16 de abril de 2016

11.5 - Parábolas do Sermão da Montanha Mt 7.13-27


Parábolas do Sermão da Montanha Mt 7.13-27
A CARTA MAGNA DO REINO DOS CÉUS
O SERMÃO DO MONTE
Mateus 7

Parábolas do Sermão da Montanha 7.13-27

As primeiras duas parábolas, 7.13,14

13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.
Nessa parábola fala-se de um alto muro em torno de uma cidade, que possui um portão principal largo e alto e uma porta lateral estreita e pequena. Pelo portão principal passam, numa estrada larga que serve ao tráfego geral, as multidões. Pela modesta portinha lateral passam, em caminho estreito, somente alguns, os poucos.
Essa é a figura. Vamos à interpretação: Ao lado do pequeno grupo de discípulos estava a grande maioria do povo. A massa do povo israelita exigia um Messias que lhe desse pão, um Messias externo. O grupo de discípulos, entretanto, em breve soube da via caluniosa da morte de seu Mestre na cruz, soube da entrega de tudo o que era próprio de sua existência e seu ser. Era uma questão difícil, um sacrifício radical que se exigia do Senhor: agir e pensar totalmente diferente do que a grande massa age e pensa. Lembramos todas as palavras e os exemplos dos cap. 5–7, como o Senhor proclamou por meio delas a inversão de todos os valores. Pois as exigências de Jesus contrariavam tudo o que havia até então.
Diretamente oposto ao caminho da massa, do eu, da auto-afirmação, da estrada larga, está o caminho divino dos poucos, a via de Jesus, da estrada estreita. Mas essa via do sermão do Monte, que direciona radicalmente nossa vida para o trilho estreito do caminho apertado, é o único caminho que conduz à vida. E, por estar em jogo a vida eterna, é tolice olhar em volta à procura da estrada larga. Estando em questão a vida, nenhum sacrifício é grande demais para ser feito para a conquista do alvo.
Com as parábolas das portas estreita e larga, das estradas apertada e espaçosa, Jesus descreveu a grande separação que sua vinda causou entre as pessoas. O caminho estreito é ele próprio, ele que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). O caminho largo, este é Satanás! Da grande massa, dentre todos os que andam o caminho do eu, a rota do pecado, que é o afastamento de Deus – Jesus convoca todos aqueles que peregrinam pelo caminho de Jesus, seguindo a ele, passando longe da estrada larga.
Mais uma vez, porém, Jesus faz uma distinção, porque mesmo no pequeno grupo que anda pelo caminho estreito, nem todos realmente pertencem ao pequeno grupo. – É este fato doloroso que Jesus explica com a ilustração de um rebanho de ovelhas. Nem todos que se parecem como ovelhas, são ovelhas.

A terceira parábola, 7.15,16a

Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis.
Mencionam-se profetas! São pessoas que falam em nome de Deus. Assim também esses profetas se apresentam no meio da comunidade de Cristo como quem usa palavras santas e fala em nome de Deus. Não obstante, o que dizem e o que fazem não é de Deus, porque sua motivação íntima é sombria e sacrílega. Por isso se comparam a lobos vorazes que andam sob a veste de ovelhas e, como piores inimigos do rebanho, dividem a comunidade do Senhor.
Como seria bem mais fácil viver seguindo a Jesus, andar no caminho estreito, se não irrompessem sempre de novo na própria comunidade de Jesus a ânsia de poder e de vantagem pessoal, a necessidade de prestígio e as discórdias. Desse modo, cada um precisa acautelar-se diante do outro e cuidar de si próprio e do “rebanho”.
O sinal de reconhecimento para discernir quem é lobo e quem é ovelha é definido por Jesus nos termos: Pelos seus frutos os conhecereis! Quando a comunidade do Senhor for fiel na oração e na vigilância, em breve se revelará quais foram os poderes ocultos e sombrios e as motivações dos “lobos em peles de ovelha”. Promoveram a sua própria obra e não a obra de Deus. Será descoberto se tinham o Espírito de Deus ou o espírito de baixo, se produziram fé ou descrença, se levaram à paz ou à discórdia, se buscaram a santificação ou não, se aproximaram de Deus ou fixaram as pessoas a si próprios, se defenderam com toda a clareza a vontade de Deus ou perseguiram alvos egoístas. Efeitos e frutos do Espírito Santo somente podem crescer sobre o chão do Espírito Santo, não sobre a areia desértica do espírito anticristão. Para tornar isso mais uma vez palpável o Senhor lança mão de outra dupla de parábolas, das sebes de espinhos e das árvores imprestáveis em combinação com os seus frutos.


