A postagem recebeu em dois dias mais de 200 comentários, quase todos cobrando um posicionamento imediato do deputado.
Os parlamentares indecisos como Mendes têm sido mapeados e seus nomes muito bem divulgados por movimentos favoráveis e contrários ao impeachment, em ações que envolvem desde o estímulo a cobranças nas redes sociais até a divulgação de celulares e endereços residenciais de quem está em cima do muro.
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Os movimentos comemoram os efeitos da pressão e prometem intensificá-la nesta semana.
Deputados pressionados, contudo, dão sinais de que a insistência dos grupos pode ter efeito reverso.
"Quero ser convencido, não intimidado. Como se o eleitor normal, no dia da eleição, ao ir pra urna, não tivesse dúvida em quem votar", disse Mendes àFolha na última sexta.
O movimento Vem pra Rua, responsável pelo Mapa do Impeachment, credita boa parte da evolução que o apoio ao impeachment ganhou no último mês –segundo seu próprio levantamento– à pressão exercida sobre cada um nas redes e em seus gabinetes em Brasília.
Pelo mapa, desde 13 de março, o número de indecisos na Câmara caiu de 214 para 102, o de favoráveis ao impeachment subiu de 170 para 286 e os contrários caíram um pouco, de 129 para 125.
São necessários 342 votos favoráveis na Câmara para que o impeachment siga para o Senado.
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Do outro lado, o Mapa da Democracia, do Comitê Pró-Democracia, formado por integrantes de movimentos de esquerda, a contagem está em 253 "golpistas", 133 indecisos e 127 deputados "favoráveis à democracia".
Eles não publicam a evolução dos votos.
"A pressão popular pode ter um efeito maior que a barganha de cargos, porque a barganha talvez dê para eles a ilusão de que eles vão ter um cargo num governo que não existe, e a pressão popular vai fazer com que os que estiveram contra o impeachment não sejam eleitos nunca mais", diz o porta-voz do Vem pra Rua, Rogério Chequer.
Segundo ele, vários parlamentares têm ligado pedindo que sua posição seja mudada para a favor do impeachment no mapa.
"Mas nós exigimos uma manifestação pública pra isso e eles não querem se comprometer para manter as opções políticas", afirma.
Um dos responsáveis pelo Mapa da Democracia, Uirá Porã também disse já ver resultado entre os deputados que receberam emails que são disparados pelo próprio site. "Alguns estão inclusive tentando filtrar de alguma maneira", disse.
Deputados consultados foram unânimes em dizer que a pressão popular é mais efetiva entre quem disputará cargo neste ano.
Os movimentos já o perceberam e fazem da suscetibilidade uma estratégia na reta final para a votação do impeachment na Câmara.
PRESSÃO INDIRETA
O algoritmo usado no Mapa do Impeachment para selecionar os deputados indecisos que vão ser divulgados leva em consideração a questão eleitoral.
No caso do Movimento Brasil Livre, a sensibilidade representada pelas eleições deste ano levou o movimento a colocar como um dos focos da pressão alguém fora do Congresso: o vereador Andrea Matarazzo, que deve disputar a prefeitura de São Paulo pelo PSD, para que ele pressione Gilberto Kassab, ministro das Cidades e principal nome do partido, a apoiar o impeachment.
O deputado Aliel Machado (Rede-PR), que será candidato à prefeitura do município de Ponta Grossa, está no grupo dos mais visados.
Ele, no entanto, diz que a pressão de fora de seu Estado não terá "tanta influência" no processo. Entre seu eleitorado, ele já encomendou pesquisas qualitativas sobre o impeachment.
"80% das mensagens que recebo são de pessoas que dizem que não vão mais votar em mim e são eleitores que moram em outros estados. Não tem nem lógica", afirma.
O Movimento Brasil Livre (MBL) também tem feito ações nos bairros e em frente às casas de parlamentares indecisos em todo o país –às vezes com o uso de carros de som. Segundo o movimento, tudo é financiado por doações que o MBL em cada Estado busca em sua região.
O MBL é, entre os três movimentos contatados pela Folha, o único que divulga celulares e endereços residenciais dos parlamentares (esse último, para quem se inscrever no site para participar das ações em seu Estado). Renan Santos, um dos coordenadores do MBL, defende a prática: "Eles são representantes públicos. Se eles não quiserem prestar contas para a sociedade de forma democrática, que não sejam representantes."
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