20 — Na verdade, na verdade vos digo que vós chorastes e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
21 — A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já se não lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.
22 — Assim também vós, agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria, ninguém vo-la tirará.
23 — E, naquele dia, nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar.
24 — Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra.
Professor, esta lição trata da alegria. Entretanto, não se refere a um contentamento passageiro como aquele que se adquire numa premiação ou nos divertimentos. Esta alegria é fruto da graça de Deus e da habitação do Espírito Santo no crente. É espiritual, presente em toda e qualquer circunstância. Lembra-se de Paulo e Silas na prisão (At 16)? O que os motivava a adorar próximo à meia-noite depois de serem açoitados? O fruto da alegria!
Muitos crentes não encontram motivos para se alegrarem porque possuem um conceito distorcido da alegria espiritual. Nesta lição, procure demonstrar a seus alunos que este fruto independe das situações, pois procede do próprio Deus.
O texto da lição bíblica é um recorte de um dos últimos diálogos de Jesus com seus discípulos. O Mestre vê diante de si o Gólgota, a cruz, os espinhos, o escárnio, a solidão (v.32), e consequentemente a aflição dos discípulos pela sua morte. O tema dos versículos 20-24 (alegria) é uma réplica à tristeza dos discípulos em 16.6: “Antes, porque isso vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza”. Entretanto, o desalento dos discípulos receberia o devido consolo: “Não vos deixarei órfãos [...] rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14.16,18). A alegria mencionada por Cristo neste capítulo de João procede do Espírito Santo. Os atributos da alegria espiritual incluem: alegria frutificadora (v.21), alegria interior (v.22), alegria perene (v.22), alegria plena (v.24). A tristeza dos discípulos resultou da morte e paixão de Cristo, mas a alegria, do poder da ressurreição. Na morte do Messias, os homens se alegraram, enquanto os discípulos se entristeceram, no entanto, na sua ressurreição a tristeza destes se converteu em alegria (v.20). Cristo vive! Esta é a razão pela qual o santo gozo do cristão não pode ser abalado.
ORIENTAÇÃO DIDÁTICA
Professor, para esta lição, precisaremos de cinco tiras de cartolina, cortadas em tamanho decrescente, para formar cinco degraus. Cada um dos degraus representará os subtópicos que descrevem As Fontes de Alegria Espiritual. À medida que for ministrando, afixe cada uma dessas tiras, uma posposta a outra, até o último tópico. Ao final da exposição, será formado uma escada que conduz a plena Alegria Espiritual. Sobre a base do último degrau faça com cartolina uma abóbada escrita Alegria Espiritual. Use uma cartolina para fazer a cobertura. Utilize este recurso quando este tópico da lição for ministrado.
Palavra Chave
Gozo inefável: Consiste na alegria como um mistério divino indizível, acima da compreensão humana.
Nesta lição, descobriremos que o fruto da alegria é desenvolvido em nós pelo Espírito Santo ao reconhecermos nossa posição em Cristo; enquanto vemos Deus agir por nosso intermédio e à nossa volta; e ao antevermos nosso futuro glorioso com Ele na eternidade. Veremos também que há forte relação entre o sofrimento e a alegria na vida do crente. A alegria ou gozo não é apenas produto do Espírito Santo, mas parte de sua natureza, de modo que, estar cheio do Espírito é também estar alegre!
I. A ALEGRIA SEGUNDO A BÍBLIA
1. Definição. Em Gálatas 5.22, a palavra alegria (ou gozo) é tradução da palavra original chara. Este termo bíblico não significa alegria proveniente das coisas terrenas, mas, do exemplar relacionamento com Deus. É mais que felicidade momentânea. A alegria, como fruto do Espírito, é uma qualidade de pleno prazer, e independe das circunstâncias, ou seja, é constante em qualquer situação, quer boa, quer crítica, porquanto está fundamentada em Deus.
2. O fundamento da alegria. O apóstolo Paulo escreveu aos filipenses a epístola conhecida como “A Carta da Alegria”. Duas vezes, no quarto capítulo, Paulo declarou ter aprendido a viver contente em qualquer situação (Fp 4.11,12). Naquele momento, o apóstolo dos gentios estava na prisão esperando seu julgamento. Qual era a fonte de sua satisfação? Como poderia estar contente diante da falta de liberdade? Era o Espírito Santo que produzia em Paulo o fruto da alegria. Seu prazer estava fundamentado em Cristo, e não nas circunstâncias ou no bem-estar físico.