A quarta e quinta parábolas, 7.16b-20


Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?
Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
Do mesmo modo como é impossível que a fruta de uma árvore seja outra que a da própria árvore, também é impossível que o diabo busque a santificação, que a injustiça dê à luz a justiça, que a mentira produza a verdade, que a motivação falsa efetue um crescimento na fé, que a briga leve à paz, e o egoísmo gere o amor ágape.
Porque, apesar de não podermos olhar para dentro do coração da pessoa, podemos, com o tempo, deduzir a partir do que “sai dela” o que a moveu internamente. Assim como o fruto produzido pela árvore corresponde exatamente ao que a árvore é em si, tudo o que o ser humano faz também está profundamente ligado ao que ele é em sua essência. Se não recebeu o Espírito de Deus, tampouco pode gerar frutos do Espírito, nem mesmo quando “emoldura” seu falar e agir com o nome de Deus.
O juízo de Deus queimará esses frutos aparentes e frutos falsos juntamente com a árvore. Porém a comunidade de Jesus tem o dever de separar-se o quanto antes de tais “falsos profetas” e “lobos em pele de ovelha”. Isso é o que a disciplina exige, pois o Espírito Santo é um Espírito de disciplina.

A sexta parábola, 7.21-23

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.
Mais uma vez o Senhor corta em dois grupos o círculo daqueles que o seguem. Apesar de ambos os grupos crerem nele, o seguirem e o confessarem, fazendo-o até não somente com palavras, mas também com ação, e mesmo com ações que trazem o selo de Deus, como milagres, expulsão de demônios – mesmo assim Jesus exclui um grupo do “reinado dos céus”.
Por que o Senhor faz isso? A partir de que critério Jesus provoca esse processo de separação no âmbito de suas testemunhas e, consequentemente, de sua comunidade?
Diante de uma seriedade tão consternante perguntamos: Afinal, existe isso, em nome de Jesus ter proferido profecias bíblicas, expulsado demônios, ter feito muitos milagres (curar enfermos, acalmar tempestades, afugentar cobras, neutralizar o veneno ingerido, ressuscitar mortos – cf. Mc 16.17s; Hb
11 – como é importante aqui a tríplice repetição de “em nome de Jesus”) e, apesar disso tudo, ser rejeitado? A partir de Mc 16 e Atos dos Apóstolos, bem como das epístolas, sabemos que testemunhar Jesus como o Cristo e o Senhor traz consigo feitos milagrosos eficazes. Tornou-se verdadeiro que o reino de Deus não consiste em palavras, mas em manifestação do espírito e do poder (cf. 1Co 4.20 e 2.4). Em outras palavras: a ação em nome de Jesus não se revelava por “teoria e exegese”, mas poderosamente “em ação e palavra”. Não obstante, apesar de Jesus reconhecer como acontecidos e reais todo esses fatos e ações de seus seguidores, ele não quer saber nada desses milagreiros poderosos, mas condena-os completa e cabalmente. Isso não é uma posição impossível?
Não! Pois é Jesus quem diz isso. Ainda que essas testemunhas não tenham temido os demônios e sempre de novo tenham trazido poderoso socorro nas enfermidades e necessidades, comprovando desse modo magnífico o poder de seu Senhor, ele apesar disso os repelirá e dirá: “Não os conheço!” João Batista certa vez descrevera a ação do Cristo com a parábola de que “aquele que virá depois dele como o Cristo” tomará a pá e limpará completamente a sua comunidade e queimará a palha. Pela palavra severa e séria dirigida ao seu círculo de discípulos e, assim, à sua comunidade, o Senhor confirma que executará também essa parte da mensagem do Batista com máximo rigor no dia do juízo final.
Qual é o ponto de partida do qual o Senhor pretende executar essa última e mais severa separação de sua comunidade?
Ele o expressa com as palavras singelas e apesar disso muito sérias: são os que não fazem a vontade de meu Pai que está nos céus. Aqui está o critério decisivo! O que significa: fazer a vontade do Pai? Significa que a mais bem sucedida atividade em favor do Senhor pode cair, apesar de tudo, sob a condenação dele se o discípulo não perseguiu com todo coração e empenho a santificação pessoal. Pois essa é a vontade de Deus, a “vossa santificação” (1Ts 4.3; cf. 2Co 7.1; Hb 12.14). A discrepância entre o sucesso de suas realizações e a conduta pessoal na santificação será a sua condenação. Com que seriedade Paulo entendeu essa exortação do seu Senhor, quando falou, em 1Co 9.24-27, de sua luta pessoal pela santificação nas três imagens da luta na corrida, da luta de boxe e da luta corporal, um testemunho que ele encerra com as palavras: “… para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”.
Sim, existe uma atividade cristã exitosa que cai sob a sentença condenatória de Jesus, que dirá: Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal! Há um limite, um limite sagrado entre a busca da honra própria e o empenho de “honrar a Deus somente”. Quem não observa essa linha divisória, inevitavelmente fracassará. Neste contexto cabe mencionar a terceira tentação na história da provação de Jesus, em Mt 4.
A palavra terrivelmente séria de Jesus nos v. 21-23, de que a atividade mais bem sucedida e brilhante, combinada com grandes sinais e milagres, não constitui garantia nenhuma para sermos aceitos no reino dos céus, nem é um substituto para relaxarmos na seriedade da santificação pessoal, esse princípio do Senhor obtém uma segunda e igualmente impactante expressão de rigor em 16.26
(cf. Lc 10.17-20).

