“Nós categoricamente não aceitamos tais declarações, especialmente porque as pessoas fazendo tais declarações não são capazes de provar suas acusações infundadas”, afirmou um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (16/02). Embora observadores no terreno afirmem que os bombardeios foram realizados por forças russas, Moscou nega a responsabilidade pelos ataques.
França, Turquia e diplomatas ocidentais afirmaram que os bombardeios realizados nesta segunda-feira contra hospitais e escolas por forças de apoio ao presidente sírio, Bashar al Assad, constituem crimes de guerra.
“Se a Rússia continuar a se comportar como uma organização terrorista, forçando civis a fugir, nós vamos providenciar uma resposta extremamente decisiva”, ameaçou o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoğlu, reiterando que a Rússia está cometendo “um óbvio crime de guerra”.
O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Marc Ayrault, afirmou que os ataques “poderiam se tratar de crimes de guerra”, acrescentando que “ataques contra centros médicos na Síria por parte do regime [de Assad] ou de seus apoiadores são inaceitáveis e devem ser interrompidos imediatamente”.
Já o embaixador da Síria na Rússia, Riad Haddad, afirmou que os ataques foram realizados pela coalizão militar liderada pelos EUA que atua na Síria e no Iraque contra o Estado Islâmico. “Com relação ao hospital destruído, na realidade ele foi destruído pela força aérea dos EUA. A força aérea russa não tem nada a ver com isso”, declarou o embaixador nesta segunda-feira a uma emissora estatal russa, acrescentando ter “informações da inteligência” que comprovam sua alegação.
Uma série de bombardeios realizados nesta segunda-feira em Azaz, na fronteira com a Turquia, e em Maarat al Numan – duas áreas sob controle de forças opositoras a Assad – tiveram quatro hospitais como alvo, afirmou a Unicef, e deixaram pelo menos 50 pessoas mortas. Segundo a organização, um deles era um centro de saúde materna e perinatal. “Para além das considerações diplomáticas e das obrigações sob a lei humanitária internacional, lembremo-nos de que estas vítimas eram crianças”, afirmou a Unicef em comunicado.
Entre os hospitais atingidos em Maarat al Numan estava uma instalação da ONG Médicos Sem Fronteiras. “A destruição do hospital deixa a população local de cerca de 40 mil pessoas sem acesso a serviços médicos em uma zona ativa de conflito”, afirmou Massimiliano Rebaudengo, chefe da missão da MSF na Síria. A organização afirma que sete pessoas foram mortas no ataque, que a MSF acredita ter sido perpetrado por forças russas ou do governo sírio.
O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, negou neste domingo que a Rússia esteja atingindo propositalmente instalações civis na Síria. Entretanto, vários ataques a centros médicos foram documentados desde o início da intervenção aérea russa no país, em setembro do ano passado. A ONG Médicos por Direitos Humanos registrou sete ataques de forças russas contra hospitais somente no primeiro mês da campanha russa na Síria.
“Eles estão atacando hospitais especificamente; isso é sistemático”, afirmou Zaidoun al-Zoabi, chefe da União de Organizações Sírias de Auxílio Médico, ao jornal britânico The Guardian.
Campanha russa na Síria
Os ataques aéreos desta segunda-feira demonstraram a fragilidade do acordo entre EUA e Rússia para que Moscou encerre os bombardeios na Síria, anunciado no fim da semana passada. Forças russas têm bombardeado alvos na Síria desde setembro do ano passado, mas intensificaram seus ataques desde o dia 1 de fevereiro, o que tem provocado o agravamento da crise humanitária no país e a intensificação do fluxo de refugiados da guerra em direção à Europa através da Turquia.
Oficialmente, Moscou afirma que bombardeia alvos do grupo Estado Islâmico e que segue as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Observadores militares, entretanto, afirmam que pelo menos 70% dos ataques aéreos russos tiveram grupos de oposição a Bashar al Assad, presidente sírio e aliado da Rússia, como alvo.
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