14 de março de 2016

Um Breve Histórico dos Conflitos entre a Europa e o Oriente Médio

A Europa, nomeadamente a Grécia Antiga, é considerada o berço da cultura ocidental. O uso do termo "Europa" desenvolveu-se gradualmente ao longo da história. Na antiguidade, o historiador grego Heródoto. que apesar de ser grego havia nascido em Halicarnasso, hoje Bodrum, na Turquia, em provável referência a mapas desenhados por Hecateu de Mileto (546 a.C. ~ 480 a.C.), de quem Heródoto foi continuador, descreve o mundo conhecido da época como tendo sido dividido em três continentes, sendo eles a Europa, a Ásia e a Líbia (África).

No entanto, os gregos não eram os viajantes e exploradores mais destacados da época. Tal honra ostentavam os fenícios, menos letrados que os gregos e, portanto, menos específicos, entre os quais Hanão. Os fenícios viveram na região que hoje chamamos de Oriente Médio, mais especificamente, ao longo das regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria e norte de Israel. A civilização fenícia foi uma cultura comercial marítima empreendedora que se espalhou por todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1500 a.C. a 300 a.C.

O Oriente Médio fica na junção da Eurásia, da África, do mar Mediterrâneo e do Oceano Índico. É o local de nascimento e centro espiritual do cristianismo, do islamismo, do judaísmo, e de várias outras religiões. Ao longo de sua história, o Oriente Médio tem sido um grande centro de negócios do mundo, uma área estratégica econômica e politicamente, e cultural e religiosamente sensível.

O moderno Oriente Médio surgiu após a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano, que havia sido aliado dos derrotados Impérios Centrais (a Alemanha e a Áustria-Hungria), foi dividido em vários estados. Outros acontecimentos marcantes nesta recente transformação foi a restabelecimento do Estado de Israel, em 1948, e a saída das potências europeias, nomeadamente a Grã-Bretanha e a França, que foram suplantadas em parte pela crescente influência dos Estados Unidos.

Atualmente, vários meios de comunicação veiculam episódios tristes que atestam a recorrência de confrontos entre os povos do Oriente e do Ocidente. De fato, analisando sob o ponto de vista histórico, podemos notar que estas duas regiões do planeta foram marcadas por experiências distintas, mas também por influencias mútuas. Contudo, seria possível afirmar que as diferenças e os conflitos, que persistem. simplesmente se resumem à relação entre as religiões que se desenvolveram nestes dois lados do planeta?

Muitos associam que os confrontos entre os povos do Oriente (mais especificamente do Oriente Médio) e do Ocidente (mais especificamente da Europa), se desenvolveu, tão somente, como um conflito entre cristãos e muçulmanos (ou islâmicos), e chamam a atenção para os movimentos cruzadista e, também, jihadistas, quando estes têm o significado de levar a cabo uma guerra pela fé contra os infiéis, chegando ao extremo das ações de terror, tanto da parte de supostos professos cristãos, quando muçulmanos.

O objetivo desta explanação é mostrar que o conflito existente entre os povos da Europa e do Oriente Médio é pré-existente ao islamismo e, até mesmo ao cristianismo, e que ele decorre da relação entre os grandes impérios da antiguidade, notadamente, o Impérios romano e os Impérios remanescentes dos Persas, além de conflitos ainda mais antigos, ocorridos vários séculos antes do Senhor Jesus ter vivido como homem.


Mapa do Mundo conhecido a partir do século V a.C., representação romana do desenho original de Hecateu de Mileto

A cadeia de conflitos entre os povos do ocidente e o oriente, de fato passou pela sua fase de conflito entre "cristãos" e "muçulmanos" e, as aspas que eu emprego aqui é para denotar que, apesar de a religião quase sempre ter sido usada como pretexto para guerras, muitas vezes tal pretexto foi empregado. tão simplesmente, para esconder a ganância, a vaidade, a cobiça e as ambições humanas, enquanto características espirituais humanas fluem e realizam as suas típicas empresas, por meio do uso de poderes imperiais que são instituídos pela humanidade, em seu próprio seio.

Tal cadeia de conflitos que ainda está em curso nos dias de hoje é, deveras, historicamente a mais antiga da humanidade. Ela passou pela "Primeira Cruzada", que foi proclamada em 1095, pelo papa Urbano II, com o objetivo duplo de auxiliar os cristãos ortodoxos do leste, e o de libertar Jerusalém e a Terra Santa do jugo muçulmano. Curioso foi que tal cruzada foi levada a cabo, apesar de os líderes da Igreja do Império Bizantino, que também professava a fé cristã, mas seguiam o rito ortodoxo, e os lideres da Igreja de Roma, terem se excomungado mutuamente, por conta do chamado Grande Cisma do Oriente.

