Jesus acalma a tempestade, Mt 8.23-27
(Mc 4.36-41; Lc 8.23-25)
23-27 Então, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos! Perecemos! Perguntou-lhes, então, Jesus: Por que sois tímidos, homens de pequena fé? E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; e fez-se grande bonança. E maravilharam-se os homens, dizendo: Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?
Na parte final das narrativas de milagres, chegamos a uma série de relatos que também foram reunidos pelos evangelistas Marcos e Lucas: o controle da tempestade, a cura dos dois endemoninhados, a ressurreição da filhinha de Jairo, e a cura da mulher com hemorragia. Mateus intercalou entre eles ainda a cura do paralitico (9.1-8) e a vocação de Mateus com subsequente refeição e diálogo (9.9-17).
A autoridade de Jesus de realizar milagres chega ao auge. Jesus tem poder sobre as forças da natureza, revela sua autoridade sobre os poderes demoníacos (8.28-34) e sobre os poderes da morte (9.18-26).
Pelo plano indicado em 8.18, Jesus também queria anunciar o evangelho na região além do mar da Galiléia, na terra das Dez Cidades. Tendo falado longamente ao povo na margem de cá, estava tão cansado que, segundo a informação muito exata de Marcos, nem saiu do navio do qual tinha ensinado o povo. Seus discípulos o tinham levado “assim como estava”, sentado no barco. Alguns outros barcos os acompanhavam, formando uma pequena frota. O tempo estava calmo. Jesus, cedendo ao cansaço, adormeceu. O pincel de Marcos preservou para nós o quadro com maior exatidão. Jesus estava deitado na parte traseira do pesqueiro, sua cabeça repousava sobre um travesseiro que uma mão amiga lhe tinha oferecido. A palavra adormeceu significa no texto original
“caiu em profundo sono”. É um termo do grego tardio.
No lago cercado de montanhas ocorre muitas vezes, sobretudo no final da tarde em dias quentes, que súbitas tempestades intensas descem dos morros. Esse fenômeno conhecido é indicado em Lc 8.23 com o termo “caiu sobre eles”, como diz o original. Mateus expressa a vinda súbita e surpreendente da tempestade novamente com a palavra eis (cf. o exposto em 1.18). Subitamente a tempestade veio sobre eles.
Os v. 25-27 mostram um quadro com uma expressividade dificilmente igualada sobre a terra.
Os discípulos entram com Jesus na tempestade, i. é, penetram repentinamente na aflição, no perigo extremo, nas piores dificuldades.
O que os discípulos fazem primeiro? Eles trabalham. São especialistas do ramo. Dirigem o barco como pessoas capacitadas. Afinal, conhecem a tempestade e o clima. Várias vezes essas tempestades já se abateram repentinamente sobre eles. E agora novamente um furacão desses! As ondas se agitam às alturas, os marinheiros recorrem a todas as forças para vencer o apuro e a tempestade. Empenham-se, trabalham arduamente, controlam as velas etc.
É errado isso? Não, pois o cristão deve trabalhar, sim. Deve ser o trabalhador mais dedicado.
O que é que os discípulos precisam reconhecer? Que o perigo é maior que suas forças, as dificuldades superam a sua capacidade.
Que fazem, pois, os discípulos? Ficam nervosos! Gritam e perdem o controle. Sua maior aflição, porém, é esta: O Senhor Jesus dorme, ele silencia! Isso os leva a uma agitação maior ainda. Como
Jesus pode ser tão indiferente, dormindo numa dificuldade dessas? Isso é falta de amor e de consideração. É indiferença. Então irritam-se com ele. Talvez até ficaram irados!
Essa atitude é certa? Isto é fé? Não, porque fé não é perturbação, nervosismo, irritação, acusação, não é agitar-se nem gritar. O próprio Jesus lhes diz: Homens de pequena fé!, “descrentes, homens sem fé!” (Mc e Lc). Por que razão o Senhor realiza o milagre? Por causa da fé deles ou por causa da sua falta de fé? É por causa da falta de fé! Isso é estranho.
É uma palavra muito séria! Que é falta de fé ou pequena fé? Podemos chamar os discípulos de descrentes?
• Afinal, estão com Jesus, foram junto com Jesus ao mar;
• Recorreram a ele na aflição;
• Contaram com a sua ajuda.
Não obstante, são descrentes, pessoas sem fé. Por isso estão sendo censurados por Jesus!
Por que o Senhor chama a atitude deles de falta de fé?
• Porque no apuro se tornam nervosos, perdem a calma, gritam perturbados, irritam-se;
• Porque querem forçar Deus a ajudar imediatamente e da maneira como eles imaginavam, como era o programa deles.
• Porque queriam que os seus problemas fossem eliminados.
Em Jesus nos é mostrado o que é fé verdadeira.
• Na fé autêntica as coisas acontecem muitas vezes de forma bem humana!
Também na pessoa de Jesus. Havia passado um dia de trabalho cansativo. O afluxo de pessoas era tão grande que ele nem sequer tinha tempo par comer, conforme relata Marcos. Ao entardecer ele tinha ensinado a partir do barco. Agora necessitava de descanso. Assim como estava, sentado no barco, eles o levaram. Na terra de fato não tinha onde reclinar sua cabeça. Cansado e esgotado, adormece. Esta é a única vez em que lemos que Jesus dormia (embora à noite naturalmente costumasse dormir). Novamente somos colocados diante da natureza plenamente humana de Jesus.
Ele foi um ser humano igual a nós, teve fome e sede, chorou, sentiu compaixão, trabalhou até o esgotamento total, andou sob o sol ardente em estradas poeirentas. Na fé genuína as coisas acontecem de modo bem humano!
• Na fé verdadeira as coisas acontecem muitas vezes de maneira bem desumana!
Todo o nosso programa, o que planejamos e refletimos, às vezes é simplesmente deixado de lado. Esforçamo-nos tanto, mas ainda assim só se fazem julgamentos negativos de nós. Tudo é distorcido e pisado aos pés.
Quanta necessidade o Senhor tinha do sono! Lá fora, sobre o mar calmo, ele espera que finalmente possa descansar sem ser incomodado. Mas, no meio do sono, os discípulos o interrompem sem a menor consideração. Contudo, em nenhum momento ele se altera pelo súbito incômodo. Na fé autêntica não existe nervosismo, irritação, contrariedade, lamentação, reação e murmuração.
• Na fé verdadeira a pessoa sabe: Tudo é governado pelo melhor regente, tudo está nas melhores mãos.
Os discípulos pensam: O vento e as ondas decidem sobre a nossa vida. A fé genuína sabe: Não são o vento e as ondas, não são as pessoas que decidem sobre nós, mas tão somente Deus!
Tudo está sob controle. Jesus foi o único que, mesmo na tempestade, conservou sua posição junto de Deus. Observava a fúria dos elementos da natureza com a certeza: Tudo isso está sendo governado! Jesus não precisa recordar-se penosamente do Pai. Pelo contrário, quando acorda e seus olhos veem o perigo, de imediato e com a mesma certeza ele vê também o Pai. Está aí não apenas a tormenta. Também o Pai está presente e governa. A natureza repousa dócil em suas mãos, pois é criatura dele. Acima da lei da natureza governa uma vontade, a vontade do Pai. E o infinito dos espaços siderais é envolto pela sua mão. Vento e ondas e tudo o que mais a natureza tiver, são propriedade de Deus, permanecendo por isso incessantemente a seu serviço. Essa não era apenas a doutrina de Jesus. Isso também ficava claro pela suas ações.
Fonte: Mateus - Comentário Esperança
Nenhum comentário:
Postar um comentário