Se eles seguirem adiante com o plano, estarão entrando no agitado debate sobre duas propostas de se redesenhar o mapa do Oriente Médio, cada qual com grandes implicações para a Síria e seus vizinhos.
Uma é a antiga aspiração dos curdos de toda a região de terem um Estado próprio, ou maior autonomia nos países onde estão concentrados: Turquia, Iraque, Irã e Síria, todos os quais veem tais perspectivas com graus variados de horror.
A outra é a ideia de resolver a guerra civil na Síria esculpindo o país, seja em Estados menores ou, mais provavelmente, em alguma espécie de sistema federal. A proposta desse sistema foi aventada recentemente por ex-membros do governo Obama e discutida em público pelo secretário de Estado John Kerry, mas rejeitada não apenas pelo governo sírio, como também por grande parte da oposição.
O que as autoridades curdas da Síria descreveram provavelmente alarmaria muitos dos outros combatentes sírios: uma região federada em todo o território hoje nas mãos das Forças Democráticas Sírias, um grupo liderado por curdos apoiado pelos militares americanos contra o grupo militante Estado Islâmico (EI). Algumas autoridades disseram que ela expandiria o território que os curdos esperam capturar em batalha, não somente do EI, mas também de outros grupos árabes insurgentes.
Mas autoridades curdas do país tentaram minimizar a medida, dizendo que não é radical e retratando-a como um esforço para impedir que a Síria, já dilacerada, ensanguentada e dividida, se desintegre ainda mais.
"O federalismo vai salvar a unidade de toda a Síria", disse Ibrahim Ibrahim, um porta-voz do Partido da União Democrática (PYD em curdo), de esquerda, que tem um papel de liderança nas áreas curdas da Síria.
A discussão é sobre a possibilidade de um sistema federal não apenas para as áreas de maioria curda, mas para toda a Síria, segundo Ibrahim e outras três autoridades e membros do PYD, que estavam informados sobre as negociações ou participaram delas.
Eles enfatizaram que a entidade não seria chamada de região curda, mas sim uma região federal do norte da Síria, onde árabes e turcomenos teriam direitos iguais.
E sugeriram com firmeza que a ideia não foi sua, mas estava sendo promovida pelos EUA e outras potências. Uma ex-autoridade graduada do governo americano, Philip Gordon, e outros aventaram recentemente a proposta de dividir a Síria em zonas que correspondam aproximadamente às áreas hoje detidas pelo governo, o EI, as milícias curdas e outros insurgentes.
As discussões curdas sobre o norte da Síria estão sendo divulgadas justamente quando uma nova rodada de negociações de paz patrocinadas pela ONU e firmemente promovidas pelos EUA e a Rússia se realiza em Genebra, visando uma solução política para a guerra na Síria.
A iniciativa curda síria --ainda sob discussão pelos curdos e outras partes na região-- ficaria pouco aquém de declarar a independência. Mas ainda é provável que irrite o governo sírio e o principal grupo de oposição liderado pelos árabes, o Comitê Superior de Negociação. Ambos declararam sua oposição ao federalismo, considerando-o um passo na direção de uma divisão permanente do país.
Também é provável que intensificasse as preocupações turcas sobre o aumento das áreas sírias ao longo de sua fronteira que são controladas por uma milícia curdo síria. A Turquia considera os grupos curdos seu inimigo mais perigoso após anos de conflito com sua própria população curda.
Mas a Rússia disse que apoia tal sistema. Os EUA também pressionaram pela descentralização e presidiram o estabelecimento de um governo regional autônomo curdo no Iraque.
Quanto ao restante da Síria, a federalização poderia ser bem mais complexa. É difícil conceber que Washington aprove um plano que estabelecesse formalmente áreas ainda dirigidas pelo EI como parte de uma federação síria.
A área nas mãos do governo se estende em um bloco relativamente distinto de Damasco, ao norte, passando por Homs e o litoral, mas somente uma faixa estreita de território a conecta à parte que o governo controla em Aleppo, a maior cidade síria. E, embora a maior parte da população do país esteja lá, muitos deixaram a região para evitar os ataques aéreos e não defendem necessariamente o governo do presidente Bashar al-Assad.
A área em poder dos insurgentes com exceção do EI inclui rebeldes apoiados pelo Ocidente e a Frente Al Nusra, uma filial da Al Qaeda, entremeados por um leque de grupos islâmicos. Eles lutam atualmente pelo controle de várias partes de seu território nas províncias de Aleppo e Idlib.
Ibrahim, que atua como porta-voz do PYD na Europa, advertiu que os detalhes sobre a região federal ainda estão em discussão e que não há data para anunciá-los.
Fonte: The New York Times.
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