É um pó branco, discreto, fácil de fabricar e mortal. Em Bruxelas, na terça-feira (22), assim como na casa de shows Bataclan em Paris ou na Síria, o TATP, apelidado pelos extremistas de “a mãe de Satã”, parece ser o explosivo preferido do Estado Islâmico.
“Quinze quilos de explosivo do tipo TATP, 150 litros de acetona, 30 litros de água oxigenada, detonadores, uma mala cheia de pregos e parafusos” foram encontrados em um apartamento dos homens-bomba de Bruxelas, segundo revelou nesta quarta-feira o procurador federal belga, Frédéric Van Leeuw.
Descoberto no final do século 19 por um químico alemão, o peróxido de acetona (TATP: Triperóxido de triacetona) é um explosivo artesanal obtido na mistura, em proporções precisas, de acetona, água oxigenada e um ácido (sulfúrico, clorídrico ou nítrico), produtos facilmente encontrados no comércio.
O resultado é um pó constituído de cristais brancos, parecido com açúcar cristal, que um simples detonador basta para fazê-lo explodir, em uma deflagração terrível que produz gases quentes.
Nos últimos anos, no Iraque e na Síria, os laboratórios, primeiro precários depois quase industriais, de TATP e de outros explosivos artesanais se multiplicaram.
Em um relatório publicado em fevereiro, a ONG Conflict Armament Research apontou, após uma investigação de vinte meses, uma rede de 51 empresas, com sede em vinte países, incluindo Turquia, Brasil, Rússia, Bélgica e Estados Unidos, que forneceram ao EI os componentes necessários para a fabricação semi-industrial de explosivos artesanais.
“Ao contrário do que dizem, olhar um tutorial na internet não basta”, assegura à AFP Eric, um ex-oficial, especialista em explosivos, que pede para não ter seu sobrenome identificado.
“É preciso que alguém ensine e mostre pelo menos uma vez. Mas de instrutores o Estado Islâmico está cheio, na Síria e no Iraque. Pois isso se difunde na prática. Quando alguém te mostra, você pode, efetivamente, produzir o explosivo em sua cozinha”, acrescenta.
‘Forte explosão’
A parte mais difícil é a adição de ácido à mistura de acetona e água oxigenada, o que gera calor, fortes emanações e pode inflamar, mas um operador cuidadoso, protegido por uma simples máscara, pode fazê-lo sem grandes dificuldades.
É de TATP que foram constituídos os cintos explosivos dos suicidas que atacaram em 13 de novembro Paris. A substância também foi encontrada nos coletes e bombas que os extremistas explodiram na terça-feira no aeroporto e no metrô de Bruxelas, matando pelo menos 31 pessoas e ferindo outras 270, muitas das quais sofreram queimaduras graves.
Para provocar a explosão de TATP, um detonador é necessário. Ele pode ser fabricado com a ajuda de um tubo de metal preenchido com pasta e ligado a dois fios elétricos que, em contato, vão causar um arco elétrico e chamas. Mais simplesmente, podem ser adquiridos comercialmente.
Foi o que fez Salah Abdelslam, um dos 13 extremistas de 13 de novembro, detido no dia 18 de março, em Bruxelas: depois de deixar que sua carteira de motorista fosse xerocada, ele comprou uma dúzia de detonadores pirotécnicos de um fornecedor de material para fogos de artifício na região de Paris sem despertar a menor suspeita.
“O principal problema do TATP”, segundo um membro dos serviços anti-terroristas franceses, que pediu para ter sua identidade preservada, “é a disponibilidade dos ingredientes. Podemos monitorar a venda de peróxido de hidrogênio, que é o que fazemos, mas se os caras são espertos o suficiente para comprar em vinte farmácias pequenas quantidades, isto passará desapercebido. O mesmo vale para a acetona e o ácido”.
“Durante um curto treinamento, passamos a tarde fabricando explosivos artesanais, principalmente TATP, e depois testamos. É de uma facilidade desconcertante. Unicamente com produtos comprados” em lojas comuns. “Em meia hora, é possível fabricar o explosivo, meia hora depois o explodimos. E a explosão é forte”, afirma.
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