O primeiro estudo profundo da religião em Israel, realizado pelo Centro de Pesquisa Pew, com sede em Washington, Estados Unidos, e divulgado na terça-feira, apontou que as divisões religiosas e sociais estão refletidas em "posições altamente contrastantes em muitas questões de políticas públicas" e nas posturas profundamente diferentes a respeito do caráter de Israel.
Assim, apesar de 89% dos judeus seculares de Israel, que correspondem a 40% da população, acharem que os princípios democráticos devem ter precedência sobre a lei judaica em questões onde as duas entram em atrito, 89% dos judeus ultraortodoxos de Israel, um grupo menor, mas que está crescendo rapidamente, pensa o oposto.
O estudo apontou diferenças substanciais entre os judeus israelenses em questões cruciais. Até mesmo entre aqueles que se identificam como sendo centristas (55% dos judeus israelenses pesquisados) a opinião era dividida em três na questão dos assentamentos judeus na Cisjordânia. Ao todo, um terço acredita que os assentamentos prejudicam a segurança de Israel, outro terço acha que contribuem para a segurança de Israel e o terço restante acha que não fazem diferença.
"Esses grupos vivem no mesmo país, um país pequeno, mas é quase como se vivessem em mundos diferentes", disse Alan Cooperman, diretor do Pew para pesquisa sobre religião.
"Todas as sociedades apresentam vários tipos de fraturas e divisões", ele disse, "mas o tamanho das fraturas em Israel, do ponto de vista de um pesquisador, são de cair o queixo".
Ele descreveu as fraturas como sendo "étnicas e religiosas, profundas e muito vivas e reais", com implicações práticas "nas questões de políticas públicas, como a de se os transportes públicos devem funcionar e aviões devem voar no sábado".
Um resultado chamativo foi de que quase metade dos judeus israelenses entrevistados disse que os árabes deveriam ser expulsos ou transferidos de Israel. Os analistas de pesquisas israelenses questionaram a utilidade do resultado, porque a pergunta do Pew não especificou, por exemplo, se essas transferências deveriam ser voluntárias ou indenizadas financeiramente.
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, que tem falado passionalmente sobre a necessidade de Israel de superar as diferenças entre suas várias "tribos", disse que a pesquisa "aponta para a necessidade de tratarmos de nossos problemas domésticos, mais do que nunca".
A maioria dos judeus ainda está unida por vários fatores, incluindo o apoio a Israel como um refúgio, com imigração ilimitada de judeus. A maioria dos judeus israelenses vê o antissemitismo em ascensão no mundo e acredita que Israel é um componente essencial da sobrevivência a longo prazo do povo judeu.
E apesar das posições diametralmente opostas de alguns setores a respeito do papel da lei judaica, a pesquisa indica que 76% dos judeus israelenses acreditam que Israel pode ser tanto um Estado judeu quanto uma democracia. Entre a população árabe, 64% não acreditam que pode ser ambos.
Especialistas locais disseram que apesar dos israelenses realizarem pesquisas frequentes sobre questões semelhantes, o escopo incomumente grande da pesquisa Pew lhe dá peso e validade. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas pessoais em hebraico, árabe e russo entre 5.601 adultos israelense de outubro de 2014 a maio de 2015.
A margem de erro era de três pontos percentuais para mais ou para menos entre os judeus israelenses, mas maior para cada um dos subgrupos, incluindo as minorias cristã, muçulmana e drusa que constituem cerca de um quinto dos 8,5 milhões de habitantes de Israel.
O novo estudo segue uma grande pesquisa Pew envolvendo os judeus americanos, publicada em 2013, que apontou um aumento significativo daqueles que não são religiosos, se casam fora de sua religião e que não criam seus filhos como judeus, resultando em uma rápida assimilação em cada divisão do judaísmo, com exceção dos ortodoxos.
Os judeus em Israel são mais religiosos do que os dos Estados Unidos, segundo os dois estudos. Aqueles que se definem como seculares também seguem mais a religião segundo algumas medidas. Quase dois terços dos judeus israelenses dizem que se mantêm kosher (de acordo com a lei judaica) em casa, por exemplo, em comparação a cerca de um quarto dos judeus americanos.
Os israelenses que se descrevem como "haredi", o termo hebraico para ultraortodoxo, correspondem a cerca de 8% da população adulta do Estado e o grupo que mais cresce. Os judeus religiosos ("dati") correspondem a 10% de todos os israelenses adultos, e aqueles que chamam a si mesmos de tradicionais ("masorti") representam 23%.
Enquanto 56% dos judeus "dati" se posicionam na direita política, os judeus "haredim" e "masorti" igualmente de posicionam na direita ou no centro ideológico. A maioria dos judeus seculares (62%) se identifica como centrista. Apenas 8% de todos os judeus entrevistados se definiram como esquerdistas.
Tamar Hermann, que dirige pesquisas para o Instituto Israelense para Democracia e foi uma consultora não remunerada do estudo do Pew, disse que ficou sem saber se ficava chocada ou se expressava reservas em relação à pergunta de transferência dos árabes.
"A formulação da pergunta é muito direta", ela disse. "Eu me sentiria desconfortável incriminando o público israelense com base nessa pergunta", ela disse, acrescentando que mesmo assim ela seria "usada como arma" pelos críticos de Israel.
Yehuda Ben Meir, um especialista em opinião pública israelense do Instituto para Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv, disse que pesquisas anteriores exibiram forte apoio à transferência "voluntária", mas ao mesmo tempo, "se você perguntar aos judeus israelenses, 'você considera importante a integração dos árabes na economia e sociedade israelenses?' a maioria dirá que sim".
Cooperman, do Centro Pew de Pesquisa, disse que o centro decidiu manter a questão simples, especialmente por não haver no momento na mesa nenhuma proposta política específica defendendo a transferência. "Essa é a reação dos judeus à ideia geral", ele disse. "Mas as pessoas apontarão o dedo para nós."
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Ele acrescentou que a questão também deve ser vista no contexto de outros resultados, incluindo o de que menos da metade dos judeus de Israel acha que uma solução pode ser encontrada para permitir que Israel e um Estado palestino independente possam coexistir pacificamente. "Se você analisar a questão da transferência de forma isolada, posso ver como ela poderia ser usada como propaganda sobre racismo na sociedade israelense", ele disse. "Mas não deve ser vista de modo isolado."
Fonte: The New York Times.
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