A Primeira Cruzada se desdobrou em múltiplos movimentos, com ações bélicas de inspiração religiosa, que incluiu a "Cruzada Popular", a "Cruzada dos Nobres" e a "Cruzada de 1101", todas, de fato, sangrentas e pilhadoras (e depois vieram, ainda, a 2ª, a 3ª e a 4ª cruzadas). Além disso, ela deu início a uma longa tradição de violência organizada e explicita também contra os judeus, apesar de já há séculos existir anti-semitismo, quase sempre de forma velada, na Europa.

Para os cristãos verdadeiros, envolvimento do termo “cristãos”em guerras cruéis, de cunho político e de interesses econômicos, tais como eram as motivações para as guerras que foram denominadas “cruzadas”, foi uma péssima ideia, algo historicamente lastimável. Tentar apresentar tais guerras como "guerras santas" equivaleu a tentar justificá-las por pretextos, e não por seus reais motivos, embora que o termo “guerra santa”, de fato, seja um jargão também originário do mundo dos muçulmano, como um ideal próprio que os impulsionou a conquistarem novas terras através dele, por meio da pressão imposta aos povos vizinhos que, ou se convertiam ou eram forçados a conversão, denominado “jihad menor”.

Todavia, os conflitos em questão, não começaram ai, com as cruzadas, mas antes:

No século VIII, a cidade Barcelona foi conquistada pelo vizir árabe al-Hurr e iniciou-se um período de quase um século de domínio muçulmano, que terminou em 801, quando foi ocupada pelos carolíngios. Os carolíngios a converteram em capital do Condado de Barcelona. Porém, a potência econômica da cidade, e a sua localização estratégica fizeram com que os muçulmanos voltassem em 985, comandados por Almansor, ocupando-a, durante alguns meses, saqueando a cidade, incendiando os edifícios que eram destruindo até às fundações, as igrejas e a muralhas, além de matarem milhares de pessoas, e de escravizarem e transportarem para sul outra parte da população.

Eu particularmente penso que, só isso que foi narrado acima já deveria ter bastado para que parasse com os conflitos, uma vez que os povos compreendessem que, além do sofrimento resultante das hostilidades, nada mais poderiam resultar deles: Deveras, não poderá haver lado vencedor. Porém, infelizmente, os conflitos e hostilidades nunca mais cessaram.

Contudo eu afirmo a vocês que as hostilidades em questão, também não começaram ai. Assim, vamos voltar ainda um pouco mais no tempo, para tentar compreender se foi mesmo por causa de Barcelona que todo esse conflito começou.

Bem, é evidente que, antes do século VII a religião dos muçulmanos sequer existia, de modo que, se os conflitos forem anteriores, a origem deles pode não ser encontrada nos anseios de algum muçulmano que tivesse, algum, dia passado por Meca. Como eu pretendo demonstrar, tal origem é ainda mais antiga. e pode incluir acontecimentos que ocorreram mais cedo durante o Império Bizantino.

O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano durante a Antiguidade Tardia e a Idade Média, no oriente, inicialmente, fazendo parte do lado oriental do Império Romano (frequentemente chamada de Império Romano do Oriente). Sua capital foi Constantinopla (hoje a moderna Istambul), originalmente conhecida com Bizâncio.

No ano de 285, o imperador Diocleciano dividiu a administração imperial romana em duas metades, e entre 324 e 330, após a conquista definitiva da cidade, Constantino transferiu a capital principal de Roma para Bizâncio, renomeando-a Nova Roma. Em homenagem a ele a cidade passaria, mais tarde, a ser conhecida como Constantinopla ("Cidade de Constantino"), enquanto o cristianismo passava a gozar mais e mais da preferência imperial, uma vez que Constantino concedeu-lhe generosos privilégios.

Por uma série de razões, mas que envolve, principalmente, ao fato do Império Romano do Oriente preferir negociar acordos frente as ameaças de invasões “barbaras”, enquanto Roma preferia tentar enfrentá-las militarmente, o lado oriental do Império prosperava e se fortalecia, enquanto o lado ocidental declinava, sucumbindo ao alto custo de sua manutenção militar, até que no ano de 480 o lado oriental achou por bem tomar conta de tudo, com o rei Zenão, de Constantinopla, abolindo a divisão do império e tonando-se imperador único.

