Título: Justiça e Graça — Um estudo da Doutrina da Salvação na carta aos Romanos
TEXTO DO DIA
“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18).
SÍNTESE
A condenação eterna veio pela ofensa de um ato de desobediência do primeiro Adão, porém o dom gratuito da salvação veio de um ato de obediência de Cristo, que justifica toda pessoa que nEle crê.
AGENDA DE LEITURA
SEGUNDA — Rm 5.15
Pela desobediência de Adão a morte passou a reinar
TERÇA — Rm 14.17
Pela obediência de Cristo veio um novo reino de justiça
QUARTA — Rm 5.16
O dom gratuito da salvação
QUINTA — At 9.4
O apóstolo antes de conhecer a graça de Cristo perseguia a igreja
SEXTA — Rm 5.20
A lei veio para que a ofensa do pecado abundasse
SÁBADO — Rm 10.4
Jesus é o fim da lei
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
EXPLICAR que a graça de Cristo proporciona justiça e vida;
MOSTRAR o que é a graça de Cristo;
SABER que a graça de Cristo reina pela justiça para a vida eterna.
INTERAÇÃO
Caro(a) professor(a), esta lição é uma continuidade da lição anterior, que enfatizou a desobediência de Adão, e suas consequências, pecado-condenação-morte. O assunto desta lição é mais “agradável”, pois a ênfase está na graça de Cristo. Ao lermos a respeito da condenação sobre o pecado de Adão e sua descendência, podemos não entender o objetivo da criação do ser humano, se considerarmos que não tinha como se justificar. Todavia, uma questão relevante e pouco explorada nos estudos sobre o tema é o fato de Deus ter retido o julgamento sobre a humanidade até que a base para absolvição no julgamento fosse providenciada, a morte expiatória de Cristo. O que torna ainda mais interessante é a iniciativa proativa de Deus de ter planejado a solução, antes da fundação do mundo (Ef 1.4; 1Pe 1.20; Ap 13.8; 17.8). Motivo suficiente para nos mobilizarmos contra a prática do pecado e sermos gratos pela misericórdia e graça de Deus.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor(a), para a aula de hoje sugerimos uma dinâmica. Você vai precisar providenciar uma cópia da tabela abaixo, mas somente a coluna à esquerda com os dados referentes a Adão. Os alunos vão preencher a segunda coluna. Para a realização desta atividade, reserve alguns minutos no final da aula para o preenchimento e também para que façam algumas considerações. O propósito é revisar o conteúdo aprendido.
TEXTO BÍBLICO
Romanos 5.15-21.
15 — Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.
16 — E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou; porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação.
17 — Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18 — Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.
19 — Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos.
20 — Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;
21 — para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor.
INTRODUÇÃO
Ao estudarmos Romanos 5.1-11 nós vimos que os crentes são justificados e reconciliados com Deus por meio da fé no sacrifício de Cristo. Este conceito da certeza da salvação por meio de Cristo é reforçado no texto que vamos estudar nesta lição (Rm 5.15-21), com a informação paulina de que a graça de Cristo vai além do que mera anulação do pecado, pois mais do que simplesmente anular os efeitos do pecado, outorga ao crente a vida eterna com Deus.
I. A GRAÇA DE CRISTO PROPORCIONA JUSTIÇA E VIDA (vv.15-19)
1. A graça de Cristo abundou sobre todos os que creem (v.15). Neste momento o apóstolo não faz mais uso da dicotomia entre judeus e gentios, a abordagem da história da redenção é realizada em um escopo universal. A dicotomia agora é entre o relacionamento de dois homens: o primeiro e o segundo Adão (Cristo). A parte da humanidade que se relaciona com o primeiro Adão está debaixo da sentença de morte por causa da desobediência e pecado, enquanto a outra parte tem a segurança da vida eterna por causa da obediência e graça de Cristo, que abundou e desfez os efeitos do pecado. Em Cristo a humanidade renasce para uma vida plena com Ele. A graça tem muito mais a oferecer, o tempo da graça é eterno, portanto, infinitamente maior do que o tempo da escravidão no pecado e morte espiritual. A participação na morte (justificação) e na ressurreição de Cristo (glorificação), faz-nos passar da morte para a vida.
