Ao contrário do vizinho, não é a microcefalia ─ tipo de má-formação cerebral em fetos – que preocupa o governo, mas o aumento significativo no número de casos da rara síndrome de Guillain-Barré.
Cientistas se mantêm cautelosos e evitam fazer uma associação direta entre o vírus e a síndrome que pode causar paralisia grave, mas nas regiões mais atingidas o pânico é real e está aumentando.
Fabian Medina, de 22 anos, é uma das vítimas da doença. Ele deveria estar no auge da vitalidade, mas parece um homem de 90 anos de idade. Medina está se recuperando da paralisia depois de passar duas semanas em uma unidade de terapia intensiva.
Se Medina não estivesse respirando com a ajuda de aparelhos, provavelmente estaria morto. Quando perguntado se tem filhos, ele levanta um dedo com muita dificuldade. Então, com um gesto circular, descreve a barriga da mulher, grávida, e cai em prantos.
A mulher de Medina, Karen, está grávida de três meses e teve zika. Os sintomas foram leves, mas as consequências ainda são desconhecidas.
"Meu medo é que nas notícias (sobre a doença) eles falam que o bebê pode ficar deformado. Estou muito assustada e rezo para que nada de mal aconteça com ele", disse.
Karen se preocupa com a possibilidade de microcefalia. Os casos no Brasil se multiplicaram desde o início do surto: até o dia 30 de janeiro, foram notificados, segundo o Ministério da Saúde, 4.783 casos suspeitos de microcefalia, má-formação que prejudica o desenvolvimento do cérebro do bebê.
Desse total, 404 casos de microcefalia foram confirmados ─ 17 têm ligação confirmada com o vírus zika. Os outros ainda estão sendo investigados.
Zika e Guillain-Barré
Muitos médicos na Colômbia acreditam que o vírus zika também esteja ligado à síndrome de Guillain-Barré.
Outros ainda permanecem céticos.
"Devemos ser muito cautelosos e não misturar muito as duas coisas", disse o porta-voz da Organização Mundial da Saúde, Christian Lindmeier, alegando que a associação entre o vírus e a síndrome ainda não foi comprovada.
Na cidade de Cúcuta, a população não tem muitas dúvidas: na cidade e nos arredores, há 27 casos da síndrome
O surto da paralisia na Colômbia começou em outubro de 2015, mas apenas em junho deste ano as autoridades do país vão poder saber se também houve um aumento no número de nascimentos de bebês com microcefalia.
Por enquanto não há tratamento nem vacina. A melhor forma de se prevenir continua sendo evitar contato com mosquito Aedes aegypti, eliminando os criadouros, usando roupas com mangas longas, calças e repelentes de mosquitos.
No entanto, a reportagem da BBC observou que, em Cúcuta, os moradores continuam usando roupas leves e curtas, em grande parte devido ao calor do verão.
'Zika-plus'
Neurocirurgião em Cúcuta, Marco Fonseca disse à reportagem da BBC que teme uma mutação do vírus.
"Parece que o vírus mudou de alguma forma. Temo que tenha ocorrido alguma mudança no genoma. Este é o zika-plus. Uma mutação", afirmou.
Fonseca não descarta fatores ambientais e está aguardando a resposta definitiva de biólogos e epidemiologistas.
Outros cientistas analisam a possibilidade de o zika estar se comportando da mesma forma que se comportou no passado, mas agora as consequências são diferentes pois a doença está em áreas muito populosas.
Fonseca suspeita que a doença se alastrou a partir da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e acredita que o quadro vai piorar ainda mais com as Olimpíadas no Rio de Janeiro.
"Vai chegar à California. Com as Olimpíadas vai ser um pouco mais rápido", disse.
Enquanto isso, as autoridades colombianas estão tentando aumentar a conscientização da população para o risco do zika.
Mas, ao lado de uma escola em Cúcutam um fiscal de saúde encontrou baldes de água cheios de larvas do Aedes aegypti.
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