Foi pelo rádio que o mundo soube que se iniciava uma nova etapa da história, quando o brasileiro Oswaldo Aranha, presidente daquela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), decretou que a maioria dos países aceitava, pela primeira vez, a formalização de Israel como um Estado.
A data, histórica para o povo judeu, completa 70 anos neste 29 de novembro, quando toda a população judaica de Israel, na ocasião 600 mil pessoas, saiu às ruas e varou a madrugada em um estado que misturava êxtase, alívio e medo, conforme conta o cônsul de Israel em São Paulo e na região Sul do Brasil, Dori Goren, ao colunista Eugenio Goussinsky do ‘R7′.
Goren nasceu em 1955, nesta mesma Jerusalém que acompanhou com agonia a votação. A capital israelense ainda estava fumegante e já com os bairros árabes e judeus mais divididos, por causa da guerra que se estendeu pelo país, após as nações árabes não reconhecerem a decisão da Assembleia da ONU.
“Este dia foi histórico, extraordinário, muito importante para o nosso povo, porque depois de 2 mil anos de exílio, de incerteza, de não ter independência, de não ter um Estado, a comunidade internacional resolveu criar uma nação para o povo judeu”, conta Goren.
O evento de 1947 foi acompanhado por multidões em Israel. Os rádios eram escassos. A população se aglomerou diante de aparelhos colocados nas ruas, nos quintais, nas praças, mantendo um silêncio profundo que se integrava aos contornos escuros das colinas de Jerusalém, ao brilho das estrelas como um alento e a voz de Oswaldo Aranha revelando cada voto.
Um urro visceral, explosão de alegria que era a antítese do estrondo das bombas, tomou conta do novo país, finalmente reconhecido, quando a frase derradeira definiu a votação. “Trinta e três votos a favor. Treze contra. Dez abstenções e um país ausente da votação. A proposta foi aceita”, disse Goren.
Mas uma fase difícil estaria por vir. E, conforme Goren lembra, a população judaica estava ciente disso: “Quando Oswaldo Aranha declarou o resultado, todos saíram para bailar, para festejar. Foi uma alegria misturada com a sensação de medo de ser morto, porque todos sabiam que não iria ser fácil. E a Guerra da Independência começou já no dia seguinte”.
A proposta em questão foi feita pelo United Nations Special Committee on Palestine (UNSCOP), órgão criado para elaborar a partilha da chamada Palestina até então sob mandato britânico. O Reino Unido controlava a região desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando o derrotado Império Otomano perdeu o domínio sobre ela.
O plano de partilha visava dar um basta aos conflitos entre árabes e judeus, que desde décadas anteriores retornaram à região, situação que se acirrou ainda mais após a Segunda Guerra (1939-1945), quando milhões de judeus precisavam encontrar um local que os abrigasse após a brutal perseguição nazista da qual eles foram vítimas.
Goren lembra que a ideia de que os judeus retornassem à terra de onde saíram milhares de anos antes, desde o início da Segunda Diáspora, em 70 d.c, quando foram expulsos pelo Império Romano, já vinha sendo acalentada desde o fim do século 19.
Foi quando se iniciaram ondas imigratórias de judeus de volta à região, devido também às perseguições e aos chamados progroms (ataques violentos aos guetos e às comunidades) que eles sofriam na Europa. A iniciativa da criação de um Estado judaico partiu de Theodor Herzl, nos idos de 1897.
Em seguida à partilha da Palestina, os países árabes inciaram uma guerra contra Israel. Os combates se intensificaram na chamada Guerra da Independência, após o país se declarar um Estado independente, em maio de 1948. O conflito sangrento se estendeu até 1949, quando o recém-fundado Estado pôde começar a planejar seu crescimento. A partir de então iniciou um amplo processo de desenvolvimento.
Nos anos 50, Israel era um país pobre, com infraestrutura precária, tendo a laranja como principal produto de exportação. Hoje, com cerca de 9 milhões de habitantes, dos quais 7 milhões são judeus e 1,5 milhão são árabes (que têm direito a votos e a serem eleitos para o Parlamento) o país é um dos maiores exportadores de tecnologia e está entre as 20 economias mais prósperas do mundo, segundo Goren.
Segundo Richard J. Goldstone, ex-juiz do Tribunal Constitucional Sul-Africano, que liderou a comissão de investigação da ONU sobre o conflito em Gaza em 2008 e 2009, a partilha da Palestina e a consequente independência israelense nem de longe tiveram como objetivo impor qualquer tipo de supremacia étnica. Apesar de ainda haver, segundo ele, necessidade de maiores avanços nas relações entre as comunidades.
“Para sermos precisos, há uma separação ‘de fato’ entre as populações judaica e árabe maior do que Israel deveria aceitar. Muito desta separação é resultado de escolhas das próprias comunidades. Alguns, resultado de discriminação. Mas não é apartheid, que, conscientemente, consagra a separação como um ideal. Em Israel, a igualdade de direitos é a lei, a aspiração e o ideal. Desigualdades são na maioria das vezes derrubadas com sucesso nos tribunais”, afirma o ex-juiz.
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Neste contexto, o cônsul Goren acredita que a paz na região continua a ser um objetivo possível de ser alcançado. Não só entre as comunidades internas mas também em relação à questão externa, dos territórios palestinos, cuja população vive em condições muito difíceis e precisa de uma solução, vinda por meio de um acordo com os governos autônomos locais. O país já caminhou neste sentido, obtendo acordos com a Jordânia, o Egito e se aproximando comercialmente da Arábia Saudita.
“Na declaração de independência do Estado de israel, lida pelo primeiro-ministro David Ben-Gurion, foi dito com destaque que estendemos a mão para os nossos vizinhos árabes e palestinos, para que vivam em paz conosco. A resposta foi a não aceitação por parte deles. Mas tomara que a paz seja um dia alcançada”, acredita o cônsul.
Fonte: R7
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