3. Melhor que felicidade. A alegria, como fruto do Espírito, não depende das circunstâncias exteriores. Ela permanece até nas dificuldades, porque é desenvolvida no interior do crente pelo Espírito Santo. Isto foi reconhecido por Paulo ao escrever aos tessalonicenses (1Ts 1.6).
Esta virtude é infinitamente melhor que a felicidade oferecida pelo mundo, é o que apóstolo Pedro chamou de “gozo inefável e glorioso” (1Pe 1.8); está à parte de todos os níveis de contentamento puramente humanos. É resultado da fé em Deus (Rm 15.13).
II. AS FONTES DE ALEGRIA ESPIRITUAL
Quando Deus é o manancial de nossa alegria, nada consegue reduzi-la! É uma satisfação perene e abundante, uma vez que se origina nEle.
A seguir, consideraremos algumas fontes de alegria espiritual.
1. A salvação. No momento em que uma pessoa recebe o perdão de seus pecados, é como se o peso do mundo inteiro lhe fosse tirado dos ombros. Jesus, ao entrar em nosso coração, traz alegria inefável. Maria se alegrou ao ser escolhida como instrumento de Deus para Cristo vir ao mundo (Lc 1.46-49). 0 próprio nascimento do Salvador foi motivo de celebração (Lc 2.10-14). Em muitos salmos, Davi expressou alegria por sua salvação (Sl 13.5; 31.7; 32.11; 35.9).
2. Os atos poderosos de Deus. Ao longo do Antigo Testamento, observamos o Todo-Poderoso agindo em pessoas que o amavam e o serviam. Deus atuou em nosso benefício, ao preservar a nação de Israel, na qual nasceria o Messias, e ao entregar o seu único Filho como remissão por nossos pecados. Ele operou grandes maravilhas no passado e ainda hoje, pelo poder do Espírito Santo, convence o homem do pecado, leva-o ao arrependimento, honra a pregação da sua Palavra, batiza com o Espírito Santo, supre as necessidades, cura as enfermidades etc. Tudo isso alegra sobremaneira nosso coração.
3. O Espírito Santo. A alegria é produto do Espírito Santo, cuja morada é o interior do crente. Faz parte da própria natureza do Espírito! Esta virtude era característica dos crentes da igreja primitiva. Por quê? Em razão de serem cheios do Espírito. Eles poderiam sentir-se desanimados, ou amedrontados, ou solitários. No entanto, haviam aprendido que, em qualquer situação, a alegria proveniente do Espírito tornava-se em fonte de força, ajudando-os a transpor as adversidades.
4. A Presença de Deus. O próprio Deus é a fonte de toda a alegria (Lc 1.47; Fp 4.4). Na presença do Senhor encontramos esta gloriosa virtude (Sl 16.11). Em João 20.20, lemos que os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor. Ir à casa do Senhor é motivo de alegria (Sl 122.1).
5. A bênção de Deus. A bênção de Deus resulta em alegria (Sl 126.3). Confiar em Deus traz contentamento, porque conscientizamo-nos de sua suficiência para suprir todas as nossas necessidades (Fp 4.19). Além disso, alegramo-nos ao vermos nossos irmãos serem abençoados (1Ts 3.9).
III. O SOFRIMENTO E A ALEGRIA ESPIRITUAL
1. A Relação entre o sofrimento e a alegria. Há forte vínculo entre esses dois estados. Segundo as Bem-Aventuranças de Jesus, haverá o dia em que Deus recompensará os que, por amá-lo, suportaram as injustiças do mundo (Mt 5.3-11). Muitas passagens bíblicas associam sofrimento à alegria (1Ts 1.6; Hb 10.34; Tg 1.2; 5.11; 1Pe 4.13).
Note que, nelas, a alegria está relacionada à esperança do cristão, a qual está baseada em sua futura glória no céu — o prêmio para os que vencerem as provas e tentações desta vida.
2. O sofrimento e a alegria nos primórdios da Igreja. Em virtude da obediência à ordenança do Mestre para proclamar o evangelho, os cristãos primitivos enfrentaram muitas perseguições. Entretanto, esta situação não lhes tirava a alegria! Em Atos 13, vemos que os discípulos estavam sendo perseguidos e forçados a deixar a cidade na qual estavam pregando as Boas Novas. Não obstante, no versículo 52, lemos: “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Esse comportamento pode ser observado em várias passagens de Atos (5.41; 16.25).
