Na manhã desta sexta-feira (4), após ser anunciado que Lula havia sido levado por policiais para depor no aeroporto de Congonhas, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, chegou a se valorizar quase 6%.
O índice fechou o dia com alta de 4,01%. E na quinta-feira já havia subido 5,12% com as notícias de que o vazamento de uma suposta delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT) implicaria Lula e a presidente Dilma Rousseff no escândalo da Petrobras.
Na semana, a alta acumulada foi de 18% - a melhor desde 2008.
Entre as ações que mais subiram estão as da Petrobras. Em São Paulo, os papéis da empresa fecharam o dia com valorização de 9,89%.
O dólar também despencou frente ao real, chegando a ser negociado a R$ 3,65. A moeda americana fechou o dia a R$ 3,76. E na semana, o recuo foi de 5,93%, a maior queda em sete anos.
Mas afinal por que o mercado está tão "animado" com a operação contra Lula?
"A questão é que, apesar de até agora não haver evidências de participação pessoal da presidente (Dilma Rousseff) nos malfeitos (investigados pela Lava Jato), essas notícias estão minando a base de sustentação política do governo", explica Francisco Petros, ex-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec) e sócio do escritório Fernandes, Figueiredo, Françoso e Petros Advogados.
"O mercado está interpretando que, diante desse novo cenário, é mais provável que Dilma não termine seu mandato, o que, na sua avaliação, criaria condições para uma retomada da economia."
Renovação
A consultoria política Eurasia Group, por exemplo, agora estima a probabilidade de que Dilma chegue a 2018 no poder em apenas 40%.
A convocação de Lula para depor "sugere que Rousseff não deve terminar seu mandato. A decisão de procuradores federais e da Polícia Federal de fazer buscas na casa de Lula não apenas sugere que as investigações encontraram mais evidências para implicar o ex-presidente, mas também que o tamanho e escala da operação devem crescer nos próximos meses", diz um relatório da consultoria.
Para André Perfeito, da Gradual Investimentos, um cenário que vem ganhando força recentemente é uma possível "desfiliação" de Dilma do PT e filiação a outro partido - sendo o mais provável o PDT.
"A presidente Dilma está construindo uma agenda que entra em choque com a base do PT no Congresso e vários parlamentares têm se posicionado contra algumas propostas", escreveu.
"A votação recente sobre o fim da obrigatoriedade de a Petrobras entrar em todas as áreas de exploração do pré-sal deixou exposto o mal-estar (...). Se ela se desfiliar, o PT pode se fortalecer junto a sua base para concorrer às eleições municipais de maneira mais coerente. Para a presidente, também seria bom se afastar do PT que tem acumulado notícias ruins dado as operações investigativas em curso."
Para Thiago Biscuola, da RC Consultores, a percepção é de que "um novo governo poderia gerar um 'choque de confiança' e impulsionar uma série de reformas positivas, como fez Maurício Macri, na Argentina".
"Seria uma renovação após mais de uma década de governo de um partido que está resistindo em fazer reformas necessárias. Daí a alta do Ibovespa", diz.
"Mas é claro que esse caminho é árduo - e se a bolsa subiu nesta semana, provavelmente haverá uma reversão em algum momento. Teremos grande volatilidade nos mercados até que a situação política se defina."
Instabilidade
Neil Shearing, economista-chefe de mercados emergentes da consultoria Capital Economics, concorda.
"O cenário é incerto e dependerá da forma como as investigações vão caminhar daqui para frente, se a presidente será ou não diretamente envolvida no esquema de corrupção da Petrobras", diz ele.
"É provável que, nesse meio tempo, continuemos a ter essa montanha-russa nos mercados, com o dólar subindo ou descendo. Inclusive porque o que aconteceu hoje não necessariamente significa uma mudança na política econômica do governo".
Para Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que foi conselheiro econômico de Lula e professor de Dilma, o mercado joga "contra" o governo e tem trabalhado para que o aprofundamento da crise econômica se torne uma profecia autorrealizada.
"Os agentes do mercado financeiro são pessoas de carne e osso. Cada 'agente' acha que age racionalmente, mas o resultado é um comportamento de manada que nem sempre faz sentido", diz Belluzzo.
"Se o mercado acha que tirando Dilma vai resolver a situação econômica do país, por exemplo, está muito enganado. Até porque essa recessão é em parte resultado dos cortes de gastos e políticas ortodoxas que a presidente adotou ao ser pressionada pelo próprio mercado", opina.
Perfeito, da Gradual, também acha que muitos de seus colegas do mercado erram em sua aparente convicção de que um afastamento de Dilma aceleraria a recuperação econômica.
"Acho difícil pensar que um eventual governo (do vice Michel) Temer (PMDB) se comprometeria com um ajuste fiscal em um ano eleitoral, por exemplo", diz Perfeito.
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