No dia 1º de agosto, 26 judeus da Venezuela desembarcaram em Israel fugindo do caos político que tomou conta do país. Eles fazem parte da onda de imigração dos judeus venezuelanos, que deixam o país em massa. Alguns deles têm escolhido Israel como porto seguro.
Há 12 anos, havia, na Venezuela, mais de 30 mil judeus numa das comunidades mais antigas do continente americano (os primeiros judeus chegaram ao país no século 16). Hoje, o número caiu para cerca de 8.000 (não há dados oficiais). Paralelamente, o número de judeus venezuelanos em Israel cresceu de 700 para algo em torno de 2.000, na última década.
Oficialmente, o governo israelense não delineou nenhum tipo de plano de retirada de judeus do país, talvez para não melindrar o regime Nicolás Maduro. Os dois países não mantêm relações diplomáticas desde 2009. Mas o Ministério das Relações Exteriores em Jerusalém está monitorando a situação.
A Agência Judaica –instituição que apoia a imigração para Israel– informou, porém, que se Caracas fechar as portas para a saída de judeus, Israel auxiliaria quem quiser sair através da fronteira com a Colômbia, disse à Folha um imigrante recém-chegado. A Folha não conseguiu confirmar essa orientação.
Hoje, judeus venezuelanos que rumam para Israel não podem sair do país apenas com passagem de ida para o Estado judeu. Às questões políticas se unem as financeiras. "Está cada vez mais difícil sair da Venezuela. As passagens aéreas são cada dia mais caras por causa da inflação galopante. Os aviões têm problemas de abastecimento e manutenção. Muitas companhias aéreas cancelaram voos para o país", conta o analista de sistemas venezuelano Roberto Avram, 33, há 11 anos vivendo em Israel, mas que mantém contato com amigos e parentes em seu país natal.
Avram teme que aconteça com a comunidade judaica da Venezuela o que ocorreu com a de Cuba. Depois da revolução de 1959, 94% dos cerca de 30 mil judeus deixaram o país. Hoje, há apenas 1.500 judeus em Havana.
Os números oficiais em Israel ainda não refletem uma onda maciça de imigração para o país. De janeiro a junho, o Ministério da Imigração e Absorção registrou a chegada de 48 imigrantes da Venezuela, um número médio para os últimos anos. Mas a expectativa é que esse número cresça daqui em diante.
"Até agora, chegaram a conta-gotas. Os judeus venezuelanos preferiram imigrar para países próximos, nos quais podem falar a língua local, como Panamá, Costa Rica e México, ou para a Flórida, nos EUA. Mas isso vai mudar. Os que têm menos condições começarão a pedir ajuda a Israel", acredita Simon de Caro, que imigrou com a mulher, Irene, e a filha Rachel há cerca de um ano.
Algumas famílias já começam a pedir essa ajuda. A ONG Fundo de Amizade de Cristãos e Judeus tem financiado passagens. Fora isso, quem se muda para Israel recebe a cesta básica oferecida pelo governo a todos os imigrantes judeus. Educação e saúde são serviços gratuitos a todos os cidadãos do país.
Os venezuelanos que chegam não apontam o antissemitismo como motivo da mudança, apesar de relatarem aumento no preconceito.
"Há uma imagem de que os judeus são pessoas ricas e que têm dinheiro", diz o empresário Nissim Bezalel, que deixou seus bens para trás para recomeçar em Israel. "Os judeus se tornaram alvo de sequestros e pedidos de resgate. Não porque são judeus, mas porque têm dinheiro."
O êxodo dos judeus da Venezuela começou junto com o de tantos outros cidadãos do país ainda na era Chávez (1999-2013), mas está se acirrando no regime Nicolás Maduro, com o aumento da violência nas ruas de Caracas. "
Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi andar na rua, o que não fazia mais. É uma sensação de liberdade. Aqui não há essa violência urbana", relata a psicóloga e escritora Irene Aranguren de Caro, esposa de Simon. "O mais incrível é que a nossa filha, Rachel, pode sair sozinha para o mercado, pode até andar de ônibus!".
A Venezuela foi um dos países que votou a favor da partilha da Palestina, há 70 anos. Em 1949, estabeleceu relações diplomáticas com o recém-criado Estado de Israel. Chávez, no entanto, se alinhou ao Irã e a governos árabes e passou a criticar duramente Tel Aviv.
Então chanceler venezuelano, Maduro rompeu relações diplomáticas com Israel em 2009, no auge do conflito com o grupo islâmico Hamas.
Fonte: Folha de São Paulo.
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