A sétima parábola: Do construtor néscio e do sábio, 7.24-27

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva (torrencial), transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva (torrencial), transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
Observação preliminar
Jesus chegou ao fim do seu discurso. Uma última ilustração tem como objetivo deixar mais uma vez clara a finalidade do seu discurso de maneira eloquente e impactante. Mais uma vez é uma palavra de separação. É dirigida aos seus discípulos e aos que o escutavam.
Tudo depende de pôr em prática o que Jesus disse. Somente é sensato aquele que transpõe para a palavra do Senhor para a prática. Quem apenas ouve e não age, é tolo. Ouvir apenas proporciona uma posse aparente, que se quebra justamente quando deve ser comprovada. Porém para aquele ouvinte que realiza o que ouviu, a palavra de Jesus se torna um poder e uma força bendita. Esse realizar transforma-se num bem interior e numa riqueza interior que se iguala a uma casa fundamentada sobre uma rocha e que superará as provações, mesmo nas mais fortes tempestades e torrentes de angústias e tribulações.

A conclusão, 7.28,29

Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina. Porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
O impacto do sermão do Monte foi profundamente marcante e duradouro. É o que também denota o tempo verbal do imperfeito no original grego. O imperfeito expressa a duração de uma ação ou impressão. “As multidões estavam totalmente fora de si.” Estavam como que atordoadas, paralisadas! Pavor e admiração, profundo abalo interior e simples incapacidade de captar tomaram conta de seu coração. Jamais tinham ouvido algo assim.
Havia também entre os escribas personalidades famosas e oradores poderosos. Nomes como os dos grandes mestres da lei Shammai e Hillel, que viveram pouco tempo antes de Jesus, ainda estavam vivos na memória de todos. Mas não eram nada diante daquele que agora falava com autoridade como o “Senhor”.
Aqueles podiam anunciar, com formulações cuidadosas e expressões elaboradas, uma série de prescrições morais detalhadas, mas Jesus derruba, a partir de sua autoridade divina, tudo o que eles haviam falado. Ele coloca diante dos seus ouvintes uma parede rochosa, uma parede granítica, vinda da eternidade, que esmagava e estilhaçava tudo o que até então fora dito. Nenhum discurso que tenha saído de lábios humanos era mais arrasador e impactante do que esse. Ele era, no mais verdadeiro sentido da palavra, a “inversão de todos os valores”. Ele foi e continua sendo o mais abrangente e mais radical paradoxo, diretamente oposto a tudo o que houve até então, que já fora dito sobre a face da terra.
O que antes era “branco”, o Senhor designa de “preto”, e o que era “preto” ele chama de “branco”.
O que antes se dizia “em cima”, fica agora situado “em baixo”, e o que antes ficava “em baixo”, hoje se fala “em cima”. “Comparadas com a reviravolta que o sermão do Monte trouxe, as maiores revoluções são apenas batalhas infantis.” Todas as religiões da terra esforçam-se por estabelecer leis que se situam no âmbito do humanamente praticável. Jesus exige o que está fora do humanamente alcançável. Porém, o que é impossível aos homens, é possível para Deus, possível “em Cristo”, unicamente nele!
