Escolhidos para serem transformados.
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Em Mateus 28.19-20, está escrito: “Ide e fazei discípulos de todas as nações… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado”. Jesus quer na sua igreja, não apenas crentes, mas discípulos. O que é um discípulo?  Um aprendiz, um aluno praticante. O crente acredita. O discípulo crê e se compromete com o que foi ensinado.
Jesus não inventou este conceito. A relação mestre-discípulo é o mais antigo método de formação profissional (e espiritual). Durante muito tempo, foi a única maneira de se aprender um ofício. No contexto bíblico, podemos citar alguns exemplos: Josué era discípulo de Moisés; Eliseu, discípulo de Elias; Geasi, discípulo de Eliseu. No tempo de Elias, havia muitos discípulos dos profetas.
Na época de Jesus, esse tipo de relação era muito comum no âmbito religioso. João Batista e os fariseus também tinham seus seguidores (Mc 2.18).
O Chamado
Quando decidiu escolher seus discípulos, Jesus não foi para a porta do templo chamar os doutores da lei. Eles já eram comprometidos demais. Cristo foi à praia e chamou alguns pescadores. Depois, convocou um publicano, Mateus, e um “guerrilheiro”, Simão Zelote. Os escolhidos poderiam não ser os mais indicados segundo a lógica humana, mas, pelo poder de Deus, poderiam ser transformados. Assim acontece hoje. Jesus escolhe pessoas simples e até os rejeitados pela sociedade.
O Mestre formou um grupo heterogêneo. Havia ali 12 pessoas diferentes entre si quanto ao temperamento, caráter, profissão etc. O relacionamento entre eles poderia ser difícil. É assim também na família e na igreja. Somos diferentes e é por isso que nos completamos.
Os escolhidos foram: Pedro, Tiago Maior, João, Filipe, André, Mateus, Judas Tadeu, Tiago Menor, Simão, Judas Iscariotes, Tomé e Bartolomeu.
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O discípulo e a multidão
Jesus se dirigia a muitos lugares e as multidões o seguiam, bem como os discípulos. Apesar das semelhanças aparentes, existem profundas diferenças entre o discípulo e a multidão.
Um indivíduo da multidão está com Jesus hoje, mas amanhã ninguém garante. Sua busca é por interesses pessoais. Seu foco é a bênção, a cura, a libertação, o suprimento das necessidades ou mera curiosidade. O discípulo, porém, está com Jesus todos os dias. Ele tem um compromisso que não depende de bênçãos recebidas.
A relação do discípulo com o Mestre não consiste em receber coisas, mas em estar com ele (Mc 3.13-14), recebendo ensinamento, treinamento e correção. O membro da multidão pode viver de qualquer maneira, relaxadamente, mas o discípulo precisa ser disciplinado. As palavras “discípulo” e “disciplina” vêm da mesma raiz.
Como disse o Pr. Alysson Aragão, “disciplina é fazer o que não queremos, mas precisamos”. A rotina do atleta e do soldado ilustram bem o conceito (2Tm 2.3-5). Suas atividades, mesmo sendo difíceis e às vezes desagradáveis, fazem parte de uma preparação necessária que conduz à conquista de seus objetivos. Disciplina é manter o foco e o propósito, sem desvio ou desistência.
Alguém pode estar no meio da multidão, mas longe de Jesus. O discípulo está sempre perto. Quando acaba a palestra ou a reunião, a multidão vai embora, mas o discípulo permanece com o Mestre. O compromisso é constante.
Devemos refletir e perguntar: “Eu sou discípulo de Jesus ou apenas mais um no meio da multidão”?
Por que frequentamos uma igreja ou participamos de uma religião? Buscamos coisas ou a presença de Deus?
Quando sou abençoado, fico feliz, mas, quando sou corrigido, fico revoltado e vou embora? Esta atitude não é de um discípulo fiel.
A multidão está interessada em receber. O discípulo concentra-se em aprender para fazer e, sobretudo, ser.
A multidão visa objetivos temporários. O discípulo está comprometido com os propósitos do Mestre, relacionados à eternidade.
Mostramos quem somos, quando Jesus nos diz “não”. É o teste decisivo. Foi o que aconteceu quando Jesus não multiplicou os pães (João 6). Foi uma debandada geral, mas os 12 permaneceram.
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O discípulo e o religioso
Podemos fazer ainda um paralelo entre os discípulos e os religiosos (fariseus, saduceus, escribas e sacerdotes).  Esse grupo estava presente com tanta assiduidade nos encontros com Cristo, que poderiam ser confundidos com os seguidores. Eles são mencionados na maioria dos capítulos de Mateus, Marcos e Lucas. Entretanto, eram apenas perseguidores do Mestre.
O discípulo e o religioso estão juntos em muitas ocasiões. Ambos ouvem a palavra de Jesus. Enquanto um aprende, o outro critica.  Um obedece, o outro não. Os fariseus estavam atentos a tudo para encontrarem um motivo de acusação contra Jesus. Um dia disseram: “Vejam, os discípulos estão comendo sem lavar as mãos”! (Mt 15.2). Seu propósito era criticar, acusar e criar intrigas.
