8 de novembro de 2017

Noticia: A Hungria contra o “perigoso plano” de George Soros

O governo ultra-conservador de Budapeste está promovendo uma consulta popular sobre um inexistente “Plano Soros” que levaria um milhão de refugiados por ano a se instalar na Hungria.
A carta que o governo enviou para todas as famílias húngaras mostra a foto de um homem idoso, iluminado em uma luz fria e sombria, que deixa seu sorriso sinistro. O texto diz: “Este é George Soros, um dos bilionários mais influentes do mundo. E este é seu perigoso plano: desmontar as barreiras nas fronteiras, permitir o ingresso de um milhão de migrantes por ano na Hungria, dar 9 milhões de forint (cerca de 112.700 reais) em subsídios públicos para cada migrante”. Então, uma pergunta é feita aos eleitores: “O que você acha disso tudo? Vote na consulta nacional sobre o Plano Soros”.

Eis mais um episódio da guerra que o governo da Hungria declarou contra o bilionário húngaro George Soros. O magnata das finanças é acusado de conspirar em favor de uma “invasão de imigrantes”, subverter a estrutura econômica húngara e acabar com a cultura ocidental.

Nenhum “Plano Soros” jamais existiu. Mas isso não importa. O homem que hoje ocupa o 29º lugar na lista dos mais ricos do mundo da Forbes tenta há anos convencer os europeus a acolher refugiados e distribuí-los de forma proporcional em todos os países da União Europeia. Inclusive na sua terra natal.

É uma afronta inaceitável para o primeiro-ministro húngaro, o ultra-conservador Viktor Orbán, do partido Fidesz, que tenta transformar Soros no inimigo público número um desse pequeno país centro-europeu.

“Orbán precisa de um símbolo, um inimigo contra quem mobilizar o número decrescente de seus apoiadores. É assim que quer criar o mito de si mesmo como defensor da nação”, diz a EXAME Pál Vastagh, ministro da Justiça da Hungria entre 1994 e 1998 e ex-embaixador húngaro no Canadá.

Investidor de passado polêmico e filantropo reconhecido, Soros é favorável a uma sociedade aberta, é internacionalista, financiador do Partido Democrata dos Estados Unidos, comprometido com os direitos dos refugiados, e ainda por cima judeu. Ou seja: é o inimigo perfeito. Orbán parece odiá-lo com uma determinação fora do comum.

Mas, na verdade, o conhece há um bom tempo. O próprio Orbán estudou em Oxford graças a uma das muitas e generosas bolsas oferecidas pelo filantropo húngaro. Soros nasceu em Budapeste há 87 anos antes de fugir das perseguições nazistas no Reino Unido e depois nos EUA, onde construiu sua fortuna financeira.

Soros chegou até a apoiar Orbán no começo de sua carreira política, quando lutava contra o comunismo, mas hoje não faz mistério de se arrepender de ter contribuído a criar essa personagem, acusando Orbán de ter transformado a Hungria em um “estado mafioso”.

Nos últimos meses o governo húngaro lançou uma campanha de propaganda espalhando em todo o país outdoors com o rosto de Soros sorrindo com a frase “não deixe George Soros rir por último!”. Órban ressalta sempre que pode a imagem de investidor desalmado e despreocupado com o futuro de países que acompanha Soros desde ele ter feito fortuna apostando contra a libra, no início dos anos 90, em episódio que deixou o Reino Unido de joelhos.

Sua atuação política também costuma ser alvo de contestação. Soros admitiu ao vivo para a CNN ter financiado a “Revolução Laranja”da Ucrânia por meio de ONGs locais, o que levou à reação russa na Crimeia e à atual guerra civil. Soros também já foi acusado de financiar a Revolução das Rosas na Geórgia, a das Tulipas no Quiguistão e a Revolução Verde no Irã, esta última duramente reprimida pelo regime de Teerã com centenas de mortos.
Órban e seus amigos

Para Soros, isso tudo não é nenhuma novidade. Desde que doou 8 bilhões de dólares para apoiar a transição para a democracia e os direitos humanos em boa parte dos países da Europa do leste após a queda do Muro de Berlim, sempre surgiu alguém a acusá-lo de chefiar tramas ou conspirações internacional.

Mas na época de novos nacionalismos, a Soros-fobia está alimentando uma verdadeira indústria política internacional. Somente no ano passado, Soros foi acusado de complô para subverter os governos da Macedônia e da Rússia, de financiar protestos contra Donald Trump nos Estados Unidos e de ter inventado um inexistente ataque químico na Síria. Soros estaria por trás dos financiamentos clandestinos dos barcos de ONGs que salvam migrantes no Mediterrâneo para trazê-los para a Itália. Até o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu o acusa de conspirar para favorecer os palestinos.

Na Hungria, a campanha contra Soros lançada por Orbán tem um evidente fim eleitoral, em previsão das próximas eleições marcadas para 2018, e reitera a linha de nacionalismo duro e anti-europeu do partido de governo, o Fidesz. Mas a questão mais incrível é que tudo isso acontece em uma nação que faz parte da UE e pagou um preço trágico aos totalitarismos do século passado.

Em uma entrevista ao Financial Times, o porta-voz de Orbán argumentou que o único objetivo do governo é lutar contra a “imigração ilegal”.

A própria União Europeia não consegue condenar abertamente as medidas do governo da Hungria contra Soros. Em Bruxelas muitos explicam que, sem Orbán, a deriva nacionalista e xenófoba húngara seria pior, pois há partidos ainda mais extremistas do que Fidesz, como o Jobbik.

“Órban quer garantir o poder de longo prazo do atual governo e, assim, garantir que todos os recursos públicos sejam direcionados aos negócios de seus apoiadores, como evidenciado pelo enriquecimento incrivelmente rápido e descarado da elite política pró-governo”, explica Vastagh.

Mas o fato é que a guerra da Hungria contra George Soros tem desencadeado reações ultra-nacionalistas entre a população local. Na Hungria, o tema é um barril de pólvora, baseado em sentimentos que vêm do final da primeira guerra mundial – a famosa “Síndrome de Trianon”, lembrando o tratado que pôs fim à Primeira Guerra e que desmantelou a então poderosa Hungria em favor da Europa do oeste.

Soros, neste contexto, consegue personificar num só corpo todos os inimigos do valentão Órban.
Fonte: Exame

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