Notícia - Um ano depois, meninas sequestradas na Nigéria viram terroristas

Testemunhas falam em “lavagem cerebral”

Meninas sequestradas na Nigéria viram terroristas

No dia 14 de abril de 2014, mais de 250 jovens foram levadas de um internato em Chibok, cidade do Estado de Borno, na Nigéria. Seus sequestradores, o grupo radical islâmico Boko Haram, é famoso por perseguir e matar os cristãos nigerianos.

As estudantes tinham entre 16 e 18 anos, e se tornaram símbolo de uma campanha internacional contra o tráfico humano. O governo nigeriano fracassou na tentativa de resgatá-las. Algumas fugiram e contam os horrores que enfrentaram.

Agora, uma reportagem da BBC revela que muitas das alunas sequestradas que eram cristãs hoje matam cristãos em nome da jihad – guerra santa do Islã.

Três mulheres que fugiram do Boko Haram contam que as meninas de Chibok passaram por uma “lavagem cerebral” e regularmente realizam punições em nome do Estado Islâmico, grupo extremista ao qual os nigerianos se aliaram.

Miriam (nome fictício), de 17 anos, ficou mais de seis meses como refém do grupo. Conta que foi forçada a se casar com um militante e agora está grávida dele. Lembra que as meninas que se recusaram a casar tinham sua garganta cortada na frente das demais.

“Eles diziam: ‘Vocês, mulheres, deveriam aprender com seus maridos porque eles estão dando sangue pela causa. Nós também devemos ir à guerra em nome de Alá”, ouviam repetidamente no acampamento.

Submetidas a um regime de medo, com comida e sono rareados, as meninas foram sendo forçadas a matar toda vez que os soldados invadiam um vilarejo.

“Todos [os mortos] eram cristãos. Eles [combatentes do Boko Haram] forçaram os cristãos a se abaixarem. Então, as meninas cortaram as gargantas deles”, conta Miriam.

Anna (nome fictício), de 60 anos, também escapou das mãos dos radicais. Ela conta que todas as mulheres andam armadas e muitas das estudantes de Chibok foram radicalizadas.

“Eles colocavam as meninas como professoras para ensinar grupos de mulheres e meninas a recitar o Alcorão, relata. Também as viu matar outros cristãos, mas defende: “Não é culpa delas. Foram forçadas a fazer isso. Qualquer um que ver as meninas Chibok irá sentir pena delas”.

A última imagem pública das meninas de Chibok é um vídeo, publicado em maio, onde cerca de 130 delas recitam o Alcorão e seguram a bandeira do califado proclamado pelo Estado Islâmico.

A estratégia do Boko Haram para que elas percam a identidade e humanidade é expor mulheres à violência extrema. A maioria acaba aceitando a ideologia dos militantes para não morrer.

Faith – adolescente que fugiu com Mirian e Ana – explica a rotina dos primeiros dias. “Todos os dias, ao amanhecer, eles vinham e jogavam água para nos acordar e forçavam a rezar”.

Faith.

Um dia, eles trouxeram um homem de uniforme. Mandaram ela matar aquele soldado inimigo. Lhe deram uma faca para que cortasse o pescoço dele. Quando Faith disse que não poderia fazer isso, “Eles cortaram o pescoço na minha frente. Eu, então, desmaiei”, lembra.

Ameaçada de morte várias vezes, ela conta que as mulheres tinham “mais medo das esposas do que dos maridos”.

O governo estima que o Boko Haran já matou mais de 5.500 civis, a maioria cristãos. Segundo a Anistia Internacional, cerca de 2 mil mulheres foram sequestradas pelo Boko Haram no último ano. Não se sabe quantas continuam vivas.
Fonte: BBC