4 de março de 2016

3 - Os magos do oriente Mt 2, 1-12


Os magos do oriente, 2.1-12

1 Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém.
As palavras em dias do rei Herodes expressavam a essência da crueldade e terror. O cognome histórico Herodes magno talvez pudesse ser interpretado como sendo Herodes o grande, não na condução dos negócios do Estado, e sim como egoísta, trapaceiro, assassino, tirano e criminoso. De origem ele era um idumeu grosseiro, que ganhava o pão pela espada e que não queria parar de odiar Israel. A dinastia heróica dos macabeus foi destronada por ele. Fez execut ar pelo imperador em Roma o último macabeu, Antígono. Depois conquistou, com a ajuda dos romanos (i. é, dos inimigos da pátria), a cidade de Jerusalém, causando dentro dela um horrível banho de sangue. Depois assassinou seus rivais um após o outro. O povo judeu odiava-o profundamente. De fato, parecia ter chegado o tempo em que o cetro era afastado de Judá. Parecia que a bênção de Jacó seria totalmente convertida em maldição, e Israel iria ao encontro de sua ruína definitiva…
Essa descrição é suficiente para ilustrar para nós a breve e tão carregada frase em dias do rei Herodes.
Eis que vieram uns magos. Assim como em 1.20 o anjo foi anunciado com um “eis”, também os magos são apresentados com um “eis”. Aqui como lá a intenção é indicar surpresa. Era algo inusitado que pagãos, os quais perante os judeus não valiam nada, de repente ocupassem a cena!
Sua pátria era a região entre os rios Eufrates e Tigre. Lá, no reino dos babilônios, se praticava com especial dedicação a astrologia! – Desde o exílio babilônico (6 séculos antes), o grupo remanescente de judeus (chamados de judeus da diáspora) provavelmente constituía um grupo influente do reino da Babilônia! Esses judeus na diáspora não se limitavam a levar uma vida isolada no silêncio, mas empenhavam-se assiduamente em fazer propaganda de sua religião!
Citemos apenas um exemplo: Daniel! Sobre sua influência marcante no mundo babilônico veja Dn 2.48; 5.11. Será que, nessa posição influente, Daniel não teria falado repetidamente do Deus único e do rei vindouro? Creio que sim! A notícia do nascimento de um rei que estava para vir também era conhecida no mundo pagão!
Uma caravana como o séquito dos magos não é um caso isolado. O escritor judaico Josefo relata a peregrinação de Helena, mãe de um príncipe babilônico, até Jerusalém! Esse príncipe pagão converteu-se ao judaísmo com toda a sua casa. O acontecimento deu-se cerca de 40 a 50 anos após a nossa história dos “magos do Oriente”!


2 E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente (na Anatólia) e viemos para adorá-lo.
A tradução usual “o recém-nascido rei” dá ocasião para enganos, pois induz sempre de novo à suposição de que a história dos “magos” teria acontecido imediatamente após o nascimento de Jesus.
Há, no entanto, um decurso de tempo de um a dois anos entre a história de Belém e a “adoração dos magos”. No v. 16 lemos: “Mandou matar todos os meninos […] de dois anos para baixo…” Além disso, Maria não vivia mais com o menino Jesus naquela estrebaria do Natal, à qual chegaram apressadamente os pastores, mas tinha encontrado um abrigo numa casa depois que as multidões afluídas a Belém por causa do “recenseamento” haviam retornado para suas terras. O v. 11 fala expressamente de uma casa em que se encontrava o menino Jesus. – Todos os desenhos que retratam os magos numa estrebaria não são biblicamente corretos.
A pergunta dos magos: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? É formulada de modo tipicamente pagão! Os magos não indagam pelo nascido Cristo, e sim pelo “rei dos judeus”. Cf. a inscrição na cruz. “Judeus”, é assim que falam os pagãos. Com as palavras: “Vimos a sua estrela”, eles se apresentam em Jerusalém.
Não poderíamos considerar essa história da “estrela sobre a casa de Belém” como uma prova da unidade entre criação e Criador? As épocas grandiosas na história do reino de Deus sempre foram acompanhadas por acontecimentos no âmbito da terra e das estrelas.
Os magos dizem: Viemos adorá-lo. – No texto original essa palavra significa: ajoelhar-se e tocar com a testa na terra. Quem se curva dessa maneira declara sua total sujeição à pessoa honrada. Por isso, traduzir com “venerar” seria tecnicamente melhor do que “adorar”.


3 Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém;
Os magos experimentam uma grande decepção. Não apenas que ninguém, a quem perguntam, sabe algo do rei dos judeus, que foi nascido, mas também que sua pergunta contente causa susto e medo em todas as faces. Toda Jerusalém ficou alvoroçada, porque se temia um novo banho de sangue do desconfiado e furioso Herodes. Um historiador destaca a seguinte situação: Pouco antes de os magos terem chegado, alguns fariseus fanáticos teriam profetizado a uma parente de Herodes que o descendente dela receberia a honra de rei e Herodes perder ia o trono. Diante disso, Herodes, resoluto, mandou executar esses fariseus! Instintivamente perguntamos: Será que Herodes também não poderia simplesmente ter mandado matar os “magos”? Com certeza essa pergunta foi levantada.
Mas cremos que Herodes foi muito astuto para fazê-lo. Primeiro auscultar os magos… mais tarde talvez assassiná-los.


