O candidato republicano Donald Trump esclareceu mais uma vez que não retirará os comentários que fez sobre os imigrantes sem documentos que moram nos Estados Unidos. E está disposto a ir mais longe. O magnata apresentou um plano de imigração no qual promete deportar 11 milhões de ilegais se chegar à Casa Branca. Ao anunciar sua candidatura, Trump afirmou que o México envia ao norte “estupradores” e “criminosos”. Dois meses depois, em uma entrevista dada à rede NBC neste último domingo (16), de seu avião particular, Trump confirmou que está disposto a liderar uma campanha ligada à ala mais conservadora do Partido Republicano.
Essa posição é especialmente perigosa para todos os seus rivais, e até para ele próprio, caso consiga ser candidato à presidência. Nas eleições de 2008 e 2012, o eleitorado hispânico enviou uma mensagem clara aos republicanos: seu discurso sobre a imigração e seu rechaço à reforma do sistema migratório colocavam em perigo seu voto no futuro. A direção tomada por Trump os afasta ainda mais.
“Manteremos juntas as famílias”, disse o candidato sobre os imigrantes sem documentos, “mas eles têm de ir embora”. O magnata reiterou que a solução para a imigração ilegal é a construção de um muro na fronteira entre EUA e México, a ser pago pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto. “Não podemos deixar que continuem se aproveitando de nós”.
O plano do candidato, publicado no domingo em seu site na Internet, propõe além disso a anulação das ordens executivas do presidenteBarack Obama nas quais cancelou a deportação dos ilegais sem antecedentes criminosos. Trump também eliminaria as permissões concedidas aos dreamers –sonhadores, como são chamados os imigrantes que entraram nos EUA muito jovens – e modificaria a Constituição para retirar o direito à cidadania dos nascidos nos EUA de pais que residem ilegalmente no país.
“Isto é o que estão fazendo, ter filhos. De repente, sem que ninguém saiba, chega um bebê”, disse Trump. Quando o jornalista Chuck Todd pressionou-o para que explicasse como ia realizar as deportações, o candidato recorreu a uma de suas práticas habituais, responder com outra pergunta: “Você realmente acha que é muito difícil para eles morar aqui?” Mas seu plano faz uma concessão: “as boas pessoas poderão voltar”.
O magnata nova-iorquino demonstrou também durante a entrevista sua fixação pelo México, país que já insultou ao anunciar sua candidatura. O protesto formal do governo Mexicano e a rejeição pública de numerosas empresas e personalidades dos dois lados da fronteira – desde Carlos Slim até companhias como Televisa, Univision e NBC – não impediram que Trump avançasse na mesma direção.
“Os líderes mexicanos têm se aproveitado dos Estados Unidos ao utilizar a imigração ilegal para exportar o crime e a pobreza de seu próprio país”, declarou. Seu plano acrescenta a determinação de aumentar as taxas para obter vistos de diplomatas e executivos empresariais mexicanos “e cancelá-los se for necessário”, assim como encarecer as licenças diárias para atravessar a fronteira legalmente. O candidato assegura que manterá essas tarifas até que o México aporte o custo de construir o muro.
Trump criticou além disso os dois candidatos que até agora se mantinham como favoritos entre os votantes republicanos. O empresário qualificou de “marionete” Jeb Bush, candidato com um perfil mais moderado, graças a sua postura em favor da regularização dos imigrantes ilegais. Para Marco Rubio, reservou um ataque por seu apoio ao projeto bipartidarista de reformar a lei de imigração aprovada pelo Senado em 2013. “A lei não era mais do que uma concessão aos patrões corporativos que mandam nos dois partidos”, diz o documento publicado neste fim de semana.
Bush e Rubio são os dois únicos candidatos que demonstraram sua intenção de reconciliar a gravidade da imigração ilegal com a necessidade de solucionar a situação em que vivem mais de 11 milhões de pessoas sem documentos. Essa postura os aproxima do eleitorado hispânico como não ocorre com nenhum outro candidato. Mas agora, em tempo de primárias, quando a disputa é vencida entre os eleitores mais conservadores, os dois políticos da Flórida são os mais vulneráveis. O plano de Trump é um ataque direto a eles, que nos próximos dias deverão se pronunciar.
Fonte: El País
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