22 de janeiro de 2016

Notícia: Lava Jato chega à Argentina: deputada denuncia ex-ministro

A deputada denunciante espera que a Justiça argentina trabalhe em conjunto com a brasileira

A Operação Lava Jato “chegou” agora na Argentina com uma denúncia da deputada Elisa Carrió contra o ex-ministro do Planejamento, Julio de Vido, que se baseiae nas declarações do delator Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras. Segundo o periódico português ‘RFI’, a deputada, aliada do presidente Mauricio Macri, pediu à Justiça para investigar a ramificação argentina da Operação Lava Jato.

Em declarações à Procuradoria Geral da República, Cerveró revelou ter recebido 300 mil dólares em suborno pela venda, em 2007, da empresa de transmissão elétrica Transener, pertencente então à Petrobras Argentina.

Condenado a 17 anos de prisão, o ex-diretor da Petrobras contou que o ministro argentino “pressionou pela venda” a empresários da Electroingeniería, “uma empresa amiga” dos governos Kirchner, segundo o próprio Cerveró.

O delator também informou que, dessa venda por um total de US$ 54 milhões, “a maior parte do suborno ficou na Argentina”.

Ainda segundo a ‘RFI’, a deputada Elisa Carrió sempre indicou que o ex-ministro Julio de Vido cobrava subornos para os ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner. A diferença é que agora, com os Kirchner fora do poder, a denúncia ganha mais chance de ser investigada, embora, como deputado, Julio de Vido tenha imunidade parlamentar.

A Electroingeniería teve um crescimento astronômico durante os mandatos dos Kirchner.

O ex-ministro argentino, Julio de Vido, admitiu reuniões com o delator Cerveró, mas disse que foram “encontros institucionais, “sem irregularidades” e que “sempre agiu em defesa do interesse nacional”.

A confissão de Cerveró confirmou o que já tinha sido admitido pelo lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, quem também reconheceu suborno por US$ 300 mil.

A parte argentina envolve ainda outro ex-ministro argentino de Obras Públicas (nos anos 90), Roberto Dromi, que atuou como lobista.

Segundo Soares, os donos da Eletroingeniería e o ministro Julio de Vido eram “íntimos” pela forma próxima e afetuosa com a qual se relacionavam.

Entre 2006 e 2007, a Eletroingeniería e o ministro argentino conseguiram, suborno mediante, que a Petrobras cancelasse um compromisso de venda com o fundo de investimento norte-americano Eton Park e que a empresa fosse vendida aos empresários amigos do então governo.

Outros casos que envolvem a Argentina

Na Operação Radioatividade da Polícia Federal brasileira sobre a usina elétrica Eletronuclear no ano passado, um grupo de construtoras brasileiras foi acusado de formação de cartel para controlar as licitações. Entre as oito companhias, a construtora argentina Techint, o primeiro caso de uma empresa de capitais estrangeiros, investigada no Brasil.

Desde 2005, o BNDES financiou mais de US$ 500 milhões em projetos de companhias brasileiras na Argentina, como obras de infraestrutura realizadas pelas construtoras brasileiras, principalmente pela Odebrecht. O presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, mantinha estreito vínculo com o ministro do Planeamento argentino, Julio de Vido.

Em 2009, a fabricante de aviões brasileira Embraer vendeu 20 aviões à companhia aérea Aerolineas Argentinas. Do contrato de US$ 698 milhões, 80% foi financiado pelo BNDES. Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça, a Securities and Exchange Commission (SEC) e o FBI investigam supostos subornos a integrantes do governo argentino por um valor em torno de US$ 100 milhões.


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Em dezembro de 2014, a Polícia Federal brasileira encontrou na residência do doleiro-delator Alberto Yousseff um registro com 747 obras realizadas por 170 empresas por um valor de US$ 4,6 bilhões. O maior registro de corrupção da história brasileira incluia obras públicas realizadas em Argentina, Uruguai, Cuba, República Dominicana, Equador e Colômbia. As obras na Argentina eram gasodutos.
Fonte: RFI

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