É muito impressionante passear pelo deserto de ônibus com ar condicionado, ou mesmo fazer uma caminhada de algumas horas no deserto. Mas foi algo bem diferente quando um povo de vários milhões de pessoas, com suas crianças, seus animais e seus utensílios domésticos, andou pelo deserto durante três dias, padecendo com o calor, os perigos, a fome, a sede, o cansaço e a exaustão. É verdade que eles conseguiram escapar dos patrões egípcios que os mantinham como escravos e o exército egípcio foi “tragado de todo” pelo mar, como diz Hebreus 11.29. Em Êxodo 15.1 está escrito: “Então, entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram: Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” Que grande livramento foi esse milagre de Deus! Por detrás de Israel estava a poderosa e protetora mão de Deus, que afugentava os inimigos; sobre o povo de Israel estava a nuvem da glória que dirigia, conduzia e indicava a presença de Deus; diante dele estava a Terra Prometida que oferecia leite e mel – mas debaixo de seus pés só havia areia quente e pedras! Assim eles vaguearam pelo deserto de Sur e não encontraram água. As gargantas estavam secas, as crianças choravam, os animais berravam. Então, depois de três dias – e não foi uma miragem! – eles viram muita água. Com alegria e expectativa eles correram depressa para lá. Água! Água! Mas, que horror! Ela era muito amarga, um líquido intragável e venenoso. Todos gritaram: “Mara! Mara!” (= amargor!). Que dolorosa e amarga decepção!“Moisés, o que é isso? Tu nos guiaste até aqui para que morramos de sede?”, gritaram as pessoas indignadas. “E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?” (Êx 15.24). Agora reinava a indignação e a raiva no meio daquela grande multidão sedenta. Até mesmo uma multidão disciplinada pode fugir ao controle quando é exigida além de suas capacidades. Mas nem ao povo escolhido de Deus, nem a nós é permitido fazer-Lhe a pergunta repreensiva:“Por que permites que teus filhos experimentem tanta frustração e amargura?!”
Nós cristãos também passamos por decepções de vez em quando, decepções por parte de pessoas ou de circunstâncias adversas. Como conseguimos nos arranjar com essas amargas frustrações? Como reagimos quando somos sacudidos e perdemos o rumo por falta de vigilância interior? Reagimos segundo a natureza do Cordeiro, de Jesus, que deveria ser também a nossa natureza, ou ficamos indignados? A amargura é uma erva daninha que procura nos sufocar, uma raiz que sempre procura se alastrar em nossas vidas. Mas em nós não deve acumular-se muita “água de amargura”, pois quando ela fica represada em nosso íntimo, Satanás prontamente estará a postos transformando essa amargura em rebelião e ira. Ele, porém, não deve alcançar esse objetivo! “Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados”, adverte-nos o Senhor em Hebreus 12.15.Quando falamos com amargura sobre outras pessoas, contaminamos os que estão ao nosso redor e nos tornamos culpados, pois pecamos. Jesus quer libertar-nos desse pecado! Quem não quer vencer ou abandonar a amargura em nome de Jesus, não precisa admirar-se quando fica melancólico e triste. Conheci pessoas que se afogaram no “lago da amargura”. Mas na cruz de Jesus há poder para a vitória! Quem afirma que ao seguirmos a Jesus estamos livres de temores e decepções, está mentindo. Jesus disse: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Devemos reivindicar para nós essa vitória sobre a amargura em nome de Jesus, devemos tomar posse dela pela fé. O apóstolo Paulo, aprovado no discipulado de Jesus, testemunha:“…que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). Andar no caminho estreito e penoso tem valor eterno, pois ele conduz ao alvo celestial: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18), garante-nos Paulo. Um poeta lírico escreveu uma oração muito bonita, que também deve ser a nossa:“Faze com que eu me aquiete, meu Senhor e Deus. Que eu ouça somente a Tua voz na felicidade e na aflição. Estende Tuas mãos caridosas sobre meu caminhar, faze com que minha vista e meus pensamentos estejam direcionados somente para Ti”.
Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos
Por que Deus levou Seu povo pelo deserto, ao invés de conduzi-lo pelo caminho direto, plano e cômodo junto ao litoral, em direção à Terra Prometida? Encontramos uma primeira explicação em Êxodo 13.17: “Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao Egito.” Naturalmente Deus, que sonda os corações, conhecia Seu povo e sabia das suas limitações. Oxalá nós mesmos conheçamos nossas limitações! No deserto eles não tinham outra alternativa do que seguir a nuvem que ia adiante deles. Mas existem ainda duas explicações mais profundas porque o povo de Israel foi conduzido exatamente nesse caminho em sua jornada para a Terra Prometida. Encontramos uma delas em Isaías 60.16: “…saberás que eu sou o Senhor, o teu Salvador, o teu Redentor, o Poderoso de Jacó.” Agora, nessa situação, o alvo de Deus era levá-los a conhecer esse Salvador e Redentor. Eles deveriam aprender a confiar nEle! Será que nós também conseguimos ver e reconhecer a ação de Deus em nossas vidas, ensinando-nos e levando-nos a reconhecer Sua intenção mais elevada para conosco? Até o dia de hoje é assim, pois Deus não deixa Seus filhos seguirem sempre por caminho cômodos e sem obstáculos. Cantamos em um hino: “Ele apenas quer que sejamos aprovados em meio ao temor e à aflição”. Jesus nos diz: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.13-14). São os caminhos de morte, os caminhos estreitos, que conduzem para a vida!