Odoacro, por sua vez, embora investido do título de rei, agora apenas governador da Itália, foi nominalmente subordinado de Zenão I, o imperador do Império reunificado. Todavia, Odoacro atuou com completa autonomia e acabou por apoiar uma rebelião contra o imperador.

Para recuperar a Itália, Zenão negociou com o rei dos ostrogodos da Mésia, Teodorico, a quem enviou como mestre dos soldados da Itália (magister militum per Italiam), a fim de depor Odoacro. Teodorico chegou com seu exército à península Itálica em 488, onde venceu a Batalha de Isonzo e a de Milão (489) e a de Adda, em 490 e assediou Ravena. Este foi assassinado pelo próprio Teodorico durante um banquete em 493.

Teodorico, então, aproveitando-se de seu sucesso agiu, também, de modo independente e assassinou Odoacro, fundando, em seguida, o Reino Ostrogótico, do qual tornou-se rei, embora tal reino nunca tenha sido reconhecido como tal pelos imperadores orientais. Teodorico foi um governante hábil, que soube conservar o equilíbrio entre as instituições imperiais e as tradições bárbaras. Homem culto, educado na corte de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, conseguiu ganhar a simpatia da aristocracia romana, cujos privilégios anteriores respeitou, e do povo, que assistia satisfeito à realização de obras públicas para a reconstrução e modernização de Roma.

Após a morte de Teodorico, o imperador bizantino Justiniano I que não reconhecia a legitimidade do Reino Ostrogótico, invadiu a Itália, em 535, com exército sob o comando do general bizantino Belisário, iniciando a "reconquista" da península itálica pelo Império Bizantino, que levaria quase duas décadas e seria mais destruidora que as invasões bárbaras dos dois séculos anteriores. Esse período foi denominado de Guerra Gótica.

Diante disso, já dá para começar a desconfiar, seriamente, que a origem dos conflitos entre o ocidente e o oriente (e não apenas entre "cristãos" e "muçulmanos", uma vez que, apesar de os cristãos já terem se multiplicado em número de pessoas dentre os povos, o islã ainda nem sequer existia no período cuja história do Império Bizantino foi relatado acima) tenha sido uma consequência da inconsequência do próprio Império Romano (o que isenta o islamismo de tê-los iniciado).


Abrangência do Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino), no ano 600 d.C. (época da eminência do surgimento do islamismo)

Além disso, é notório que houveram, também, as chamadas Guerras Romano-Persas, que foram uma série de conflitos militares entre o Estado romano e os sucessivos impérios iranianos: a Pártia e a Sassânia. No tempo do imperador bizantino Justiniano I, ao mesmo tempo em que seus generais se empenhavam contra os ostrogodos para reaver a Itália, as tropas do Império Romano do Oriente estavam, também, empenhadas em uma guerra contra os sassânidas da Pérsia.

A Pérsia, com um grande desenvolvimento cultural e militar, tornou-se um inimigo natural de Roma, e manteve-se como tal por vários séculos. Os romanos viram nos persas uma potência semelhante à deles próprios, e os grandes reis de Ctesifonte (uma grande cidade da Mesopotâmia e capital do Império Arsácida, um termo que provém de nome do rei Ársaces I da Pártia) viam os romanos da mesma forma.

Os persas já há muito tempo denominam seus soberanos como "grande rei", o que lhes atribui uma grandeza similar à de augusto no Império Romano. As hostilidades entre estas potências iniciaram-se em 92 a.C. (portanto, bastante tempo antes do que se estabelece como início do cristianismo) e, embora a guerra entre os romanos e partas/sassânidas tenha durado sete séculos, as fronteiras entre eles costumava permanecer, aproximadamente, estável.

Ao longo de séculos foi como um jogo de cabo de guerra se seguiu: de ambos os ladfos, cidades, fortificações e províncias foram continuamente saqueadas, capturadas, destruídas e trocadas em acordos.

Nenhum dos lados tinha força logística, ou mão de obra, para manter longas campanhas longe de suas fronteiras e, portando, nem poderiam avançar muito longe sem arriscar esticá-las muito tenuemente. Ambos os lados fizeram conquistas além da fronteira, mas com o tempo o equilíbrio quase sempre terminava restaurado.

