27 de julho de 2015

Notícia - Estudo identifica calibre de arma por som de queda de cápsula

Com a técnica, peritos podem extrair frequências e obter pistas de crime. Pesquisa foi premiada; modelo identifica ‘digital’ de quatro calibres de pistola

Um mestrando da Universidade de Brasília desenvolveu um estudo que permite identificar o calibre de uma arma pelo som emitido quando a cápsula do cartucho cai no chão após o disparo. Com a técnica, peritos criminais conseguem extrair as frequências do áudio da queda e ter uma pista acerca da arma que efetuou o disparo analisado.

O estudo foi desenvolvido pelo pesquisador em informática forense e segurança da informação e perito criminal Luiz Laborda Larrain, junto com o professor João Paulo da Costa e o perito da Polícia Civil de Mato Grosso Tadeu Gross. Recentemente, o trabalho recebeu o prêmio Best Paper 2015, um dos mais importantes da América Latina em ciência forense nas áreas de computação, multimídia e segurança eletrônica.

A cápsula do cartucho, chamada de estojo, é onde a pólvora e o projétil ficam armazenados. Em algumas armas, ele é ejetado após o disparo. Simulações com cinco estojos de calibres diferentes foram realizadas em laboratórios da UnB e da Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado do Mato Grosso (Politec).

A pesquisa identifica a “digital” de quatro calibres de pistola – 9 mm, .40, 380 e 32. De acordo com Larrain, esses calibres são os mais frequentes em delitos criminais. “Fizemos um levantamento interno da nossa balística. São pistolas com calibres mais utilizados no Brasil, mas temos outros calibres de pistola e a ideia é expandir para calibres menos frequentes e estimar essas outras pistolas de modo a ter dados compilados.”
Luiz Larrain (centro) durante entrega do prêmio Best Paper 2015

O mestrando explica que o estudo surgiu a partir de um caso real. “Estava fazendo a perícia de um caso de disparo em via pública em Cuiabá. Um indivíduo foi comemorar o título do time de futebol e disparou na rua. Um colega gravou e o áudio foi para perícia para verificar se havia sido um disparo de arma ou um rojão”, afirmou. “O caso me despertou interesse e levei o problema para o mestrado.”

Durante as simulações, vários parâmetros foram testados. “A forma como o estojo colide no solo, se ele colide deitado, em pé, se afeta ou não a posição. Fizemos cerca de 50 lançamentos para cada estojo, gravamos os exemplos e processamos com os resultados que está no artigo.”

A técnica é aplicada a partir da gravação de um disparo em áudio ou vídeo. Identificado o momento da queda do estojo, os peritos extraem a “digital” da cápsula (assinatura acústica) e confrontam com valores de referência publicados na pesquisa.
O professor João Paulo da Costa afirma que o modelo é inédito na literatura científica e é complementar aos já utilizados por peritos criminais. “Essa é uma forma adicional para você ter uma chance maior de identificar corretamente o tipo de arma utilizada e o calibre”, afirma.

“Nessas conferências científicas, um dos aspectos que pesa bastante é a originalidade do trabalho e certamente se já existisse algum [estudo igual] não teríamos ganhado. É importante provar na prática que a ideia funciona.”

O perito Tadeu Gross destacou ainda que a partir da análise da mídia também é possível identificar se o barulho realmente é de uma arma ou de um simulacro. Ele aponta que em certos casos a técnica pode ser a única forma de um perito conseguir materializar um crime.

“Hoje, com a grande difusão de aparelhos que capturam áudios, qualquer dispositivo que capture no áudio a queda de um estojo a gente consegue identificar o calibre da arma. Muitas vezes recebemos vídeos e áudios para ver se o disparo se trata de uma arma de fogo ou não.”
Fonte: G1

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