13 de agosto de 2016

Noticia: Sinais de problemas na Crimeia geram pergunta: o que Putin estaria aprontando?

"E ouvireis de guerras e de rumores de guerras;..." Mateus 24:6

A Rússia está conduzindo uma série de escaladas retóricas e militares em relação à Ucrânia que mais uma vez levam os analistas ocidentais ansiosos a buscar pistas sobre o próximo movimento do presidente Vladimir Putin.

Na última quarta-feira (10), a agência de segurança da Rússia, FSB, afirmou que tinha bloqueado um ataque à Crimeia por "grupos terroristas de sabotagem" patrocinados pelo governo da Ucrânia, no qual dois soldados russos foram mortos.

Putin acusou o governo ucraniano de usar o terrorismo para incitar o conflito sobre a Crimeia, que foi fortemente militarizada desde que a Rússia a anexou da Ucrânia, em 2014. Ele advertiu em tom ameaçador: "Nós obviamente não deixaremos que essas coisas aconteçam".

A Rússia intensificou sua presença militar na Crimeia e arredores, o que aumenta os temores de que Moscou possa estar planejando mais uma intervenção militar na Ucrânia. Embora Putin seja totalmente imprevisível, analistas dizem que a Rússia pode estar buscando vantagem diplomática, mais que se preparando para a guerra.
O que está realmente acontecendo na Crimeia?

Há dois conjuntos de eventos sobrepostos, ambos envoltos em mistério: o suposto ataque recente à Crimeia e a concentração russa lá.

O relato oficial russo explica o primeiro da seguinte maneira: começou no final de sábado (6), quando oficiais da FSB descobriram um grupo de sabotadores na Crimeia, junto à fronteira com a Ucrânia. Um tiroteio acabou com um oficial da FSB morto e vários sabotadores capturados.

Depois, na segunda-feira (8), forças especiais da Ucrânia tentaram entrar na Crimeia, matando um soldado russo no que a agência chamou de "tiroteio maciço" sobre a fronteira.

A mídia russa citou mais tarde fontes do governo dizendo que os sabotadores capturados eram moradores da Crimeia que tinham confessado planos de atacar instalações turísticas locais. Moscou insiste que a Ucrânia patrocinou a trama.

É difícil julgar a verdade dessas afirmações. A Ucrânia as nega, e tanto os EUA quanto a UE dizem que a Rússia não apresentou evidências. Um grupo de análises de fonte aberta, o Laboratório Digital de Pesquisas Forenses, encontrou indícios de um tiroteio no sábado, mas poucas evidências das denúncias de Moscou. A Rússia é conhecida por distorcer fatos para servir a seus fins políticos, especialmente na obscuridade do atual conflito na Ucrânia.

Isso não quer dizer que as afirmações da Rússia sejam todas falsas. Milícias ucranianas sabotaram no ano passado torres de eletricidade que abastecem a Crimeia, e algumas delas estão envolvidas em atividade criminosa e violações de direitos humanos. Uma tentativa de ataque na Crimeia não é algo fora de questão, mas há poucos motivos para se suspeitar que o governo ucraniano patrocinaria tal complô.

Seja o que for que tenha acontecido, imagens encontradas pelos analistas de fonte aberta sugerem que a Rússia vem reforçando sua presença militar na Crimeia pelo menos desde sábado --antes que ocorresse o suposto ataque. As imagens mostram comboios de armas pesadas movendo-se pela península, incluindo sistemas de mísseis destinados à defesa costeira.
Escalada russa perturbadora

Alguns relatos indicam que as tropas da Rússia na Crimeia já estavam programadas para um novo rodízio neste período, o que ajudaria a explicar a atividade, embora seja uma grande coincidência que isso aconteça no momento de maior tensão desde a anexação em 2014.

Seja o que tiver transpirado no fim de semana, Putin sem dúvida escalou sua retórica em relação à Ucrânia, decidindo usar esse episódio --seja ou não real-- para algum objetivo maior.
Analistas indicaram paralelos perturbadores com o comportamento da Rússia pouco antes das ações militares anteriores contra a Ucrânia.

