O gesto, que é considerado pela imprensa um “fenômeno da comemoração coletiva cristã”, teve início no Campeonato Paulista de 2015. Era a maneira mais comum de comemorar do Santos, time que conta com pastor Ricardo Oliveira, atleta que mais fez gols no Brasil este ano.
Na verdade, não se trata de uma inovação. Marcos Grava, pastor batista e atual presidente do Atletas de Cristo, lembra que essa comemoração nasceu na Coreia do Sul. Na década de 1980, o Hallelujah-Immanuel Football Club, um time cujo dono era evangélico estimulava a fé dos jogadores. A equipe tinha vários jogadores evangélicos e por isso, começaram a se ajoelhar e erguer as mãos para o céu a cada gol.
O time sul-coreano acabou fechando em 1998, mas sua marca ficou. “No Brasil, há um bom tempo essa prática vinha sendo feita de maneira individual por alguns atletas. Agora, ela passou a ser coletiva”, explica Grava.
Não há uma contagem oficial, mas a comemoração tornou-se este ano uma cena frequente no futebol nacional, das Séries A à D. Até o time sub-13 do Santos já foi visto fazendo o gesto. “Essas manifestações pacíficas e não ofensivas por parte de ídolos do futebol são copiadas por milhares de jovens em todo o planeta”, ressalta Grava.
O Santos conquistou o título do Paulistão e seu artilheiro foi o pastor Ricardo Oliveira, da Assembleia de Deus.
“Essa comemoração não é uma regra, não é uma imposição. No momento do gol, queremos glorificar a Deus. Isso só mostra que todos estão pensando da mesma forma”, explica o jogador, que foi convocado para a Seleção Brasileira este mês. Curiosamente, durante muitos anos, a Assembleia ensinou que seus membros não deveriam jogar futebol.
O atual lateral direito do Cruzeiro, Ceará também é pastor. Em 2012, foi ordenado pela igreja enquanto jogava pelo PSG. Em Paris, chegou a batizar colegas de time. “Acho ótimo que tantos jogadores estejam comemorando os seus gols dessa maneira. Significa que eles são gratos a Deus pela graça do gol. Um atleta de alto rendimento precisa de um apoio a mais. E esse apoio vem da fé. Quem se compromete com Deus tem resultados extraordinários”, declarou.
A relação do futebol e da religião é tema da tese de mestrado do sociólogo Clodoaldo Leme, pesquisador do Departamento de Ciências da Religião da PUC, de São Paulo. O título é sugestivo: “É Gol! Deus é 10 – A religiosidade no futebol profissional paulista e a sociedade de risco”.
Leme explica que o futebol brasileiro (e latino-americano) sempre esteve uma ligação com a religião. No começo do Século 19, os jesuítas introduziram o ensino do futebol em suas suas escolas.
Oficialmente a FIFA proibiu comemorações religiosas. Comuns no passado, camisetas com inscrições sobre Jesus praticamente desapareceram dos gramados. O técnico Dunga recentemente afirmou que “Seleção não é lugar para religião”, e proibiu os cultos na concentração.
Para o técnico Muricy Ramalho, a questão é outra. “Se não correr, não adianta nada rezar. Até porque todo mundo pede a mesma coisa, todos pedem para ganhar. Deus ajuda quem trabalha. Mas, se perdemos, não foi porque Deus não quis, e, sim, porque o outro foi mais competente”, assevera.
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