Somente após muitos e muitos eventos políticos e militares, ao longo daqueles séculos, e de ter vindo a última e mais devastadora daquela série de guerras travadas entre o Império Bizantino e o Império Sassânida, que incluiu o cerco de Constantinopla, em 626, foi que acabou havendo as invasões árabes muçulmanas, a partir de 632, que atingiu tanto o império Sassânida, quanto o de Bizantino, com efeito devastador logo após o fim do último conflito entre eles.

Mais uma vez, diante disso, dá para desconfiar, ainda mais seriamente, que a origem do conflito todo entre o ocidente e o oriente (e não entre "cristãos" e "muçulmanos") tenha sido uma consequência da inconsequência do próprio Império Romano, e do seu arqui inimigo, o Império Persa e seus remanescentes Impérios Iranianos. Portanto, que temos nós, cristãos verdadeiros, com tudo isso?

Para completar, ainda mais antiga é a história das chamadas Guerras Púnicas, entre as cidades de Roma, que no meio do século 3 a.C. já era uma força militar que dominava toda a península Itálica, e de Cartago, originariamente uma colônia fenícia no norte da África, desde meados do século 9 a.C., que se tornou uma potência na Antiguidade, disputando com Roma o controle do mar Mediterrâneo.

No século 9 a.C., a partir de Cartago, os fenícios fundaram entrepostos de comércio, também, no oeste da ilha da Sicília, a maior das ilhas do mar Mediterrâneo, separada da Calábria, na península Itálica, pelo estreito de Messina, que possui apenas três quilômetros de largura.

Mais tarde, no século 8 a.C., os gregos, por sua vez, colonizaram as costas leste e sul desta mesma ilha, região que se tornou conhecida como Magna Grécia, fundando prósperas colônias de comércio. Siracusa, por exemplo, foi fundada por Corinto por volta do ano 734 a.C., e se tornou a principal cidade da ilha sobre a qual a Grécia exerceu sua hegemonia.

Devido à sua posição geográfica, a Sicília teve um papel de importância nos eventos históricos que tiveram como protagonistas os povos do Mediterrâneo da antiguidade, e entre os séculos 6 e 3 a.C. houveram frequentes hostilidades entre a Grécia e Cartago, envolvendo a Sicília e o controle da navegação comercial. Com o enfraquecimento do Império grego, a disputa em torno da Sicília passou a ser com Roma e, dessa disputa originaram-se as três Guerras Púnicas, ao final das quais Cartago estava destruída.


Área das operações da Primeira Guerra Púnica entre o Império Cartaginês e a República Romana

Em especial a Segunda Guerra Púnica foi resultado tanto do revanchismo cartaginense contra os pesados tributos impostos a eles pelos romanos pela ocasião da derrota de Cartago na Primeira Guerra Púnica, quanto contra os esforços de Roma para tomar suas novas colônias na península Ibérica, além de, simplesmente, por puro ódio a Roma, a qual, por sua vez, expressava desprezo aos cartagineses ao empregar o termo punica fides (dai derivando o termo guerra púnica), que significa, literalmente "Fé púnica", uma locução pejorativa que usavam para indicar a falta à palavra empenhada, um defeito de que acusavam os cartagineses que se recusaram a continuar pagando tributos.

Surge um grande general chamado Aníbal, com ódio a Roma criado e desenvolvido desde criança por seu pai. Aníbal acreditou ser capaz de derrotar o grande império com um exército de elefantes partindo do sul da península Ibérica, passando pelos Pirineus até atingir a península Itálica, pelo norte, algo que os romanos achavam impossível de ser realizado.

Considerando o caráter extremante difícil e arriscado da missão de Aníbal, ele foi relativamente bem sucedido ao atacar a Itália, causando enormes estragos e quase fazendo Roma capitular. Mas os romanos souberam contra-atacar, criando um cerco a Aníbal para acabar com suas provisões, ao mesmo tempo que fizeram um ataque direto a Cartago enquanto eram atacados pela mesma. Aníbal foi obrigado a recuar e voltar para defender seu país. Apesar dos esforços de Aníbal, Cartago teve de pedir a paz aos romanos, comandados por Cipião, o Africano, ao fim da segunda guerra púnica.

Ao fim da primeira guerra púnica, Roma conquistou a Sicília e a converteu em seu principal território colonial produtor de trigo. Augusto instalou as colônias de Palermo, de Catânia, e absorveu os gregos de Siracusa. Todavia, Roma não logrou êxito em controlar toda a população previamente existe e, o banditismo rebelde e a pirataria aceleraram o declínio da ilha, que chegou a ser uma das províncias mais ricas de Roma no tempo da República.

