O presidente Donald Trump e seus assessores, aventurando-se pela primeira vez no mundo convulso das negociações de paz no Oriente Médio, estão desenvolvendo uma estratégia para o conflito israelo-palestino que recorreria a países árabes como Arábia Saudita e Egito para romper anos de impasse.
A abordagem emergente reflete o pensamento do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que visitará os EUA na próxima semana, e se basearia em seu alinhamento de fato com países muçulmanos sunitas para tentar refrear a ascensão do Irã, liderado por xiitas.
Mas autoridades árabes advertiram Trump e seus assessores que se quiserem cooperação os EUA não poderão dificultar a vida deles com medidas provocativas pró-Israel.
A Casa Branca parece estar ouvindo o conselho. Trump adiou seu plano de mudar a embaixada americana para Jerusalém, depois que líderes árabes lhe disseram que fazer isso causaria protestos nervosos entre os palestinos, que também reivindicam a cidade como capital de um futuro Estado.
E depois de se reunir com o rei Abdullah 2º da Jordânia, na semana passada, Trump autorizou uma declaração que, pela primeira vez, advertiu Israel contra a construção de novos assentamentos na Cisjordânia além das linhas atuais.
"Há algumas ideias muito interessantes circulando sobre o potencial de discussões entre americanos, israelenses e árabes sobre segurança regional em que as questões israelo-palestinas teriam um papel significativo", disse Robert Satloff, diretor-executivo do Instituto para Política do Oriente Próximo, em Washington.
"Não sei se isso vai amadurecer até a próxima semana, mas a coisa está aí."
As discussões salientam a evolução da postura do novo presidente americano sobre o conflito israelo-palestino conforme ele se aprofunda no problema.
Durante a campanha e o período de transição pós-eleitoral, Trump se apresentou como um defensor inabalável de Israel, que mudaria rapidamente a embaixada e apoiaria a construção de novos assentamentos sem reservas. Mas ele se moderou até certo ponto.
A ideia de recrutar países árabes para ajudar a forjar um acordo entre israelenses e palestinos --abordagem conhecida como "de fora para dentro"-- não é nova.
Como secretário de Estado do presidente George W. Bush, James Baker organizou a primeira conferência regional em 1991, na qual líderes árabes se sentaram com o primeiro-ministro israelense. O presidente Bush convidou líderes árabes para uma reunião de cúpula com Israel em Annapolis, Maryland, em 2007.
E o primeiro enviado especial do presidente Barack Obama, George Mitchell, passou meses em 2009 tentando recrutar parceiros árabes em um esforço conjunto.
A diferença é que nos últimos oito anos Israel se tornou mais próximo dos países árabes sunitas devido a sua preocupação comum sobre a hegemonia iraniana na região, abrindo a possibilidade de que essa afinidade recém-descoberta, embora nem sempre pública, poderia mudar a dinâmica.
"A lógica do de fora para dentro é que como os palestinos estão tão fracos e divididos --e como há uma nova relação tácita entre os árabes sunitas e Israel-- há esperança de que os árabes estariam dispostos a fazer mais", disse Dennis B. Ross, um negociador da paz no Oriente Médio sob vários presidentes, inclusive Obama.
Isso se afasta da suposição compensatória de que se Israel fizesse primeiro a paz com os palestinos isso levaria à paz com o mundo árabe em geral --a abordagem "de dentro para fora". Esta esteve no centro das tentativas do presidente Bill Clinton de reunir os dois lados e foi a posição de Obama depois que seus esforços para encontrar aliados árabes falharam.
Netanyahu, que deverá visitar a Casa Branca na quarta-feira (15), tem falado sobre a abordagem de fora para dentro há algum tempo. Sua teoria é que a abordagem de dentro para fora falhou. E assim, afirma ele, se Israel puder transformar sua relação com os países árabes sunitas, eles poderão mais tarde abrir caminho para uma solução com os palestinos.
Jared Kushner, o principal assessor da Casa Branca, a quem Trump atribuiu um papel importante nas negociações, ficou intrigado por essa lógica, segundo pessoas que falaram com ele.
Kushner aproximou-se de Ron Dermer, o embaixador israelense e confidente de Netanyahu. Trump e Kushner também jantaram na Casa Branca na quinta-feira (09) com Sheldon Adelson, o magnata dos cassinos, que é um forte apoiador de Netanyahu.
Uma série de telefonemas e reuniões pessoais com líderes árabes e regionais nas últimas semanas também moldaram o pensamento de Kushner e o do presidente.
