24 de outubro de 2014

Jovens - Separados? Como?

Uma das realidades mais evidentes da Sagrada Escritura é a ordenança de sermos santos. O vocábulo grego “hagios” traduzido como “santo” em nossas bíblias, expressa um sentido de separação, consagração, dedicação exclusiva. Tal sentido, é expresso principalmente no texto de 1Pe 1:14-16, que diz:
“Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.”

Diante disso, surgem várias questões: como assim “separado”? em que eu tenho que ser diferente do mundo? Que tipo de separação devo viver?
O Sentido de Santidade
A Bíblia define santidade como sendo uma obra proveniente da graça de Deus (1Co 1:2, 6:11; Hb 2:11, 10:10) através da expressão “sendo santificados” ou “são santificados”. Deus nos santifica pelo sangue de Cristo e por meio de nossa fé nele (At 26:18). Essa santificação é proveniente de Deus.
Por outro lado, o homem deve, conforme exposto por Pedro em sua primeira carta (citado acima), buscar a santidade. Aqui, entende-se a santidade como um caminho que possui duas vias: o afastamento do pecado e a aproximação de Deus. Tal santidade tem relação com a ideia de pureza ou integridade moral, não com perfeição. A Bíblia sempre emprega verbos que sugerem progressão e continuação no processo de santificação – os textos falam em pessoas que “estão sendo santificadas” e semelhantes. Com tal base, analisemos as duas vertentes que Pedro sugere com “sede santos”:
1. Afastar-se do Pecado
Se afastar do pecado implica um prévio conhecimento do que é o pecado. Creio ser impossível se afastar de algo que não se conhece. Portanto, por meio da Palavra de Deus, podemos conhecer o que é certo ou não, e assim, nos afastar de toda espécie de mal (1Ts 5:21,22).
Afastar-se do mal envolve a graça de Deus que nos capacita a vencer as tentações livrando-nos do mal, como Cristo nos ensina a orar: “e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13). Quando nos afastamos do pecado, estamos cumprindo a vontade de Deus, dedicando nossa vida a não fazer aquilo que desagrada ao Senhor, estamos nos consagrando ao Pai.
2. Achegar-se a Deus
Além de se afastar do pecado, devemos nos aproximar de Deus. Alguém pode questionar: ora, mas se eu me afastar do pecado, automaticamente não estarei me aproximando de Deus? É uma boa questão, mas pense o seguinte: suponhamos que uma pessoa está dentro de um buraco cheio de lama (o pecado), de repente, por meio da ajuda de alguém (graça de Deus) ela sai do buraco. Onde ela está? Na terra, certo? Porém, mesmo ela tendo saído do buraco, ainda resta um grande caminho até o céu. Esse caminho é o que devemos trilhar em nosso segundo passo.
Tiago escreve dizendo “Chegai-vos a Deus e ele se achegará a vós” (Tg 4:8), ou seja, o primeiro passo é dado por quem? Por nós, certamente. Quando nos achegamos a Deus, fazemo-nos participantes de sua glória e estaremos purificados de todo pecado pelo sangue de Cristo. O salmista declara “Por que mais vale um dia nos teus átrios do que em outra parte mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas da perversidade” (Sl 84:10). Com tal dito, o salmista expressa seu desejo de estar próximo de Deus, como também nós precisamos desejar. Devemos buscar intimidade com Deus.
As supostas “diferenças”
Muitos argumentam que os crentes devem ser “quadrados”, diferentes do mundo de forma exterior. Gostar de coisas diferentes, agir sempre de forma diferente e até andar de forma diferente. Tal atitude se assemelha muito à dos fariseus hipócritas que se preocupavam muito com a aparência (Mt 23:27,28). O que precisamos evitar é o pecado, aquilo que desagrada a Deus, não tudo aquilo que as pessoas fazem. Ora, se um ímpio compra determinado tipo de roupa eu não posso comprar porque sou “diferente”? Se eles falam de uma forma eu tenho que falar diferente? Se eles andam de um jeito, gostam de determinado tipo de música ou frequentam alguns lugares, tenho que me abster disso? Em nome de quê? É isso pecado? Se for, estaremos corretos em evitar; porém, do contrário, faríamos sacrifícios de tolo evitando coisas que não são pecaminosas em nome de uma falsa aparência.
Veja que Paulo quando diz que não devemos nos conformar com o mundo em Romanos 12:1, ele argumenta que devemos nos transformar pela renovação da nossa mente, não de nossa aparência. Devemos pois buscar a diferença em nosso coração, agindo de forma diferente quando uma situação favorece o pecado. Ternos ou bíblias debaixo do braço não nos torna diferentes diante de Deus. Devemos ser santos em nosso “procedimento” não em nossa aparência. Paulo fala sobre essas restrições criticando-as de forma bastante dura:
“Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne” (Cl 2:20-23)

Santidade é a lei moral de Deus para que vivamos justamente e praticando aquilo que agradável ao Pai. Não precisamos de leis e restrições que aparentam ter grande valor, mas não passam de futilidades exteriores. Deus se importa mais com nosso coração (1Sm 6:7) e com nossas ações (Jo 13:17) do que com aquilo que demonstramos para os outros. Como diz o lema do Metodismo “Santidade ao Senhor” e não ‘aos homens’.
Conclusão
A santidade, como mandamento de Deus para o seu povo (1Pe 1:14-26), é fruto da obra redentora de Cristo, pela qual podemos (e somos capacitados a) nos afastar do pecado e nos aproximar de Deus. Devemos buscar uma vida íntegra junto à Deus e sua perfeita lei, não nos preocupando em sermos exteriormente diferentes no vestir, falar, andar, comer, etc, mas sim em rejeitar aquilo que é mal e louvar o que for bom. Existe muita diferença entre parecer diferente e fazer a diferença. Muitos pensam estar fazendo grande coisa tentando se mostrar diferente em tudo com o objetivo de [a] parecer diferente, mas na verdade só atraem indiferença e/ou deboches; por outro lado, quando zelamos pelo que é bom e rejeitamos o mal, demonstramos que realmente somos separados para Deus, atraindo respeito e admiração muitas vezes, até mesmo, abrindo portas para a pregação da Palavra e do agir do Espírito Santo na vida das pessoas que nos observam.

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