A cura da sogra de Pedro e outras curas ao entardecer, Mt 8.14-17
(Mc 1.29-34; Lc 4.38-41)
14,15 Tendo Jesus chegado à casa de Pedro, viu a sogra deste acamada e ardendo em febre. Mas
Jesus tomou-a pela mão, e a febre a deixou. Ela se levantou e passou a servi-lo (à mesa).
De acordo com Lc 4.31-39, ocorre que é sábado. Vindo da sinagoga, onde ensinou e curou um endemoninhado, Jesus se dirige à casa que pertence a Simão, em Cafarnaum.
Desse episódio sabemos que Pedro é casado. É marcantemente providencial que devamos saber com certeza desse primeiro apóstolo, justamente de Pedro, que: Mesmo em sua atuação apostólica deu continuidade ao seu matrimônio (1Co 9.5; Clemente de Alexandria também tem informações sobre filhos de Pedro. Nos documentos de Nereu e Aquilau é citada nominalmente uma filha de Pedro: Petronila).
A sogra de Pedro jazia na cama doente, ardendo em altíssima febre. Desse fato concluímos que somente agora Jesus chegou a essa casa, não antes. Do contrário já a teria curado. A febre que acometeu essa mulher é definida apenas por Lucas com um termo típico da medicina: pyretós mégas
(grande calor febril). Somente ele descreve com três palavras a atitude do médico diante do leito da enferma (Veja comentário a Lc 4.37-39).
A história dessa cura é narrada pelos três evangelistas sinóticos. Com certeza deve ter causado uma profunda marca em todos os três.
Temos também a oportunidade de dar uma olhada na casa de Pedro. Realmente teve grande significado que os apóstolos (sobretudo os que foram pais), provedores de suas famílias, deixaram seu trabalho e emprego para andar com Jesus pela região. Talvez a sogra não podia compreender bem essa nova atividade de seu genro. – A todo o serviço da casa, que sem o auxílio masculino tinha de ser vencido pela mãe e pela filha sozinhas, acrescentou-se, agora, uma doença. Como a enfermidade piorava visivelmente, a angústia deve ter aumentado ao máximo. Nessa necessidade extrema, chega Jesus e ajuda.
Será que essa ajuda do Senhor não visava ser norteadora para seus discípulos, que mal tinham começado a segui-lo?
Jesus havia dito aos discípulos que eles não teriam prejuízos por terem deixado tudo para o seguir. Ele não esqueceria a família que eles deixaram para trás. Na casa de Pedro, pois, também se presenciou um milagre glorioso.
Por isso, não seria talvez esse o sentido dessa cura milagrosa, a saber, que o milagre tornou-se programático, norteador para o relacionamento de Jesus com os parentes de seu círculo de discípulos?
16,17 Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças.
Naquele dia havia em Cafarnaum uma maravilhosa agitação. Por volta do pôr do sol, no momento em que (segundo Lc 4.31-39) o descanso do sábado havia terminado, conforme prescrito na lei, e já se podia carregar uma carga pesada, trouxeram a Jesus um grande número de doentes, sofredores, aos quais curou a todos, segundo Lucas 4.40, “pondo a mão sobre cada um individualmente”.
Constatamos aqui um daqueles momentos na vida do Senhor em que seu poder milagroso se desdobrou do maneira singularmente rica (Lc 6.19). Tais ápices também acontecem na vida dos apóstolos (cf, no caso de Pedro, At 5.15s; de Paulo, At 19.11s). O relato é quase idêntico nos três evangelhos sinóticos. Tão profunda era a marca dessa noite na lembrança dos três evangelistas.
Apertado por tantos que o rodeavam, Jesus revela mais que apenas “um milagre”. Ele é o “Salvador”, que pode fechar os abismos, que ajuda e liberta das amarras de Satanás. É o mesmo Redentor que ainda hoje e em todos os tempos está à disposição dos possuídos, dos cativos e dos que sofrem. Ele tem todo o tempo, também hoje, para aqueles que o procuram. É ele quem possui aquele “método” simples e singelo, mas na realidade cheio de poder, que é citado aqui de modo tão marcante: a palavra. Se não for de outra maneira, essa é a forma de indicar que Jesus não é nenhum “feiticeiro”, ninguém que controla meios secretos especiais, poderes interessantes que a gente poderia ou deveria pesquisar. Jesus ajuda com a “palavra”, a mesma palavra poderosa pela qual Deus criou o mundo e pela qual Deus também conserva o mundo. É a palavra que ainda hoje desperta para a vida, que incessantemente atua no corpo e na alma e realiza aquilo para o que foi enviada, a saber: propiciar e favorecer “vida eterna”.
Poderíamos indagar, no final desses v. 16 e 17, se Mateus não usou incorretamente a citação de Isaías. Pois no cap. 53, quando fala que “era as nossas enfermidades que ele levava sobre si e as nossas dores que carregava”, Isaías não se referia à atuação milagrosa de Jesus durante sua caminhada por cidades e aldeias, mas unicamente ao sofrimento e à morte vicária sobre o Gólgota!
Lutero deu a essa questão uma resposta correta. Ele diz: “Parece que Mateus não cita o versículo de Isaías no seu sentido real, porque Isaías fala dos sofrimentos de Cristo e não da restauração dos enfermos. Porém,” continua Lutero, “deve-se responder a isso que Mateus traz o Isaías do Cristo inteiro em todos os seus atos, não apenas a parte do sofrimento de três dias, mas a vida toda de Cristo. A vida toda de Cristo, porém, consistiu em que ele tomou sobre si e carregou o nosso sofrimento. Logo, está levando também aqui sua compaixão com os possuídos e doentes, e carrega no coração o sofrimento deles, para que os livre…”
Além do que Lutero expôs de forma tão magnífica, vale concentrar o olhar ainda em outro aspecto, a saber, contemplar o significado inaudito dos milagres de Jesus como tais.
Contudo, isso veremos no final do cap. 9, quando uma retrospectiva dará atenção especial aos relatos de milagres dos cap. 8 e 9.
Fonte: Mateus - Comentário Esperança
Nenhum comentário:
Postar um comentário