Marqueteiro de Dilma prestou depoimento ao TSE e relatou o que disse a Temer: “O senhor é sistematicamente acusado de satanismo”
A imagem supostamente “satanista” do presidente Michel Temer influenciou diretamente na estratégia de marketing da campanha vitoriosa da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014. Pesquisas internas coordenadas pelo marqueteiro João Santana e pela sócia e esposa dele, Mônica Moura, apontavam queda nas intenções de voto nas vezes em que a figura de Temer era explorada eleitoralmente. Os detalhes desta avaliação foram dados no depoimento em que Santana prestou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para embasar o processo de cassação da chapa presidencial vencedora da disputa de 2014.
O depoimento do marqueteiro ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi prestado no dia 24 de abril. A íntegra das declarações tornaram-se públicas nesta quinta-feira, às vésperas de o TSE decidir se cassa ou não o mandato de Temer.
Conforme o relato do marqueteiro, que acabou se tornando delator da Operação Lava Jato, ainda em 2014 Michel Temer o questionou sobre o motivo pelo qual aparecia tão pouco nas peças publicitárias da campanha. Foi quando o marqueteiro disse ter cometido um “sincericídio” e aberto o jogo a Temer. “Vou falar para o senhor um dado que ocorre sistematicamente e que me surpreende. O senhor é sistematicamente acusado, principalmente nos grupos de São Paulo, do Sudeste e do Sul, de satanismo”, disse Santana, ao relatar ao TSE as explicações que deu a Temer. O próprio marqueteiro já havia estudado ocultismo na juventude e arriscou uma explicação para a associação do nome do político ao do Tinhoso.
“Talvez por causa do seu nome Michel Temer, que é um nome de um satanista francês muito conhecido do século XIX, e talvez por isso”, afirmou o marqueteiro. Segundo ele, era recorrente haver questionamentos da equipe de Temer sobre a baixa exposição dele nas campanhas publicitárias na eleição de 2014. Vices sempre reclamam, dizia João Santana. Mas no caso de Temer, não bastassem os protestos, a imagem dele, ligada a teses de adoração do diabo, afugentava os eleitores. Nas eleições daquele ano, o próprio Temer veio a público para afirmar que boatos de que ele teria admitido ser satanista vieram à tona ainda em 2010.
Na campanha de 2014, relatou João Santana, programas de Dilma exibidos na TV eram avaliados, quase que diariamente, em pesquisas qualitativas por um grupo de 12 pessoas das principais cidades do país. “Imediatamente se estimula se foi positivo ou não, passa o relato para a gente e etc. Com o PMDB e com o presidente Temer era o contrário”, disse o marqueteiro à Justiça Eleitoral. “O presidente Temer, além de não somar, estava restando, tirando votos. Quando ele aparecia, realmente…”, completou ele.
Temer participou de programas e ‘gerou prova contra ele’
João Santana também disse Temer pressionava para participar de gravações de programas eleitorais nas eleições de 2014. Como a campanha e os programas de TV de Dilma foram abastecidos com dinheiro de caixa dois, em boa parte vindo dos cofres da Odebrecht, Santana afirmou que, ao insistir para gravar programas eleitorais que seriam exibidos no rádio e na TV, Temer acabou inserido em um sistema que estava “contaminado” por dinheiro sujo.
“Por causa dessa pressão dele, ele terminou gerando, digamos, uma prova contra ele, porque ele entrou duas ou três vezes em gravação de programas só porque insistiu. Então, se o dinheiro da campanha da presidente Dilma está contaminado, (…) e o programa foi pago, em parte, com esse dinheiro, então, ele participou desses programas também. Ele está lá e pediu várias vezes, participou de vários atos da campanha”, relatou Santana.
Questionado sobre a participação de Temer na campanha presidencial de 2014, João Santana disse que o então vice e a presidente Dilma Rousseff tinham uma relação distante porque o PT não queria o nome do peemedebista como candidato na chapa. Ainda assim, relatou que Temer tinha “participação ativa” na discussão de programa de governo, “participava dos preparativos dos debates todos” e pedia para participar das propagandas a serem exibidas na TV. “Várias vezes, sistematicamente, (pediu para participar dos programas de TV). No último momento a própria presidente é quem quase me pressionou para colocá-lo porque ele estava enchendo o saco, perdoe a expressão”.
Ao TSE, Mônica Moura, esposa de João Santana, também detalhou a participou de Michel Temer nos programas de TV da campanha. “A gente filmou algumas vezes com o Presidente Temer, lá no Jaburu. Temos várias filmagens com ele, nossa equipe ia. Ele sempre escolhia. Ele foi algumas vezes no estúdio. Acho que ele gravou no estúdio da gente também uma vez. Mas normalmente ele escolhia que fosse no Jaburu por ser mais confortável para ele. A gente montava todo um set de filmagem lá. Então, gravamos com o presidente algumas vezes, fizemos material gráfico que incluía o vice-presidente sempre”, disse.
Fonte: Veja
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