2. O dom gratuito da salvação veio de muitas ofensas para justificação (vv.16,19). O apóstolo chama o pecado de Adão de ofensa para contrastar com a palavra “dom”. Enquanto o pecado de Adão trouxe julgamento e condenação para muitos, a obra de Cristo na cruz foi abundante sobre muitos, aqueles que reconheceram seu sacrifício pela fé, sendo justificados. Se a condenação daqueles que estão em Adão é certa, muito mais garantida é a vida eterna por meio da graça e do dom da salvação para as pessoas que estão em Cristo. O contraste entre a condenação introduzida por Adão e a justificação assegurada por Cristo, traz de volta o tema central de que a justificação está disponível para “todos os que creem” (Rm 3.22). Como vimos a justificação é exclusiva para os que creem e não para “todos”, como afirmam alguns que defendem o universalismo (salvação para todas as pessoas, justas ou injustas).
3. A graça de Cristo trouxe um reino de justiça (vv.17-19). Pela desobediência de Adão a morte passou a reinar, enquanto Cristo pela sua obediência trouxe um novo reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14.17). Desse modo, é inconcebível que os que conheceram a Cristo e se dizem cristãos salvos deixem de se esforçar em benefício do reino de Deus e pela justiça, como Paulo vai enfatizar nos próximos três capítulos (Rm 6-8). Quem pertence a Cristo deve observar sua vida de obediência como vemos em Filipenses 2.8: “achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz”. A obediência de Cristo à vontade revelada de Deus envolve uma vida toda, assim também o crente deve envolver-se no reino da justiça, obedecendo à vontade revelada de Deus em sua Palavra.
Pense!
“Que um único erro de alguém deveria ser respondido com julgamento, é perfeitamente compreensível: que o acúmulo do pecado e da culpa de todas as eras deveria ser respondido com o livre dom de Deus, esse é o milagre dos milagres, muito além da compreensão humana” (Granfield).
Ponto Importante
A graça de Cristo está disponível a todos, mas somente as pessoas que creem na obra de Cristo a desfrutarão, pessoas que se submetem de forma contínua à vontade revelada de Deus.
II. A GRAÇA DE CRISTO (v.20)
1. Paulo era testemunha viva de alguém que havia sido privado pela lei. A ênfase muda, agora não é mais a dicotomia entre Adão e Jesus, mas a lei. O apóstolo tinha propriedade para falar sobre a privação daqueles que estavam debaixo da lei. Certamente ele tinha em mente a rejeição de Jesus pelos judeus, além de o terem entregado aos romanos para ser crucificado. E o próprio Paulo, quando motivado pelo rigor da lei perseguia os cristãos, pensando estar fazendo um favor para Deus. Paulo e os judeus de sua época, pela lei, afundaram no pecado. O que disse Jesus com relação aos judeus e seus algozes, durante sua crucificação? Foram somente palavras de perdão e misericórdia “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34a). Para Paulo, no caminho de Damasco, Ele disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4). A graça de Cristo superabundou para Paulo e demais judeus que creram nEle. Paulo não podia deixar de testemunhar da liberdade que ele alcançou em Cristo.
2. Paulo e seu relacionamento com os crentes judaizantes. Novamente o ensino apostólico entra em conflito com a doutrina de redenção sinagogal judaica, pois para os crentes judaizantes o cumprimento concreto da lei constitui o homem justo diante de Deus. O cumprimento da lei, segundo o ensinamento judaico, garante ao judeu um tesouro para a absolvição no dia do julgamento. Os judeus não conheciam outra forma de salvação a não ser pela lei, este era o cerne da doutrina judaica. O zelo demasiado fazia com que eles confiassem em suas próprias obras e impedia que eles alcançassem a justificação para qual a lei aponta. Os judeus deveriam ter deixado de procurar estabelecer a sua própria justiça pela prática da lei porque por ela ninguém será justificado, visto que todos, judeus e gentios, estão debaixo do pecado. Paulo, mesmo não havendo consenso pleno, jamais rompeu com os apóstolos judeu-cristãos. Contudo, o apóstolo entendeu seu chamado especial, evangelizar aos gentios, conhecidos como “os sem lei”, mas justificados por meio de Cristo Jesus.