A religiosidade tem aspectos positivos, mas ser discípulo de Jesus é muito mais do que isso. O religioso coloca tradições, costumes e obrigações acima do relacionamento com Cristo.
O discípulo é um cristão que aprende. Portanto, a relação de uma pessoa com a bíblia mostra a qualidade do seu relacionamento com Jesus. Ele mesmo disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (João 14.23). Não se trata apenas de conhecer, mas, sobretudo, de obedecer.
Níveis de relacionamento
Havia diferentes níveis de relacionamento das pessoas com Jesus. Isso pode ser verificado, por exemplo, em relação às parábolas.
A multidão ouvia as parábolas, mas só os discípulos ouviam a explicação (Mt 13.36).
Entretanto, até entre os doze existiam diferenças espirituais. Quando Jesus terminou de explicar algumas parábolas, ele disse: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça” (Mt 13.9,43). Portanto, mesmo entre eles, alguém haveria de não entender o ensinamento. Sabemos que essa pessoa era Judas Iscariotes. Naquele grupo, onze discípulos estavam em um nível acima do traidor.
Entre os onze, três se destacaram: Pedro, Tiago e João. Em alguns momentos especiais, somente eles estavam presentes ou mais próximos de Cristo: no monte da transfiguração (Mt 17.1), na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37) e no Getsêmani, enquanto Jesus orava (Mc 14.33).  Aqueles três estavam sendo treinados para serem líderes sobre os demais, mas certamente, precisavam demonstrar interesse e comportamento correspondente à honra que o Mestre lhes dava.
Entre os três, um discípulo, alcançou mais intimidade com o Mestre: João. Ele era o mais próximo de Jesus e ficou conhecido como “aquele a quem Jesus amava”. Estava ao seu lado durante a última Ceia e encostou a cabeça no peito do Senhor (João 13.23). A ele foi dado um sinal para identificar o traidor (João 13.25-26). Sua proximidade permitiu que ele ouvisse a oração sacerdotal (João 17). Foi o único que estava junto à cruz, colocando, talvez, a própria vida em risco para estar perto do Mestre (João 19.26). A ele foi dada a honra de cuidar de Maria. Foi ao apóstolo João que Deus deu a revelação do Apocalipse. A intimidade com o Senhor é uma condição essencial para que alguém desempenhe o ministério profético. João atingiu esse nível.
O discipulado bíblico não é um curso, mas uma relação de aprendizagem que tem um alvo, uma formação em vista. Envolve correção e tratamento do caráter.
Ainda hoje, Jesus transforma um ladrão em cidadão de bem; um assassino em servo de Deus; uma prostituta em esposa fiel.
Em Marcos 16.15, Jesus disse “Ide e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo”.
Em Mateus 28.19, ele disse: “Ide e fazei discípulos… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado”.
Esses textos apresentam dois propósitos do evangelho: salvar e transformar. O objetivo final é que o discípulo se torne semelhante a Jesus.
Ele poderia ter dito: “Ide e fazei líderes” ou “Ide e fazei apóstolos”, mas disse “Ide e fazei discípulos”.  Antes de ser líder, você precisa ser liderado. Antes de ser pastor, você precisa ser ovelha. O líder não pode ser neófito, novato na fé, inexperiente (1Tm 3.6). Os discípulos foram preparados durante 3 anos antes que pudessem exercer o apostolado.
Resposta ao chamado
Quando Jesus escolheu e chamou aqueles homens, eles deixaram tudo e o seguiram (Mt 4.22). Seguir a Cristo pode significar perda e renúncia. Os pescadores não poderiam levar o barco, as redes e os familiares.
Outros, ao serem chamados, deram desculpas. “Deixa-me enterrar meu pai, despedir da minha família, etc”. Estes fracassaram no contexto do discipulado, de maneira que hoje nem sabemos os seus nomes (Lc 9.57-61)
Qual será nossa resposta ao chamado de Jesus? Responda: “Sim, Mestre. Eu te seguirei aonde quer que fores”.
Para ser bem sucedido, o discípulo precisa ser fiel e perseverante. Por falta de tais características, ocorreu o fracasso de Judas Iscariotes.
Temos bom exemplo de perseverança na história de Eliseu. Sendo aconselhado a ficar para trás, aquele discípulo seguiu Elias até o último instante. Assim, conseguiu ver o arrebatamento do profeta e receber porção dobrada do Espírito Santo (2Rs.2).
Do mesmo modo, os discípulos que foram fiéis a Cristo, perseveraram em segui-lo. Assim, conseguiram ver sua ascensão ao céu e, depois de alguns dias, foram cheios do Espírito Santo (At 1 e 2).
Eles não ficaram ricos, mas tornaram-se instrumentos da glória de Deus nesta terra. Que o Senhor nos ajude a viver e perseverar como discípulos de Cristo, sendo transformados por ele.
Não devemos avaliar nossa caminhada cristã em função das conquistas materiais. Esse tipo de êxito acontece também na vida do ímpio. Nossa avaliação deve ser em relação ao nosso caráter. Se temos sido transformados pelo evangelho, somos verdadeiros discípulos de Cristo.