Em fevereiro de 2014, discursos e manobras militares semelhantes deram cobertura a milícias de voluntários da Crimeia para tomar a península, então ainda controlada pela Ucrânia, só para revelar que eram na verdade forças especiais russas lançando uma ocupação militar.

Em agosto de 2014, enquanto separatistas apoiados pelos russos perdiam terreno no leste da Ucrânia, Putin estacionou tropas ao longo da fronteira, advertindo que poderiam ser necessárias para "proteger" os civis de origem russa na Ucrânia, que disseram sofrer ataques. Ele orquestrou um comboio de ajuda para a região que, segundo a Otan, foi um mero disfarce para a força invasora russa.
O que Putin planeja na Crimeia?

Alguns se perguntaram se Moscou estaria planejando mais uma intervenção. O combate se intensificou no leste da Ucrânia, como antes da incursão em agosto de 2014.

Mas esse aparente paralelo pode ser o ponto, destinado a criar medo de uma ação militar, mais que uma ação real, que dará a Putin vantagem com a Ucrânia e com países ocidentais.

Mark Galeotti, um professor da Universidade de Nova York que estuda a Rússia, indicou que a Crimeia faria pouco sentido como palco para ação militar contra o leste da Ucrânia, que tem fronteira com a Rússia continental, mas não com a Crimeia, e que o resto do país está melhor defendido.

"É altamente improvável que os russos estejam realmente planejando uma grande ofensiva", disse Galeotti. "Estamos vendo uma estratégia clássica russa para aumentar a tensão."

As negociações de paz internacionais sobre a Ucrânia, que já foram o mecanismo pelo qual Putin forçava o contato com líderes ocidentais que o haviam criticado por anexar a Crimeia, passaram a ser consideradas cada vez menos frutíferas e irrelevantes.

Ao apresentar a ameaça de um conflito renovado, Putin dá às negociações um novo objetivo: fazê-lo recuar da borda.

"É uma tática padrão de Putin --ele quer tentar chegar lá de uma posição de força", disse Galeotti sobre as próximas negociações de paz, planejadas para o início de setembro. "E a única força real é dizer 'Eu poderia tornar as coisas muito piores se eu quisesse'."
Posicionando-se para negociar

Putin também disse nesta semana que fazia pouco sentido continuar as negociações em meio às tensões na Crimeia, obrigando as outras partes a convencê-lo a voltar à mesa e colocando-se no centro do processo.

O que isso consegue de fato para ele? Por um lado, permite que a Rússia continue se afirmando como potência global, embora sua economia seja menor que a da Austrália. Por outro, posiciona Moscou como tendo um veto sobre a soberania da Ucrânia, mantendo o país sob certo grau de controle russo.

Pode também servir à antiga esperança de Putin de uma grande barganha com os EUA que resolveria suas disputas sobre a Ucrânia e a Síria --em termos favoráveis a Moscou, naturalmente--, assim como poria fim às sanções contra a Rússia.

Putin sugeriu diversas vezes esse objetivo desde que a economia de seu país começou a despencar no final de 2014, devido principalmente à queda do valor de suas exportações de petróleo e gás. Desde a intervenção na Síria no outono passado, ele repetidamente convidou potências ocidentais a unir-se a ele em uma grande coalizão para combater os extremistas.

Mas os líderes russos talvez acreditem que precisariam garantir esse acordo antes de janeiro, quando o presidente Barack Obama deixará o cargo. As autoridades russas tendem a ver Hillary Clinton como a provável sucessora e como mais hostil a Moscou. Donald Trump, embora conspicuamente amistoso com a Rússia, ainda é considerado imprevisível.

Mas Obama é visto como "em busca de resolução, e não de conflitos", disse Galeotti. "Por isso há uma sensação de que se fecha uma janela de oportunidade para se fazer alguma coisa rapidamente."

Enquanto isso, se não houver um grande acordo, Putin parece feliz em manter o vizinho mais fraco da Rússia se perguntando sobre o que virá a seguir.
Fonte: The New York Times.


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