2 de janeiro de 2018

Noticia: 12 milhões de pessoas compartilham informações falsas, diz pesquisa

Segundo um levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP) somente nas redes sociais, 12 milhões de pessoas compartilham informações inverídicas, as chamadas fake news.

O mundo entrou em alerta após o FBI apontar que as eleições para presidente dos Estados Unidos foram intensamente influenciadas por ataques que teriam partido de hackers da Rússia. No Brasil já existem exemplos claros de como isso pode influenciar a política. Um boato que surgiu em 2015 que ganhou força em 2016 e permanece até hoje sendo compartilhado na rede é uma suposta tentativa de suicídio da ex-presidente Dilma Rousseff. Em junho de 2015, o assunto foi tão compartilhado pela internet que a petista, que ainda ocupava a presidência da República, teve que ir a público desmentir a informação.

A especialista Helena Martins, diretora da ONG Intervozes — voltada para o direito à comunicação — destaca que atualmente existe um modelo de negócios em torno das notícias falsas. “É uma questão muito complexa. A maioria dos boatos se espalham com interesses financeiros, por meio de sites caçadores de cliques. Mas também temos os que se espalham por ideologia e outros que querem silenciar minorias, atacando homossexuais e mulheres, por exemplo”, destaca.

Helena afirma ainda que a solução envolve mudanças no acesso a informação, mas o problema não pode ser usado para pregar a censura. “Não penso que a criação de leis vai resolver. Pois é difícil avaliar o que é fake news e o que é informação verdadeira. O ideal seria que empresas como o Facebook, por exemplo, deixem claro quando uma publicação é patrocinada. As páginas fazem isso para alcançar mais pessoas e ter maior retorno financeiro ou ideológico”, completa.

Boatos

De acordo com o estudo da USP, informações inverídicas jogadas na rede mundial de computadores podem chegar a todos os brasileiros que têm acesso à internet. A estrutura de campanha criada por um candidato pode não ser suficiente para desmentir as acusações, o que pode causar uma reviravolta no cenário das eleições.

O advogado Aylan Estrela, especialista em direito digital, destaca que quem cria esse tipo de boato pode ser punido com leis já existentes. “Esses crimes contra a honra são previstos pelo Código Penal. A grande questão é a identificação dos autores. Hoje existem mecanismos para identificar, como o armazenamento dos dados dos criminosos. Mas, em relação a leis específicas para o período eleitoral, não temos nada em vigor nem tempo para aprovar”, afirma.

O TSE aprovou uma série de resoluções que serão válidas para as próximas eleições. Durante sessão no plenário da corte, os ministros destacaram a importância de combater a propagação de notícias falsas. As novas regras podem ser alteradas até o mês de março. O ministro Luiz Fux, relator das resoluções e vice-presidente do tribunal eleitoral, destacou que o assunto é alvo de preocupação da Justiça Eleitoral. “Abordamos a necessidade de coibir comportamentos deletérios, ilegítimos, de players que se valem da ambiência da internet e de suas principais plataformas de acesso e de conteúdo para violentar a legitimidade das eleições e a higidez do prélio eleitoral, mediante a utilização de fake news, junkie news. Poderemos dar maior robustez com a análise concreta de perfis falsos”, disse o ministro Luiz Fux.

Exército de robôs

De acordo com um estudo da Universidade da Flórida, nos EUA, 15% dos perfis do Twitter são mantidos por programas de automação. Esse fato se repete nas demais redes sociais.

Pode parecer algo distante da realidade dos brasileiros. Mas esses programas, também chamados de “bots”, estão presentes e atuando na internet neste exato momento, enquanto você lê esta reportagem. Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que esses perfis pré-programados, foram responsáveis por 10% das discussões no Twitter sobre as eleições de 2014. Em abril deste ano, mais de 20% das interações no Twitter relacionadas à greve geral que ocorreu no país foram motivadas por “bots”.

Usando inteligência artificial ou não, esses perfis procuram imitar o comportamento humano. Entre mensagens comuns, de bom dia, comentários sobre festas e eventos aleatórios, essas contas publicam mensagens tendenciosas e de apoio a candidatos ou suas ideologias. A diferença entre os seres humanos e as máquinas é a agilidade. Alguns robôs postam mais de uma mensagem por segundo. Eles também são capazes de seguir perfis reais e marcá-los em publicações, para dar uma identidade real aparente.

Uma nova modalidade de influência na web, que deve ser usada no Brasil a partir de agora, são programas de varredura das redes sociais. Esses softwares monitoram os internautas, seus perfis, opiniões e desejos. A finalidade é entregar relatórios aos candidatos, ressaltando com quais tipos de ideias e propostas ele pode se alinhar ao eleitor. Desta forma, um político pode mudar seu discurso para obter aceitação da população e conquistar o eleitor. Esse recurso foi usado em grande escala na eleição dos Estados Unidos e agora chega ao Brasil, prometendo impactar de maneira significativa os rumos políticos do país.
Fonte: Correio Braziliense

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