Com 1.400 anos de história, a Igreja Metropolítica de São Pedro em York é uma catedral protestante famosa em todo o mundo por seu coral. Um dos espaços religiosos mais conhecido da Inglaterra, a Minster, como é apelidada, faz parte da Igreja Episcopal Anglicana, a igreja oficial do Reino Unido.
Numa decisão que é vista um afastamento marcante de suas tradições evangélicas, os líderes da Minster introduziram nos cultos o que consideram uma forma de enriquecimento espiritual: a meditação zen-budista.
Uma sangha (ordem budista) agora está sob os cuidados de um mestre zen. Ele coordena, nas dependências da catedral, sessões de uma hora e meia de meditação silenciosa. A reunião aparece no boletim como uma prática devocional para a qual estão convidados cristãos e não cristãos.
O reverendo Christopher Collingwood, responsável pelo prédio medieval, sabe que sua decisão é considerada heresia. “Mas parece-me que a meditação Zen oferece poucos problemas, porque não tem a pretensão de ser um sistema de doutrina ou de crença”, justifica. Explica ainda que o foco da técnica é na respiração, com objetivo de trazer paz interior.
Questionado por que é um entusiasta de uma prática budista mesmo sendo pastor, Collingwood descreve-se como “religiosamente bilíngue”. Para ele, é perfeitamente possível combinar as crenças cristãs e ideias zen.
Há mais de dois anos ele reúne um pequeno grupo, com pouco mais de 20 pessoas, nas dependências do Minster para aprender e praticar o zen budismo. O clérigo acredita que a tendência é a prática se espalhar pelas outras igrejas da Inglaterra. A catedral anglicana da cidade de Durham, por exemplo, receberá na semana que vem alguns monges budistas que ministrarão um workshop sobre “meditação e budismo”.
“A fusão de ideais cristãos e zen budistas remonta ao Concílio Vaticano II, quando os católicos romanos foram incentivados primeiro a aprender com as tradições religiosas orientais em áreas como a meditação. Isso logo foi adotado pelos anglicanos. Já vem acontecendo em igrejas católicas há mais de 50 anos”, insiste Collingwood.
Citando o que chama de tradição contemplativa e a “mística cristã”, o pastor acredita numa espécie de convergência. “Quando as pessoas estão meditando, os que são cristãos podem sentir que a importância dada à respiração coincide com a ideia do Espírito Santo”, pondera.
Lembra ainda que na Bíblia, tanto no hebraico e grego, os termos para se referir a espírito são equivalentes: “respiração”, “sopro” ou “vento”.
Para Collingwood, que tem doutorado em teologia, “Há uma conexão muito profunda, pois a respiração é o Espírito dentro de nós. Eu diria que o foco na respiração é dar espaço ao Espírito Santo”.
Contudo, muitos evangélicos ingleses classificam essa forma de ecumenismo como “perigosa”.
Andrea Minichiello Williams, chefe do Christian Concern, organização que defende os valores bíblicos na sociedade inglesa, é um deles.
“O budismo e o ensino cristão sobre Deus são incompatíveis. Tentar misturá-los é uma prática enganosa que desonra a Jesus Cristo… Este tipo de confusão prejudica a iniciativa de uma Igreja que faz campanha na mídia para incentivar a oração cristã”, dispara.
A inserção de uma prática de outra religião na rotina de uma igreja cristã não é novidade no Reino Unido. Dois anos atrás, Lord Williams, dirigente máximo dos anglicanos, declarou que ele era influenciado por práticas budistas em seus momentos particulares de devoção, praticando o zen budismo por até 40 minutos por dia.
No Reino Unido, sob o título de combate ao estresse, exercícios de meditação na tradição do zen budismo, são comuns em grandes empresas, universidades, escolas e até penitenciárias. Com informações de News Week e Christian Today
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