O próprio Deus dá também a segunda explicação: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos” (Dt 8.2). “Para saber o que há no seu coração!”,esse é o alvo mais profundo quando Ele conduz você por provações! Para ilustrar, encha um copo de água, coloque um pouco de terra nele, e deixe-o assim por algum tempo. Ao agitar o copo, o sedimento sobe. Às vezes, Deus sacode Seus filhos e os submete à prova de fé. Então, quando sobe o sedimento escuro em nosso coração, podemos reconhecer o que há em nós. A fé precisa ser provada pela obediência. Está escrito claramente em Êxodo 15.25, que o Senhor provou Seu povo. Quando o Senhor nos prova, não precisamos ficar com medo, pois então Ele também assume plena responsabilidade por nós. Ele não abandona nenhum de Seus filhos. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Co 10.13). E o desfecho da provação foi maravilhoso para Israel! O importante é aprendermos as lições através de algum problema pelo qual estejamos passando no momento, o essencial é que cresçamos e amadureçamos: “…para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.7). Esse também é o tema central do apóstolo Paulo, que nos adverte insistentemente: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15). Se não quisermos passar por provações, tornar-nos-emos superficiais e indiferentes e perderemos as maiores bênçãos.
Uma lição divina
Deus apresenta Israel diante dos nossos olhos como um espelho! Aliás, enxergamos muito melhor as fraquezas e os defeitos na vida dos outros do que em nossa própria vida. Israel ainda conhecia muito pouco a seu Deus quando passou por essa situação de angústia. Mas a ajuda do Senhor não estava longe. Temos um Deus clemente e misericordioso, que gosta de ajudar no tempo oportuno. Ele também nos anima a vir a Ele: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). Em relação a Israel está escrito: “Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras!” (Dt 33.3). Também Jeremias conhecia e sabia da benevolência de Deus. Ele pôde anunciar em nome do Senhor: “Alegrar-me-ei por causa deles e lhes farei bem” (Jr 32.41).
O socorro no deserto estava preparado: “Então, Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces” (Êx 15.25). Será que conseguimos entender isso? Não era truque, não era mágica! Deus queria mostrar de onde vem o socorro. Um exemplo: quando acontece alguma coisa grave a uma criança e ela fica caída imóvel no chão, a amorosa mão do pai levanta sua cabecinha e diz: “Olhe para mim, não se preocupe, eu ajudo você”. Deus, nesse caso, realizou um trabalho didático, educando Seu povo, dizendo-lhe: “Não o esqueçam: voltem-se para Mim, eu ajudo vocês. Não murmurem! Não reclamem!”
O que significa essa árvore que transformou a água amarga em água doce? A ação realizada por Moisés tem por base um significado profético muito profundo. Já naquele tempo muito remoto da história de Deus com a humanidade, a árvore foi uma forte referência àquele madeiro do Calvário, onde nosso Salvador nos tirou da miséria do pecado e da perdição. Mais tarde o cajado de Moisés teve o mesmo significado. Vamos continuar lembrando desse fato, pois ele levou a Israel e a nós ao acontecimento central da salvação, ele nos conduz à cruz. Para Israel, a árvore que Moisés lançou nas águas foi a salvação! Qualquer um que, em sua angústia e aflição, vier até a cruz, experimentará ajuda abundante. No madeiro maldito aconteceu nossa salvação, a libertação dos laços do pecado e da morte. Nosso louvado Senhor e Salvador, que na cruz consumou o ato mais difícil e grandioso, também é capaz de solucionar a nossa miséria e as perturbações pelas quais estivermos passando no momento. Nossas dificuldades são Suas oportunidades. Acheguemo-nos à cruz com elas! A água amarga tornou-se doce em um instante, no momento em que entrou em contato com a árvore. Esse é um convite insistente
para que nos abriguemos debaixo da cruz! Jesus transforma aquilo que é amargo em doce.
Jesus também ofereceu essa água doce à mulher samaritana no poço de Jacó. Creia-me, essa água viva também jorra para você. Beba abundantemente dela!
Por: Burkhard Vetsch – http://www.apaz.com.br
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