Trump conversou com o presidente do Egito, Abdel-Fattah el-Sissi, com o rei Salman da Arábia Saudita, com o príncipe real Mohammed bin Zayed al-Nahyan de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) e com o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Kushner também se reuniu com autoridades árabes, incluindo Yousef Al Otaiba, o embaixador dos Emirados Árabes Unidos.
O rei Abdullah 2º, da Jordânia, parece ter exercido um papel especialmente importante. Preocupado que uma mudança da embaixada irritaria os muitos palestinos que vivem em seu país, o rei correu a Washington sem ser convidado, na aposta de que conseguiria ver Trump.
Ele esteve primeiro com o vice-presidente Mike Pence, que o recebeu para o café da manhã em sua residência oficial na semana passada. O rei apelou à fixação do governo pelo grupo Estado Islâmico, afirmando que os EUA não devem afastar aliados árabes que podem ajudar.
Vários dias depois, Abdullah encurralou Trump nos bastidores do Café da Manhã Nacional de Oração e defendeu uma tese semelhante. Ele aconselhou contra uma mudança radical na política americana e enfatizou os riscos que a Jordânia enfrentaria se Israel se tornasse ainda mais assertivo sobre a construção de assentamentos, segundo pessoas que falaram com Kushner e com Steve Bannon, o principal estrategista da Casa Branca.
Trump já havia decidido nessa altura desacelerar a mudança da embaixada --decisão que não perturbou especialmente Netanyahu e sua equipe, que, enquanto publicamente apoiavam a mudança, em particular pediam cautela para evitar uma reação violenta.
O governo americano também recebeu relatórios de diplomatas americanos na Jordânia de que a ameaça de ataque terrorista tinha sido elevada ao nível mais alto em anos.
Mas uma série de anúncios de novas construções nos assentamentos preocupou algumas autoridades da Casa Branca, que pensaram que Netanyahu estivesse agindo antes de se reunir com Trump.
Horas depois da reunião de Trump com o rei Abdullah, o governo vazou um comunicado ao jornal "The Jerusalem Post" que dizia: "Pedimos que todas as partes evitem tomar medidas unilaterais que possam minar nossa capacidade de progredir, incluindo anúncios de assentamentos".
Depois que isso foi publicado online, a Casa Branca emitiu uma declaração pública com linguagem mais branda: "Embora não acreditemos que a existência de assentamentos seja um empecilho à paz, a construção de novos assentamentos ou a expansão dos existentes além de seus atuais limites talvez não seja útil para se alcançar esse objetivo".
Foi redigida de tal maneira que permitiu que lados diferentes se concentrassem em partes diferentes. A frase "talvez não seja útil" foi a primeira vez que Trump advertiu contra novas moradias na Cisjordânia.
Mas o trecho "além de seus limites atuais" sugere um retorno à política de George W. Bush de basicamente aceitar novas construções dentro dos blocos de assentamentos, desde que Israel não expandisse seu alcance geográfico ou construísse assentamentos totalmente novos. Elliott Abrams, um dos autores dessa política sob Bush, deverá se tornar vice-secretário de Estado de Trump.
A equipe de Netanyahu se concentrou nessa parte da declaração.
"Por acaso sei que eles ficaram muito contentes com a declaração porque foi muito diferente das de Obama", disse Morton A. Klein, presidente nacional da Organização Sionista dos EUA, que tem apoiado o governo Trump.
De fato, a coalizão de Netanyahu apresentou no Parlamento um projeto de lei para autorizar de forma retroativa milhares de residências na Cisjordânia que, mesmo segundo a lei israelense, foram construídas ilegalmente em terras palestinas.
Klein, que afirma que os assentamentos não são um obstáculo para a paz, disse que a Casa Branca tornou a declaração confusa demais para oferecer uma direção clara.
"Eu a achei ambígua, e não tão clara quanto eu gostaria", disse ele.
O desafio agora é se Trump poderá usar essa ambiguidade em seu benefício. Se os EUA puderem extrair gestos dos árabes, mais provavelmente com base nos passos traçados em uma iniciativa de paz árabe proposta em 2002, então isso poderá fornecer uma base para israelenses e palestinos fazerem compromissos a que não conseguiriam chegar sozinhos, disse Ross.
"Vocês precisariam ter algum tipo de abordagem paralela", disse ele. "Esse seria um investimento sério de diplomacia para testar o que é possível."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Fonte: The New York Times
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