3. A alegria de Jesus no sofrimento. Em Mateus 26.30, Jesus sabia que estava defronte da sombra do Getsêmani e do Calvário, os quais denotavam sofrimento, vergonha e morte. Contudo, cantou com os discípulos depois de celebrar a última Páscoa. Como ele podia se alegrar nesta situação? Porque estava cheio do Espírito Santo. Sempre que me sinto desanimado, lembro-me de Jesus, o qual suportou os momentos difíceis sem perder de vista suas perspectivas (Hb 12.2,3).
IV. OS OBSTÁCULOS À ALEGRIA ESPIRITUAL
1. Desânimo e dúvidas. Pessoas desanimadas e tristes perdem o entusiasmo pela vida, a vontade de trabalhar; só lamentam e choram (Sl 137). Os discípulos de Emaús estavam tão tristes, que nem sequer reconheceram o Mestre enquanto permanecia junto deles (Lc 24.16). O mesmo sucedeu à Maria Madalena na manhã da ressurreição (Jo 20.15).
2. Tudo que impede nosso relacionamento com Deus. A amargura, o ressentimento, a falta de amor, os desejos errôneos, enfim, as obras da carne roubam-nos a alegria do Senhor. No entanto, se mantivermos constante comunhão com o Senhor, seu Espírito será a nossa fonte de santa alegria.
V. OS RESULTADOS DA ALEGRIA ESPIRITUAL
Mediante a alegria gerada pelo Espírito Santo, benditos resultados acontecem em nossa vida. As mudanças produzidas pelo Espírito de Deus no caráter são percebidas em nossas reações às circunstâncias e nos relacionamentos interpessoais.
1. Rosto radiante. Já observou aqueles crentes cujo rosto resplandece de alegria? Não nos sentimos felizes por estar perto deles? A face e o comportamento das pessoas refletem seus sentimentos internos, o que existe no profundo de seu coração. O cristão cheio de alegria do Espírito consegue transmiti-la facilmente em sua aparência exterior (Pv 15.13).
2. Cântico de alegria. Um coração grato e alegre expressa-se com cânticos e louvores ao Senhor (Sl 149; At 16.25). Assim como Paulo ensinou à igreja primitiva, o crente cheio do Espírito expressa sua alegria através dos hinos espirituais (Ef 5.18b-20).
3. Força divina. A alegria do Senhor converteu-se em força na vida de Neemias, e deu-lhe coragem para reconstruir Jerusalém (Ne 8.10). Esta virtude encoraja o povo de Deus hoje a prosseguir em sua difícil jornada, porquanto resulta em força divina.Você já experimentou os resultados da alegria no Senhor? Você tem um rosto radiante, um cântico de louvor e a força divina? Podemos ter a plenitude da alegria, descrita nesta lição, mediante a habitação do Espírito Santo em nosso coração. Se tivermos a alegria do Espírito em abundância, enfrentaremos qualquer circunstância! Cultive este fruto, e compartilhe sua alegria com outros.
“Algumas versões da Bíblia traduzem gozo por alegria sendo esta a felicidade que o crente desfruta no Espírito Santo. O termo grego aqui é chara. O termo charis, traduzido em português por graça, vem da mesma raiz. Charis, a partir de Homero, passou a significar aquilo que promove bem-estar entre os homens. Como atributo do Espírito Santo, a alegria é uma qualidade implantada na alma que teve um encontro com o Deus de toda graça, e visa uma vida de regozijo e de agradecimento ao Senhor. Paulo recomenda aos cristãos filipenses que sejam agradecidos e cheios de regozijo: ‘Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos’ (Fp 4.4).
‘Está alguém contente? Cante louvores’ (Tg 5.13). O desejo de Deus é ver seus filhos cantando com graça no coração (Cl 3.16). Nas Escrituras, a alegria trazia força e até saúde ao povo de Deus (Ne 8.10; Pv 17.22). A alegria cristã, portanto, não é uma emoção artificial. Antes, é uma ação do Espírito Santo no coração humano, para que este venha a conhecer que o Senhor Deus está no seu trono, e que tudo neste mundo submete-se ao seu controle, até mesmo onde a experiência pessoal está envolvida”
(SILVA, Severino Pedro da. A existência e a pessoa do Espírito Santo. RJ: CPAD, 1996, pp.136-7
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