1 de setembro de 2016

Noticia: Tensão aumenta na Venezuela por protestos chavista e opositor

A Venezuela vive um novo episódio de tensões. Os chavistas se manifestaram maciçamente nesta terça-feira (30) em uma contraofensiva frente ao protesto convocado pela oposição para a próxima quinta-feira para exigir o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Com o nome de "Tomada da Venezuela", os seguidores do governo, vestidos de vermelho, começaram a se concentrar em um setor central de Caracas e em outros pontos do país em apoio a Maduro e à revolução socialista de Hugo Chávez (1999-2013).

"Esse é o povo chavista nas ruas manifestando seu apoio ao presidente Maduro e defendendo um projeto político", declarou, ao liderar a manifestação, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, que acusou a oposição de planejar um golpe de Estado.

A opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) ajeita os detalhes para o que chama de a "Tomada de Caracas", com a qual na quinta-feira pedirá a aceleração do processo do revogatório ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao chavismo.

"Que ninguém se deixe intimidar", conclamou o líder opositor Henrique Capriles, que em entrevista à AFP assegurou que tem início agora uma nova etapa de mobilizações para obrigar o governo a aceitar o referendo.

Tanto o governo quanto a oposição têm trocado acusações nos últimos dias sobre atiçarem a violência nas manifestações, aumentando o temor na população de ocorrerem incidentes.

Alguns comércios no leste de Caracas, que a MUD previu como pontos de chegada de opositores de várias cidades do país, planejam fechar na quinta-feira. "Vou ao protesto, porque o país está mal e temos que nos pronunciar", disse à AFP María Rodríguez, que vendia biscoitos a um pedestre em seu quiosque.

Imersa em uma profunda polarização política, a Venezuela sofre uma grave crise econômica com a escassez de produtos básicos que chega a 80% e uma inflação que foi de 180% em 2015, a mais alta do mundo, e que segundo o FMI chegará a 720% esse ano.

'Nem que prendam todos nós'
Deputados da maioria opositora no Parlamento denunciaram nesta terça-feira a "perseguição" contra dirigentes da MUD. A oposição assegura que o governo está "amedrontando" seus seguidores para evitar que se manifestem.

"Vê-se um aumento seletivo no isolamento de dirigentes" da MUD, assegurou nesta terça o chefe parlamentar e anti-chavista Henry Ramos Allup.

As autoridades venezuelanas enviaram à cadeia, no sábado, o ex-prefeito opositor Daniel Ceballos, que estava em prisão domiciliar há um ano, acusando-o de planejar sua fuga e preparar atos violentos para quinta-feira.

Na segunda-feira, detiveram em Caracas o opositor Yon Goicochea, acusado de portar detonadores para explosivos que segundo o governo seriam usados no protesto. A oposição rejeitou as acusações.

"Nem se prenderem todos nós irão evitar que as pessoas saiam para lutar por uma mudança democrática, eleitoral e pacífica", expressou o deputado opositor Tomás Guanipa, que acusou o governo de "plantar" provas contra Goicochea.

O presidente Nicolás Maduro acusou nesta terça dirigentes opositores de planejarem atos de violência na marcha programada para quinta, e ameaçou prendê-los caso ocorram tumultos.

"Há que se derrotar o golpe de Estado sem impunidade. Quem se envolver no golpe, ou estimular a violência, vai preso, cavalheiro. Chorem ou gritem, serão presos!", advertiu Maduro, sem mencionar nomes, em um discurso ante uma concentração multitudinária de chavistas na Plaza Caracas, no centro da capital venezuelana.

Ambiente difícil
O Sindicato dos Jornalistas denunciou um ambiente difícil para a imprensa. Pessoas não identificadas lançaram, nesta terça-feira, bombas incendiárias contra a sede do jornal "El Nacional", de linha opositora, enquanto jornalistas da emissora árabe Al Jazeera, que viajaram até a Venezuela para cobrir o protesto, não obtiveram permissão de entrada ao chegar no aeroporto.

Maduro denunciou que a oposição organiza um golpe de Estado conduzido do exterior pelos Estados Unidos. O dirigente chavista Jorge Rodríguez sentenciou nesta terça, na manifestação, que no centro de Caracas os opositores "não vão entrar".

"Presume-se atos de violência e desestabilização (...) Quando uma manifestação se transforma em violenta esse direito se perde", advertiu o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, que analisa o dispositivo de segurança com chefes policiais.

A Igreja Católica venezuelana pediu nesta terça que o governo respeite "o direito legítimo" à manifestação. A oposição denunciou que as autoridades estão impedindo seguidores vindos de outras regiões do país cheguem.
Fonte: AFP.


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