3. O legalismo na Igreja de Cristo. O conteúdo histórico-redentor da doutrina de Paulo demonstra que a única base para a justificação é a morte e ressurreição de Cristo, sendo que Jesus é o fim da lei para justificação de todo aquele que crê (Rm 10.4). Com isso, é possível compreender nossa insuficiência, culpa e dependência da graça de Deus. O problema do legalismo não é somente algo do judeu, mas está presente como uma tentação para os cristãos também. É comum hoje encontrar crentes legalistas que não se dão conta da incoerência de suas posições, eles afirmam confiar em Cristo como Salvador, mas sentem que precisam fazer algo para merecer a sua salvação. Pastores se debatem contra o legalismo de suas ovelhas. Problemas de depressão espiritual têm, por vezes, como raiz uma apreensão defeituosa e distorcida da justificação pela fé. Ademais, na evangelização do povo brasileiro é imprescindível focalizar que Cristo põe fim à tendência humana de pensar que se pode “comprar” com obras a eterna salvação.
Pense!
Pelo pecado de Adão veio a lei para demonstrar a incapacidade de o ser humano se salvar.
Ponto Importante
O apóstolo Paulo havia “bebido” do exclusivismo da lei judaica, mas uma vez experimentado a graça de Cristo e liberto, dedica praticamente todo o período de seu ministério para pacientemente esclarecer os cristãos judaizantes que a salvação ocorre por meio da fé em Cristo, gratuitamente.
III. A GRAÇA DE CRISTO REINA PELA JUSTIÇA PARA A VIDA ETERNA (v.21)
1. Deus faz justiça. A base para absolvição no julgamento divino é a morte de Cristo e, antes da primeira vinda de Jesus, Deus fazendo justiça, não havia dado o castigo devido pelos pecados de todas as gerações anteriores. Portanto, reteve seu julgamento e fez de Cristo o meio de propiciação mediante sua morte, após ter ajuntado os pecados do mundo e lançado sobre Cristo. Na morte de Cristo Deus demonstra o julgamento justo e na sua ressurreição a prova de sua justiça. Conforme já visto, a ideia legal de um ambiente forense é demonstrada no fato de Cristo ter sofrido a morte de cruz em nosso lugar, Ele que sem pecado, foi feito pecado por nós, para que nEle fossemos feitos justiça de Deus. Aqueles que estão em Cristo, pela fé, são absolvidos no julgamento de Deus.
2. A absolvição pela fé em Cristo. Cristo realizou aquilo que é impossível aos homens, para obter-lhes a justiça, a qual ele lhes oferece gratuitamente pela fé, à parte das obras da lei. Os judeus deveriam, portanto, ter compreendido que Cristo, para aquele que crê, põe um fim a esta maneira errônea de buscar a justiça pelas obras da lei. Conforme já parcialmente mencionado, Paulo não está afirmando que a lei foi abolida, ele está tratando a partir da perspectiva da experiência dos crentes, do problema do legalismo dos judeus: Cristo, para o crente, é o fim do legalismo. A graça de Deus é dada sem lei, ou seja, é uma experiência caracterizada pela alegria que causa, pois não exige de quem recebe nenhum pressuposto ou preparo, simplesmente é um puro presente que jorra de Deus sobre sua criação humana. Uma vez justificado, basta ao crente manter sua fé obediente em Cristo para ter uma vida eterna com Deus, não descuidando de sua salvação, seu bem mais precioso.
Pense!
Jovem, que vida você tem escolhido? A vida da desobediência à vontade de Deus, como o exemplo de Adão, ou a vida de obediência, como o exemplo de Cristo?
Ponto Importante
O fruto da desobediência humana só pode desfrutar do complexo gerado a partir de Adão: pecado-condenação-morte. Mas todas as pessoas que seguirem o exemplo de obediência de Jesus desfrutarão da salvação completa: justiça-justificação-vida eterna.