Assim, vemos que os conflitos entre a Europa e o Oriente Médio se desenrolam desde os remotos tempos das civilizações cartaginense (derivada do resultado da mistura da cultura dos berberes nativos do norte de África com os colonos fenícios) e grega (considerada berço da civilização ocidental e que proveu a sua própria cultura como herança para a civilização de Roma), numa época em que não havia o cristianismo e, muito menos, o islamismo.

Mesmo um primeiro anúncio da futura vinda do Messias (o Senhor Jesus Cristo), foi introduzido pelo profeta Isaías somente após o ano de 740 a.C., numa época em que as rotas comerciais fenícias já estavam estabelecidas, e decorrido um tempo de mais de 300 anos para elas se estabilizarem, e a época em que os gregos e cartagineses já começavam a competir no Mediterrâneo. A importância de se ter esse conhecimento é que ele prove uma capacidade de julgamento que isenta a origem dos conflitos de qualquer motivação conotação religiosa (tal como, hoje, parece evidente que seja assim), mas, sim, que os conflitos Europa versus Oriente Médio tiveram, tão somente, motivações comerciais e econômicas, as quais foram suportadas pelos poderes imperiais suscitados em ambas os lados.


Rotas comerciais fenícias (por volta de 1100 a.C.)
Durante um considerável tempo da minha vida eu vi aqueles que buscam estudar as escrituras bíblicas com a finalidade exclusiva de procurar em meio às muitas profecias que ali se encontram descritas, alguma que, aparentemente, não se tenha cumprido, a fim usar isso como argumentação para intentar denegrir e desacreditar a Bíblia.

Uma das profecias bíblicas que foi, até bem pouco tempo, muito empregada para isso, é a que se encontra descrita no capítulo 17 do livro de Isaías. Os que fazem tais achaques são os mesmos que, pretendendo destruir o conceito de Deus e de Messias salvador, atacam todas as religiões que existem em meio aos povos da Terra, acusando-as de serem causadoras de guerras, quando, o que causa guerras, de fato, são a ganância, a cobiça e a vaidade humana.

Vasculhando na Internet você irá encontrar várias postagens feitas entre os anos 2001 e 2010, que questionavam, exatamente, por que nunca havia se cumprido a profecia que diz: "Eis que Damasco será tirada, e já não será cidade, antes será um montão de ruínas." (Isaías 17:1). Todavia, depois que um grande conflito interno aflorou na Síria, começando como uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progredindo para uma violenta revolta armada a partir de 15 de março de 2011, influenciados por outros protestos simultâneos no mundo árabe, os quais os países ocidentais denominaram, ironicamente, de "Primavera Árabe", os ateus logo deixaram de questionar tal profecia.

Hoje, infelizmente, a Síria vivencia uma imensa catástrofe humanitária mundial: Dos seus 17 milhões de habitantes, mais de 250 mil foram mortos, enquanto 4 milhões se refugiaram em outros países e 7 milhões e 600 mil pessoas se deslocaram internamente, buscando sobreviver em meio ao caos criado por uma sangrenta guerra civil iniciada em 2011. Dos cerca de 13 milhões de sírios que ainda habitam o país, segundo a ONU, 9,8 milhões vivem com insegurança alimentar, com 6,8 milhões dos habitantes em situação grave. É um número muito alto, onde a economia esfacelada faz rarear o emprego e a renda, acarretando a fome e proliferando as doenças.

Além do mais, a guerra síria reúne um emaranhado de grupos e de interesses bastante complexos, não apenas todos os seus próprios e internos mas, também, alguns provenientes de seus países vizinhos e, como se não bastasse, outros provenientes de potências bélicas bem distantes, como EUA, Rússia França e Inglaterra. Não bastassem a guerra, as constantes violações praticadas por todos os lados do conflito, como o uso de armas químicas contra população civil, as execuções de civis, os estupros, as escravizações, as perseguições e as torturas, juntamente com a ruína econômica e a falta de comida e dela decorrente impõem a fuga massiva de pessoas rumo à sobrevivência.

Os damascenos, assim como os parisienses, por exemplo, sempre desejaram ter e manter a simples alegria de viver, mas a guerra atingiu o país. O Brasil tem sorte de não ter guerra, embora tenha mais homicídios em todas as suas capitais do que na Damasco atual em guerra. Todavia, ter guerra, propriamente dita, é diferente. Viver em qualquer local atingido por uma guerra, com loucos grupos extremistas por baixo, e tolos bombardeadores genocidas por cima, é algo muito sofrível e tormentoso para as pessoas comuns. Refugiar-se também pode acabar sendo tal e qual, pois há uma vida a ser refeita, e isso é algo muito difícil em meio a um mundo de humanidade decadente.