Usando uma comparação da música, o sermão do Monte é como uma magistral sinfonia que, sem qualquer preparação, inicia nos primeiros compassos com a atuação de toda a orquestra. E todos os instrumentos seguem sempre tocando o tema principal, o tema principal que é desenvolvido de modo inaudito e fundamentalmente diferente de todos as demais orquestras, a saber: O ser humano não é nada - Deus é tudo. O ser humano não pode nada - Deus, porém, pode tudo.
Até o momento em que foi pronunciado o sermão do Monte, as orquestras dos judeus tinham tocado aquela melodia que, sob a regência dos fariseus e escribas, fazia ressoar: “Justiça é possível a partir do esforço próprio, do mérito pessoal” (cf. o exposto em detalhes sobre Mt 5.38ss). Religião é auto-salvamento! Basta cumprir pontualmente todas as determinações estabelecidas pela religião, para que o superávit dos mandamentos observados supere o eventual pequeno déficit das transgressões da lei. Quando isso se concretiza, então Deus (assim ensinavam os mestres da lei) considera como justa aquela pessoa que fez por merecer total e plenamente o céu através de seu tesouro de obediências excedentes à lei. Portanto, o ser humano pode alcançá-lo e realmente o consegue sozinho, não carece nem da graça nem da salvação. Essa era a melodia que soava em toda a parte até o momento em que foi falado o sermão do Monte.
Além disso, até a hora de ser proferido o sermão do Monte, todas as orquestras humanas tinham tocado a melodia seguinte: “Toda a bem-aventurança humana consiste nisso: riqueza é felicidade, estar farto é conteúdo de vida, honra é „querer ser alguém‟, religião é auto-satisfação, culto é produção com que eu próprio posso adquirir o céu”. O sermão do Monte, no entanto, anuncia com nitidez desde o primeiro compasso, pela atuação de todos os seus instrumentos, mesmo que o ouvinte empalideça: “A bem-aventurança da pessoa não está na riqueza, mas na pobreza, estar satisfeito não é ter de sobra, mas ter fome, honra não está em „querer ser alguém‟, mas em servir. Culto não é produção, mas graça. Religião não é satisfação das pessoas, mas paz de Deus e força de Deus. Somente aos que por si próprios nada são, nada têm e nada sabem, a esses, somente a eles, pertence a riqueza inescrutável e eterna de Deus e do Cristo. Somente os fracos, famintos, tristes e pobres em si – são ricos em Deus, ricos para toda a eternidade. Somente os que, com toda a seriedade e sinceridade, até com a última fibra do coração, “buscam o reino de Deus”, que querem agradar ao seu Senhor e Deus em cada situação do cotidiano, que, mediante recurso às forças do alto, fazem acontecer seu amor divino na pressão e escuridão do mundo, somente a eles pertence o reino dos céus e tudo o que na terra é necessário para ele, e precisamente do modo como Deus o quer! Portanto: primeiro Deus, e outra vez Deus e de novo unicamente Deus. É isso que o sermão do
Monte, ouvido como uma sinfonia, faz ressoar como tema principal mediante o toque de todos os seus instrumentos. Somente aquele que se esquece de si mesmo e pensa apenas no Cristo será bem-aventurado. Somente quem quer tornar-se feliz por graça, unicamente por graça, torna-se justo, é redimido para o tempo e a eternidade. Em Cristo, nele somente!
Fonte: Mateus - Comentário Esperança

Nenhum comentário:

Postar um comentário