Passados pouco menos de 24 anos da sessão que resultou no afastamento de Fernando Collor de Mello do Palácio do Planalto, o Senado Federal volta nesta quarta-feira (11) a selar o destino de um presidente da República: após uma sessão de debates que deve se estender até a noite, os senadores deverão decidir se abrem processo contra a petista Dilma Rousseff por crime de responsabilidade, afastando-a do cargo por até 180 dias. Nada no horizonte indica que a presidente escapará hoje de mais uma derrota no Congresso – num afastamento provavelmente sem volta.
A sessão desta quarta será dividida em três blocos: um das 9 horas da manhã ao meio-dia, outro das 13 horas às 18 horas, e o último bloco, com as falas do relator na comissão especial, Antonio Anastasia (PSDB-MG), e do advogado-geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, das 19 horas em diante. O roteiro do impeachment prevê ainda que todos os senadores que se inscreverem tenham até 15 minutos para se manifestar da tribuna. A expectativa é de que cerca de 67 dos 81 integrantes do Senado se apresentem para oferecer argumentos pró e contra o seguimento do processo de impeachment de Dilma.
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Se aprovado o afastamento, Dilma será julgada pela Casa em até 180 dias. Quem presidirá o julgamento será o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. A perda definitiva do cargo exige o aval de 54 senadores. Alcançada essa votação, Dilma será destituída e o vice-presidente, Michel Temer, do PMDB, será empossado para governar o Brasil até as eleições de 2018. Caso contrário, a petista reassume a Presidência imediatamente.
A possibilidade que vitória na votação final parece hoje distante para Dilma. O clima de derrota já se instaurou no governo. Ao longo da última semana, ministros se despediram do cargo e houve quem se prontificasse a descer a rampa do Palácio do Planalto ao lado de Dilma. Como mostrou reportagem de ‘Veja’ desta semana, a presidente isolou-se como nunca: tem evitado até mesmo contato com servidores. Mas nada deixa tão claro o desespero do governo quanto as manobras – sempre frustradas – de barrar o prosseguimento do processo contra a presidente. Nenhuma tão ridícula quanto as negociações que convenceram o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), a anular, numa canetada, a sessão que aprovou o impeachment. Era o fim da linha – e o fim da picada. Mais: ao tentar anular o processo pelas mãos de um deputado-fantoche, Dilma melindrou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma das mais velhas raposas da política brasileira.
Ignorada por Renan, a artimanha acabou anulada pelo próprio Maranhão. Uma chicana que serviu apenas para envergonhar o país mundialmente. A ofensiva desastrada, capitaneada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, é um retrato das atitudes que levaram Dilma ao cadafalso. Um dos erros cruciais na reta final foi optar por não abrir mão do discurso do “nós contra eles” – mesmo que “eles” tenham sido milhões de brasileiros que saíram às ruas voluntariamente para pedir sua renúncia.
Em 17 de abril, quando a Câmara dos Deputados votou pela admissibilidade do processo de impeachment, já estava claro que uma derrota do Planalto tornaria muito difícil para o governo reverter a situação no tapete azul do Senado. E o placar foi amargo para Dilma: 367 deputados disseram sim ao processo, quinze a mais do que os votos necessários para que o impeachment fosse encaminhado para a Casa vizinha. Uma derrota não apenas da presidente, mas de seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. As negociações capitaneadas por Lula em um hotel de Brasília deixaram escancarado o fisiologismo. Cargos foram oferecidos às baciadas. Não adiantou.
A quarta presidente eleita desde a redemocratização do país agora trilha o caminho do primeiro, Fernando Collor de Melo.
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Fonte: Veja
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