18 de março de 2016

Noticia: Curdos sírios pretendem criar uma região federal no norte do país

Os partidos curdos da Síria estão trabalhando em um plano para declarar uma região federal em grande parte do norte da Síria, disseram vários de seus representantes na última quarta-feira (16). Eles afirmaram que seu objetivo é formalizar a zona semiautônoma que estabeleceram durante cinco anos de guerra e criar um modelo de governo descentralizado em todo o país.

Se eles seguirem adiante com o plano, estarão entrando no agitado debate sobre duas propostas de se redesenhar o mapa do Oriente Médio, cada qual com grandes implicações para a Síria e seus vizinhos.

Uma é a antiga aspiração dos curdos de toda a região de terem um Estado próprio, ou maior autonomia nos países onde estão concentrados: Turquia, Iraque, Irã e Síria, todos os quais veem tais perspectivas com graus variados de horror.

A outra é a ideia de resolver a guerra civil na Síria esculpindo o país, seja em Estados menores ou, mais provavelmente, em alguma espécie de sistema federal. A proposta desse sistema foi aventada recentemente por ex-membros do governo Obama e discutida em público pelo secretário de Estado John Kerry, mas rejeitada não apenas pelo governo sírio, como também por grande parte da oposição.

O que as autoridades curdas da Síria descreveram provavelmente alarmaria muitos dos outros combatentes sírios: uma região federada em todo o território hoje nas mãos das Forças Democráticas Sírias, um grupo liderado por curdos apoiado pelos militares americanos contra o grupo militante Estado Islâmico (EI). Algumas autoridades disseram que ela expandiria o território que os curdos esperam capturar em batalha, não somente do EI, mas também de outros grupos árabes insurgentes.


Mas autoridades curdas do país tentaram minimizar a medida, dizendo que não é radical e retratando-a como um esforço para impedir que a Síria, já dilacerada, ensanguentada e dividida, se desintegre ainda mais.

"O federalismo vai salvar a unidade de toda a Síria", disse Ibrahim Ibrahim, um porta-voz do Partido da União Democrática (PYD em curdo), de esquerda, que tem um papel de liderança nas áreas curdas da Síria.

A discussão é sobre a possibilidade de um sistema federal não apenas para as áreas de maioria curda, mas para toda a Síria, segundo Ibrahim e outras três autoridades e membros do PYD, que estavam informados sobre as negociações ou participaram delas.

Eles enfatizaram que a entidade não seria chamada de região curda, mas sim uma região federal do norte da Síria, onde árabes e turcomenos teriam direitos iguais.

E sugeriram com firmeza que a ideia não foi sua, mas estava sendo promovida pelos EUA e outras potências. Uma ex-autoridade graduada do governo americano, Philip Gordon, e outros aventaram recentemente a proposta de dividir a Síria em zonas que correspondam aproximadamente às áreas hoje detidas pelo governo, o EI, as milícias curdas e outros insurgentes.

As discussões curdas sobre o norte da Síria estão sendo divulgadas justamente quando uma nova rodada de negociações de paz patrocinadas pela ONU e firmemente promovidas pelos EUA e a Rússia se realiza em Genebra, visando uma solução política para a guerra na Síria.

A iniciativa curda síria --ainda sob discussão pelos curdos e outras partes na região-- ficaria pouco aquém de declarar a independência. Mas ainda é provável que irrite o governo sírio e o principal grupo de oposição liderado pelos árabes, o Comitê Superior de Negociação. Ambos declararam sua oposição ao federalismo, considerando-o um passo na direção de uma divisão permanente do país.

Também é provável que intensificasse as preocupações turcas sobre o aumento das áreas sírias ao longo de sua fronteira que são controladas por uma milícia curdo síria. A Turquia considera os grupos curdos seu inimigo mais perigoso após anos de conflito com sua própria população curda.

Mas a Rússia disse que apoia tal sistema. Os EUA também pressionaram pela descentralização e presidiram o estabelecimento de um governo regional autônomo curdo no Iraque.

Quanto ao restante da Síria, a federalização poderia ser bem mais complexa. É difícil conceber que Washington aprove um plano que estabelecesse formalmente áreas ainda dirigidas pelo EI como parte de uma federação síria.

A área nas mãos do governo se estende em um bloco relativamente distinto de Damasco, ao norte, passando por Homs e o litoral, mas somente uma faixa estreita de território a conecta à parte que o governo controla em Aleppo, a maior cidade síria. E, embora a maior parte da população do país esteja lá, muitos deixaram a região para evitar os ataques aéreos e não defendem necessariamente o governo do presidente Bashar al-Assad.

A área em poder dos insurgentes com exceção do EI inclui rebeldes apoiados pelo Ocidente e a Frente Al Nusra, uma filial da Al Qaeda, entremeados por um leque de grupos islâmicos. Eles lutam atualmente pelo controle de várias partes de seu território nas províncias de Aleppo e Idlib.

Ibrahim, que atua como porta-voz do PYD na Europa, advertiu que os detalhes sobre a região federal ainda estão em discussão e que não há data para anunciá-los.
Fonte: The New York Times.
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