aprovam medidas contra o crime. Se quisermos combater a corrupção, precisamos renovar o Parlamento, mas o distritão coloca 80% deles novamente no cargo”, completa.
O procurador também criticou o aumento no fundo partidário “em uma época de crise fiscal”. “Esse fundo é usado em campanhas hollywoodianas para manipular eleitores. Quem recebe voto é quem mais aparece em um mar de 500 mil candidatos que tivemos na última eleição. E os que aparecem mais são os que mais gastam, os que mais arrecadam via propinas. Com a Lava Jato fechando as portas contras as propinas, eles precisam buscar em outros fundos a própria eleição”, argumentou.
Dallagnol ainda disse que os brasileiros “não podem ser ingênuos” e que “esse estado de corrupção não vai mudar da noite para o dia”. No entanto, a Lava Jato já está promovendo essa mudança. “Precisamos olhar o copo meio cheio. Estamos quebrando uma série de tradições, poderosos estão indo para a cadeia. As pessoas precisam usar a sua energia não para reclamar, mas para para assumir a responsabilidade sobre a mudança do país”, afirmou.
Palestras e apartamentos do Minha Casa Minha Vida
Questionado sobre ter recebido para ministrar as palestras, o que motivou uma investigação da Corregedoria Nacional do Ministério Público, o procurador disse que palestrar não é ilegal e que doou todo o dinheiro recebido para um hospital do Paraná destinado a tratar crianças com câncer. Já sobre ter adquirido apartamentos do Minha Casa Minha Vida, Dallagnol afirmou que “comprou apartamentos de baixo custo” e que “não sabia” que eram financiados pelo programa.
As críticas, segundo o procurador, são o “preço” que ele tem de pagar por estar investigando políticos que controlam veículos de comunicação. “Pago com gosto”, completou.
Fonte: Correio do Povo
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