CONCLUSÃO
Nesta lição, estudamos a relação tipológica entre Adão e Cristo (segundo Adão) e foi possível constatar o que eles trazem de similar é o fato de ter o ato de cada um, desobediência e obediência, respectivamente, implicado em consequências para os grupos que pertencem a eles, morte eterna separada de Deus ou vida eterna com Deus.
ESTANTE DO PROFESSOR
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2014.
RICHARDS, Lawrence O. Guia do leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse Capítulo por Capítulo. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012.
HORA DA REVISÃO
1. Por que o apóstolo chama o pecado de Adão de “ofensa”?
O apóstolo chama o pecado de Adão de ofensa para contrastar com a palavra dom.
2. O que defende o universalismo?
O universalismo defende que no julgamento final todas as pessoas serão salvas, independente de terem sido justas ou não durante sua vida terrena.
3. O que Jesus disse durante sua crucificação com a respeito dos judeus e seus algozes?
Jesus disse somente palavras de perdão e misericórdia: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34a).
4. Qual era o cerne da doutrina judaica?
A crença de que o cumprimento da lei garante ao judeu um tesouro para a absolvição no dia do julgamento. Os judeus não conheciam outra forma de salvação a não ser pela lei, este era o cerne da doutrina judaica.
5. Explique a frase: Deus faz justiça, uma vez que não julgou o ser humano antes da morte de Cristo.
A base para absolvição no julgamento divino é a morte de Cristo e, antes da primeira vinda de Jesus, Deus fazendo justiça, não havia dado o castigo devido pelos pecados de todas as gerações anteriores. Reteve seu julgamento e fez de Cristo o meio de propiciação.
SUBSÍDIO I
“[...] Jesus é o segundo Adão, o fundador de uma nova raça de homens e mulheres nos quais a vida foi restaurada. Ao estabelecer novo relacionamento, através de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos afastamos do reino do pecado para o reino da justiça e da vida, onde reina a graça. Somos finalmente capazes de nos tornar aquele que, segundo a intenção de Deus, a humanidade sempre teria sido.
Aplicação. É difícil entender a razão exata por que ou como tudo isso é verdade. No entanto, não podemos duvidar que o pecado de Adão causou uma grande mutação em nossa raça, e se tornou a fonte inesgotável do pecado e do sofrimento. O pecado de Adão mudou seu relacionamento com Deus, e também modelou nossa inata atitude em relação ao Senhor.
No final, ‘pecado’ e ‘morte’, e também ‘vida’ e ‘justiça’ são todos termos relacionais, pois seu significado mais profundo reflete a verdade sobre a natureza de nosso relacionamento com Deus. Não é somente o que fazemos que nos transforma em pecadores; é o fato de estarmos alienados de Deus. Não é o que fazemos que nos salva, pois o que pode salvar é o relacionamento com Ele. E no evangelho, através de Jesus Cristo, isto se tornou agora disponível a todos nós” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2014, p.301).
SUBSÍDIO II
“Graça
O conceito de graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras Sagradas. No AT, hen, favor, é o favor imerecido de um superior a um subalterno. No caso de Deus e do homem, hen é demonstrado por meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31.2; Êx 33.19).Hesed, benevolência, é a firme benevolência expressa entre as pessoas que estão relacionadas, e particularmente em alianças nas quais Deus entrou com seu novo povo e nas quais sua hesed foi firmemente garantida (2Sm 7.15).
Na literatura grega a palavra charis tinha os seguintes significados: (1) Era usada para aquilo que causava atração, tal como a graça na aparência ou na fala. (2) Era usada quanto a um favor.
Mas foi somente com a vinda de Cristo que a graça assumiu seu significado pleno. O seu auto-sacrifício é a graça propriamente dita (2Co 8.9). Essa graça é absolutamente gratuita. Quando recebida pelo crente, ela governa sua vida espiritual compondo favor sobre favor. Ela capacita, fortalece e controla todas as fases da vida. Consequentemente, o cristão dá graças (charis) a Deus pela riquezas da graça em seu dom inefável (2Co 9.15)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2009, p.876).Comentarista: Natalino das Neves
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