A oposição venezuelana exigirá às autoridades eleitorais nesta quarta-feira acelerar o referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, em um momento em que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aumenta a pressão para que a comunidade internacional se ocupe da grave crise no país.
Uma comissão de sete deputados da opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) pretende comparecer perante o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a qual acusam de aliado do chavismo, para exigir que a entidade siga as normas e datas dos passos para convocar o referendo.
"Logo serão todos os países apoiando o povo venezuelano, que quer o revogatório!", assegurou o líder opositor Henrique Capriles, ao se referir à decisão do secretário-geral da OEA, Luis Almagro, de convocar uma sessão urgente para debater o caso da Venezuela.
Por outro lado, aos gritos de "Almagro, Almagro, vá para o caralho!", jovens socialistas protestaram contra a OEA, respondendo ao chamado de se mobilizarem contra "o intervencionismo", feito por Maduro na terça-feira (31).
"Almagro que não se meta nos problemas da Venezuela, ocupe-se de sua vida que aqui o povo venezuelano resolve sua situação", disse Emilio Segovia, um dos manifestantes.
Maduro sustenta que a ação da OEA, solicitada pela oposição venezuelana, busca abrir caminhos para uma intervenção dos Estados Unidos, anunciando que irá requerer judicialmente à direção do Parlamento, nesta quarta-feira, por "usurpação de funções" e "traição à pátria".
Para a oposição, o tempo é curto. Se o referendo for feito antes de 2017 - quando forem cumpridos os quatro anos de mandato - e Maduro perder, deverão ser convocadas novas eleições. Se ocorrer no próximo ano, seria substituído pelo vice-presidente, nomeado pelo governante.
Porém, o processo é longo e desgastante. Na quinta-feira será concluída a revisão das 1,8 milhão assinaturas entregues pela oposição há um mês para ativar o referendo. Após isso, deverão ser validadas com a impressão digital, além de recolherem outras quatro milhões de rubricas para convocar o referendo.
Segundo a empresa de pesquisa Datanálisis, 70% dos venezuelanos apoia uma mudança de governo. Para revogar o mandato de Maduro, necessita-se de mais de 7,5 milhões de votos, o correspondente ao número de votos com os quais se elegeu em abril de 2013.
A OEA não é uma solução mágicaInvocando a Carta Democrática, Almagro falou da crise econômica, social, política e institucional que a Venezuela está sofrendo. Chile, Argentina, Colômbia e Uruguai manifestaram seu apoio ao referendo, para ajudar a superar a situação.
A pressão internacional e da oposição se soma ao mal-estar popular diante do agravamento da escassez de alimentos e remédios, e do alto custo de vida, pois o país peroleiro tem a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015 e projetada pelo FMI para 700% em 2016).
"O mundo inteiro está atento à Venezuela, pois aqui há uma crise que o presidente não pode negar", disse nesta quarta o presidente do Parlamento de maioria opositora, Henry Ramos Allup.
Mas o especialistas se mostram cautelosos. "A OEA não vai produzir soluções mágicas para a Venezuela", avaliou o advogado constitucionalista Carlos Ayala Corao, que não descarta a possibilidade de vários países se lançarem contra Almagro.
"A implementação da Carta não é uma solução imediata a todos os nossos males. Em especial, pois no fim, após um caminho mais ou menos longo, a pior situação para a Venezuela seria sua suspensão da OEA", considerou o constitucionalista José Ignacio Hernández.
Almagro pediu que o organismo discuta o tema em uma sessão extraordinária entre os dias 10 e 20 de junho, ao considerar que existe na Venezuela uma "alteração da ordem constitucional" que afeta gravemente "a ordem democrática".
A difícil rota do diálogoDiante do agravamento da crise política e econômica na Venezuela, uma mediação internacional tenta abrir um diálogo.
Na terça-feira o chefe da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, disse à AFP em Paris que na próxima semana haverá uma "nova reunião" - após uma ocorrida separadamente na República Dominicana na semana passada - e não descartou que essa conversa seja diretamente entre as partes.
"Ratifico (...) que vamos nos manter na mesa de diálogo da República Dominicana e vamos respeitar tudo o que for acordado (...) e a rota traçada para que na Venezuela haja diálogo", disse Maduro na noite de terça-feira (31).
Mas, Capriles considera esse diálogo "morto". "A única coisa para quererem o diálogo é livrarem a cara, porque neste momento a opinião internacional é contra o governo".
Fonte: AFP.
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