4 … então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer.
“Convocou a todos” é, no texto original, a fórmula técnica para a convocação do conselho. Reúne-se o Sinédrio (i. é, o supremo conselho, cf. opr). O termo “todos” demonstra que o Sinédrio tinha de comparecer completo. E todos os conselheiros compareceram.
São mencionados dois grupos:
• Os chefes dos sacerdotes, os arqui-sacerdotes (no texto original uma formulação semelhante ao conhecido “arcebispo”, o bispo presidente de uma região);
• Os escribas do povo. São designados “do povo” porque compareciam à assembleia por força do encargo que receberam do povo.
Esses dois grupos de autoridades eram convocados sempre que havia necessidade de tomar uma importante decisão teológica. A pergunta teológica agora era: Onde vai nascer o Cristo? Da forma grega do verbo, que está no tempo imperfeito, pode-se depreender acertadamente que Herodes repete sempre de novo as suas perguntas, para descobrir com exatidão qual é a opinião predominante nessa questão tão extremamente vital para ele.


5,6 Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel.
A enfática negação não és de modo algum explica a profecia a partir de seu cumprimento. Agora que nasceu o Cristo, Mateus não pensa mais na pouca importância da pequena Belém, mas sim no grande e glorioso fulgor que lhe foi concedido pelo nascimento do Cristo.
A frase o qual apascentará o meu povo, Israel (cf. Schlatter) não provém de Miquéias 5.1,3, mas Mateus retirou essa palavra de 2 Sm 5.2. Lá consta: “Tu apascentarás o meu povo de Israel”. O termo “apascentar” é expressão de “governar”. “Pastor” é frequentemente usado para “soberano” (Jr 23.1ss; Ez 34; 2Sm 7.7 etc.).


7,8 Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo.
Informado sobre o local, Herodes tenta descobrir, com a ajuda dos magos, também a época do nascimento do temido novo rei dos judeus. Contudo, para que, de forma alguma, a cidade soubesse do grande interesse que ele tinha pela criança, solicita que os magos venham até ele secretamente.
Quer saber tudo com exatidão, para daí estabelecer suas determinações! Estava firmemente decidido a sufocar na raiz qualquer movimento messiânico. Como mestre na arte da dissimulação, fingia interesse religioso diante dos magos.


9 Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou (no alto, sobre o local) sobre onde estava o menino.
Os magos viajavam à noite! No Oriente costuma-se viajar à noite. Puseram-se a caminho logo que foram dispensados do palácio do tirano, para o qual ele os certamente chamou à noite. Ou seja, viajaram na mesma noite! Esse caminho noturno de 2 horas (Belém distava 8 km de Jerusalém) talvez tenha sido no começo bastante angustiante. Pois as impressões que colheram em Jerusalém devem ter pesado sobre suas almas. Como devem ter sido grandes as suas expectativas quando chegaram a Jerusalém. Nessa capital real esperavam encontrar aquilo que tinha sido o ardente desejo de sua árdua e dispendiosa viagem. – E como pode ter sido amarga sua decepção quando tiveram de experimentar ali uma recepção inesperadamente estranha e fria. Sim, sua pergunta pelo r ei nascido dos judeus em toda parte havia causado tão somente horror.
Tanto mais fácil compreendemos o que diz o v. 10:


10 E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo.
Com uma alegria descrita por Mateus com as expressões mais fortes, eles exultam com a mesma estrela que já haviam visto em sua terra. A palavrinha “eis” no v. 9 expressa mais uma vez, como sempre, a surpresa! Extremamente felizes, após as decepções em Jerusalém, seguiram o seu caminho. A forte ênfase na alegria permite inferir a anterior aflição de seus corações.


11 Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.
É curioso que não se menciona José. Talvez porque neste momento não tenha sido imprescindível mencioná-lo. Maria é mencionada porque estava numa relação singular e única com o menino Jesus.
– É interessante que neste cap. 2 se usa 4 vezes a palavra “criancinha”, enquanto Lucas emprega o termo “criança recém-nascida”, “lactente”. Também aqui se conclui o que afirmamos antes em relação ao v. 2, que entre o Natal e a visita dos magos devem ter transcorrido quase 2 anos.
Pelo costume do Oriente combina-se a veneração com a oferta de presentes. Os presentes ouro e incenso remetem a Is 60.6.
Alguns pais apostólicos depositam um grande significado simbólico nos três presentes dos magos.
O ouro destina-se ao menino Jesus enquanto rei. O incenso é presenteado ao menino Jesus pelo fato de ser ele o Deus a ser adorado. A mirra, de gosto amargo, foi oferecido ao menino Jesus como aquele que, como Redentor, um dia haveria de provar a amarga morte na cruz. Assim dizem alguns deles. – No século V a interpretação da igreja antiga concluiu do número de 3 presentes que os magos devem ter sido três reis. No século VIII também se sabia os nomes desses reis, quais sejam, Gaspar, Melquior e Baltazar. Em seguida pensava-se que os três magos significavam as três famílias de povos: Sem, Cam e Jafé. – De tudo isso o evangelho de Mateus não tem conhecimento algum.


12 Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes, regressaram (forçados e constrangidos) por outro caminho a sua terra.
Os magos são protegidos do perigo de serem usados como espiões para a fúria assassina do homicida múltiplo Herodes.
O próprio Deus mais uma vez interveio. A instrução celestial pelo sonho indica que já agora, com a chegada do Senhor, caiu a barreira entre judaísmo e paganismo. Deus estabelece contato direto com os pagãos. E os magos obedecem à voz de Deus. Com certeza retornaram ainda na mesma noite à sua terra.
De que modo maravilhoso o primeiro evangelho do NT descreve como já agora são convocadas primícias dentre os pagãos (cf. a Introdução a Mt). Por isso, com grande gratidão a Deus que enviou seu Filho também aos pagãos, os cristãos celebram a memória dos magos na festa de Epifânia (6 de janeiro), que significa a aparecimento de Cristo no mundo pagão!
Fonte: Mateus - Comentário Esperança

Nenhum comentário:

Postar um comentário