"...e grandes sinais do céu." Lucas 21:11
Com regularidade absoluta, em 12 de agosto a Terra atravessa a cauda do cometa Swift-Tuttle, resultando num espetáculo celeste de luzes e estrelas cadentes. Mas o fenômeno também suscita dúvidas e gera riscos.
A chuva de meteoros Perseidas é um evento anual quase tão pontual quanto o Natal. Sua data precisa pode variar, dependendo das posições relativas da Terra e do Sol, ou se se o ano é bissexto, mas ela é confiável.
Portanto é fato científico que as Perseidas terão seu pique nesta sexta-feira (12/08), e durante mais de uma semana o céu noturno no Hemisfério Norte - o fenômeno é bem menos perceptível nos países abaixo do equador - estará povoado por aparições espetaculares, como brilhantes luzes e estrelas cadentes.
Apesar dessa aparência mágica, o fenômeno - cujo antigo nome era "Lágrimas de São Lourenço" - ocorre quando, ao orbitar em torno do Sol, a Terra atravessa o rastro de poeira e rochas - os meteoroides - na cauda do cometa Swift-Tuttle.
Quando se vê uma estrela cadente, isso significa que um meteoroide acaba de se chocar com a atmosfera terrestre, entrando em incandescência. Os que têm sorte conseguem resistir à fricção do ar e chegar até o solo, passando então a ser chamados meteoritos.
Espetáculo celeste em dose dupla
John Mason, da Associação Astronômica Britânica, conta que "as Perseidas possuem um grande número de meteoros brilhantes, muitos com rastros persistentes, e as pessoas gostam de observá-los numa noite quente de verão". E para 2016 está previsto um "duplo pique".
"A expectativa é que a Terra passará através de um número de filamentos densos do cometa, na noite anterior ao ápice usual. Devemos ter uma breve eclosão, do início da noite de 11 agosto até o alvorecer da sexta-feira, e depois o ápice principal, na noite seguinte, até a manhã do sábado", antecipa Mason.
Há, ainda, estimativas de que durante o pique haverá o dobro das estrelas cadentes costumeiras. No entanto Detlef Koschny, especialista de objetos próximos da Terra (Near Earth Objects ou NEO) do grupo de pesquisa da Agência Espacial Europeia (ESA), não está convencido. "Estou curioso para ver se isso se confirmará. Se você pergunta: 'Quantas estrelas cadentes há, em termos absolutos?' - esse é um problema."
Veículo de história cósmica
O nome oficial do cometa por que a Terra passa é 109P/Swift-Tuttle. Descoberto em 1862, ele tem um ciclo orbital de cerca de 130 anos, e seu último encontro com a Terra foi em 1992. Ao passar. Ele deixa densos filamentos de poeira, cada camada dos quais contém grande volume de informações sobre o universo.
"Ficamos sabendo sobre o próprio cometa, sobre a evolução da poeira no sistema solar", explica Mason. "A poeira dos cometas é importante, por ser um dos materiais mais primitivos do sistema solar."
Sabe-se, por exemplo, que partículas interplanetárias tendem a ser ricas em sódio, e é possível até mesmo datar a poeira através de modelos computadorizados.
"Os modelos traçam a evolução do cometa ao longo de milhares de anos e calculam a posição exata de cada filamento de poeira deixado a cada 130 anos. E então vê-se como os planetas perturbam essas partículas e pode-se predizer quando passaremos por esses rastros de poeira específicos", diz Mason.
A chuva de meteoros é denominada Perseidas pelo fato de aparentemente se originar na constelação de Perseu, no hemisfério celeste setentrional. Essa trilha mede mais de 1 milhão de quilômetros, com as minúsculas partículas que a formam se deslocando a cerca de 60 quilômetros por segundo. É devido a tamanha velocidade que elas produzem tanta energia e incandescem tão fortemente ao colidir com a atmosfera terrestre.
Questões em aberto
Apesar de todo o conhecimento já existente sobre as Perseidas, ainda há muito que se precisa saber.
Em primeiro lugar, há uma questão de ciência básica: meteoroides se originam de cometas, e estes - assim como outros objetos celestes - são nosso contato mais próximo com o Big Bang, a explosão que, segundo se acredita, teria criado o universo.
"Se encontrarmos resquícios de material orgânico num meteoroide, poderemos entender um pouco melhor como a vida chegou à Terra", exemplifica Koschny, da ESA. Contudo, é igualmente necessário entender melhor a distribuição da poeira no sistema solar, pois essas minúsculas representam um perigo para os veículos espaciais.
"Ao se chocar contra um artefato espacial, uma partículas dessas pode gerar uma carga elétrica, uma mini-nuvem de plasma, provocando curto-circuito num satélite. Satélites são muito sensíveis, e não possuem condutores de proteção, ou fios-terra, como todo equipamento na superfície do planeta. Portanto uma alteração do potencial elétrico pode causar danos."
Além disso, há uma questão de números absolutos: nos últimos dez anos os cientistas têm tentado prever o número de partículas, a fim de estimar quantas estrelas cadentes serão observadas. Mas tudo ainda é "muito relativo", aponta o especialista em NEO.
"Um modelo pode predizer 200 estrelas cadentes por hora, e aí os observadores registram 50 por hora, ou vice-versa. Então é nisso que se está trabalhando agora, no que chamamos de densidade de fluxo."
Não se trata apenas de antecipar a magnitude do espetáculo anual: o estudo "é muito relevante devido ao risco de impacto contra os satélites", complementa. "Os operadores de veículos espaciais querem saber se há probabilidade de eles serem atingidos uma vez por ano ou a cada dez anos."
Uma câmera no céu?
Grande parte do trabalho de observação dos meteoroides é realizado a partir da Terra. Mas, se se quer saber mais sobre eles, não faria mais sentido procurar acessá-los antes que se consumam na atmosfera?
"Há muito tempo vimos tentando colocar câmeras no espaço para também observar os meteoros", confirma Koschny. "Melhor ainda seria uma câmera registrando o céu permanentemente, mirando para baixo, digamos, a partir de uma estação espacial. E se eu acrescentar diante da minha câmera um espectógrafo, uma rede de difração com objetivas, eu obtenho um espectro, e posso analisar a composição química do objeto, saber de que ele é feito."
Para tal, só seria necessário uma câmera de vídeo "normal", filmando a 25 quadros por segundo para capturar o movimento, e um sensor bidimensional. Mas, apesar de concordar teoricamente quanto às vantagens da observação a partir do espaço, John Mason tem ressalvas.
"O que não podemos fazer a partir do solo é coletar grãos de poeira e analisá-los antes do contato com a atmosfera - em vez de observar de cima os rastros luminosos na atmosfera. Mas não se precisa de uma câmera para isso: existe um monte de detectores de partículas que voaram em missões cometárias anteriores, e eles dariam conta desse serviço muito bem."
Fonte: DW.
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