A investigação da relação do zika vírus com os casos de microcefalia no Nordeste é um dos caminhos para tentar esclarecer o aumento recente no aparecimento da anomalia em recém-nascidos na Região Nordeste.
No Rio Grande do Norte, o infectologista Kleber Luz identificou que 16 das 21 mães que deram luz a bebês com microcefalia no estado tiveram sintomas de zika vírus durante a gravidez. Os casos foram diagnosticados em um período de aproximadamente um mês.
“Apesar de a história das mães ser um indicativo, não podemos dizer com certeza. Existe uma relação temporal, mas não causal fechada”, explica o médico vinculado ao Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A anomalia é caracterizada por um crânio de tamanho menor que a média. De acordo com Kleber Luz, há evidências compatíveis entre os casos de zika vírus em gestantes e microcefalia nos recém nascidos. “O aumento de casos surgiu logo após a epidemia de zika vírus, as mães relataram os sintomas que indicam quadro de zika e o crescimento dos casos de microcefalia ocorreu em locais que registraram epidemia do vírus”, cita o infectologista.
No RN, entre 2010 e 2014 foram registrados no máximo quatro casos de microcefalia por ano. Em 2015, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte confirmou que 21 bebês nasceram com microcefalia. O Ministério da Saúde decretou situação de emergência para investigar o aumento do número de casos diagnosticados em estados do Nordeste.
“O que causa habitualmente a microcefalia são os vírus da rubéola e o citomegalovírus. Os achados nas imagens dos recém-nascidos são compatíveis com infecção viral, no entanto, os testes para os vírus que costumam produzir essa anomalia deram negativo. Vivemos uma epidemia de dengue desde 1997 e não houve um aumento como esse nos casos de microcefalia. É um fato absolutamente novo”, avalia.
O infectologista acrescenta que a microcefalia é um evento raro. “A hidrocefalia é mais comum. Quando o crânio apresenta um tamanho maior do que a média. Nunca vi algo dessas dimensões relacionado à microcefalia. Houve um caso nas Ilhas Yap, nos Estados Federados da Micronésia, mas foi algo que atingiu um universo de 27 mil pessoas”, reforça.
Sobre as precauções para evitar o zika vírus, o médico explica que a principal forma de evitar a infecção é o combate ao mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue e Chikungunya.
Ministério da Saúde
Sobre a hipótese que tem sido discutida pela comunidade médica de que o aumento de casos de microcefalia poderia estar relacionado a infecções por zika vírus – vírus que foi identificado pela primeira vez no país em abril deste ano – os representantes do Ministério afirmaram que ainda é precipitado atribuir o evento a essa causa.
O vírus já foi confirmado em 14 estados brasileiros desde abril, segundo informação divulgada pelo Ministério da Saúde na semana passada durante seminário organizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Segundo documento divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SEVS/SES-PE), parte das mulheres que tiveram bebês com microcefalia apresentaram erupções na pele durante a gravidez. Apesar de este ser um dos sintomas do zika vírus, não há evidências suficientes para associá-lo à microcefalia, de acordo com o órgão.
De acordo com o ministério, entre os casos de microcefalia registrados recentemente, alguns são graves, no entanto ainda não é possível observar um padrão claro em relação ao grau de microcefalia mais frequente na situação atual.
Entenda o que é a microcefalia
Microcefalia é uma condição médica que se caracteriza por um crânio menor do que o tamanho médio, geralmente por causa de uma falha no desenvolvimento do cérebro. O problema pode estar associado a síndromes genéticas ou a outros fatores como abuso de álcool e drogas durante a gravidez ou a infecção da gestante por rubéola, catapora ou citomegalovirus.
Crianças que nascem com microcefalia podem ter o desenvolvimento cognitivo debilitado. Não há um tratamento definitivo capaz de fazer com que a cabeça cresça a um tamanho normal, mas há opções de tratamento capazes de diminuir o impacto associado com as deformidades.
Segundo o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e AVC dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (Ninds-NIH), algumas crianças acometidas pela anomalia podem ter algun nivel de incapacitação. Outras podem se desenvolver de forma similar a outras crianças e ter inteligência normal.
Fonte: G1
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