Aos tolos que se acreditam como sendo cristãos e, ao mesmo tempo, se regozija com a desgraça que se abate sobre a Síria, eu alerto para o que diz a Palavra Inspirada de Deus: "Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele tropeçar, para que o Senhor não veja isso, e se desagrade, e desvie dele a sua ira." (Provérbios 24:17,18), além de questionar o por quê de se considerar inimigo alguém que, além de ser seu semelhante, vive numa terra tão distante e nunca lhe fez mal algum.

Há cordeiros em peles de lobos em meio a todas as congregações de cristãos do ocidente que não fazem outra coisa, o tempo todo, a não ser buscar incitá-los ao ódio histórico irrazoável. Se o homem de coração bélico não é usado para ser vaso de ira, então o seu destino se torna ainda pior, pois, ele se prestará a mais nada a não ser, somente, um vetor para a ganância, a cobiça e a vaidade humana que causam e conduzem as guerras.

Não obstante, o fato é que não amar a paz exclui qualquer um de ser um verdadeiro cristão e, deixar-se mover por sentimentos belicistas, apenas pode dar ao homem alguma chance dele se tornar em um vaso de ira, no qual há, inerentemente, uma má tendência natural, Deus pode até acabar usando isso para levar castigo aonde o castigo seja algo requerido. Mas é só, pois, um vaso de ira não tem outra utilidade para Deus, a não ser a de atuar, momentaneamente, como vetor de ira. Ele dificilmente será salvo, mas, antes, por ser alguém de más tendências naturais, é quase certo que acabará, por fim, se perdendo, tal como aconteceu com o personagem bíblico Jeú, um oficial de alta patente do exército de Israel, a quem o profeta Eliseu enviou um dos filhos dos profetas para ungir como novo rei, e ordenar-lhe que matasse todos os homens da casa do falecido rei Acabe, como vingança pelo sangue dos profetas e de todos os servos de Jeová que haviam sido mortos nas mãos de Jezabel (ver 2 Reis 9).

"... se aquele que é mau abandonar todos os pecados que cometeu, guardar todos os meus decretos e fizer o que é justo e certo, ele com certeza continuará vivo. Não morrerá. Ele não terá de responder por nenhuma das transgressões que cometeu. Ele continuará vivo por fazer o que é justo. Por acaso eu tenho algum prazer na morte de uma pessoa má?, diz o Soberano Senhor Jeová. Não, eu prefiro que ele abandone os seus caminhos e continue vivo? Por outro lado, se um justo abandonar a sua justiça e fizer o que é errado, fazendo todas as coisas detestáveis que os maus fazem, será que vai continuar vivo? Nenhum dos seus atos justos será lembrado. Por causa da sua infidelidade e do seu pecado, ele morrerá. Mas vocês dirão: “O caminho de Jeová é injusto."" (Ezequiel 18:21-25)


"Damasco será tirada, e já não será cidade, antes será um montão de ruínas." (Isaías 17:1)
Mesmo tendo passado dois mil anos, porque elas, em geral, contrariam o ego humano, ainda não é fácil aos homens compreenderem muitas das admoestações do Senhor Jesus:

"Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem sido realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo elas se teriam arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas. Mas eu lhes afirmo que no dia do juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidom do que para vocês. E você, Cafarnaum: será elevada até o céu? Não, você descerá até ao Hades! Se os milagres que em você foram realizados tivessem sido realizados em Sodoma, ela teria permanecido até hoje. Mas eu lhes afirmo que no dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma do que para você". (Mateus 11:21-24)

Por isso fiquem, não apenas atentos, mas parem sempre para pensar e reflitam sobre tudo. “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” (Gálatas 6:7). A ambição do ser humano costuma não ter limites e, convém que um homem se esforce e se supere, contrariando a si mesmo, a fim de por em si próprio algum devido freio contra as suas inerentes más tendencias de ambição, de cobiça e de vaidade, para que não se chegue a um ponto em que o Senhor Deus permita que outros homens venham de fora e ponham freios nele.

Tolo é aquele que, enganando a si mesmo, despreza a Palavra de Deus: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6:12). Por a caso não foi o próprio Senhor Jeová quem disse: “Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito ...” (Zacarias 4:6), e o ensino superior do Senhor Jesus não é: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;” (Mateus 5:44)?

“O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” (Efésios 4:14,15) André Luis Lenz. 

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