Utilizada pelo doleiro Alberto Youssef para lavar dinheiro, a empresa GFD repassou 3,7 milhões de reais entre 2009 e 2013 à corretora de valores mobiliários Planner – que repassou praticamente a mesma quantia (3,2 milhões de reais) à construtora OAS em 2010, durante a finalização das obras do Edifício Solaris, no Guarujá, litoral paulista, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possui um tríplex. As informações são do jornal ‘O Globo’. Segundo a reportagem, o Ministério Público Federal suspeita que parte dos valores repassados por Youssef tenha sido usada para concluir a obra, iniciada pela Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), que realizou diversas operações financeiras com a Planner.
Os repasses da GFD para a Planner constam nos primeiros documentos analisados pela Polícia Federal depois da quebra de sigilo fiscal das empresas de Youssef, um dos principais delatores do petrolão. Já os acordos financeiros entre a Planner e a OAS aparecem em documentos do processo que investiga irregularidades na Bancoop, que tramita na 5ª Vara Criminal de São Paulo, aos quais o jornal teve acesso.
De acordo com a reportagem, enquanto recebia dinheiro de Youssef, a Planner fazia pagamentos à OAS por meio de outra empresa do grupo, a Planner Trustee. O dinheiro foi repassado pouco depois da empreiteira ter assumido as obras do prédio. Responsável por apurar fraudes na Bancoop, o Ministério Público de São Paulo decidiu reabrir as investigações sobre a relação entre a OAS e a cooperativa – e vai repassar as informações à força-tarefa da Operação Lava Jato.
A Bancoop quebrou em 2006, deixando 32 obras inacabadas e mais de 3.500 famílias na rua da amargura. A construção do edifício de Lula só terminou porque a empreiteira OAS foi contratada por João Vaccari Neto, presidente da Bancoop até 2010 e ex-tesoureiro do PT, para concluir o projeto, que estava parado assim como a maior parte das obras financiadas pela cooperativa. Para que o empreendimento fosse concluído, cada morador teve que pagar um adicional de 120.000 reais. A obra foi um dos favores do empreiteiro Leo Pinheiro a Lula. Sem uma mãozinha da OAS, poderia dar cadeia o golpe da Bancoop, um ensaio geral para a roubalheira generalizada que marcaria mais tarde as gestões petistas. Vaccari, aliás, está preso atualmente em Curitiba por envolvimento no escândalo do petrolão.
À beira da praia e com vista para o mar, o prédio tem três tipos de apartamentos – as coberturas tríplex, alguns duplex de 162 metros quadrados e outros de um pavimento, com cerca de 100 metros quadrados. O de Lula, que ficou pronto neste ano, pertence à primeira categoria. Fica no 16º andar, tem elevador privativo e 297 metros quadrados. Além de Vaccari, também constam da lista de cooperados do Solaris a mulher de Freud Godoy, o ex-assessor de Lula que ficou famoso no caso dos aloprados, em que militantes petistas foram presos tentando comprar um dossiê com informações falsas contra o tucano José Serra. A quebra da cooperativa se deu, segundo o MP, com um rombo de pelo menos 100 milhões de reais porque seus dirigentes desviaram dinheiro pago pelos mutuários para “fins escusos”.
A OAS disse ao ‘Globo’ que a Planner foi usada para a emissão de debêntures (títulos da empresa). Carlos Arnaldo Borges de Souza, sócio da corretora de imóveis, disse que o dinheiro recebido da GFD corresponde à compra e vende de ações e que os 3,2 milhões de reais repassados para a OAS foram resultado da compra de debêntures emitidas pela construtora, que deu o imóvel em hipoteca. O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D’Urso, não quis se manifestar e disse não conhecer a operação. Já o Instituto Lula negou que o ex-presidente tenha um apartamento no Edifício Solaris e explicou que a família dele é dona de uma cota do empreendimento, adquirida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia em 2005 e quitada cinco anos depois.
Em janeiro deste ano, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentação suspeita no valor de 18 milhões de reais entre a Bancoop, a Planner e o Sindicato dos Bancários de São Paulo na época em que a cooperativa de crédito habitacional era presidida por Vaccari. O alerta indicou que a movimentação pode ter se tratado de lavagem de dinheiro.
Fonte: Veja
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